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II. DEFINIÇÃO DE SAÚDE E SUA ABRANGÊNCIA CONSTITUCIONAL

3. Atuação Estatal na Política Nacional de Relações de Consumo

Inarredável a inteira aplicação do disposto nos artigos 4º e 102, do CDC, que impõem a atuação estatal para impedir o uso e consumo de mercadorias e produtos que se revelem nocivos ou perigosos à saúde pública e à incolumidade pessoal. A aplicação desses dispositivos legais independe do fato de considerarmos se a prestação estatal de serviços de saúde se caracteriza ou não como relação consumerista, pois concernem ao dever estatal de oferecer segurança à população quanto aos produtos e serviços disponibilizados no mercado.

No âmbito da saúde, deve o Estado garantir que os serviços de saúde, bem como os medicamentos e equipamentos necessários para garantia e manutenção de boa qualidade de vida estejam com padrões adequados de qualidade, segurança, eficácia e durabilidade. Este dever decorre diretamente do mandamento constitucional, mais precisamente insculpidos nos artigos 5º, inciso XXXII, que estabelece que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” e 170, inciso V, que dispõe que a ordem econômica tem por fim assegurar a todos existência digna, observado dentre os princípios elencados, o da defesa do consumidor.

Quando fala em qualidade, conforme assevera José Geraldo Filomeno, não se restringe à adequação do produto ou serviço às normas que regem sua fabricação ou prestação, mas também e principalmente “a satisfação de seus destinatários, que têm sem sombra de dúvida o

direito subjetivo público de exigir o seu efetivo cumprimento, com qualidade, presteza, segurança adequação, pontualidade etc.”.398 Cabe-lhe, também, parte da responsabilidade, quando a atividade do fornecedor depender de autorização para a produção de bens ou prestação de serviços, assegurando que a atividade não cause danos à saúde, segurança e outros interesses dos consumidores.399

Para a garantia de produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho (art. 4º., II, d, do CDC), impõe-se ao Estado promover a proteção do consumidor através de uma atuação efetiva. Neste tópico, verifica-se que a atuação estatal visa não só a proteção do consumidor como igualmente preocupa-se com a questão da qualidade-produtividade-competitividade, a ser cumprida pelo:

398 FILOMENO, José Geraldo Brito (et al). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do Anteprojeto. - 8ª ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 97.

a) SINMETRO – Sistema Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial, constituído pelo CONMETRO – Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, com tarefa de homologar as normas de segurança e qualidade, atualmente a cargo da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas; e,

b) INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, com funções executivas referentes à implementação, efetivação e fiscalização das normas de segurança e qualidade.

Conforme ressaltado por Filomeno, esse Sistema é de fundamental importância não só no tocante à segurança e atendimento das necessidades e expectativas do consumidor, como também para a competitividade de nossos produtos no mercado externo.

Algumas certificações, como as normas ISO – International for Standartisation

Organization, traduzidas e adaptadas entre nós mediante as NBRs – Normas Técnicas Brasileiras, atestam que os produtos certificados atendem aos requisitos exigidos quanto à qualidade e segurança e certifica a conformidade de um produto ou serviço à norma respectiva que rege sua fabricação ou execução; o que proporciona maior competitividade ao fornecedor.400

A ação estatal para a defesa do consumidor vai desde a instituição de órgãos públicos de defesa do consumidor, como o PROCON⁄SP401, existente também em quase todos os

400 FILOMENO, José Geraldo Brito (et al). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor..., cit., p. 67.

401Instituído pelo Decreto Estadual n. 7.890, de 06 ⁄05 ⁄1976, que criou o Sistema Estadual de Proteção ao Consumidor em São Paulo, depois consubstanciado na Lei Estadual n. 1903⁄78, quando passou a atender a reclamações dos consumidores e a orientá-los ao lado do Conselho Estadual de Proteção ao Consumidor. Com a criação da Secretaria Estadual de Defesa do Consumidor em março de 1987, transformou-se em Departamento de Proteção ao Consumidor e passou a contar com maior estrutura, com setores de pesquisa e documentação, bem como passando a analisar produtos e divulgar os resultados para orientação dos consumidores, incluindo-se os valores dos produtos que compõem a „cesta básica‟. Posteriormente esta Secretaria foi extinta e o órgão, mantendo a tradicional sigla PROCON passou a integrar a integrar a Coordenadoria Estadual de Proteção ao Consumidor, ligada à Secretaria de Justiça e da Cidadania. Por força da Lei Estadual Paulista n. 9.192, de 23⁄11⁄1995, o PROCON passou a ser fundação de Direito Público, o que lhe conferiu maior autonomia para o desempenho de suas funções, ganhando inclusive personalidade jurídica. Cf. FILOMENO, José Geraldo Brito (et

Estados da Federação até o incentivo de criação de entidades civis, como associações de proteção ou defesa do consumidor, como a ADECON – Associação de Defesa do Consumidor, do Rio Grande do Sul e o IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

Em 1990, o Governo Federal criou a Secretaria de Direito Econômico (SDE), vinculado ao Ministério da Justiça, tendo destaque os Departamentos de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) e de Defesa da Ordem Econômica (DDOE). À SDE cabe a execução não apenas da política de proteção e defesa do consumidor, como também o combate aos abusos do poder econômico, esta regida pela Lei n. 8.884, de 11⁄06⁄1994 e legislação complementar, onde se destaca a atividade do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).402 O CADE foi criado em 1962 e transformado em autarquia, com atribuição de orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico, exercendo papel tutelador da prevenção e repressão do mesmo. Analisa prévia e preventivamente atos que impliquem concentração econômica, e, repressivamente, aqueles que caracterizem abusos do poder econômico.403

E, outra forma de atendimento do dever constitucional de proteção ao consumidor e ao mesmo tempo garantir a prestação de serviços concernentes à saúde da população se verifica no papel das Agências Reguladoras.

A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Fundação Procon-SP) tem por objetivo elaborar e executar a política de proteção e defesa dos consumidores do Estado de São Paulo e, para tanto, conta com o apoio de um grupo técnico multidisciplinar que desenvolve atividades nas mais diversas áreas de atuação, tais como: Educação para o consumo; recebimento e processamento de reclamações administrativas, individuais e coletivas, contra fornecedores de bens ou serviços; orientação aos consumidores e fornecedores acerca de seus direitos e obrigações nas relações de consumo; fiscalização do mercado consumidor para fazer cumprir as determinações da legislação de defesa do consumidor; acompanhamento e propositura de ações judiciais coletivas; estudos e acompanhamento de legislação nacional e internacional, bem como de decisões judiciais referentes aos direitos do consumidor; pesquisas qualitativas e quantitativas na área de defesa do consumidor; suporte técnico para a implantação de Procons Municipais Conveniados; intercâmbio técnico com entidades oficiais, organizações privadas, e outros órgãos envolvidos com a defesa do consumidor, inclusive internacionais; disponibilização de Ouvidoria para o recebimento, encaminhamento de críticas, sugestões ou elogios feitos pelos cidadão quanto aos serviços prestados pela Fundação Procon, com o objetivo de melhoria continua desses serviços. Disponível em: <http://www.saopaulo.sp.gov.br/linha/procon.htm>, acesso em 23 jan. 2008.

402 FILOMENO, José Geraldo Brito (et al). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos

autores do Anteprojeto. - 8ª ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 66-67.

403Exemplo de atuação do CADE: “Cade adota Medida Cautelar em aquisição da Distribuidora Chinaglia. Nesta quinta-feira, 29 de novembro de 2007, o Conselheiro Paulo Furquim de Azevedo adotou, de ofício, Medida Cautelar referente ao Ato de Concentração nº 08012.013152/2007-20, relativo à aquisição da empresa Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. (FC) pelo Grupo Abril. Após a operação, foi criada a empresa Treelog, que passou a prestar os serviços de logística para a FC e para a Dinap (distribuidora do Grupo Abril). A Medida Cautelar tem como finalidade preservar as condições de reversibilidade da operação sob análise e evitar a prática de atos danosos à concorrência. Dentre as obrigações impostas estão a vedação à realização, sem autorização do Conselheiro Relator, de qualquer alteração de natureza societária que envolva as empresas; a designação de gestores independentes para administrar a Fernando Chinaglia e a Treelog; e a submissão de quaisquer alterações no padrão de negócios dessas empresas ao Conselheiro Relator, que deverá, se for o caso, comunicar sua oposição em até cinco dias.”. Extraído do site http://www.cade.gov.br/noticias/vernoticia.asp?cn=234, acesso em: 23 jan, 2008.