5 ANÁLISE JURIDICA E CRITÉRIOS LEGAIS PARA INCORPORAÇÃO
5.2 AUDITORIA AMBIENTAL COMPULSÓRIA NO ESTADO DA BAHIA:
PÚBLICA ESTADUAL
O Estado da Bahia apresenta-se como entidade política ou ente federativo que
ainda não adotou a auditoria ambiental compulsória na sua legislação, não obstante
a incorporação progressiva do instrumento nos Estados brasileiros. Com duas
décadas apenas de existência, o novo instituto jurídico ainda está se consolidando
como instrumento de política pública ambiental.
Foi constatado que o problema central para elaboração do diploma legal
estadual figura o fato de inexistir de um conjunto de normas disciplinadoras da matéria
no âmbito nacional. Desta forma, foi necessário proceder a um enquadramento do
instrumento em consonância com o sistema jurídico brasileiro de proteção do meio
ambiente, bem como uma abordagem crítica, sob a ótica do Direito Constitucional
Ambiental, dos critérios legais utilizados nas legislações existentes.
O primeiro aspecto a ser considerado refere-se à competência normativa e
administrativa estadual. A competência legislativa que o Estado da Bahia tem para
criar normas na matéria ambiental decorre do disposto no art. 24 da Constituição
Federal, conforme já analisado em tópico próprio.
69Diante da lacuna legislativa
federal que não apresentou as normas gerais disciplinando o novo instituto, o Estado
da Bahia estar autorizado constitucionalmente a exercer a competência legislativa
plena, caso queira incorporar a auditoria ambiental compulsória na sua legislação
estadual. No mesmo sentido, a Constituição estadual estabelece que cabe ao
Estado da Bahia, concorrentemente com a União, legislar sobre a proteção do meio
ambiente e controle da poluição
70(BAHIA.ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DA BAHIA, 2009).
A norma estadual, entretanto, não pode exorbitar da peculiaridade ou interesse
próprio do Estado e terá que observar os limites normativos constitucionais. Por
outro lado, caso surja um comando normativo federal apresentando as normas
gerais da auditoria ambiental compulsória, a lei estadual do Estado da Bahia terá a
sua eficácia suspensa naquilo que for contrário às diretrizes nacionais sobre a
matéria e deverá proceder a uma adequação com o sistema nacional jurídico do
novo instituto jurídico.
A competência material ou administrativa se traduz nas atividades
administrativas relativas à proteção do meio ambiente e ao combate à poluição no
âmbito do controle ambiental. Trata-se de competência comum de todos os entes
componentes da federação, insculpido no art. 23 da Constituição Federal. Neste
sentido, cabe ao Estado da Bahia o poder-dever de exigir que as atividades da
69
A análise jurídica foi realizada no subitem 3.2- Federalismo brasileiro: competência normativa das entidades políticas na seara ambiental e os limites constitucionais para a adoção da auditoria ambiental compulsória no Estado da Bahia.
70
Conforme art. 12, VI da Constituição do Estado da Bahia promulgada em 05 de outubro de 1989. (BAHIA. ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA BAHIA, 2009
iniciativa privada sejam exercidas em conformidade com a legislação de tutela
ambiental.
71O segundo aspecto a ser considerado refere-se à incorporação do instrumento
de política pública estadual. A auditoria ambiental compulsória trata de impor para as
atividades consideradas efetivas ou potencialmente poluidoras ou causadoras de
degradação ambiental, uma avaliação sistemática, periódica e objetiva do
comportamento da empresa com relação ao meio ambiente.
A lei nº 10.431 de 20 de dezembro de 2006, que teve alterações recentemente
com a Lei 12.377 de 28 de dezembro de 2011 dispõe sobre a Política de Meio
Ambiente do Estado da Bahia. Dentre os objetivos da política ambiental estadual,
consta o estabelecimento de mecanismos de prevenção de danos ambientais e de
responsabilidade socioambiental pelos empreendedores, públicos e privados, e o
fortalecimento do autocontrole nos empreendimentos e atividades com potencial de
impacto ambiental
72(BRASIL. ESTADO DA BAHIA, 2006).
Ao se estabelecer o fortalecimento do autocontrole nos empreendimentos e
atividades com potencial de impacto ambiental entre os objetivos da política
ambiental estadual, verifica-se que a legislação estadual propugna por práticas
voluntárias da iniciativa privada para melhoria da qualidade ambiental.
A lei faz referência ao autocontrole ambiental, que consiste na iniciativa
voluntária das pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas no sentido de
adotar sistemas que minimizem, controlem e monitorem seus impactos, garantindo a
qualidade ambiental.
73Conforme já visto, um SGA corresponde a um conjunto de políticas, práticas e
procedimentos organizacionais, técnicos e administrativos com o objetivo de melhorar
o desempenho ambiental das empresas. A auditoria ambiental, no contexto do SGA,
realiza avaliações qualitativas e quantitativas periódicas da conformidade ambiental
71
Conforme já abordado no subitem 3.2- Federalismo brasileiro: competência normativa das entidades políticas na seara ambiental e os limites constitucionais para a adoção da auditoria ambiental compulsória no Estado da Bahia.
72
Conforme art.3º, V da lei nº 10.431 de 20 de dezembro de 2006, alterado pela lei nº12377/2011(BRASIL. ESTADO DA BAHIA, 2006).
73
da empresa, num processo de aprimoramento contínuo, com medidas necessárias às
correções dos erros e extinção dos pontos fracos (ROVERE et al, 2001).
Pela lei estadual, caberá à uma Comissão Técnica de Garantia Ambiental -
CTGA coordenar e executar o autocontrole ambiental, bem como avaliar,
acompanhar, apoiar e pronunciar-se sobre os programas, planos, projetos e
licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades potencialmente
degradadoras.
O autocontrole ambiental no processo de licenciamento ambiental esta previsto
no recente Decreto estadual nº 14.024 de 06 de junho de 2012, que estabelece no
art. 102 que cabe ao Conselho Estadual de Meio Ambiente – CEPRAM tratar de
procedimentos simplificados para a concessão da licença ambiental para aqueles
que adotarem planos e programas voluntários de gestão ambiental e práticas de
produção mais limpa visando à melhoria contínua e ao aprimoramento do
desempenho ambiental (ESTADO DA BAHIA. CASA CIVIL, 2012).
Portanto, o Estado da Bahia incentiva apenas o comportamento voluntário da
iniciativa privada na gestão ambiental e práticas de produção mais limpa visando à
melhoria contínua e ao aprimoramento do desempenho ambiental.
A auditoria ambiental compulsória não consta no rol dos instrumentos da
Política Estadual de Meio Ambiente e de Proteção da Biodiversidade, que estão
previstos no art. 6º.
74O instituto jurídico também não é utilizado como instrumento
auxiliar do licenciamento ambiental na política estadual de meio ambiente.
O terceiro aspecto a ser abordado diz respeito ao fato de que o Estado da
Bahia não se encontra obrigada a adotar a compulsoriedade do instrumento na
política estadual ambiental, não obstante a incorporação progressiva pelos outros
74
O art. 6º a lei nº 10.431 de 20 de dezembro de 2006, alterado pela lei nº12377/2011, estabelece como instrumentos da Política Estadual de Meio Ambiente e de Proteção da biodiversidade, os seguintes : I - os Planos Estaduais de Meio Ambiente, de Mudanças do Clima, de Proteção da Biodiversidade e de Unidades de Conservação; II - o Sistema Estadual de Informações Ambientais e de Recursos Hídricos - SEIA; III - a Educação Ambiental;IV - a Avaliação e Monitoramento da Qualidade Ambiental; V - o Zoneamento Territorial Ambiental;VI - as Unidades de Conservação e outros Espaços Especialmente Protegidos;VII - as normas e os padrões de qualidade ambiental e de emissão de efluentes líquidos e gasosos, de resíduos sólidos, bem como de ruído e vibração; VIII - o Autocontrole Ambiental;IX - a Avaliação de Impactos Ambientais; X - o Licenciamento Ambiental, que compreende as licenças e as autorizações ambientais,dentre outros atos emitidos pelos órgãos executores do SISEMA; XI - a Fiscalização Ambiental; XII - os instrumentos econômicos e tributários de gestão ambiental; XIII - a cobrança pelo uso dos recursos ambientais e de biodiversidade; XIV - a Compensação Ambiental; XV - Conferência Estadual de Meio Ambiente. (BRASIL. ESTADO DA BAHIA, 2006)