5 ANÁLISE JURIDICA E CRITÉRIOS LEGAIS PARA INCORPORAÇÃO
5.1 ESTADO DA BAHIA: ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
Numa concepção jurídico-política, o território do Estado define-se como o
“âmbito geográfico da jurisdição do Estado, ou a base física que delimita a jurisdição
do Estado, ou ainda a área física ideal em que o Estado exerce jurisdição sobre
pessoas e coisas” (BECKER, 1993).
O Estado da Bahia divide-se em Municípios, unidades político-administrativas
autônomas, e, para fins administrativos, em regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para
integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse
comum. (BAHIA. ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA BAHIA, 2009).
68O Estado da Bahia é um ente componente da Federação que goza de
autonomia política e administrativa, o que lhe confere a competência não só para
legislar, como também a competência para administrar sobre matéria ambiental, nos
limites do território sob sua jurisdição.
68
Conforme Art. 6º da Constituição do Estado da Bahia (BAHIA.ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA BAHIA, 2009)
Hodiernamente, entretanto, reconhece-se que deve se promover a efetiva
inserção da dimensão territorial na formulação de políticas públicas e nos planos de
desenvolvimento estratégico de um ente federado.
Não se pode desconsiderar, assim, as dinâmicas que ocorrem no território para
a elaboração de uma lei de tutela do meio ambiente, sendo válidas as considerações
de Silva e Silva (2006, p.16) sobre as novas características do território:
O território reúne não só a característica de classicamente expressar, em
diferentes escalas e não mais somente na escala nacional, as complexas
relações de poder, mas também a perspectiva de valorizar sua
identidade, seus laços de coesão e solidariedade e, cada vez mais
importante, a tendência de se organizar social e politicamente em busca
de objetivos comuns, particularmente direcionados para o
desenvolvimento efetivamente sustentado tanto do ponto de vista
econômico-social como na perspectiva ambiental. Isto representa a fusão
da sociedade com o espaço geográfico, formando uma dinâmica
totalidade, evita a desterritorialização, ou seja, a desvinculação entre a
sociedade e o seu território onde a vida é exercida.
No desenvolvimento efetivamente sustentado, tanto do ponto de vista
econômico-social como na perspectiva ambiental, é necessário considerar as
dinâmicas que ocorrem no território. O geógrafo Antas Junior (2005) apresenta uma
nova discussão sobre a noção de território no âmbito jurídico, partindo da análise de
território como norma e o território normado, concebida por Milton Santos.
Inicialmente, Antas Junior (2005, p.53) faz uma abordagem sobre os conceitos
de território como norma e o território normado, concebida por Milton Santos:
No que tange à normatização pelas ações, Milton Santos fala em
território normado; no que concerne à configuração territorial
produtora de normas, em território como norma. No território
normado, o elemento repressivo sobrepõe–se aos demais; no
território como norma, o elemento comunicacional fornece o
referencial diretor. Em ambos os casos, que de fato compõem um
par dialético, o elemento sistêmico está presente, primeiro
organizacionalmente, depois, organicamente.
Para o autor, as duas formas de análise diferenciam-se apenas analiticamente.
No primeiro caso, o território é sujeito e, no segundo, ele é objeto da ação. No
primeiro caso, território parte da organização política. Já a análise do território como
norma, parte do lugar, cuja razão é orgânica. O geógrafo Antas Junior (2005, p.54)
acrescenta:
As normas jurídicas e as formas geográficas guardam a propriedade
comum de produzir condicionamentos sobre a sociedade,
funcionalizando-a para diversos fins e direções distintas. Umas como
as outras expressam a significação máximas de instâncias sociais
amplas- o direito e o espaço geográfico.
Por fim, Antas Junior (2005, p.56) lança uma nova noção de território a partir do
direito:
Isto posto, procuramos demonstrar que o espaço geográfico é fonte
material e não-formal do direito, sem ignorar o fato inequívoco de que
a norma jurídica é um elemento central na produção de territórios.
Assim, há um reconhecimento no sistema constitucional vigente de que é a
Constituição e as leis que delimitam o território como parte integrante da
organização política, consagrando a teoria do território normado. O Estado da Bahia
é um ente componente da Federação que exerce a jurisdição plena nos limites do
seu território, mas torna-se relevante conhecer e compreender a dinâmica territorial
e as peculiaridades regionais na elaboração da norma jurídica, quando se trata da
inserção de um instrumento de gestão ambiental que busca avaliar a conformidade
da empresa em torno da variável ambiental.
Almeida (2007, p.341) destaca a importância da geografia física quando se
trata de adotar medidas preventivas na gestão ambiental:
Considerando-se objetivo maior da gestão ambiental as boas
condições do bem-estar do homem, verifica-se estar intrínseco no
processo um bom entendimento da Geografia Física. As medidas
preventivas, de recuperação ou revitalização do ambiente, não
podem ser consideradas eficientes sem o conhecimento detalhado
do funcionamento da dinâmica ambiental naquela área, e é a
Geografia Física, no conjunto de suas disciplinas, que é capaz de
avaliar, analisar e diagnosticar alterações no equilíbrio da dinâmica
do ambiente e oferecer suporte para as medidas mitigadoras.
Por outro lado, a auditoria ambiental compulsória sujeita os diversos
segmentos produtivos responsáveis por atividades, obras ou empreendimentos,
potencial ou efetivamente poluidores ou capazes de causar significativa degradação
ambiental, ao desenvolvimento de processos, inspeções, análises e avaliações
sistemáticas em torno da variável ambiental, no sentido de preservar, melhorar ou
recuperar a qualidade do meio ambiente. Um conhecimento prévio da configuração
territorial dos diversos setores produtivos deve ser estimulado no sentido de se obter
informações geográficas seguras em torno das atividades que deverão se submeter,
obrigatoriamente, à realização de auditorias ambientais periódicas e/ou ocasionais.
As pequenas, médias e grandes empresas se materializam no território e a
delimitação na lei das atividades potencialmente ou efetivamente poluidores ou
capazes de causar significativa degradação ambiental, não pode se limitar às
informações cadastrais desatualizadas da Administração Pública.
O trabalho da geografia física oferece estratégias e metodologias
diversificadas, inclusive com a utilização de mapas temáticos, no sentido de um
conhecimento prévio da configuração territorial dos diversos setores produtivos.
Nesse sentido, a norma jurídica deve refletir o contexto ambiental a que se aplica
(ALMEIDA, 2007).
Além disso, o comando normativo do novo instrumento de execução de política
pública deve pautar-se com estratégias operacionais e participativas, notadamente
quando se trata de uma norma que exerce influência direta nas atividades do chamado
2º Setor (Privado/Capital) e suas articulações na dinâmica territorial. A iniciativa privada
e a sociedade civil, portanto, não podem ficar dissociados desse processo.
5.2 AUDITORIA AMBIENTAL COMPULSÓRIA NO ESTADO DA BAHIA: ANÁLISE
No documento
UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR SUPERINTENDÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
(páginas 130-133)