5 ANÁLISE JURIDICA E CRITÉRIOS LEGAIS PARA INCORPORAÇÃO
5.3 DIRETRIZES NECESSÁRIAS PARA ELABORAÇÃO DA LEI
Ente os diplomas legais existentes no país, alguns poderão ser um excelente
referencial teórico normativo para traçar as diretrizes necessárias para a elaboração
da lei do Estado da Bahia, devendo, entretanto, ser observadas as peculiaridades
regionais e legais do Estado.
As legislações do Estado do Rio de Janeiro e do Paraná apresentam-se como
as mais completas entre as iniciativas legislativas estaduais. O Rio de Janeiro não
só foi o primeiro ente federativo estadual a oferecer as diretrizes do novo instituto,
influenciando nas iniciativas legislativas dos outros Estados, como também já se
encontra num estágio em que ocorrem avanços legislativos, com relação ao
licenciamento ambiental, ao tratar das auditorias ambientais de controle como parte
dos processos de requerimento, renovação e prorrogação da licença. Os diplomas
legais do Rio de Janeiro sobre a matéria oferecem uma boa sistematização para a
realização de auditorias ambientais como instrumento do sistema de licenciamento
ambiental, estabelecendo as responsabilidades, os procedimentos e os critérios
técnicos para a sua realização.
A legislação estadual do Paraná apresenta uma boa estrutura normativa,
apresentando a definição de auditoria ambiental compulsória, atuação do órgão
estadual do meio ambiente, diretrizes para a realização de auditorias ambientais
compulsórias e para as correções das não conformidades a serem implementadas
pela pessoa jurídica pública ou privada auditada, alem de indicação dos elementos
necessários no controle ambiental, no caso do descumprimento das não
conformidades identificadas.
No plano federal, a Resolução CONAMA n° 306/02, embora aplicável no setor
petrolífero, poderá ser utilizado como importante referencial na fixação dos critérios
para a execução da auditoria ambiental compulsória ou auditoria ambiental legal, por
tratar no Anexo II do conteúdo mínimo das auditorias ambientais (critérios e
abrangência de auditoria, plano de auditoria, relatório e o plano de ação).
A auditoria ambiental privada, também, pode oferecer subsídios relevantes na
elaboração da lei estadual, notadamente no que diz respeito à base conceitual,
classificações, objetivos, e diretrizes para planejamento da auditoria. As normas
específicas de adesão voluntária da série brasileira NBR ISO 14000 trata com sucesso
dos procedimentos a serem observados quando da aplicabilidade da ferramenta.
75A lei estadual deverá tratar da periodicidade para realização das auditorias
ambientais compulsórias, critério seguro para reconhecer que o ente federado
efetivamente tornou o instrumento obrigatório. Assim, para que a sua aplicabilidade
pelo setor público seja eficiente e para que seja possível o acompanhamento das
medidas propostas, há que ser fixado o prazo que atenda às peculiaridades da
legislação do Estado da Bahia, num prazo razoável que garanta a efetividade da
auditoria ambiental compulsória na tutela ambiental. A lei estadual deverá disciplinar,
75
A auditoria ambiental privada e as normas específicas de adesão voluntária da série brasileira NBR ISO 14000 foram tratadas no capítulo 2, subitem 2.2.2.
também, sobre os objetivos, escopo, abrangência da auditoria, processo de
credenciamento dos auditores, execução da auditoria, atuação dos órgãos públicos,
controle ambiental, penalidades, publicidade dos relatórios e participação popular.
Na viabilidade do controle ambiental, torna-se imprescindível que a lei estadual
trate claramente sobre essa atuação estatal e a fiscalização ambiental, com a
indicação, inclusive das penalidades cabíveis no caso do descumprimento, em
atenção ao princípio da legalidade.
Por outro lado, pode até se admitir que as práticas de auditoria ambiental legal
sejam realizadas por uma equipe de auditores externos que, em algumas
legislações, se submetem a um processo de credenciamento no órgão público da
entidade, mas a fiscalização ambiental é indelegável e só pode são realizadas por
servidores públicos integrantes do quadro da entidade pública.
Em atenção ao princípio constitucional da eficiência, não se deve ignorar a
importância de um quadro de técnicos especializados para exercer o controle
ambiental e analisar adequadamente os relatórios, que apontam as conclusões da
auditoria. Para o exercício do controle da gestão ambiental, torna-se relevante,
portanto, uma estrutura administrativa condizente e profissionais qualificados para
atender os comandos normativos do novo instituto.
Numa abordagem crítica dos critérios utilizados nas legislações estaduais
concernentes à auditoria ambiental compulsória, foram constatadas algumas
vulnerabilidades quanto aos aspectos constitucionais analisados. Numa metodologia
comparativa das legislações estaduais, quando se refere aos critérios para escolha
da equipe de auditores, conforme Apêndice B, as legislações estaduais não
estabelecem claramente os requisitos necessários para garantir a independência
dos membros da equipe, bem como avaliação objetiva e imparcial dos relatórios.
Assim, se as auditorias são determinadas periodicamente pelo Poder Público,
mas são realizadas por equipe de auditores que não integram a Administração
Pública, a seleção de auditores e/ou empresas especializadas para realização do
trabalho de auditoria ambiental deverá ser precedida de processo licitatório, em
consonância com o previsto na Lei 8666/93 e em atenção aos princípios que norteia
os atos da Administração na relação com administrados, quais sejam, os da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
O instituto da licitação também garante a observância dos princípios
constitucionais administrativos com relação ao credenciamento dos auditores, que se
traduz num banco de dados de auditores e empresas especializadas. Além disso, o
Edital do processo licitatório pode estabelecer critérios objetivos para pagamento das
despesas do processo pelo empreendedor, considerando que os responsáveis pela
poluição ou degradação ambiental assumem as despesas do processo e as ações
corretivas necessárias, com incidência do principio do poluidor-pagador, que também
foi prestigiado na lei estadual no art. 2º da lei nº 10.431 de 20 de dezembro de 2006.
Os princípios constitucionais administrativos da legalidade, moralidade,
impessoalidade, publicidade e eficiência, foram consagrados no art. 13 da
Constituição estadual. A Bahia, que foi pioneira em trazer avanços significativos para
o instituto das licitações públicas e contratações públicas, através da Lei estadual
9433/05, poderá estabelecer critérios seguros para credenciamento dos auditores
e/ou seleção de auditores e/ou empresas especializadas para realização do trabalho
de auditoria ambiental, bem como critérios objetivos no Edital para pagamento das
despesas do processo pelo empreendedor.
O comando normativo do novo instrumento de execução de política pública
deve pautar-se em estratégias operacionais e participativas e a sociedade civil , que
não pode ficar dissociada desse processo. Os diplomas legais constantes nos
Apêndices A,B e C apresentam vulnerabilidades, por não estabelecer claramente as
diretrizes de consulta à comunidade afetada nos procedimentos de elaboração das
diretrizes das auditorias ambientais periódicas, correção que deve ser verificada na
elaboração da lei estadual.
Na análise comparativa constante no Apêndice B, constata-se que as legislações
estaduais são praticamente unânimes em admitir a publicidade dos resultados da
auditoria, seja tornando acessível à consulta pública, seja mediante publicação de aviso
em jornal diário e de grande circulação e/ou ainda no Diário Oficial do Estado.
Entretanto, é preciso que se estabeleçam critérios de proteção ao sigilo empresarial-
inclusive as de natureza comercial, industrial, tecnológica, econômica- quando da
execução do processo, no resultado da auditoria e na publicação.
Frente às considerações apresentadas, o instituto apresenta vulnerabilidades
que devem ser corrigidas no caso de adoção do comando normativo no Estado da
Bahia, além da necessidade de observância das peculiaridades regionais e legais
do Estado.
No documento
UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR SUPERINTENDÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
(páginas 138-142)