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3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.4 Aulas de Educação Física Escolar

Por um grande período as aulas de Educação Física escolar foram separadas por sexo, nas quais meninos e meninas realizavam atividades diferenciadas. Quando as aulas passam a ser mistas, alguns(as) professores(as) ainda dividem a turma em meninos de um lado e meninas de outro, e os(as) próprios(as) alunos(as) acabam por ter gostos, interesses, habilidades, diferentes. Há exceções, entretanto. Joana (24 anos) lembra:

Eu sempre participei de todas as atividades, tanto no vôlei, não só no futebol, o que atualmente eu pratico, mas em todas, tanto nas brincadeiras nas aulas de Educação Física, não só no esporte, desde o prezinho até o Ensino médio. Sempre praticando, sempre participando.

De modo significativo, a aula de Educação Física para ela

era um período que você saía da sala de aula, e ia pro pátio, vamos dizer assim e era uma forma de lazer, uma forma de tu brincar mais

com teus colegas, dar risada, tu participar das aulas, mas também tu se divertir ao ar livre (JOANA, 24 anos).

A Educação Física, enquanto disciplina obrigatória nas escolas, cujo objeto é a cultura corporal de movimento, não deve se limitar ao ensino de apenas um conteúdo.

Você acha que as aulas que você teve foram influentes para as tuas práticas de hoje, o tênis, a corrida, o ciclismo? Sim, eu acho

que é a base, principalmente o gosto pela atividade física. Isso eu lembro da minha infância: o gosto pela atividade física; todos os meus colegas, eu lembro, assim que a hora da atividade física ou os jogos, os torneios de integração assim, isso era uma coisa que ficou na nossa educação fundamental (ANA CLARA, 41 anos, grifos

meus).

Por outro lado, a participação em algum tipo de esporte pode ter outras influências, porém podendo ser aperfeiçoada com os ensinamentos nas aulas de Educação Física.

Altmann e Reis (2013), em sua pesquisa com atletas de alto rendimento, afirmam que, no caso da maioria das mulheres, o esporte não vem por intermédio das aulas de Educação Física. As aulas de Educação Física configuram-se no principal espaço de aprendizagem e vivência do futebol/futsal, mostrando sua importância dentro desse contexto. O principal local onde as jogadoras de futsal iniciaram sua formação como atletas, todavia, não foi a escola nem as aulas de Educação Física (ALTMANN; REIS, 2013).

Elas se constituem jogadoras de futebol por meio de práticas na rua, no bairro, no quintal, na companhia de meninos, sejam eles irmãos, amigos, vizinhos ou primos. A iniciação esportiva das principais atletas de futsal de países sul-americanos ocorre de maneira informal, não institucional e sem intervenção especializada (p. 218).

O futebol não veio na vida de Joana por meio da escola. As aulas de Educação Física, no entanto, foram influentes e permitiram que ela se aperfeiçoasse:

Foram sim porque tu aprende mais. O futebol tu vai e lá joga num campinho, mas aula de Educação Física tu aprende a como passar, como cobrar o lateral, então isso influencia bastante (JOANA, 24

Para Paula (49 anos), as aulas de Educação Física tiveram um contexto diferenciado:

Aí eu fui estudar pra fora, aí nossa Educação Física tinha algumas atividades, mas nada programado. Era as aulas de 1ª a 4ª série tudo junto. Então nós não tínhamos horário de Educação Física, nós tínhamos o recreio. E você lembra as atividades que faziam? Não. Lembro assim que o que nós jogávamos era caçador, essas coisas assim, era tudo misturado sabe, masculino e feminino, e não tinha por série, era o recreio que nós tínhamos (grifos meus).

O relato de Paula confere uma realidade não muito distante no Brasil, na qual a Educação Física não era obrigatória nos Anos Iniciais.

Aí depois voltei pra escola particular, daí nós tínhamos a Educação Física, tinha esporte, aí tudo bem organizado. O professor não era formado, mas ele tinha um planejamento, a outra professora também tinha um planejamento, então a gente tinha atividades desde voleibol, handebol; lembro muito bem de atividades de ginástica, de rolamento. Tudo isso tinha bem organizado. E no Ensino Médio eu fiz o normal; aí nós tínhamos Educação Física, a didática da

Educação Física, aí nós tínhamos então, nós tínhamos toda uma

disciplina direcionada a como trabalhar a Educação Física nas séries iniciais. Então todas as atividades, joguinhos, então toda essa parte de didática a gente tinha, tinha em sala de aula e tinha as atividades que a gente tinha que construir pra ter a capacidade de trabalhar

com as crianças depois (PAULA, 49 anos, grifos meus).

A mesma situação ocorreu com Ana Clara. O seu relato, no entanto, deixa nítido que, mesmo as aulas de Educação Física sendo ministradas pelo professor do currículo, foram a base fundamental.

Eu tive o Ensino Fundamental em várias cidades; na minha infância me mudei várias vezes. Em cada escola que eu estudei tinha práticas esportivas diferentes, então em lembro assim da 2ª série até a 5ª série que foi a base fundamental e nós tínhamos Educação Física com o professor do currículo, mas nós tínhamos uma escola muito boa com pista de atletismo, e praticava vários esportes; inclusive nós tínhamos um time de basquete, time infantil; aí tinha campeonatos regionais das escolas; era uma escola evangélica e eu participei disso. Depois na 7ª série eu aprendi handebol, voleibol também, mas não foram coisas que eu segui muito (ANA CLARA, 41

Por muito tempo as aulas de Educação Física nos Anos Iniciais não eram ministradas por profissionais da área e sim pelas(os) próprias(os) professoras(os) unidocentes, o que, em minha opinião, torna-se prejudicial ao desenvolvimento dos(as) alunos(as).

Cursar Educação Física, entretanto, não garante ao profissional a realização de um bom trabalho quando esse(a) não se empenha para tal. Ele(a) estará minimamente preparado(a) a ministrar aulas, porém pode sofrer influências de outras coisas, inclusive da cultura escolar.

E aí no 2º grau na escola não tinha muita atividade; aí eu aprendi a jogar xadrez (risos); aí era minha atividade física; nos torneios era xadrez (ANA CLARA, 41 anos).

Quando o(a) professor(a), porém, se nega a planejar, a ensinar, nega também aos(as) alunos(as) o direito de aprender e se desenvolver em várias áreas da cultura corporal de movimento.

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