• Nenhum resultado encontrado

Muitas são as questões que envolvem a vida das mulheres. A trajetória de vida das mulheres participantes da pesquisa nos fizeram perceber um pouco disto. Mais ainda na questão relacionada à prática regular de exercício físico citada por uma delas como prioridade. Nesta pesquisa, buscamos compreender mais especificamente os efeitos ou não que as aulas de Educação Física tiveram nas opções das práticas corporais/esportivas atualmente das mulheres participantes. Isto porque este componente curricular, como responsável por ensinar uma série de conteúdos, pode ser influente e a base fundamental ou não, e ser o momento de aperfeiçoar a sua prática.

Acreditamos que o processo de inserção a práticas corporais/esportivas e a manutenção de um estilo de vida ativo, pode ter início na escola com as aulas nas quais meninos e meninas tenham oportunidades iguais, e que a coeducação também esteja presente fora dela, permitindo que homens e mulheres demonstrem a sua capacidade perante os esportes e práticas corporais. Fronteiras culturais, preconceituosas e discriminatórias necessitam ser rompidas para que todos tenham acesso à prática e possam desfrutar dos benefícios que ela proporciona.

A Educação Física, enquanto componente curricular, pode apresentar aos meninos e às meninas grande número de atividades, para que todos(as) possam usufruir do maior número de possibilidades e práticas corporais e escolher aquela(as) que mais lhes agradam, podendo seguir praticando fora da escola também. Não se trata aqui de a Educação Física ser determinante e estimular o estilo de vida ativo, porém, ao romper com a hegemonia do futebol, por exemplo, proporcionando àqueles e àquelas que não gostam do esporte outras opções, estes podem vir a se interessar por elas.

A Educação Física enquanto componente curricular, e tendo como objeto de estudo a cultura corporal de movimento, deve proporcionar para alunos e alunas, em todos os níveis escolares, o máximo de vivências, abrangendo as danças, as lutas, os esportes, os jogos, os exercícios, enfim, havendo diversidade, para que os alunos e alunas possam escolher ser ativos ou não quando saírem da escola.

É importante que se conheça o maior número de práticas que, de uma forma ou outra, pode provocar interesse. Desprovidos de conhecimento e com os mesmos

conteúdos e práticas, há desinteresse até mesmo nas aulas de Educação Física, que acabam não realizando o seu papel. É fundamental também que, durante as aulas, sejam elas teóricas ou práticas e independente do conteúdo a ser trabalhado, não haja discriminação por parte de professores e professoras; oportunidades iguais precisam ser dadas a meninos e meninas para que possam desenvolver suas potencialidades, sem preconceito, sem estereótipos.

Apenas reconhecendo o princípio da alteridade e da eqüidade, se contemplam as diferenças e se assegura a justeza nos processos educativos. Só assim a Educação Física e o desporto poderão desenvolver a cidadania, a auto-estima, melhorar a competência percebida dos seus alunos e alunas e, eventualmente, fomentar algum desejo por um estilo de vida ativo (GOMES; SILVA; QUEIRÓS, 2004, p. 177).

No caso das mulheres, manterem-se ativas, praticando um esporte ou outra prática corporal, significa construir novas possibilidades de ser mulher na sociedade contemporânea, driblando, assim, os preconceitos e os obstáculos em busca dos seus sonhos e objetivos, adaptando a sua rotina para buscar os benefícios da prática regular de exercício físico. A amostra de mulheres participantes da pesquisa não foi grande, porém, analisando suas diferentes idades e trajetórias, elas apresentaram objetivos incomuns, no sentido da paixão que sentem pelas práticas que escolheram não se importando com os empecilhos e ainda algumas formas de preconceito existentes.

As mulheres contemporâneas do século 21 são ativas, independentes, autônomas, desafiantes das restrições e da tão discutida delicadeza física feminina; mulheres que adentraram o espaço público, a esfera política e o âmbito esportivo não abdicando de sua vida em casa, mas não ficando restrita a ela, tecendo outras oportunidades de emancipação e de participação na sociedade.

O fato de duas das três mulheres entrevistadas serem da área da Educação Física confere a elas uma realidade um pouco diferente. Mediante sua formação e ampliação cultural, podem aperfeiçoar as suas práticas em busca de seus objetivos. O ponto forte das três, entretanto, é a motivação. Pertencentes a culturas da Educação Física diferenciadas, tornaram-se ativas por motivos diversos. No caso das três mulheres entrevistadas, as aulas de Educação Física Escolar não tiveram influência em suas escolhas, porém para duas delas as aulas foram um espaço de aprendizagem, despertando o gosto pela atividade física regular.

REFERÊNCIAS

ADELMAN, Miriam. Mulheres atletas: re-significações da corporalidade feminina. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 11, n. 2, p. 445-465, jul./dez. 2003. ______. Mulheres no Esporte: Corporalidades e Subjetividades. Revista Movimento, Porto Alegre, v.12, n. 1, p. 11-29, jan./abr. 2006.

ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. ALTMANN, Helena; REIS, Heloisa Helena Baldy dos. Futsal feminino na América do Sul: trajetórias de enfrentamentos e de conquistas. Revista Movimento, Porto Alegre, v. 19, n. 3, p. 211-232, jul./set. 2013.

ALTMANN, Helena. Documentário. 2012.

ANDRADE, Sandra dos Santos. Saúde e beleza do corpo feminino – algumas representações no Brasil do século XX. In: Rev. Movimento, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 119-143, jan./abr. 2003.

ANTUNES, Maria Rubia; BATALHA, Ana Paula. Corpos que dançam: a cultura expressiva feminina no sul do Brasil. In: FÓRUM DE DEBATES SOBRE MULHER & ESPORTE ─ MITOS & VERDADES, 3., 2004, São Paulo: Fórum Internacional, 16 a 18 set. 2004. p. 198-204.

BRUHNS, H. T. (Org.). Conversando sobre o corpo. Campinas: Papirus, 1986. CARLOS, Erasmo. Mulher (sexo frágil). 1981.

CRUZ, Marlos Messias Santana; PALMEIRA, Fernanda Caroline Cerqueira. Construção de identidade de gênero na Educação Física Escolar. Revista Motriz, Rio Claro, v. 15, n. 1, p. 116-131, jan./mar. 2009.

DEVIDE, Fabiano Pries. Gênero e mulheres no esporte: história das mulheres nos Jogos Olímpicos Modernos. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.

DICIONÁRIO escolar da língua portuguesa. Academia Brasileira de Letras. 1. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

GOELLNER, Silvana Vilodre. A educação física e a construção de imagens de feminilidade no Brasil dos anos 30 e 40. Revista Movimento, ano VII, nº 13, p. 61- 70, 2000/2.

______. Mulher e esporte no Brasil: fragmento de uma história generificada. In: SIMÕES, Antonio Carlos; KNIJNIK, Jorge Dorfman (Orgs.). O mundo psicossocial da mulher no esporte: comportamento, gênero e desempenho. São Paulo: Aleph, 2004. p. 359-372.

GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero. In: GONZÁLEZ, Fernando Jaime; FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo (orgs.). Dicionário Crítico de Educação Física. Ed. Unijuí, 2005. – 424 p. (Coleção educação física).

GOELLNER, Silvana V. História das mulheres no esporte: o gênero como categoria analítica. In: Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, 15. e CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 2., 2007, Recife. Anais... Recife: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, v. 1. p. 1-10, 2007.

GOELLNER, Silvana V. Gênero e esporte na historiografia brasileira: balanços e potencialidades. Revista Tempo, vol. 19, n. 34, p. 45-52, jan./jun. 2013.

GOELLNER, Silvana V. Mulher e esporte no Brasil: entre incentivos e interdições elas fazem história. Pensar a Prática, 8/1: 85-100, jan./jun. 2005b.

GOELLNER, Silvana Vilodre; FIGUEIRA, M. L. M. Corpo e gênero: a Revista Capricho e a produção de corpos femininos. In: Rev. Motrivivência, Florianópolis, v.

XIII, n. 19, p. 13-33, 2004. Disponível em:

<www.periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/.../950/4327> Acesso em: 5 jun. 2013.

GOMES, Paula; SILVA, Paula; QUEIRÓS, Paula. Para uma estrutura pedagógica renovada, promotora da co-educação no desporto. In: SIMÕES, Antonio Carlos; KNIJNIK, Jorge Dorfman (Orgs.). O mundo psicossocial da mulher no esporte: comportamento, gênero e desempenho. São Paulo: Aleph, 2004. p. 173-190.

GONÇALVES, Aguinaldo; VILARTA, Roberto. Qualidade de vida e atividade física – explorando teorias e práticas. Barueri, SP: Manole, 2004.

GOULD, Stephen J. A falsa medida do homem. São Paulo: Martins Fontes, 1999. GUISELINI, Mauro. Aptidão física, saúde e bem-estar: fundamentos teóricos e exercícios práticos. São Paulo: Phorte, 2004.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. JAEGER, Angelita Alice. Gênero, mulheres e esporte. In: Rev. Movimento, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 199-210, jan./abr. 2006. Disponível em: <http://www.pibid.ufpr.br/pibid_new/uploads/edfisica2011/arquivo/274/GENERO_MU LHERES_ESPORTE.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2013.

KNIJNIK, Jorge Dorfman. A mulher brasileira e o esporte: seu corpo, sua história. São Paulo: Editora Mackenzie, 2003.

______. Rosa versus azul: estigmas de gênero no mundo esportivo. In: FÓRUM DE DEBATES SOBRE MULHER & ESPORTE ─ MITOS & VERDADES, 3., 2004. São Paulo: Fórum Internacional, 16 a 18 set. 2004. p. 63-67.

KNIJNIK, Jorge Dorfman; SOUZA, Juliana Sturmer Soares de. Diferentes e desiguais: relações de gênero na mídia esportiva brasileira. In: SIMÕES, Antonio Carlos; KNIJNIK, Jorge Dorfman (Orgs.). O mundo psicossocial da mulher no esporte: comportamento, gênero e desempenho. São Paulo: Aleph, 2004. p. 191- 212.

KNIJNIK, Jorge Dorfman. Esporte substantivo feminino. Documentário do SESC SP sobre a mulher no esporte. 2010. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=o7bwaUTS6Q4> Acesso em: 15 jul 2013.

KURZ, R. O eterno sexo frágil. Folha de São Paulo, São Paulo, 9 jan. 2000. Caderno Mais, p. 12-13.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de história oral. 4ª. ed. São Paulo: Editora Loyola, 2002.

MOLINA NETO, Vicente. Etnografia: uma opção metodológica para alguns problemas de investigação no âmbito da Educação Física. In: TRIVIÑOS, Augusto N. S.; MOLINA NETO, Vicente. A pesquisa qualitativa na educação física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Sulina, 2004.

MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual discursiva. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007.

MORAES, Enny Vieira. As mulheres também são boas de bola: histórias de vida de jogadoras baianas (1970-1990). 2012. Tese (Doutorado em História) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.

MOURÃO, Ludmila. Representação social da mulher brasileira nas atividades físico- desportivas: da segregação à democratização. Revista Movimento, ano VII, nº 13, p. 5-18, 2000/2.

NAHAS, M. V. Atividade Física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida mais ativo. Londrina, PR: Midiograf, 2001.

NEGRINE, Airton. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa qualitativa. In: MOLINA NETO, Vicente; TRIVIÑOS, Augusto N. S. A pesquisa qualitativa na Educação Física: alternativas metodológicas. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2010. NETO, A. V. As idades do corpo: (material) idades, (divers) idades, (corporal) idades, (ident) idades.... In: GARCIA, Regina Leite (Org.). O corpo que fala dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 35-64.

OURO, Menina de. Filme. 2004, direção Clint Eastwood.

PITANGA, Francisco J. G. Epidemiologia da atividade física, exercício físico e saúde. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2004.

ROSEMBERG, Fúlvia. A Educação Física, os esportes e as mulheres: balanço da bibliografia brasileira. In: ROMERO, Elaine (Org.). Corpo, mulher e sociedade. Campinas, SP: Papirus, 1995. p. 271-301.

RUBIO, Katia; SIMÕES, Antônio Carlos. De espectadoras a protagonistas: a conquista do espaço esportivo pelas mulheres. Revista Movimento, ano V, nº 11, p. 50-56,1999/2,

SABA, Fabio. Mexa-se: atividade física, saúde e bem-estar. São Paulo: Takano Editora, 2003.

SABA, Fábio. Aderência à prática do exercício físico em academias. São Paulo: Manole Editora, 2001.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.

SILVA, Paula; GOMES, Paula Botelho; QUEIRÓZ, Paula. Educação Física, Desporto e Género: o caminho percorrido na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (Portugal). In: Rev. Movimento, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 31-58, jan./abr. 2006. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/viewArticle/2890>. Acesso em: 10 abr 2013.

SILVA, Maria Paula, M. P. A construção/estruturação de género na aula de Educação Física no ensino secundário. 2005. Dissertação apresentada às provas de Doutoramento em Ciências do Desporto ─ Porto Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, 2005.

SIMÕES, Antonio Carlos. O universo das mulheres nas práticas sociais e esportivas. In: SIMÕES, Antonio Carlos; KNIJNIK, Jorge Dorfman (Orgs.). O mundo psicossocial da mulher no esporte: comportamento, gênero e desempenho. São Paulo: Aleph, 2004. p. 24 - 46.

SIMÕES, Antonio Carlos; CONCEIÇÃO, Paulo Félix Marcelino; NERY, Maria Aparecida da Câmara. Mulher, esporte, sexo e hipocrisia. In: SIMÕES, Antonio Carlos; KNIJNIK, Jorge Dorfman (Orgs.). O mundo psicossocial da mulher no esporte: comportamento, gênero e desempenho. São Paulo: Aleph, 2004. p. 61-86. SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física Escolar: conhecimento e especificidade. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, supl. 2, p. 6-12, 1996.

ZEFERINO, Jaqueline Cardoso. Os caminhos da memória: trajetórias de mulheres no esporte universitário viçosense na década de 1970. 2010. Dissertação (Mestrado apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Educação Física, para obtenção do título de Magister Scientiae) ─ Minas Gerais, 2010.

APÊNDICE I

Documentos relacionados