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CAPÍTULO III – COMO É A COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL NA APTA

3.2. Ausência de política de comunicação

Apesar de desenvolver todas essas atividades, as unidades da APTA carecem de uma política de comunicação de modo a organizá-las estrategicamente, com objetivos e públicos bem definidos, além de mecanismos de avaliação de impactos que possam contribuir para elevar a comunicação a uma posição compatível com a sua relevância dentro da instituição. Essa carência leva à inexistência de normas de conduta comunicacional, tanto por parte das áreas de comunicação, como por parte dos gestores, pesquisadores científicos e técnicos. Não há uma orientação sobre como se expressar institucionalmente, também não existe um manual que oriente sobre as regras a serem adotadas.

Existem alguns procedimentos propostos pela assessoria de imprensa que acabam ficando muito ligados às pessoas que estão trabalhando. O risco é que na ausência temporária ou definitiva desses profissionais, a comunicação fique sem critérios. Duarte (2012) alerta para o fato de as políticas sempre existirem. Porém, nem sempre são formalizadas adequadamente.

Na prática, entretanto, costumam significar improvisação e personalismo. A ausência de padrões institucionalizados pode ser cômodo para dirigentes, que se adaptam a cada situação segundo critérios pessoais do momento, mas costuma ser pouco eficiente para a organização e, principalmente, para os públicos. (DUARTE, 2012, p.70).

Considerando as classificações do conhecimento em dois formatos — o explícito (teórico) e o tácito (prático) —, tem-se nas assessorias de imprensa da APTA o conhecimento prático, fruto de anos de atividade de interação entre cientistas e jornalistas da grande imprensa. (TORRES; ZIVIANI; SILVA apud POLANYI, 1983). Entretanto, sem a sistematização desses saberes e procedimentos, de modo a compor um manual de orientações, será difícil manter a transmissão e o compartilhamento dessas informações a pessoas que ainda chegarão às equipes

de comunicação. A mesma necessidade é sentida, por exemplo, em situações de férias de alguns desses profissionais que mantêm o conhecimento tácito.

O formato tácito refere-se a um conhecimento subjetivo; trata-se de habilidades inerentes a uma pessoa ou sistema de ideias, percepção e experiência, sendo difícil de ser formalizado, transferido, comunicado ou explicado a outra pessoa. Já o formato explícito é relativamente fácil de codificar, transferir e reutilizar; pode ser formalizado em textos, gráficos, figuras, desenhos, esquemas, diagramas etc., facilmente organizado em base de dados em publicações em geral, tanto em papel como em formatos eletrônicos (TORRES, ZIVIANI; SILVA, 2012, s/p).

De acordo com Torres, Ziviane e Silva (2012), a interação dos dois tipos de conhecimento compõe o chamado conhecimento coletivo, que proporciona às empresas um diferencial competitivo porque reúne as habilidades e capacidades humanas com o conhecimento formal.

No IAC, houve uma iniciativa no sentido de formalizar os contatos entre jornalistas da imprensa e pesquisadores do Instituto, na gestão de 02/07/2001 a 07/07/2004. Naquela administração, foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo uma portaria que determinava ao pesquisador que fosse contatado por algum jornalista, com o objetivo de realizar entrevista, a obrigatoriedade de comunicar a assessoria de imprensa do IAC sobre a solicitação. O objetivo era tornar conhecidas pela área de comunicação todas as demandas da imprensa, incluindo as que fossem feitas diretamente a pesquisadores. À época, a publicação causou certo desconforto e alguns pesquisadores reclamaram junto à diretoria por entenderem que se tratava de um mecanismo de controle. Com o tempo, o procedimento passou a ser adotado pelos pesquisadores, sem maiores conflitos.

Esse fato demonstra como a ausência de uma política de comunicação interfere no modo de se comunicar da instituição. Para Bueno (2015, s/p), “política de comunicação é o conjunto sistematizado de princípios, valores, posturas, estratégias e diretrizes que objetivam orientar o relacionamento de uma organização/instituição ou empresa com os seus públicos de interesse ou estratégicos” (“stakeholders”).

Na opinião de Bueno (2015), a ausência de uma cultura de comunicação leva a universidade brasileira — e nas unidades de pesquisa da APTA ocorre semelhante situação —, a não assumir o exercício da comunicação como estratégico e, consequentemente, a não se capacitar para o relacionamento com muitos de seus públicos de interesse.

Sem uma política de comunicação na APTA, nota-se que cada instituto acaba por ter sua postura comunicacional de acordo com o perfil do gestor e de sua área de comunicação.

Como nas unidades da APTA os gestores são todos pesquisadores científicos, tem-se a situação já conhecida: há aqueles que apreciam a comunicação e a praticam e há outro grupo que não a valoriza e não vê motivos para exercê-la, muito menos para motivá-la.

Na verdade, uma cultura de comunicação se define exatamente por uma prática que extrapola a mera sobreposição de atividades isoladas. Ela está legitimada pela consciência, comum a todos os níveis da organização, de que é necessário manter relacionamentos saudáveis e produtivos e de que a tarefa de comunicar não é exclusiva das estruturas profissionalizadas de comunicação. (BUENO, 2015, s/p).

Bueno (2015, s/p) afirma que a comunicação é considerada, “quando muito, útil, mas, dificilmente, estratégica”. Essa posição leva a uma situação em que não se incorpora a comunicação no planejamento institucional e, consequentemente, não são destinados recursos – humanos e materiais – suficientes para cumprir todas as funções.

Prova disso é que na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, não havia concurso com cargo específico para a área de comunicação, envolvendo jornalistas e relações públicas. No final de 2017, foi realizado o primeiro. No último concurso até então realizado, em 2006, havia cargos de nível superior, para o cargo de assistente técnico, que poderiam vir a ser ocupados por comunicadores, mas não existia essa previsão específica.

Esse descaso com a comunicação tem um preço. Na avaliação de Bueno, nas universidades, esse procedimento faz com que as instituições de ensino percam legitimidade. “De maneira geral, elas encontram dificuldade para se justificar perante diversos segmentos sociais, que as julgam elitistas, improdutivas e autoritárias.” (BUENO, 2013, s/p).

Esse distanciamento constitui um problema diante da necessidade de as instituições de pesquisa e ensino se apresentarem com imagem positiva e eficiente junto aos setores de produção, que podem vir a investir na pesquisa, e às agências de fomento. E, neste caso, Bueno comenta que a necessidade de alavancar recursos é tanto das universidades quanto dos institutos de pesquisa. “Estabelecer parcerias com o setor privado e buscar legitimação junto à sociedade deixarão de ser propostas alternativas para nossas instituições universitárias para se constituírem em estratégias obrigatórias para a sua sobrevivência.” (BUENO, 2013, s/p).

Em verdade, esse momento já chegou e a manutenção das pesquisas está vinculada à captação de recursos externos junto à iniciativa privada e às agências de fomento. No caso da APTA, os recursos externos representam 21% do total de R$ 300,3 milhões, por ano, que mantêm os seis institutos e 11 polos. A pretensão é chegar a 25%, em 2018. No IAC, esse índice ultrapassa os 30%. No ITAL, os recursos extraorçamentários representam 42% do montante.

Essas parcerias reforçam a necessidade de expor seus resultados e competências. “[A comunicação pública] antes era uma atividade opcional, hoje está se tornando uma necessidade para a ciência. Se o cientista “acadêmico”, até o início do séc. XX, poderia, se assim desejasse, comunicar a ciência para os não-especialistas, hoje o cientista “pós-acadêmico” deve fazê-lo. (GRECO, 2002 apud. VOGT, 2006, p. 88)

Bueno (2013, s/p) considera que diante da necessidade das instituições de pesquisa e ensino estabelecerem novos vínculos com a sociedade, é preciso que elas também revejam o seu “perfil comunicacional”. A recomendação é que, sem perder seus objetivos básicos, essas unidades reavaliem o trabalho de interação com os diversos públicos e capacitem-se para cumprir suas missões “a partir de uma nova proposta de comunicação, que privilegie a transparência, o diálogo, o compartilhar do saber e a responsabilidade social”.

Duarte (2012, p. 68) afirma que nas organizações “tudo e todos comunicam”. Ele se refere a todos os funcionários e até mesmo aos recursos materiais. “Cada integrante de uma organização é um agente responsável por ajudar o cidadão a saber da existência das informações, ter acesso fácil e compreensão, delas se apropriar e ter possibilidade de dialogar e participar em busca da transformação de sua própria realidade”.

No caso dos institutos da APTA, essa transformação da realidade a partir do compartilhamento das informações é algo que realmente ocorre. Há relatos de produtores rurais de diversos segmentos que contam sobre modificações em suas vidas, a partir da adoção de tecnologias desenvolvidas e transferidas pela pesquisa paulista.

3.3. Avanço no modo de registrar as inserções na imprensa das unidades da