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Engajamento de cientistas paulistas na divulgação científica

CAPÍTULO I PERCEPÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA: COMO OS

1.6. O retrato gerado por pesquisas de percepção pública da C&T

1.6.2. Engajamento de cientistas paulistas na divulgação científica

Dudo e Besley trazem informações que se assemelham à proposta deste trabalho junto aos institutos paulistas, no que diz respeito ao incentivo a cientistas para que estes aumentem seus esforços de comunicação com o objetivo de construir um relacionamento com o público e garantir que seus pontos de vistas contribuam com a formulação de políticas públicas.

A pesquisa americana proporcionou uma sensação mais clara sobre como os cientistas se envolvem com o público e as características que impulsionam esses esforços de comunicação. O estudo considera o público em sentido geral. Isto é, pode ser alguém com quem o cientista interaja por meio de programas em um museu de ciências ou em festival de ciências, ou alguém que acesse as informações do cientista por meio da mídia escrita ou falada, ou em canais online, incluindo Facebook, Twitter, YouTube e outros. (DUDO; BESLEY, 2016).

A enquete junto aos cientistas dos EUA foi motivada, principalmente, pela oportunidade de conhecer o que eles pensam sobre a comunicação pública da ciência e o que esperam quando se comunicam. Após conhecer essas informações, a pretensão é fazer uso das mesmas em programas de treinamento para suprir a lacuna existente entre a pesquisa e a comunicação científica. O estudo americano buscou compreender também os aspectos descritivos do engajamento, por exemplo, como modalidade de interação e quantidade. (DUDO; BESLEY, 2016).

Os dados foram coletados em uma pesquisa online, aplicada de outubro a novembro de 2013, junto a cinco mil membros da AAAS. Os critérios para participar da pesquisa eram: estar baseado nos Estados Unidos, ter Ph.D e estar trabalhando em uma universidade. (DUDO; BESLEY, 2016).

Esses aspectos de envolvimento com a comunicação por meio da imprensa que permeiam o estudo americano também nortearam esta pesquisa de mestrado. Nos dois casos, a principal motivação é a oportunidade para tentar entender melhor o que os cientistas pensam sobre a comunicação pública da ciência e, em seguida, usar esse conhecimento em programas de treinamento com o objetivo de superar a lacuna entre a pesquisa e a prática da comunicação científica.

Segundo o estudo americano, além do objetivo de fornecer informações, há o objetivo de a comunicação despertar o interesse pela ciência. (DUDO; BESLEY, 2016).

Esta proposta também se encontra na pesquisa junto aos pesquisadores da APTA, considerando que, a partir do momento em que as pessoas têm informações compreensíveis sobre a ciência e como ela está presente no cotidiano, essa relação dinâmica pode contribuir para levar a população a sentir-se parte do universo da ciência e a se interessar por C&T, não somente por seus resultados, mas também por suas estratégias e decisões que antecedem a atividade propriamente.

Nesse contexto, nesta pesquisa foi revisada a literatura que examina cientistas como comunicadores públicos de modo a fornecer um melhor sentido do que os eles esperam conseguir quando se comunicam. Dentre as possibilidades inclui-se o grau em que os cientistas veem o valor na comunicação pública online com o objetivo de informar outras pessoas sobre ciência e motivá-las e defender a ciência da desinformação. “Acreditamos que explorar os objetivos de comunicação dos cientistas representa uma importante área de pesquisa porque a definição de objetivos estratégicos pode influenciar a eficácia dos esforços de engajamento”. (DUDO; BESLEY, 2016, p. 2, tradução nossa).

Este viés é importante inclusive para embasar as assessorias de imprensa no trabalho prévio, feito com cientistas, pois ao conhecer seus anseios é possível orientá-los, no sentido de esclarecer sobre a dinâmica da imprensa e reduzir decepções, que podem torná-los mais resistentes em situações futuras.

O estudo americano levantou como os entrevistados usam a mídia tradicional e online para obter notícias sobre ciência. O consumo de notícia da ciência a partir de fontes tradicionais de mídia dos cientistas foi medido, pedindo-lhes para indicar com que frequência (em uma escala de cinco pontos a partir de 1 [não] a 5 [quase todos os dias]) que procuravam notícias sobre ciência através de televisão, revistas, jornais e rádio – em todos esses casos incluindo online.

Também foi verificado o consumo de notícias sobre ciência somente através da mídia online, incluindo sites de notícias, blogs, fóruns e redes sociais. (DUDO; BESLEY, 2016).

O resultado mostrou que os cientistas que consumiram mais notícias sobre ciência através de plataformas tradicionais, como por exemplo, TV e jornais, foram um pouco mais propensos a priorizar os esforços de comunicação online destinados a informar e entusiasmar audiências públicas sobre ciência. Da mesma forma, os cientistas que consumiram mais notícias sobre ciência através de plataformas online (por exemplo, blogs, redes sociais) eram menos propensos a priorizar os esforços de comunicação online com foco no incentivo a despertar interesse do público pela ciência. (DUDO; BESLEY, 2016).

De acordo com o estudo americano:

Os resultados sugerem que mulheres cientistas eram ligeiramente mais propensas a priorizar a comunicação informativa e que os cientistas mais jovens eram ligeiramente mais propensos a priorizar a comunicação projetada para excitar as audiências públicas. A produtividade em pesquisa dos cientistas foi associada apenas com um pequeno aumento na priorização de comunicação destinada a excitar as pessoas sobre a ciência. A priorização dos cientistas não foi associada com a sua experiência anterior participando de comunicação online, sua ideologia política ou o seu nível de carreira. (p. 9, tradução nossa).

Junto aos pesquisadores do Estado de São Paulo também foram levantados os meios por eles adotados para se informar sobre ciência.

Sobre a presença de mulheres na imprensa, conforme divulgação em 2018, um resultado de pesquisa realizada desde 1960 nos Estados Unidos trouxe um novo dado sobre a percepção de crianças em relação à ciência. O estudo desenvolvido com crianças em escolas públicas americanas objetiva analisar a percepção dos pequenos sobre a ciência e verificar os estereótipos em torno da profissão. A novidade é que nas pesquisas realizadas entre 1985 e 2016, 28% das crianças desenharam uma cientista mulher, diante da solicitação “Desenhe um cientista”. Somente após cinco décadas do estudo, conduzido pela Universidade de Northwestern, é que as mulheres alcançaram essa representatividade. De 1966 a 1977, menos de 1% das 5.000 crianças analisadas desenhou uma mulher cientista. A grande maioria fazia representações masculinas. O fato novo foi notícia em 21 de março de 2018 na imprensa.26

26Crianças passam a desenhar mais mulheres cientistas nos EUA. G1. 21 mar. 2018. Disponível em:

<https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/criancas-passam-a-desenhar-mais-mulheres-cientistas-nos-eua-veja- desenhos.ghtml. Acesso em: 21 mar. 2018

1.6.3. A visão de cientistas sobre C&T e imprensa: Reino Unido e Estados