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COMPETÊNCIA PARA PROCEDER AO CORRESPONDENTE PROCESSO DISCIPLINAR É DO ÓRGÃO EM CUJO ÂMBITO FORAM

6.4 AUSÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO DA LE

A falta de regulamentação da lei em estudo é uma dificuldade para servidores designados membros de comissões que não tenham uma capacitação específica na matéria nem conhecimento em Direito realizar um PAD sem qualquer situação que

conduza a anulação. Não há nenhum dispositivo legal que determine uma forma para a realização dos atos processuais, por exemplo: o que e como deve constar da Portaria de instauração do PAD. A doutrina afirma que deve constar a descrição do fato a ser apurado, em contrapartida, há quem defenda que basta mencionar o processo/documento onde está descrita a denúncia. O nome do servidor acusado poderá ou deverá, ou não, constar da Portaria instauradora do PAD? Como e quando deve ser lavrada a ata de instalação dos trabalhos da comissão? Indagações como estas, além de outras não se encontram regulamentadas. A solução encontrada pela CGU para responder tais indagações foi a realização de curso de capacitação na matéria, quando os servidores são orientados sobre o procedimento passo a passo, por meio de modelos por ela criados. Ademais, disponibiliza um Manual de PAD, da lavra da própria CGU, para eventuais consultas aos operadores de PAD´s, mas sem qualquer efeito vinculante. Trata-se de um guia que a Administração disponibiliza através da CGU, no entanto, a falta da coercibilidade inerente à norma jurídica isenta ela própria da fiscalização da realização do PAD naqueles moldes.

que Em se tratando da ausência de regulamentação, há que se destacar o caso da denúncia anônima que a Lei nº 8.112/90 veda expressamente através do artigo 144 (BRASIL. Lei nº 8.112, 1990). Portanto, não é caso nem de inconsistência nem de lacuna, porque a lei se manifesta. O problema reside na falta de regulamentação da lei, deixando à margem diversos posicionamentos doutrinários e jurisprudências controvertidos sobre o tema, os quais vêm sendo aplicados de maneira aleatória. A CGU pacificou entendimento no sentido de recepcionar a denúncia anônima malgrado a vedação legal. Verifica-se que a justificativa adotada para que se proceda de forma contrária ao preceito legal é a de que, por tratar-se do interesse público a ser tutelado, deve-se avaliar a procedência do conteúdo da denúncia com muita cautela. A denúncia será ou não confirmada no bojo dos autos do processo que a veicula antes da instauração de um PAD. Neste sentido, uma vez confirmado o indício de irregularidade, a denúncia será reduzida a termo, desconfigurando, assim, o anonimato. Essa é a tese que respalda quem acolhe o recebimento da denúncia anônima.

A CGU entende que, malgrado os argumentos contrários à aceitação da denúncia anônima, com base no dever de zelar pela regularidade e continuidade do serviço público, bem ainda por força do disposto no art. 143 da Lei nº 8.112 (1990), a

Administração Pública tem o poder-dever de promover a apuração imediata de irregularidades de que tiver ciência, não importando, a priori, se o fato chegou ao conhecimento da autoridade pública por meio de denúncia formal (presente todos os requisitos) ou por meio de peça anônima. A tal procedimento dá-se o nome de juízo (ou exame) de admissibilidade, e conclui que embora a princípio, pela própria natureza e por previsão legal para a denúncia, segundo o art. 144 da Lei nº 8.112 (1990), se exija a formalidade da identificação do denunciante, tem-se que o anonimato, por si só, não é motivo para liminarmente se excluir uma denúncia de irregularidade cometida na Administração Pública e não impede a realização do juízo de admissibilidade e, se for o caso, a consequente instauração do rito disciplinar. Diante do poder-dever conferido pelo art. 143 da Lei nº 8.112 (1990), a autoridade competente é compelida a verificar a existência de mínimos critérios de plausibilidade da delação anônima.

O IFPE tem admitido a denúncia anônima sem qualquer juízo do exame de admissibilidade para a instauração da apuração, ao arrepio dos entendimentos esposados, das disposições legais e posição adotada pela CGU sobre o assunto. No universo dos PADS investigados neste estudo, destaca-se um dos casos de denúncia anônima cuja instauração do PAD foi recomendada pela PJUR em resposta à consulta formulada pelo reitor. Tratou-se de denúncia dirigida a membro- presidente de PAD cujo relatório final sugeria a demissão de quatro servidores ocupantes de CD da Administração geral de um determinado campus do IFPE. A denúncia foi proposta sob o rótulo de uma “Sociedade” inexistente que se dizia em defesa da ética de um determinado município onde o campus encontra-se instalado. O conteúdo da denúncia se referia a uma suposta participação do servidor (membro- presidente do PAD) em uma determinada empresa. Ainda, acompanhava uma relação de processos (retirados da internet) para comprovar que o servidor atuava como advogado junto ao TJPE. Ora, o reitor ao receber a denúncia sabia, de logo, se tratar de perseguição contra o servidor denunciado pelo nexo atribuído ao PAD e a citação do município que assinava tal denúncia. A única relação que o servidor mantinha com o referido município foi o PAD que acabava de conduzir sobre a designação do próprio reitor. A Lei nº 8.112/90 não impede o servidor de participar como sócio quotista em empresas privadas, mas tão somente na condição de sócio- gerente. A denúncia não especificava a condição nem acompanhava qualquer documento com indícios. A prática da advocacia também não é proibida, exceto em

face à União, no caso do referido servidor. Mesmo com todos os elementos esposados nos autos do processo, o reitor constituiu duas comissões por aproximadamente 365 dias para vasculhar a vida do membro da CPAD, resultando ao final no arquivamento do processo.

O caso acima descrito demonstra o membro da CPAD foi perseguido pela instituição através da relação de poder da autoridade instauradora/julgadora sobre o membro subordinado, além da perseguição oriunda dos próprios servidores apenados. Com o PAD instaurado, o servidor ficou impedido sequer de ser cedido no período, sem falar no ônus do desgaste causado à imagem do servidor perante terceiros. Neste momento, destaca-se que a PJUR auxiliou a autoridade respaldando as investigações com seus pareceres e, acionada diversas vezes pelo servidor, a CGU não interveio em nenhum momento mantendo-se silente no caso. Ante o exposto, verifica-se, neste caso, a necessidade de uma profunda cautela com o exame de admissibilidade na recepção de uma denúncia anônima bem como a demonstração de como as relações de poder comprometem a imparcialidade dos PAD‟s.

Admitir a instauração da investigação com base exclusivamente em denúncia anônima daria guarida a uma prática atentatória contra a vida democrática e a segurança jurídica, incentivando a repetição do procedimento e inaugurando uma época de terror, em que a honra das pessoas ficará ao sabor de paixões condenáveis, não tendo elas meios de incriminar aquele que venha a implementar verdadeira calúnia. O interesse público prevalecente, na hipótese, deveria ser o de preservar a imagem dos cidadãos, principalmente daqueles que são designados para uma função que não pediu para exercer.