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ANÁLISE DOS DADOS

3.1 A vivência do erro e da correção no contexto pesquisado

3.1.4 Auto-correção

No que tange à maneira como os alunos percebem e corrigem, ou não, seus próprios erros, os dados revelam que MA parece ser o aluno mais confiante ao afirmar que percebe e corrige seus erros, já que os outros alunos dizem percebê- los apenas de vez em quando.

[Fragmento 16]

MA: eu não tenho muitas dificuldades assim pra me expressar então (+) eu mesmo eu mesmo já me corrijo enquanto eu falo

Os dados também sugerem que MA é o aluno que parece ter uma IL com características mais desenvolvidas e, embora não se monitore todas as vezes em

que comete um erro, pode-se notar que, nos momentos em que, de fato, percebe seu erro, ele é capaz de se corrigir sem a ajuda de P:

[Fragmento 17]

MA: You should dress like if you weren´t needing a job (+) you weren´t in need of a job

(aula de 23/05/03) Durante as aulas, pude observar vários momentos como os trechos marcados no fragmento 17, em que MA refaz sua produção ao perceber que há algum erro ou, em alguns casos, ao perceber que pode haver uma maneira melhor de dizer a mesma coisa.

As alunas JN, DE, ME e AM, cujas ILs compartilham algumas características (discutidas na próxima seção), formam um grupo intermediário e afirmam perceber seus erros de vez em quando:

[Fragmento 18]

Pe: e você percebe quando você erra? JN: às vezes

Os fragmentos 19, 20 e 21 exemplificam, respectivamente, ocasiões em que estas alunas percebem seus erros e imediatamente se corrigem, outras situações em que percebem que há algo errado, mas parecem não saber como corrigir o problema e, finalmente, situações em que não percebem que existe alguma imprecisão na forma lingüística em seus enunciados:

[Fragmento 19]

JN: once I heard something like that (+) the person that works uh (+) he or she cannot/don´t hav/doesn´t have (++) time

(aula de 23/05/03)

O fragmento acima representa um dos momentos em que JN acessa o monitor (KRASHEN, 1987), neste caso, quanto à concordância verbal, sugerindo que ela é capaz de perceber e corrigir alguns de seus erros.

[Fragmento 20]

P: for what reasons can people be sacked (++) can people be dismissed (++) for what reasons can you be sacked?

ME: for not working (+) well P: for not working well JN: for stole (++) stole? P: stealing

JN: stealing (+) for stealing

(aula de 23/05/03) O fragmento acima demonstra que, em alguns casos, JN percebe haver algo errado em sua produção sem, contudo, ser capaz de se monitorar sem a ajuda de P, utilizando, assim uma estratégia de cooperação (FAERCH & KASPER, 1983, apud GARGALLO, 1993). No fragmento abaixo, por outro lado, podemos observar que, às vezes, a aluna não percebe que existe alguma imprecisão lingüística em seu enunciado:

[Fragmento 21]

JN: then I I went to: ((nome da escola)) there I (+) I think was nice too uh (+) but when I moved to: ((nome da escola)) they had to (+) open a new class (+) because there was so many (+) new students

(entrevista de 09/05/03)

Dessa maneira, acredito que as características da IL de JN, AM, DE e ME ainda não permitam que esses aprendizes possam se monitorar com a mesma eficiência que MA, enquanto JC, apesar de também afirmar que às vezes percebe seus erros, parece ter alguma dificuldade para se monitorar devido ao fato de essa percepção ser tardia, ou seja, de acordo com Selinker (1972), ela nem sempre é capaz de utilizar as estratégias lingüísticas ou de comunicação para se expressar ou, ainda, não é capaz de acessar de maneira automática o conhecimento necessário para que possa corrigir seus enunciados imprecisos, o que pode ser uma das causas para que se sinta constrangida ao errar:

[Fragmento 22]

JC: eu acho que a às vezes eu me auto-corrijo (...) parece que a frase fica gravada (+) o que você acabou de falar assim dentro da cabeça (+) aí passou aquilo e aí você vai pensar no que você falou (...) eu fico/ e penso, penso, penso e falo/eu acho que tava errado (+) mas aí passou e aí também se o professor não corrigiu foi embora

Conforme sugerido pelos trechos grifados nos fragmentos 22 e 23, em alguns momentos JC, de fato, percebe que há algo errado em sua produção, porém dá sinais de que está confusa, utilizando estratégias de cooperação e pedindo o auxílio de P para continuar, sem conseguir fazer uso do monitor para reestruturar seu enunciado:

[Fragmento 23]

JC: (( incompreensível)) uh don´t take your (+) your holidays (+) holidays? No it´s not holidays

P: the vacation

P: they are afraid of losing their job

JC: the fear yeah the fear of/because it the person (+) has a vacation another one will take his his position (+) and if this this another one was better than / uh I don´t know what´s the verb

MA: is better

JC: is better (+) than this/ the person maybe (++) uh the (+) the first person

P: the first person

JC: I don´t know (+) should be (+) dismissed P: be sacked

(aula de 23/05/03)

Conforme os trechos grifados no fragmento 23, o fato de JC necessitar da ajuda de P para se monitorar pode ser um fator inibidor e, talvez, seja mais um indício de que JC tenha uma IL menos desenvolvida do que seus colegas, assunto que, conforme mencionado anteriormente, será melhor explorado na próxima seção deste capítulo.

Embora o uso de estratégias não faça parte do escopo deste trabalho, faz-se necessário observar que AM e ME parecem fazer uso consciente de uma estratégia de aprendizagem (BYALISTOK, 1978) para evitar o erro, quando não têm certeza sobre a precisão do que vão dizer:

[Fragmento 24]

AM: eu tenho muito disso, eu acho, então eu fico perguntando/ então eu paro a minha (+) fala e falo assim, como que eu falo isso? ((incompreensível)) então, já pra evitar ((o erro))

ME: sabe eu pergunto em/falo a palavra em inglês mas com um tom já de tipo assim de dúvida

Os trechos acima marcados demonstram que estas alunas têm consciência de que às vezes utilizam estratégias para evitar o que, para elas, seria um erro. Verificou-se, durante as aulas, vários momentos em que elas interrompem o que estão dizendo em busca do auxílio de P:

[Fragmento 25]

AM: I was talking to my boss/ you can say that for a woman? P: Yes

AM: (+) ah Americans ((todos riem por que na aula anterior AM, que é professora de espanhol, percebeu que, em inglês, a maior parte das profissões é invariável quanto ao gênero))

AM: (( incompreensível)) no (+) we were were talking about that last class (++) about the name of the professions (+) well my boss was was saying to me that he was the younger in the family (+)

(aula de 23/05/03)

ME: You know what is/ (++) I don´t know how to say (+) worst? P: uh what´s worse?

MW: yes/ (+) it´s that happens

P: What (( incompreensível)) informal letters? MA: of course

ME: you don´t (+) doesn´t/ you don´t imagine (++) uh (+) how much? (+) how many? ((olhando para P com expressão de dúvida))

P: uh (+) how many people?

ME: no (+) how many (++) yes people é: sends their (+) curri/ curriculum (aula de 23/05/03) Durante as aulas, verificou-se que trechos como os marcados no fragmento 25, em que estas alunas interrompem sua fala para verificar a precisão de alguns aspectos lingüísticos, são bastante comuns em suas produções orais.

Assim como Krashen (1987), pude observar que os alunos percebem e reagem a suas produções imprecisas de maneiras diferentes e, mais do que isso,

eles parecem ter sua capacidade de auto-correção aumentada, de acordo com as características de suas ILs, ou seja, quanto mais desenvolvida a IL, mais eles parecem ser capazes de se monitorarem.