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AUTOEFICÁCIA DO ALEITAMENTO MATERNO EM GESTANTES DE UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Denise Maria Valério da Silva1, Francisca Renilcilanne de Sousa1,Florianília Piauiense Torres de Araújo1,Artemizia Francisca de Sousa1

1Universidade Federal do Piauí

Resumo

Introdução: A investigação da autoeficácia amplia a perspectiva de competência materna e

auxilia na identificação de gestantes com maior necessidade de orientação e suporte, principalmente no que se refere ao aleitamento materno. A aplicabilidade clínica da escala de autoeficácia como instrumento confiável para avaliar a percepção das gestantes em sua capacidade em amamentar possibilita aos profissionais identificar as mulheres suscetíveis de ter sucesso na amamentação. Objetivos: Realizar o levantamento do nível de confiança das gestantes em seu poder de amamentar, bem como identificar os pontos de maior vulnerabilidade. Métodos: Participaram do estudo 98 gestantes acompanhadas pela rede de atenção primária do município de Picos-PI. A pesquisa ocorreu nas Unidades Básicas de Saúde da zona urbana, por intermédio dos Agentes Comunitários de Saúde. A coleta de dados aconteceu no período de outubro de 2014 a dezembro de 2015. Aplicou-se um formulário contemplando aspectos socioeconômicos, obstétricos e a escala da autoeficácia na amamentação (Breastfeeding Self-Efficacy Scale - BSES-SF), sendo esta composta por 14 itens. Resultados: Identificou-se elevados índices de confiança materna em amamentar nas gestantes avaliadas, bem como o perfil socioeconômico das mesmas, e os pontos em que elas se sentem mais inseguras quanto à amamentação, de acordo com os itens da BSES-SF. Considerações finais: A utilização da escala de autoeficácia em amamentar se constitui um instrumento de relevância clínica tanto na identificação dos pontos onde a gestante apresenta maior vulnerabilidade, quanto na avaliação de programas de educação em saúde com esse público, permitindo avaliar sua efetividade.

Palavras-chave: Gestante. Aleitamento Materno. Autoeficácia.

INTRODUÇÃO

A prática do aleitamento materno é de fundamental importância para o crescimento e desenvolvimento adequados da criança e para sua saúde física e psicológica. O leite materno possui grande qualidade e especificidade de nutrientes, garantindo proteção contra doenças, sendo incapaz de ser substituído por qualquer fórmula alimentar artificial (MARGOTTI, 2013).

Sendo considerado o alimento apropriado para as crianças com menos de seis meses, o leite materno, oferece proteção contra diversas doenças comuns no primeiro ano de vida e atende a todas as necessidades nutricionais da criança. Depois dos seis meses, outros alimentos devem ser oferecidos ao lactente e é recomendado que o aleitamento materno seja mantido até os dois anos de idade ou mais (ARAÚJO et al., 2013).

Estima-se que a amamentação tem o potencial de reduzir em 13% as mortes em crianças menores de 5 anos por todas as causas, sendo a estratégia, que de forma isolada, previne o maior número de mortes infantis. Amamentar é muito mais do que nutrir a criança. É um processo que envolve interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança, em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional, além de favorecer a saúde física e psíquica da mãe (JUNIOR; LIMA; GONTIJO, 2015).

Os obstáculos ao aleitamento materno são inúmeros, mas de maneira geral as alegações para seu abandono envolvem mitos e desinformação, mesmo entre mulheres com nível socioeconômico mais elevado. Esses fatores acabam por diminuir a confiança da mulher (autoeficácia) em sua capacidade de amamentar, fazendo com que abandone precocemente a amamentação (SOUZA; FERNANDEZ, 2014). No entanto, a autoeficácia, crença na habilidade pessoal de desempenhar com sucesso determinadas tarefas ou de apresentar determinados comportamentos para produzir um resultado desejável, é considerada um fator passível de mudança por meio de ações de educação em saúde (CHAVES et al., 2015; SOUZA, 2012).

Nesse contexto, recobre-se de importância a sua investigação, de modo a ampliar a perspectiva de competência materna e auxiliar na identificação de gestantes com maior necessidade de orientação e suporte, no que se refere ao aleitamento materno (SPEHARI; SEIDL, 2013).

Tais levantamentos podem ser realizados por meio da Breastfeeding Self-Efficacy Scale - BSES-SF, que apresenta aplicabilidade clínica como instrumento confiável para avaliar a percepção das gestantes em sua autoeficácia na amamentação, possibilitando aos profissionais identificar as mulheres suscetíveis de ter sucesso na amamentação, bem como aquelas que podem apresentar necessidades de intervenções antes do parto (SOUZA; FERNANDES, 2014).

O momento mais oportuno para identificação da autoeficácia materna em amamentar é durante a realização do pré-natal, pois oportuniza a preparação da mãe e familiares para a amamentação, por meio do esclarecimento de dúvidas e fornecimento de informações relevantes atuando nos pontos de vulnerabilidade identificados e promovendo o empoderamento materno (RODRIGUES et al., 2013).

Convém ressaltar a necessidade do comprometimento dos profissionais envolvidos na assistência às gestantes, pois se tem verificado que baixos níveis de

confiança materna no ato de amamentar, frequentemente, estão relacionados às falhas na execução de programas de incentivo e apoio ao aleitamento materno, bem como a insuficiente orientação profissional , ainda no período gestacional, para a prática da amamentação (SANTANA; BRITO; SANTOS, 2013).

Diante do exposto e, levando em consideração, que a avaliação da autoeficácia materna na amamentação não se constitui em rotina da assistência à gestação, objetivou-se, no presente trabalho, realizar o levantamento do nível de confiança das gestantes em seu poder de amamentar, bem como identificar os pontos de maior vulnerabilidade, de modo a propor estratégias para elevar esses índices e, em consequência melhorar os indicadores de aleitamento materno, bem como demonstrar a importância da incorporação desse tipo de diagnóstico nos protocolos de atendimento e acompanhamento de gestantes.

METODOLOGIA

Estudo de natureza descritiva transversal, que produz um retrato instantâneo da situação, num determinado momento (PEREIRA, 2001). A população-alvo foi constituída por 98 gestantes acompanhadas pela rede de atenção primária de saúde de um município do semiárido brasileiro (Picos-Piauí).

A amostra foi do tipo não probabilístico por conveniência, dadas às necessidades operacionais e de custeio, com as participantes sendo incluídas no estudo de forma consecutiva, à medida que preenchiam os critérios de elegibilidade.

Adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: idade igual ou superior a 19 anos; residentes na zona urbana do município; acompanhada pela Estratégia Saúde da Família (ESF); gestação de risco habitual; feto único; não possuir contraindicação para amamentar, bem como aceitar participar da pesquisa, consolidando o seu consentimento por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), após serem esclarecidas sobre os objetivos e procedimentos da mesma.

A coleta de dados ocorreu no período de outubro de 2014 a dezembro de 2015, utilizando como instrumentos um formulário, contemplando aspectos socioeconômicos e obstétricos, e a escala Breastfeeding Self-Efficacy Scale (BSES-SF) para avaliar o nível de confiança materna em amamentar.

A escala BSES-SF é do tipo likert, composta por 14 itens, a saber: QUADRO 01: Escala da Autoeficácia Materna na Amamentação.

1. Eu sempre sinto quando o meu bebê está

mamando o suficiente. 1 2 3 4 5

2.

Eu sempre lido com amamentação com sucesso, da mesma forma que eu lido com os outros desafios. (supero com sucesso a amamentação e as demais situações da vida).

1 2 3 4 5

3. Eu sempre alimento o meu bebê sem usar leite em

pó como suplemento. 1 2 3 4 5

4. Eu sempre percebo se o meu bebê está pegando o

peito direitinho durante toda a mamada. 1 2 3 4 5

5. Eu sempre lido com a amamentação de forma a me

satisfazer. 1 2 3 4 5

6. Eu sempre posso amamentar mesmo se o meu

bebê estiver chorando. 1 2 3 4 5

7. Eu sempre sinto vontade de continuar

amamentando. 1 2 3 4 5

8. Eu sempre posso dar de mamar confortavelmente

na frente de pessoas da minha família. 1 2 3 4 5

9. Eu sempre fico satisfeita com a minha experiência

de amamentar. 1 2 3 4 5

10.

Eu sempre posso lidar com o fato de que amamentar exige tempo. (mesmo consumindo o meu tempo eu quero amamentar).

1 2 3 4 5

11. Eu sempre amamento meu bebê em um peito e

depois mudo para o outro. 1 2 3 4 5

12. Eu sempre continuo amamentando meu bebê a

cada alimentação dele. (a cada mamada). 1 2 3 4 5

13.

Eu sempre consigo adequar as minhas

necessidades as necessidades do bebê. (organizo minhas necessidades de banho, sono, alimentação com a amamentação do bebê).

1 2 3 4 5

14. Eu sempre sei quando o meu bebê terminou a

mamada. 1 2 3 4 5

TOTAL

TOTAL DE PONTOS:

Fonte: Dodt, 2011.

Para cada item avaliado se atribuiu uma pontuação variável de 1 a 5 pontos, considerando: 1 – Discordo totalmente, 2 – Discordo, 3 – Às vezes concordo, 4 – Concordo e 5 – Concordo totalmente. Ao final, realizou-se o somatório para determinação do nível de autoeficácia materna em amamentar, conforme quadro abaixo:

QUADRO 02: Classificação da Autoeficácia Materna em Amamentar.

Classificação Escore Total

Média autoeficácia 33 a 51 pontos

Alta autoeficácia 52 a 70 pontos

Fonte: Dennis, 2003.

Assim, os escores totais da escala poderiam apresentar variação de 14 a 70 pontos, sendo que aquelas mulheres com maior pontuação foram consideradas as com maior potencial de manter a amamentação exclusiva por um período mais longo. É importante ressaltar que não existe resposta certa ou errada, a atribuição dos pontos foi de acordo com a percepção da gestante sobre determinado item.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (CAAE: 21560313.2.0000.5214) de acordo com as diretrizes estabelecidas na Reso lução 466/2012 e complementares do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2013).

A realização do estudo contribui para identificação dos pontos em que as mães se sentem mais inseguras quanto à amamentação, o que facilita as ações de grupos no trabalho de apoio e incentivo ao aleitamento materno, além de expandir a chance de haver um prolongamento da amamentação com os benefícios diretos para a mãe e sua criança. Além disso, como os instrumentos de coleta de dados se constituem de formulário e questionário representam riscos mínimos às participantes, podendo, no máximo, causar algum constrangimento, o que os pesquisadores buscaram evitar por meio do estabelecimento de um vínculo de confiança com as mesmas. Garantiu-se o sigilo dos dados das gestantes, com todo o material coletado sendo devidamente arquivado e não havendo a identificação nominal das gestantes em nenhum dos instrumentos de coleta.

RESULTADOS

Participaram do estudo 98 gestantes, as quais foram caracterizadas quanto ao seu perfil socioeconômico e obstétrico, bem como quanto ao grau de autoeficácia do aleitamento materno, com identificaçãodos pontos em que as mesmas apresentam-se mais inseguras quanto à amamentação. Na tabela 1 observa-se que as medianas para renda familiar, idade e escolaridade foram de 1.576,00 reais, 26 e 11 anos, respectivamente. Quanto à cor, a maioria se autodeclaram de cor parda (71%), seguido de cor branca (17%), negra/preta (11%) e indígena (1%).

Tabela 1. Perfil socioeconômico das gestantes. Picos - PI, 2014/2015.

DP – Desvio Padrão.

Além disso, observou-se um maior percentual de participação de primigestas (48%), que apresentaram média da autoeficácia de 52,8, pontos. Quanto ao pré-natal, foi visto que a maioria (85%) iniciou ainda no primeiro trimestre de gestação. No que concerne o planejamento da gestação, verifica-se que a maior parte (54%) não planejou a gravidez (tabela 2). Observa-se que os valores médios do total de escores apresentados, de acordo com a caracterização obstétrica, apresentam-se muito próximos, o que pressupõe que, para as participantes avaliadas, o número de gestações, o trimestre gestacional de início do pré-natal e o planejamento ou não da gravidez não interferiram na percepção materna em sua capacidade de amamentar.

Tabela 2: Caracterização obstétrica das gestantes por média de escore de autoeficácia. Picos – PI, 2014/2015.

Variáveis N (%) Média da Autoeficácia (pontos) Número de gestações Primeira gestação 47 (48) 52,8 Segunda gestação 25 (26) 55,2 Renda (reais) 1739,0 ± 983,0 1.576,0 Idade (anos) 26,6 ± 4,8 26,0 Escolaridade (anos) 10,2 ± 3,0 11,0 Cor F % Branca 17 17 Parda 69 71 Preta/Negra 11 11 Amarela/Asiática Indígena - 01 - 01

Terceira gestação 17 (17) 52,4 Mais de três gestações Início do pré-natal 09 (9) 50,8 1º Trimestre 83 (85) 53,1 2º Trimestre 13 (13) 53,5 3º Trimestre 2 (2) 56,5 Planejamento da gravidez Sim 45 (46) 52,6 Não 53 (54) 53,6

No tocante ao nível de autoeficácia em amamentar das gestantes (gráfico1), é importante ressaltar que, apesar da maioria das participantes (63%) apresentarem escores compatíveis com alta autoeficácia para o aleitamento materno (52-70 pontos), há um percentual considerável de gestantes com média autoeficácia do aleitamento materno, com as quais devem ser trabalhados, de maneira mais detalhada, os aspectos identificados como sendo os pontos de maior fragilidade para determinação da confiança materna em amamentar.

Gráfico 1: Classificação da autoeficácia em amamentar entre gestantes avaliadas. Picos – PI, 2014/2015.

Fonte: Autoria própria.

0%

37%

63%

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