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Autonomia das instituições estaduais de ensino superior do Paraná

4 ENSINO SUPERIOR ESTADUAL DO PARANÁ

4.1 INSTITUIÇÕES ESTADUAIS DE ENSINO SUPERIOR PARANAENSES

4.1.2 Autonomia das instituições estaduais de ensino superior do Paraná

Observa-se que, com respeito às políticas para o ensino superior público do Estado do Paraná, os documentos elaborados pelas IES paranaenses destacam a autonomia universitária, evidenciado a preocupação das instituições com a questão. Pelo documento da UEL, todas as unidades do Sistema Estadual de Ensino Superior Público deverão gozar, dentro do preceito Constitucional, de autonomia pedagógica, científica, financeira e administrativa. Pela Carta de Apucarana, o Sistema deve ter autonomia financeira, acadêmica e científica perante aos órgãos do Estado. Conforme o documento da UEM, a história das IES paranaenses é marcada pela luta constante por maior liberdade e autonomia para gerir suas atividades e seus destinos, pois entendem que esta é uma exigência da própria natureza da instituição universitária. Por isso, a autonomia universitária apresenta-se como condição primordial para que as IES do

Paraná realizem, eficientemente, suas tarefes de forma a maximizar o retomo social dos recursos nelas investidos. É entendida também como condição essencial para o exercício das prerrogativas e da fimção social das IES paranaenses. Visa ainda garantir a liberdade de pensamento, a livre produção e transmissão do conhecimento e a eficiência e eficácia da gestão dos seus recursos.

A autonomia universitária, conforme o documento da UNIOESTE, é condição necessária para a superação da crise das universidades públicas, não devendo ser entendida e utilizada como saída de emergência da crise, mas como ato planejado de um sistema orgânico global. Não pode também ser um mecanismo que venha a inviabilizar o futuro do sistema de ensino superior público e nem instituir a desigualdade, a injustiça e o desequilíbrio técnico e financeiro das IES componentes. Nesse documento, a UNIOESTE propõe ainda alguns critérios para definir a autonomia, a partir do pressuposto de que a autonomia universitária somente será atingida na medida em que a questão do financiamento esteja contemplada. A dependência e a excessiva limitação financeira podem constituir-se em fatores de interferência de forças alheias às ações próprias da universidade. Nessa perspectiva, define alguns critérios objetivos, a partir dos quais se pode determinar uma equânime partilha dos recursos financeiros para as IES do Paraná, quais sejam: número de alunos, docentes e técnico- administrativos; número e natureza dos cursos; número de campi universitários; área construída; população dos municípios-sede e da área de abrangência da IES; participação no ICMS, cota Estado, dos municípios-sede e da área de abrangência da DES; índice de qualidade.

Em outro documento, datado de 12 de fevereiro de 1999, a Direção da UNIOESTE, com o propósito de informar à comunidade acadêmica e discutir critérios para subsidiar as tratativas em tomo da autonomia universitária das IES paranaenses, destaca alguns problemas e alguns parâmetros para orientar as discussões. Dentre os principais problemas levantados está a necessidade de estabelecer critérios comuns a todas as IES para a destinação de recursos fin a n ce ir o s, pois os índices historicamente pautados configuram uma injustiça na distribuição de recursos entre as regiões e IES do Estado. Além disso, o critério do valor da folha de pagamento, como base para a distribuição de recursos, precisa ser revisto e qualificado para ajustar a composição das folhas de todas as IES aos mesmos critérios e parâmetros, isso supõe o acesso público a todas as informações nelas contidas.

A Direção da Instituição, de acordo com o referido documento, entende que para a implantação da autonomia financeira é preciso viabilizar a implementação isonômica dos planos de carreiras dos docentes e dos técnico-administrativos. Entende também que o valor da autonomia financeira proposto em estudo preliminar da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) inviabiliza a UNIOESTE, não cobrindo sequer a folha de pagamento atual. Além disso, a UNIOESTE está em expansão e consolidação, com vários cursos em fase de implantação, isso requer um aumento gradativo no número de docentes e de técnico-administrativos, bem como nos investimentos e custeio. Segundo a Direção, o quadro de pessoal da UNIOESTE está extremamente defasado e, no estudo da autonomia, precisa ser equalizado, em conformidade com as condições e situação das demais IES. Aliado a isso, tem-se as incorporações do Campus de Francisco Beltrão e do Hospital Universitário (Regional) de Cascavel, que precisam ser ponderadas e quantificadas para a definição dos valores de repasses à UNIOESTE. Além de todos os aspectos apontados, as discussões da autonomia financeira devem contemplar o tempo histórico e a inserção social e regional de cada IES.

Da parte das IES paranaenses, verifica-se que, embora sejam instituições muito similares quanto a sua constituição jurídica e a alguns de seus objetivos e aspectos constitutivos organizacionais, elas têm distintas aspirações e expectativas no que se refere a autonomia, até porque estão inseridas em regiões específicas do Estado, cujas realidades são bem diferentes entre si. No entanto, a preocupação com a autonomia é visível, principalmente nas universidades mais consolidadas (UEM e UEL) ou em fase de consolidação, como é o caso da UNIOESTE.

Da parte do governo estadual paranaense, com o objetivo de formar recursos humanos com excelência para gerir as IES, por intermédio da SETI, criou o Fórum de Gestão Universitária, em abril de 1999. O Fórum reúne representantes das UEL, UEM, UEPG, UNIOESTE e UNICENTRO, além de três instituições convidadas, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) e Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET). Sua função é promover a discussão e troca de experiência sobre gestão com instituições nacionais e internacionais, criando, a partir dos subsídios disponibilizados pelos modelos já existentes, o modelo de gestão universitária mais adequado para o Paraná, de acordo com a realidade de cada região. Entre as propostas inicialmente levantadas está a capacitação em gestão, com a promoção de cursos de extensão, palestras,

workshops e intercâmbios, voltados para um público formado por profissionais que já atuam como gestores no sistema e aqueles que têm vocação e possibilidade de atuar como gestores no futuro.

O governo do Estado visava também construir até o final de 1999 uma Proposta de Autonomia das Instituições de Ensino Superior do Paraná. Para subsidiar os dirigentes das IES em suas discussões sobre autonomia e gestão acadêmica, a SETI promoveu e vem promovendo alguns workshops onde, inicialmente, foram apresentados os referenciais que balizam a autonomia das universidades estaduais paulistas e os referenciais portugueses, bem como a experiência de gestão do sistema de ensino superior britânico. Esses seminários eram parte de um conjunto de ações da SEU e da Associação Paranaense das Instituições de Ensino Público (APIESP). Em fevereiro de 2000, a Secretaria realizou o I Encontro de Cooperação Técnica entre as Universidades do Paraná.

Em setembro de 1999, a Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Maringá (ADUEM) publicou o documento Autonomia Universitária: Esboços Iniciais com Vistas à Formulação de um Projeto de Lei. Era uma proposta inicial de autonomia para as universidades estaduais do Paraná, cujo objetivo era abrir um debate mais sistematizado dentro das IES paranaenses.

Em que pese as observações anteriormente colocadas sobre as tratativas e discussões da autonomia universitária entre as IES paranaenses e o governo do Estado, concretamente, resultaram os Termos de Autonomia assinado pelo governo do Paraná e pelas cinco universidades estaduais paranaenses (UEM, UEL, UEPG, UNIOESTE e UNICENTRO) e pelas demais IES do Estado, em 18 de março de 1999. Os Termos foram objetos de acirradas discussões e debates nos conselhos superiores dessas instituições. Eles previam o repasse mensal de recursos para a manutenção das atividades das DES até o final do exercício financeiro do ano de 1999. Em contrapartida, todas as instituições (que abrigam cerca de 48 mil alunos) assumiram o compromisso de ampliar em até 20% o número de vagas a serem ofertadas nos cursos de graduação a partir de 2000, sem aumento de custo para o Tesouro do Estado, bem como ampliar seus convênios para pesquisa, extensão e prestação de serviços à comunidade. Tendo em vista que encontram-se ainda em fase de expansão e consolidação de suas estruturas, a UNIOESTE e a UNICENTRO tiveram garantida a possibilidade de criação de novos cursos.

Com os Termos, as IES passaram a ter maior liberdade para gerir os recursos financeiros que o governo estadual paranaense previa destinar às instituições no ano de 1999, assim como para firmar e administrar as verbas de convênios. Segundo o secretário estadual da SETI, Ramiro Wahrhaftig, “a idéia é aumentar o compromisso do ensino superior com o desenvolvimento regional” (O Estado de São Paulo, 24/03/1999). Até então, o orçamento das IES do Paraná, da mesma forma que ocorre com as universidades federais, estava engessado, ou seja, as verbas previstas para serem gastas em determinadas rubricas não podiam ser utilizadas para outras. Assim, a instituição não se beneficiava de nenhuma economia ou racionalização de gastos que viesse a promover. Com a autonomia, nos moldes dos Termos, elas podem, “dentro dos limites orçamentários e cumpridas as formalidades legais”, aplicar os recursos próprios e os aprovados pelo Tesouro do Estado, ficando dispensadas da aprovação prévia do Conselho de Reestruturação e de Ajuste Fiscal do Estado (CRAFE), bem como tomar decisões administrativas com maior liberdade. Mas, para abrir novos cursos que exijam verbas estaduais extras, as IES precisam de autorização da SETI e do CRAFE. Isso representa interferência clara do governo estadual na autonomia das IES.

De acordo com os Termos de Autonomia, os recursos representam a parcela de responsabilidade do Estado do Paraná na cobertura de todas as despesas com pessoal, encargos sociais, custeio e investimento, ficando a cargo das IES a complementação necessária para o desenvolvimento de suas atividades. O repasse não contempla o pagamento de precatórios, inativos e pensionistas, energia elétrica e água, que já são responsabilidade do Tesouro do Estado. Quanto aos salários dos servidores das IES, os Termos asseguram o mesmo percentual de aumento que eventualmente seja concedido aos demais servidores públicos do Estado. Nesse aspecto, o ideal seria talvez uma carreira própria para as DES, desvinculada dos demais servidores do Estado. Pelos Termos as IES ficam dispensadas de utilizar o Sistema Integrado de Pagamento e Pessoal (SIP) do Estado, podendo adotar sistemática própria para a confecção de sua folha de pagamento.

Estava ainda previsto nos Termos de Autonomia que durante o exercício de 1999 seria apresentada, pelo governo estadual, uma proposta definitiva de autonomia das IES paranaenses, que deveria ser aprovada com a participação efetiva dessas instituições. No entanto, a proposta não saiu e em 2000 foram reeditados os Termos, cuja mudança principal se deu em cima dos valores repassados às IES.