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Questão de Pesquisa 3: gestão e autonomia universitária

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

5.1 AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA: CONCEPÇÃO, LEGISLAÇÃO E GESTÃO

5.1.3 Questão de Pesquisa 3: gestão e autonomia universitária

No que concerne aos aspectos de gestão, os dados coletados demonstram que na opinião de praticamente todos (95%) os informantes a autonomia promove mudanças substanciais em muitas áreas e atividades universitárias. Da mesma forma, exige maior responsabilidade e envolvimento dos dirigentes e demais membros da comunidade universitária.

As mudanças mais citadas pelos entrevistados que podem ocorrer a partir da autonomia estão ligadas às gestões administrativa, orçamentária, financeira e de recursos humanos. Na área administrativa dois informantes vêem a possibilidade de a universidade criar o seu próprio modelo de gestão e ter uma estrutura organizacional flexível. Nas áreas orçamentária e financeira quase metade (45%) deles vislumbram agilidade e flexibilidade na aplicação dos recursos e melhor uso dos recursos disponíveis. Contudo, as mudanças mais significativas estão, de acordo com a grande maioria (90%) dos informantes, relacionadas à área de recursos humanos. A possibilidade de a universidade fazer as suas próprias contratações e promover a qualificação do pessoal foi a principal mudança levantada, seguida da implantação de plano de cargos e salários, forma de conduzir o trabalho, terceirização dos serviços, entre outras.

Dois depoentes acreditam que a autonomia universitária proporcionará um amadurecimento institucional. Outro que a cultura universitária pode sofrer alterações. Um terceiro ressalta que a autonomia, automaticamente, não conduz à eficiência. O que ocorre é que “pelo feto de ela estabelecer um parâmetro máximo de recurso, com o qual a universidade pode exercer a autonomia, geralmente ela é forçada a planejar melhor a execução dos recursos e com isso acaba tendo ganhos de eficiência”.

Os depoimentos a seguir reforçam essa interpretação:

Promove mudanças nas pessoas e isso afeta o jeito que elas conduzem o trabalho. ... A autonomia faz enxergar além do muro. ... N a questão orçamentária se tem velocidade. Hoje não se compra nada se não fizer todo um processo de licitação e a lei de licitação diz que tem que comprar ao menor custo e tem coisas que o menor custo é uma porcaria. ... Uma das questões financeiras da autonomia é o em prego melhor do dinheiro, não ter super faturamento e desvios, ser mais rápido, poder comprar as coisas com bom preço e qualidade.

Com autonomia financeira poderia decidir contratar quando, quantos e onde enquadrar os funcionários no plano de carreira. Hoje fica amarrada a uma decisão do Estado ... Fica mais fácil administrar sabendo quanto se tem em caixa. ... Com a autonomia, sabe-se exatamente quanto vai receber, assim con segu e-se provisionar esses recursos dentro da universidade para

as áreas prioritárias.... A autonomia sim plifica os trâmites e flexibiliza a aplicação do dinheiro porque sabe-se quanto e quando vai recebê-los e pode-se planejar onde aplicar.

N o contexto das universidades brasileiras há necessidade de qualificação dos recursos humanos que atuam dentro delas. ... Há uma política a nível nacional de cobrança de maior qualidade no ensino, pesquisa e extensão, e de melhor desempenho da universidade. ... Com autonomia, pode-se desenvolver políticas próprias de formação dos recursos humanos ... sem depender de autorizações. ... A modernização da gestão administrativa da universidade depende também de sua autonomia porque dá liberdade pra ela poder pensar o seu modelo de gestão, sem ter que enquadrar-se num m odelo único dado pelo MEC ou quem quer que seja. C om autonomia na aplicação dos recursos a universidade poderia contratar seus professores a partir do seu orçamento sem ter autorização do governo. ... Teria facilidades para corrigir distorções e para colocar o quadro de pessoal docente para trabalhar com mais empenho. ... A lguns recursos poderiam ser canalizados diretamente, sem passar pelos crivos burocráticos e instâncias que impedem e determinam as coisas. A autonomia operacionalizaria o dia-a-dia da universidade e isso seria uma grande vantagem no sentido administrativo-financeiro. A didático-científica não é um grande problema. Se as universidades não são altamente qualificadas não é porque não têm autonomia científica, mas porque não têm a autonomia financeira-administrativa.

A autonomia, na percepção da quase totalidade (95%) dos respondentes, implica maior responsabilidade dos dirigentes e demais membros da comunidade universitária, bem como exige mais envolvimento por parte dessas pessoas. Cada um terá que efetivamente assumir o seu papel na instituição e conscientizar-se da própria função da universidade no contexto em que está inserida. Não será mais possível transferir a responsabilidade para instâncias superiores. Os dirigentes e o corpo universitário terão que decidir os rumos e os destinos da instituição e, além disso, as instâncias de cobranças estarão mais próximas. Para tanto, um dos entrevistados argumenta que as pessoas terão que aprender sobre a autonomia em seus diferentes aspectos, quais sejam, administrativos, pedagógicos, legais, conceituais e assim por diante. Alguns lembram que aumentará a responsabilidade na escolha dos representantes institucionais, reitores, diretores e conselheiros, entre outros. Nesse sentido, para que haja um verdadeiro comprometimento por parte de toda a comunidade interna (dirigentes, professores, técnico-administrativos e alunos) e também da comunidade externa (setores organizados da sociedade) é imprescindível que a universidade tenha uma gestão participativa e democrática.

Nota-se ainda que uma parte dos informantes refere-se ao aumento da responsabilidade dos gestores, especialmente no gerenciamento e aplicação eficaz dos recursos financeiros da universidade. Pode-se dizer que isso se deve principalmente ao feto de que a grande maioria (90%) associa a autonomia universitária à autonomia d e . gestão financeira.

As colocações abaixo evidenciam e complementam as assertivas feitas anteriormente: A autonomia im plica em maior responsabilidade pois esta responsabilidade cai pra dentro da universidade, não pode ser jogada para um setor mais adiante. V ai exigir regras, legislação, que responsabilizem a má gestão ou premeiem a boa gestão. ... E xige o estabelecim ento claro dos papéis, funções e responsabilidades nas diferentes instâncias administrativas da universidade.... Exige que cada um assuma o seu papel dentro da hierarquia institucional. N ão significa que automaticamente todos vão se envolver mais, mas a responsabilidade cresce e muito, porque a partir daí o gasto bem ou mal feito não é mais responsabilidade do Estado e sim daquele corpo de membros da universidade.

Aumenta o envolvim ento do corpo diretivo e da comunidade universitária. São eles que vão decidir o que é melhor fazer e não mais ficar amarrado a uma decisão do Estado, a uma decisão de algumas pessoas, em função do que vem de cima pra baixo. Há a possibilidade de ter um envolvim ento maior da com unidade acadêm ica em decidir o que fazer, com o aplicar o dinheiro e com o definir os cam inhos que a universidade vai seguir.

Sempre que alguém tem maior liberdade de atuação tem na m esm a medida maior responsabilidade. ... E a autonomia é um grande espaço de liberdade por isso também um grande espaço de responsabilidade. ... Ter liberdade de organizar as atividades de ensino, pesquisa e extensão, mas com a responsabilidade de desenvolver projetos sociais necessários e programas importantes requeridos pela sociedade. Ter a responsabilidade de gerenciar bem os recursos que d is p õ e .... A responsabilidade pela autonomia é de todos. Cada um na sua função, no seu espaço, tem que somar forças para a concretização de um único projeto.

Isso é fundamental porque o reitor passa a não ser mais aquele político que vai brigar por mais recurso do Estado mas, acima de tudo, é aquele gestor dos recursos públicos que tem que aplicá-los da forma mais eficiente p ossível para os fins institucionais. ... A parte da comunidade universitária se viabiliza através da forma de administração que se tem na universidade, que é colegiada. Logo, as responsabilidades são dos colegiados e neles há representação de todos os setores da comunidade acadêmica e até da com unidade externa. Com autonomia a decisão é da instituição. Os seus gestores são responsáveis pelo que acontece e isso exige responsabilidade de toda a comunidade acadêm ica, principalmente quando a gestão é participativa. A responsabilidade aumenta muito porque sem autonomia depende-se muito de órgãos fora da universidade pra algumas decisões e as decisões que não são tomadas ou não são adequadas é fácil desculpar-se delas e colocar a culpa no outro. M as quando a decisão é da própria instituição, tem que assumir a responsabilidade.

Sem autonomia o dirigente assum e um cargo designado. Ele é indicado pela com unidade mas o seu com promisso está ligado ao Estado, que o financia. Num a instituição autônoma, o dirigente tem um envolvim ento direto com a comunidade acadêm ica e circundante. Ele tem que dar respostas diretas a essa comunidade, buscando junto dela subsídios pra definir políticas e indicativos ... para redefinir a m issão da universidade. ... O dirigente é um coordenador, é a expressão máxima da vontade da comunidade, que deve ser sincronizada com a programação definida majoritariamente pela instituição.