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A AVALIAÇÃO NO ÂMBITO DO RECONHECIMENTO DE ADQUIRIDOS EXPERIENCIAIS: PERCEÇÕES DE EDUCADORES DE ADULTOS (ID 62)

No documento Avaliação e aprendizagem (páginas 145-148)

P

AULOS

, Catarina, Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (PT)

Introdução O estudo que a seguir se descreve faz parte de uma investigação mais alargada no âmbito de um doutoramento em Educação, na especialidade de Formação de Adultos. O presente trabalho aborda a forma como os educadores de adultos percecionam a avaliação no âmbito dos processos de reconhecimento e validação de adquiridos experienciais e se investem do papel de avaliadores. Os processos de reconhecimento e validação de adquiridos experienciais começaram a ser desenvolvidos em Portugal em 2001. Nesta prática educativa interveem formadores e outros profissionais que acompanham os adultos ao longo de todo o processo. Estes últimos educadores de adultos eram designados por Profissionais de RVC, e a partir de 2013 passaram a chamar-se TORVC, mantendo as mesmas funções no âmbito do reconhecimento de adquiridos experienciais.

Nos processos de reconhecimento e validação de adquiridos experienciais, a avaliação encontra- se presente em duas fases. Numa primeira fase, que é o reconhecimento, o profissional de RVC fazia a exploração dos percursos de vida de cada adulto, de forma a evidenciar as competências do referencial de competências chave. Durante esta fase, estes profissionais faziam o acompanhamento da elaboração das histórias de vida. Estas descrevem as experiências vividas pelos adultos ao longo do percurso de vida, nas suas várias dimensões, nomeadamente pessoal, formativa, profissional e social.

A segunda fase consiste na validação, e assenta na comparação efetuada entre os adquiridos experienciais das histórias de vida e os elementos inscritos no referencial de competências chave. Nesta fase intervinha a equipa pedagógica que acompanhava o adulto, isto é, o profissional de RVC e os formadores. A etapa de validação confere visibilidade e valor social aos adquiridos experienciais (Cavaco, 2012). Farzad e Paivandi (2000) referem que o reconhecimento deve terminar numa decisão de validação, de forma a "oficializar o processo” (p.79).

Metodologia

Com o estudo procura-se responder às seguintes questões: Como é que os educadores de adultos percecionam a avaliação de adquiridos experienciais? Como é que os educadores de adultos se investem do papel de avaliadores? Como é que se efetua a avaliação no âmbito dos processos de reconhecimento e validação de adquiridos experienciais?

A problemática em estudo enquadra-se no campo teórico da educação e da formação de adultos. Do ponto de vista metodológico utilizou-se a abordagem qualitativa, por se considerar ser este o tipo de investigação que possibilita uma “compreensão detalhada da questão” a investigar, a qual pode ser obtida “falando diretamente com as pessoas (…) permitindo que elas contem as histórias não contaminadas pelas nossas expectativas ou pelo que lemos na literatura” (Creswell, 2007. p. 40) sobre o tema.

Como técnica de recolha de dados utilizou-se a entrevista de explicitação de forma a obter informações descritivas sobre as ações no que diz respeito a uma determinada tarefa (Vermersch, 1991). Foram realizadas 32 entrevistas a profissionais de RVC, educadores de adultos que intervinham nos processos de reconhecimento e validação de adquiridos experienciais, juntamente com os formadores. As entrevistas foram registadas em suporte áudio e, posteriormente, foram analisadas recorrendo-se à análise de conteúdo (Bardin, 1995; Vala, 2003).

Resultados

Durante os processos de reconhecimento e validação de adquiridos experienciais, os profissionais de RVC participavam na avaliação, juntamente com os formadores. A avaliação ocorria principalmente quando os adquiridos experienciais evidenciados através das histórias de vida eram comparados com as competências definidas nos referenciais de competências chave. No entanto, o discurso destes educadores de adultos é marcado por uma clivagem. Por um lado, há um conjunto de profissionais de RVC que assume a função de avaliadores: “Cada adulto no seu processo de formação completa uma série de indicações que nós vamos indicando, e ele é avaliado pelo trabalho, pela forma como desenvolveu o seu processo, é avaliado de acordo com as competências que vai demonstrando dentro dos parâmetros que nós mais ou menos seguimos, e esta avaliação é quase contínua (…) é uma avaliação com base na sua história de vida, nas suas mais valias”. Por outro lado, há um outro grupo de profissionais de RVC que recusa o papel de avaliadores, considerando que esta é uma função dos formadores. Estes educadores de adultos consideram que a sua principal função é orientar os adultos ao longo do percurso de reconhecimento de adquiridos experienciais: “Nós não temos de avaliar, nós temos de partilhar, temos de orientar o trabalho dos adultos, temos de balizar um bocadinho o trabalho dos adultos, mas verificar as competências tem a ver com os formadores (…) O que nós temos de fazer é ajudar os adultos a descobrir as competências”.

Os Profissionais de RVC avaliam os adquiridos experienciais utilizando como metodologias as histórias de vida e o balanço de competências: “Em sessão e com a leitura do portefólio, mas muito em sessão, tento explorar um bocadinho o que está por trás, eles às vezes não evidenciam logo ou não dizem. (…) faço muitas dinâmicas de grupo quando estou com os adultos e individualmente quando estou com eles puxo um bocadinho mais por eles. Faço o balanço de competências”. Este é um processo que é realizado sempre em colaboração com os adultos: “Faço uma análise para motivar a pessoa a fazer a sua própria análise, para que com essa análise ele vá contribuir com outros aspetos que ainda não tinha falado, e voltarmos a analisar depois em conjunto”. Conclusão De acordo com Farzad e Paivandi (2000), a avaliação ocupa um lugar central nos processos de reconhecimento e validação de adquiridos experienciais, uma vez que está presente praticamente em todas as fases do processo. Os educadores de adultos encaram a sua atividade profissional como estando essencialmente centrada na orientação e no apoio ao longo de todo o processo de reconhecimento e validação de adquiridos experienciais. Como tal, estes educadores de adultos veem-se, por um lado, como guias e orientadores no âmbito das atividades que estruturam estes processos e, por outro, como mediadores das interações entre os adultos e outros profissionais da educação, nomeadamente formadores O reconhecimento e validação de adquiridos experienciais é

uma atividade educativa que mobiliza um reportório de competências da área relacional. Como tal, podemos considerar a atividade desenvolvida pelos educadores de adultos que acompanham e apoiam os adultos ao longo dos processos de reconhecimento e validação de adquiridos experienciais como sendo uma atividade relacional (Demailly, 2008). Referências Bardin, L. (1995). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. Cavaco, C. (2012). Complexidade da avaliação de adquiridos experienciais. In M. P. Alves & J. C. Morgado (Orgs.), Avaliação em educação: políticas, processos e práticas (pp. 185 - 213). Santo Tirso: De Facto Editores. Creswell, J. W. (2007). Qualitative inquiry and research design: Choosing among five approaches (2nd edition). Thousand Oaks: Sage Publications.

Demailly, L. (2008). Politiques de la relation. Approche sociologique des métiers et activités

professionnelles relationnelles. Villeneuve d´Ascq: Presses Universitaires du Septentrion.

Farzad, M. & Paivandi, S. (2000). Reconnaissance et validation des acquis en formation. Paris: Anthropos.

Vala, J. (2003). A análise de conteúdo. In A. S. Silva & J. M. Pinto (Orgs.), Metodologia das ciências

sociais (pp. 101-128). Porto: Edições Afrontamento.

Vermersch, P. (1991). L’entretien d’explicitation dans la formation expérientielle organisée. In B. Courtois & G. Pineau (Coords.). La formation expérientielle des adultes. Paris: La Documentation Française.

No documento Avaliação e aprendizagem (páginas 145-148)