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O DIÁRIO DE CAMPO COMO REGISTRO DE AVALIAÇÃO E REFLEXÃO DAS PRÁTICAS DE ESTÁGIO NO CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA DO INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA – BRASIL

No documento Avaliação e aprendizagem (páginas 42-45)

(ID 20)

P

EREIRA

, Giselia Antunes, IFSC-SJ (BR)

A

GUIAR

, Paula Alves, IFSC-SJ (BR)

R

ESUMO

Este estudo se insere na pesquisa intitulada “O Estágio Supervisionado na Formação de Professores: avaliação das práticas desenvolvidas no curso de Licenciatura do Câmpus São José”, em coordenação compartilhada pelas autoras deste texto. O projeto* de pesquisa busca compreender a perspectiva dos diferentes sujeitos envolvidos, sobre as práticas de estágio do Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza – Hab. em Química (5ª fase, 6ª fase, 7ª fase e 8ª fase) do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC) - Câmpus São José. O período de investigação envolveu os anos de 2014 e 2015.

Este texto discutirá, a partir de uma perspectiva qualitativa, especificamente o diário de campo como instrumento de pesquisa e avaliação utilizado durante as diferentes práticas de estágio na formação de professores do referido curso de licenciatura. O diário de campo como um instrumento de avaliação reflexiva e processual, torna-se pratica fundamental para formação de professores pesquisadores que visam investigar a própria prática (Pimenta, 2012). A forma como ele é utilizado no curso em questão e seus reflexos na formação dos professores serão foco de análise.

As questões que nortearam a investigação aqui apresentada foram: de que modo o diário pode se constituir em instrumento de avaliação da aprendizagem no curso de licenciatura? Quais os critérios de avaliação dos diários de campo? Quais os indicadores presentes nos registros apresentam reflexos de articulação entre teoria e prática, a partir da reflexão das vivências pedagógicas proporcionadas pelo estágio?

Corrobora-se com Pereira (2011), quando autora afirma que as práticas de avaliação se constituem em procedimentos didáticos fundamentais às novas práticas educativas, como é o caso do estágio na perspectiva da pesquisa.

As práticas de estágio do Câmpus São José partem da perspectiva da pesquisa, a qual, segundo Pimenta e Lima (2004), visa superar a separação teórica e prática dos cursos de licenciaturas. Nessa perspectiva, acredita-se que o conhecimento se dá pela pesquisa e que esta prática é fundamental para atuação político-pedagógica dos educadores, sendo o diário de campo um instrumento essencial para essa construção.

Por defendermos que a educação é necessariamente um ato político (FREIRE, 1984), que está articulada com uma concepção de sociedade, parte-se da perspectiva que o diário de campo é uma construção pedagógica e política do professor. Com ele é possível registrar a prática, as vivências, o processo de construção do ensino e do aprendizado dos alunos, possibilitando a ação, reflexão,

ação. O professor tem a possibilidade de olhar para sua própria prática após um período de afastamento, analisando seus conhecimentos, limites, possibilidades e visão de mundo e de sujeito.

Na licenciatura a perspectiva da pesquisa se reveste de maior importância quando permite primeiramente aos acadêmicos, e a todos aqueles que estão envolvidos com a formação do professor, vivenciar concretamente aprendizagens significativas e de caráter processual. Pela produção da escrita e registros dos diários de campo, num fluxo de crescente de aprimoramento o acadêmico estagiário, vê-se como sujeito ativo de sua própria formação.

Ao registrar as vivências do estágio no diário de campo, os acadêmicos marcam fragmentos significativos das experiências nas escolas, mantendo-as vivas. Esses registros não são apenas lembranças, mas fazem parte das suas histórias, identidades e memórias de suas formações profissionais. Como afirma Weffort (1996, p. 06), pelo registro “construímos nossa memória pessoal e coletiva. Fazemos história”.

A prática dos registros no estágio do referido curso, partem de dados qualitativos e quantitativos das práticas vivenciadas no campo de estágio (nos momentos de observação da ação pedagógica de outros professores e nos momentos que realizam regências), com análise e reflexão teórica embasadas por autores que discutem as temáticas selecionadas pelos estudantes da graduação. A utilização do diário como instrumento de pesquisa inicia-se na primeira fase de estágio e perdura pelas fases subsequentes. Eles não demonstram conclusões, mas sim, inquietações, questionamentos que proporcionarão exercício reflexivo, reparo, aprofundamento, verificação, mudança de seu posicionamento frente ao aluno, à escola, ao conhecimento.

A produção do diário de campo na perspectiva da pesquisa adotada, além de ser compartilhada entre os acadêmicos e os professores de estágio da licenciatura, também é processual na medida que os estudantes escrevem suas observações fundamentadas sobre o estágio, os professores da graduação lêem, colocam questionamentos, dúvidas, estimulam novas leituras e reflexões. A escrita e avaliação não se finalizam na primeira versão entregue do diário, mas na construção final após várias idas e vindas, pois é a evolução da aprendizagem e o empenho pedagógico que são avaliados.

A proposta é que no decorrer das disciplinas de estágio os acadêmicos se apropriem de ferramentas de pesquisa e, com base no diário de campo, façam investigações que resultem em ensaios e artigos científicos. Um exemplo dessas produções é o excerto extraído do artigo de uma acadêmica que investigou os processos de avaliação escolar. Segundo ela o interesse “pela docência iniciou na infância, quando desde criança manifestava pelas brincadeiras vontade de ensinar. Um aspecto didático que sempre me intrigou foi: como avaliar de forma justa a aprendizagem dos alunos?”. Percebe-se, portanto, que o diário de campo possibilitou reflexões de caráter pessoal, profissional, estimulando a estudante a querer investigar a avaliação escolar. Além disso, permite que ocorra uma transparência do pensar, uma vez que revela à intimidade dos sujeitos, acadêmicos futuros professores, assim como dilemas e impasses da trajetória formativa e profissional (Alvez, 2004; Zabalza, 1994).

O presente estudo buscou investigar as contribuições da escrita de diários de campo, enquanto recurso de avaliação de aprendizagem processual, nas práticas de estágio que se constituem como fundamentais para construção da identidade docente (André, 2012; Fazenda, 2008; Pimenta, 2012).

Ao longo deste texto, discutiu-se que o diário pode ser um instrumento formativo que se articula com a perspectiva do estágio por pesquisa. O que vem (re)confirmar que o processo de fazer pesquisa das práticas de estágio desenvolvidas no Câmpus São José é condição para aprimoramento

e desenvolvimento desta atividade que se constitui como fundamental para formação de professores.

* Projeto de pesquisa financiado pelo EDITAL Nº 13/2015/PROPPI.

Referências

Alves, F. C. (2004) Diário: contributo para o desenvolvimento profissional dos professores e estudo dos seus dilemas. Millenium: Revista do ISPV, [S.l.], n. 29, p. 222-239. Disponível em

http://www.ipv.pt/millenium/Millenium29/30.pdf .Acesso em: 12 de ago de 2015.

André, M. E. D. A. de (Org.). (2012) O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 12. ed. Campinas: Papirus.

Bianchetti, L. (Org). (2002) Trama e texto: leitura crítica, escrita criativa. 2ª ed. São Paulo:Summus,

Freire, P (2008). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

Fazenda, I. (Org.) (2008). Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez..

Machado, A. M. N.; Bianchetti, L. (orgs). (2002) A Bússola do escrever: desafios e estratégias. Florianópolis, editora da UFSC. Martins, H. T. de S. (2004) Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa,, 30:2, p. 289-300, maio/ago. Pereira, G. A. (2011). Avaliação da Aprendizagem e Avaliação Institucional. In: Carmen M. Cipriani Pandini. (Org.). Planejamento e Avaliação Educacional e Institucional. 1ed.Florianópolis: Dioesc, v. I, p. 79-111. Pimenta, S. G. & Lima, M. S. L. (2004). Estágio e Docência. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2004. Pimenta, S. G. (2012). O estágio na formação de professores: unidade teoria e pratica? 11. ed. São Paulo: Cortez. Revista brasileira de ensino de Química. Todas as edições. Disponível em: Acesso em: 08 out. 2014. Scocuglia, A. C. (2014), Paulo Freire e a pedagogia da pesquisa. EJA em Debate, Florianópolis, n. 3, n.4. jul. 2014. Werfor, M, F, (1996). Observação, registro e reflexão: instrumentos metodológicos I. São Paulo: Espaço pedagógico.

Zabalza, M. A. (1994) Diários de aula: contributo para o estudo dos dilemas práticos dos professores. Porto: Porto Editora.

Zago, N. & Carvalho, M. P. de & Vilela, R. A. T. (2003). Itinerários de pesquisa: perspectivas

PRATIQUES D’ANNOTATIONS DE PRODUCTIONS ÉCRITES DANS UN CONTEXTE SCOLAIRE LIBANAIS

No documento Avaliação e aprendizagem (páginas 42-45)