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4 LIVRO ICONOGRÁFICO: DIÁRIO DE BORDO, UMA VISITA A

4.1 Avaliação do Produto Educacional Presencial

Diante do exposto, o presente tópico tem como objetivo apresentar o resultado da avaliação da aplicação presencial, de nosso Produto Educacional – Diário de Bordo: uma visita a Salas Multisseriadas do RN. A tabulação dos dados (Apêndice J) gerados pela aplicação do Livro foi realizada manualmente, por serem poucos os questionários aplicados, devido às dificuldades enfrentadas para aplicação em outras turmas, como já explicitado.

Sobre o perfil dos estudantes que responderam ao questionário, temos uma presença predominantemente masculina nessa turma de Informática na Educação Matemática. É uma turma jovem, dentro da faixa dos 20 a 30 anos.

Quanto à moradia, 8 estudantes moram na cidade de Natal e 9 moram nas cidades do interior do estado, a saber: Pedro Velho44, Canguaretama, Lagoa de Velhos, São Gonçalo do Amarante e Monte Alegre, o que infere um deslocamento que o estudante precisa fazer para frequentar as aulas. Também, com base nessa amostragem, podemos estabelecer alguma relação entre o fato de que 8 estudantes já sabiam o que eram as Salas Multisseriadas antes de ler o nosso livro: eram do interior e a probabilidade de Salas Multisseriadas fazerem parte da sua vida não é pequena. De fato, 5 alunos concordaram plenamente com a proposição – Já sabia o que eram Salas Multisseriadas, antes de ver o Livro Iconográfico – e 3 concordaram parcialmente. Enquanto o restante dos alunos, (11) discordaram da proposição, o que podemos inferir que não sabiam o que eram Salas Multisseriadas antes de ler o nosso Livro.

Todos os que afirmaram trabalhar ou já trabalharam, têm menos de 10 anos de experiência em sala de aula. O tempo máximo de docência foi de 7 anos e o mínimo de 6 meses. Também pode se relacionar com a faixa etária predominante na turma, composta de estudantes em sua maioria abaixo dos 30 anos, o que implica ainda na alta taxa de estudantes que não exercem a profissão. Temos, assim, um perfil bem inexperiente com relação à docência.

A primeira proposição – Já sabia o que eram Salas Multisseriadas, antes de ver o Livro Iconográfico – é relevante, uma vez que justifica a importância de nosso Livro em levar o conhecimento da existência das Salas Multisseriadas aos futuros professores. Nosso intuito de fazer com que os futuros professores de Matemática tivessem acesso ao Livro, foi promover uma sensibilização desses professores com relação sobre o quão difícil pode ser a docência do

44 As distâncias entre as cidades, que os professores em formação moram, e a cidade de Natal, por ordem alfabética, encontram-se no Apêndice K.

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pedagogo, uma vez que os professores de Matemática que recebem esses alunos no 6° ano, quando o aluno sai da Sala Multisseriada e vai estudar na rua (cidade) na escola de Ensino Fundamental II. Ter o conhecimento desse panorama e do contexto das Salas Multisseriadas pode gerar empatia dos professores de Matemática e ainda ajudar na sensibilização dessa classe de profissionais. Quanto ao equilíbrio existente entre os que discordam parcialmente e totalmente da proposição e os que concordam parcial ou plenamente, estabelecemos relação que os que não concordam plena ou parcialmente, são os estudantes que moram em uma zona rural, com exceção do estudante que disse ter conhecimento de turmas assim na Finlândia45:

O livro me transportou para salas multisseriadas. Não sabia dessa realidade logo no interior do estado, tinha conhecimento desta prática ser comum em países como a Finlândia. Senti falta da apresentação do porquê que esta didática é adotada. Por opção ou por necessidade? (ESTUDANTE 17, APÊNDICE J, 2020).

Sobre a indagação feita por nosso estudante, a opção finlandesa, assim como outros países europeus desenvolvidos, em organizar sua educação no sistema de multisseriação é uma escolha pedagógica, bem diferente no caso brasileiro, que é por necessidade política e econômica (PARENTE, 2014), na Finlândia, por exemplo, 70% das escolas primárias são multisseriadas (SANTOS, 2015).

Sobre a segunda proposição – Tive aproximação durante a graduação com o tema abordado no Livro – a grande maioria discorda total ou parcialmente da proposição acima, o que podemos deduzir que o contexto das salas multisseriados é pouco ou nunca é falado nas salas de aula durante a graduação. Um aluno respondeu que não sabia. E os outros 7 concordam parcial ou plenamente que tiveram uma aproximação com o tema abordado no livro durante a graduação. Parente (2014, p. 5), explica:

Muitos professores saem dos cursos de licenciaturas sem saber da existência de turmas multisseriadas. Isso é corroborado pela evidência empírica de que os cursos de formação de professores nas várias instituições de ensino superior brasileiras sequer tratam da questão, seja do ponto de vista político-legal, seja do ponto de vista metodológico (PARENTE, 2014, p. 5).

45 Existem reportagens e pesquisas (PARENTE, 2014; SANTOS 2015) que apontam que a Finlândia e alguns países europeus utilizam a multi grade schools, escolas multisseriadas, como opção pedagógica de ensino. Disponível em: https://www.institutonetclaroembratel.org.br/educacao/nossas-novidades/reportagens/realidade- no-campo-classes-multisseriadas-apresentam-potencial-pedagogico/ Acesso em: 19 abr. 2020.

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Nosso questionário, aliado à declaração de Parente (2014), justifica mais uma vez a importância de nosso Livro, que pode ser um recurso utilizado tanto por professores da formação inicial quanto por professores de formação continuada que estudam sobre o tema.

Na terceira proposição temos – O Livro apresenta fotografias sobre Salas Multisseriadas – a maioria (16) reconhece que o livro apresenta fotografias sobre Salas Multisseriadas. Essa resposta é importante pois parte de nosso objetivo com o Livro, que é mostrar as realidades dessas salas. Nesse sentido, mostramos salas bem equipadas com mobiliário novos e recém- reformadas, bem equipadas com materiais didáticos manipuláveis e pedagógicos para outras disciplinas, como também mostramos a realidade de escolas simples em sua estrutura física, porém limpas e organizadas. Também mostramos o lado mais obscuro da educação com a escola deteriorada, com carteiras e janelas quebradas e ainda muito sujas. No dia em que vistamos essa escola em particular, encontramos a escola fechada em dia de semana no horário que era para estar havendo aula. A pessoa responsável da Secretaria do Campo que nos conduziu até lá e abriu a escola, ainda pediu que tirássemos muitas fotos, apontando todos os objetos quebrados, como uma forma de protesto pelo fato de a escola se encontrar naquelas precárias condições (ao menos esse foi o nosso sentimento).

Na quarta proposição temos – É possível compreender a definição de Salas Multisseriadas no decorrer das páginas do Livro – é interessante, porque no livro em si, propositalmente, deixamos subentendido a definição de Salas Multisseriadas, para sabermos se as fotografias, aliadas com os trechos de entrevistas, possibilitavam ao leitor ter uma mensagem, ou entendimento sobre a definição de uma Sala Multisseriada. Também aguçamos a interpretação e a capacidade de leitura de cada estudante, por exemplo, a capacidade de ler do início ao fim, uma vez que apresentamos a definição de sala Multisseriada na Apresentação do Livro. Três estudantes na resposta aberta sugeriram que esse conceito estivesse logo no início do Livro. E estava, como dissemos na Apresentação:

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Figura 3 – Captura de tela da imagem da Apresentação do Livro

Fonte: elaborado pela pesquisadora (2020).

Não temos como deduzir se o aluno não leu a apresentação, ou se teve dificuldade de interpretar o texto escrito, podemos pensar em uma maneira de deixar mais clara essa definição, embora nas respostas objetivas ninguém tenha discordado de que entendeu o que são as Salas Multisseriadas depois de ler o Livro.

O Livro indica práticas de ensino de Matemática – como nosso livro é sobre o ensino de Matemática nas Salas multisseriadas, essa proposição foi importante por ter a capacidade de concordar ou não com a capacidade ilustrativa dessas práticas por meio das fotografias. Quatorze estudantes concordaram plenamente com a proposição, 4 concordaram parcialmente e 1 marcou a alternativa “não sei”. As práticas de ensino de Matemática estão registradas por meio das fotos dos livros didáticos utilizados; dos registros feitos pelos professores nas lousas, com atividades de matemática; dos cartazes contendo atividades de matemática que encontramos nas paredes das salas, nas atividades dos cadernos, nas estantes com materiais didáticos manipulativos. Todos esses elementos podem ser considerados indícios das práticas que acontecem em sala de aula.

O Livro é criativo – a criatividade foi uma peça-chave em nosso planejamento e organização do projeto gráfico, com o intuito de o livro não ter um número excessivo de páginas, deixando o leitor cansado visualmente, essa foi uma das partes que mais sofreu

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alteração ao longo do processo, fizemos três versões do Livro, como já falamos na metodologia do produto, sempre pensamos como seria a melhor maneira de apresentar nosso conteúdo. A primeira versão tinha 30 páginas, mas só retratava uma escola, a segunda versão ficou muito longa, com 66 páginas, muitas fotografias de fachadas, muitas fotografias de tudo. Depois dessa versão, decidimos escolher representações, e não colocar todas as fotografias tiradas. Nesse processo, o livro também passou da plataforma Flipsnack, ao PDF, e voltou ao Flipsnack, justamente por ter a possiblidade de uma edição mais abrangente e possibilitar um projeto gráfico mais interessante que o programa Word (programa para criação de documentos, antes de transformá-los em PDF). O que nos moveu também para a criatividade, foi uma pesquisa na página de Produtos Educacionais do PPGECNM, em que averiguamos ter pouca diversidade quanto ao formato nos produtos apresentados. Ficamos satisfeitos porque 13 estudantes concordaram plenamente e 5 concordaram parcialmente que o livro é criativo, e apenas 1 discordou, mas, parcialmente, então consideramos que atingimos nosso objetivo.

O Livro pode ser usado para estudos e pesquisas. Quando começamos a pesquisar sobre as Salas Multisseriadas, principalmente do RN, percebemos uma lacuna existente sobre o assunto. Reconhecemos que nosso livro não preenche essa lacuna, sozinho, mas pode impulsionar, primeiro iniciando um movimento de reconhecimento da existência dessas salas, e culminando na preocupação do ensino de Matemática dentro dessas salas. Consideramos uma iniciativa, e esperamos que outros pesquisadores possam ter o interesse em assumir esse compromisso, para não só garantir o reconhecimento dessas salas, mas para o fortalecimento de suas práticas e possíveis ajustes para superação dos desafios encontrados.

Esse Livro colabora com o conhecimento sobre a memória do Ensino de Matemática em Salas Multisseriadas no RN. Outra de nossas dificuldades foi encontrar registros dessas salas, principalmente registros mais antigos, foi quando um de nossos colaboradores sugeriu que o Livro fosse feito com fotos realizadas durante nossa viagem. Então o Livro hoje pode servir de memória:

[...] as fotografias também se constituem em materialidades da memória coletiva de grupos sociais. Mais do que vinculações individuais entre quem é retratado e quem observa e se identifica com a imagem, as fotografias podem constituir-se em estratégias de conservação da memória coletiva (DALCIN, 2018, p. 29).

Dos leitores de nosso Livro, 12 concordaram que ele pode colaborar com o conhecimento sobre a memória de ensino de Matemática em Salas Multisseriadas no RN.

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O Livro pode servir como material didático para uso do professor do Ensino Superior em disciplinas voltadas à História da Educação – o resultado da análise dessa proposição para nós é uma grande conquista, pois 13 estudantes concordaram totalmente com ela, 4 concordaram parcialmente, 1 não soube responder e 1 discordou parcialmente, uma vez que os professores do ensino superior que lecionam essa importante disciplina podem usar esse material quando lecionam História da Educação aos seus alunos. O curso de Licenciatura em Matemática, da UFRN, tem um componente curricular denominado História da Educação Matemática (MAT1526)46, que tem como objetivos:

[...] compreender que as práticas educativas em Matemática têm história; conhecer essas práticas; usar dessa história para fazer escolhas ao ensinar Matemática, desenvolver os aspectos didáticos – metodológicos adequados à pratica docente em Matemática, a partir da História dos materiais didáticos ao ensino de Matemática (Montessori e Diennes); estudar e discutir como se deu o desenvolvimento da Matemática enquanto disciplina, estruturação de seu currículo, das propostas de ensino didáticos, das politicas publicas e da formação de professores da área (PROGRAMA DA DISCIPLINA/UFRN, 2019, acervo pessoal, p. 1).

No curso de Pedagogia, também da UFRN campus Natal, encontramos as disciplinas História da Educação Brasileira (FPE0593)47, assim como Ensino de Matemática I (PEC5029) e Ensino de Matemática II (PEC1018)48, que podem utilizar o nosso Livro, adequando seu conteúdo aos objetivos específicos dos componentes. Não significa que disciplinas equivalentes de outras universidades não possam usar o Livro. Assim incentivamos, seja para mostrar que o ensino de Matemática está presente em Salas Multisseriadas, seja para ensinar que as práticas desse ensino têm história, seja para aproximar os estudantes do tema da Educação do campo.

Na proposição: Esse Livro Iconográfico inspira o interesse pelo assunto abordado – uma das mais relevantes de nosso questionário, pois é nosso primeiro objetivo com relação ao nosso Livro, se ele é capaz de inspirar interesse sobre o contexto das salas multisseriadas. E de acordo com as respostas, 12 estudantes concordaram plenamente e 6 concordaram parcialmente com a proposição. Apenas 1 estudante discordou parcialmente. Esse interesse pelo assunto ficou mais claro nas respostas da questão aberta que propomos no questionário.

46 Departamento de Matemática.

47 Departamento de Fundamentos e Políticas da Educação.

48 Ambos os componentes de Ensino da Matemática são ofertados pelo Departamento de Práticas e Políticas da Educação (DPEC) ao Curso de Pedagogia Presencial.

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A última proposição do questionário era aberta para que os participantes pudessem ter liberdade para escrever sua opinião sobre nosso Livro, a saber: Sua opinião é muito importante para nós. Deixe a seguir suas críticas e/ou sugestões – Assim 17 estudantes decidiram deixar uma contribuição e apenas 2 não escreveram nada, percebemos o interesse da maioria em participar da pesquisa e contribuir.

Eis as opiniões: “Achei o conteúdo do livro bem completo, portanto não tenho críticas, e uma única sugestão que posso dar é que você continue no caminho, ficou muito bom seu trabalho”, disse o Estudante 8 (Apêndice J). Teve quem afirmou que a definição das Salas Multisseriadas estivesse no início do Livro, ou que o Livro tivesse um “caráter mais científico”, ou que houvesse trechos de relatos dos alunos das Salas Multisseriadas, uma vez que o Livro traz depoimentos de professores dessas salas.

Outro ponto abordado na resposta escrita foi o reconhecimento da importância do tema abordado pelo Livro, como disse o Estudante 3 (Apêndice J): “Precisamos nos aprofundar mais sobre o tema abordado. Pois poucas pessoas sabem da existência desse modelo de ensino”. Primeiramente, essa declaração corrobora nossa surpresa ao nos depararmos com a existência das Salas Multisseriadas, quando entramos no GPEP, e segundo e mais importante, que precisamos – englobamos: professores, gestores, pesquisadores, comunidade civil – aprofundar o conhecimento acerca sua natureza, características e necessidades e, a partir disso, poder avançar no desenvolvimento de estratégias, planejamentos, materiais e formação (PARENTE, 2014) , principalmente no que se refere ao ensino de Matemática, foco de nossa investigação.