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Capítulo 2. Estilos Educativos Parentais

2.3. Avaliação dos Estilos Educativos Parentais

Historicamente, produziram-se importantes modificações nos diferentes enfoques

teóricos sobre os estilos educativos parentais e, consequentemente, nas metodologias de

estudo e na análise dos dados (Palacios, 1987). Na revisão exaustiva que realizam Holden e

Edwards (1989) assinalaram a existência de mais de 80 questionários de avaliação sobre

estratégias utilizadas pelos pais para educar os seus filhos. Estes autores encontraram

diferentes problemas metodológicos e de conteúdo nesses instrumentos de avaliação. De

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avaliar as intenções e opiniões ao invés das práticas concretas, e as questões, na sua maioria,

são formuladas de forma genérica ou na terceira pessoa, favorecendo a aprovação social. Um

exemplo citado pelos autores, “um castigo na hora certa vale mais que três explicações” (p.

92). Estes aspectos favorecem que os sujeitos respondam aos itens de forma geral, sem buscar

comparações com as práticas reais. Além disso, sabe-se que há pequenos detalhes presentes

na elaboração das questões que, se forem desconsiderados, poderão exercer um papel

fundamental nas respostas. Estes autores também sinalizam os problemas relacionados com a

metodologia utilizada nas medidas de avaliações como, por exemplo: muitos questionários

não especificam a idade dos filhos, outros não dão informações das suas propriedades

psicométricas nem da escala de respostas utilizadas. Finalmente, estas provas somente

analisam a opinião dos pais, sem considerar a percepção dos filhos sobre os estilos educativos

que recebem.

Como se mencionou na secção anterior, os estudos empíricos realizados por Baldwin

et al. (1945) foram considerados pioneiros neste campo. A investigação realizada por eles foi

feita através do Instituto de Pesquisa (Fels Research Institute - Yellow Springs, Ohio). Nessa

escala um observador externo avaliava o comportamento da mãe em relação a seu filho,

mediante escalas visuais. Ao analisar a escala Baldwin et al. (1945) encontraram três

dimensões correlacionadas positivamente: democracia no lar, aceitação do filho e

indulgência.

The Parenting Behavior Checklist – PBC – (Achenbach, 1991). Trata-se de um

questionário com 100 itens que avaliam o comportamento dos pais com filhos pequenos de 1

a 5 anos. Consta de três escalas: expectativas relacionadas com o desenvolvimento dos filhos,

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Parental Attitude Survey – PAS – que avalia as crenças e opiniões dos pais acerca da

sua capacidade parental. É formada por cinco categorias: confiança no papel parental,

aceitação, compreensão recíproca e confiança recíproca e a causa do comportamento da

criança (Bayot, Hernández, & De Julián, 2005).

Estes dois instrumentos citados têm como objetivo avaliar distintos aspectos da

relação entre pais e filhos e os comportamentos que configuram a mesma. Outra forma de

avaliar é através de instrumentos que se baseiam nas dimensões sugeridas por Maccoby e

Martin (1983), com o objetivo de classificar os pais em função das quatro tipologias

propostas por Baumrind. Maccoby e Martin (1983) propuseram avaliar os estilos educativos a

partir de duas dimensões teoricamente independentes (Darling & Steinberg, 1993; Smetana,

1995): exigência e responsividade. Apesar de, atualmente, coexistirem modelos teóricos que

partem de três dimensões para avaliar os estilos educativos parentais, os modelos explicativos

baseados em duas dimensões utilizados por Maccoby e Martin (1983), são os que, na

atualidade, possuem maior relevância.

Darling e Steinberg (1993) realizaram uma revisão histórica do conceito de estilo

parental, incluindo críticas e mudanças, propondo o entendimento de estilo parental como o

contexto em que os pais influenciam seus filhos através de suas práticas de acordo com suas

crenças e valores, indo além da combinação entre exigência e responsividade. No entanto, em

geral todas estas escalas incluem as dimensões Aceitação/Envolvimento e Severidade/

Imposição. Fundamentados nessa proposta e nas anteriores propostas formuladas por estes

autores, foram criadas várias versões de questionários para avaliar os estilos educativos

parentais, bem como numerosas adaptações em relação aos diferentes contextos.

A seguir serão expostas algumas medidas que se embasam nesse modelo explicativo

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Questionário de Estilos Educativos Parentais – QEEP (Lamborn et al., 1991).

Traduzido e adaptado para a população portuguesa por (Ducharne et al., 2006; Cruz et al.,

2011), adaptado das “Parenting Scales” (Lamborn et al., 1991). O QEEP é constituído por 19

itens organizados em duas subescalas Aceitação/Responsividade e Monitorização/Exigência – e permite a identificação dos quatro estilos educativos parentais

propostos por Baumrind (1973). As respostas obtidas a cada item são cotadas numa escala

tipo Likert entre 1 e 4, em que 1 significa nada e 4 muito. Os valores de alfa obtidos foram de

0.81 para a Aceitação/Responsividade e de 0.84 para a Monitorização/Exigência. Para cada

dimensão foi calculada a média da pontuação dos itens correspondentes. Foi aplicado a uma

amostra 641 adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 21 anos, frequentando

os anos de escolaridade 7º a 12º e distribuídos homogeneamente por género. A distribuição

percentual dos participantes segundo o estilo educativo parental é semelhante à da amostra

americana do questionário original (Ducharne et al., 2006).

No Brasil, foi adaptado e traduzido por Costa, Teixeira e Gomes (2000), numa

amostra de 378 adolescentes, onde foram encontradas as duas dimensões propostas

(exigência e responsividade) e os quatro estilos educativos parentais. Weber et al. (2004),

deram continuidade a estes estudos, adaptando e validando para crianças brasileiras, em uma

amostra de 239 crianças, de 9 a 12 anos, de duas escolas municipais.

The Parental Bonding Instrument – PBI – (Parker, Tupling, & Brown, 1979). Este

instrumento é composto por duas dimensões denominadas, cuidado, que se refere às

demonstrações de carinho, afeto e ternura por parte dos pais em relação aos filhos e,

sobreproteção, entendida como intromissão nas atividades e relações dos filhos. Numa

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índices de consistência interna de α=0,72 para a dimensão cuidado da mãe e α=0,70 para o

pai. Para a dimensão sobreproteção, estes índices foram de α=0,63 para a mãe e α=0,60 para

o pai (Heaven, Newbury, & Mak, 2004).

Parental Authority Questionnaire – PAQ – (Buri, 1991). Este instrumento está

formado por 30 itens tipo “likert” e avalia os três protótipos de autoridade parental descritos

inicialmente por Baumrind (1971): permissivo, autoritário e autoritativo. Uma recente

validação deste instrumento feita por Reitman, Rhode, Hupp e Altobello (2002) com três

amostras norte-americanas de classe alta, média e baixa respectivamente, aportou índices de

consistência interna de α=0,56 para a dimensão autoritativa nos adolescentes de classe média

e 0,77 para a mesma dimensão em adolescentes de classe alta.

Parenting Practices Questionnaire – PBQ – (Robinson, Mandleco, Frost Olsen, &

Hart, 1995). É um questionário de 62 itens que, posteriormente, foi revisado como

“Parenting Styles and Dimensions Questionnaire” (Questionário de Estilos e Dimensões

Parentais – PSDQ) pelos mesmos autores, alguns anos depois (Robinson, Mandleco, Frost

Olsen, & Hart, 2001). Este instrumento foi desenhado para avaliar as três dimensões descritas

por Baumrind (1971): autoritativo, autoritário e permissivo, mediante três escalas que se

dividem em vários factores cada uma, referentes a cada um dos mencionados estilos

parentais. Foi traduzido e adaptado a diferentes culturas. Para a população portuguesa

Miguel, Valentim e Carugati (2010) realizaram uma adaptação reduzida do PSDQ. Coolahan,

McWayne, Fantuzzo e Grim (2002) adaptaram esta escala para o uso de países afro-

americanos de baixo nível sociocultural e denominaram “Parenting Behavior Questionnaire”

– Head Star (PBQ-HS).

Escala de Afecto – EA – e Escala de Normas e Exigências – ENE – (Fuentes,

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crítica/rechaço), enquanto a ENE divide-se em três factores sobre a forma de estabelecer e

exigir o cumprimento das normas (forma indutiva, rígida e indulgente). Ambas as escalas se

apresentam em duas versões: filhos e pais. Na versão dos filhos, avalia-se a percepção que o

adolescente tem do estilo educativo de seu pai e de sua mãe. Na versão dos pais, eles

contestam os itens fazendo referência ao comportamento concreto de seu filho/a. Todas as

pontuações evidenciaram uma adequada consistência interna (Fuentes, Motrico, & Bersabé,

2001).

Escala de Evaliação dos Estilos Educativos – 4E – (Palacios, 1994). É um

questionário desenvolvido para os pais e consta de 20 itens compostos por quatro subescalas

com quatro a seis itens cada uma. As escalas são denominadas: comunicação, afeto, nível de

exigência e grau de controle. Estas escalas apresentam índices de consistência interna

medidos mediante o coeficiente α de Cronbach de 0,53, 0,56, 0,52 e 0,56, para cada uma

respectivamente.

ESPA29 – (Musitu & García, 2001). Este instrumento avalia os estilos educativos

parentais dos pais em distintos contextos da vida cotidiana. Esta escala permite medir os

estilos educativos parentais– autoritativo, autoritário, indulgente e negligente – através de

duas dimensões independentes da conduta parental, extraídas do uso que os pais fazem das

distintas práticas educativas. O filho avalia separadamente a atuação do pai e de sua mãe em

29 situações, obtendo uma média global nas duas dimensões. A consistência interna de

Aceitação/Envolvimento e de α=0,951 para mãe e α=0,945 para o pai, enquanto que em

Severidade/Imposição α=0,929 para a mãe e α=0,927 para o pai.

Esta escala foi traduzida e adaptada à população brasileira utilizando uma amostra de

2105 adolescentes brasileiros, com idades entre os 10 e os 18 anos, onde se replicou a

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a escala, mediante a análise factorial exploratória. Para completar o estudo de replicabilidade,

levou-se a cabo a análise da estrutura ortogonal de Procusto, comprovando-se que a estrutura

era invariante para o pai e para a mãe (Martínez, García, Camino, & Camino, 2011).

Esta escala foi traduzida e adaptada também à população portuguesa. Participaram

849 adolescentes de ambos os sexos (57,2% raparigas e 42,8% rapazes), com idades

compreendidas entre os 10 e os 18 anos (M = 14,57, DP = 2,43) e residentes no sul de

Portugal. A validade de constructo foi estudada através da análise fatorial exploratória e a

fidelidade do instrumento através da análise da consistência interna e da estabilidade

temporal (pelo método de teste-reteste). Os resultados obtidos foram consistentes com os da

versão original e reproduziram a estrutura bidimensional da escala. A versão portuguesa da

ESPA-29 apresentou boas características psicométricas, com níveis de consistência interna e

de estabilidade temporal bastante satisfatórias. Estes resultados sugerem que a versão

portuguesa da ESPA-29 é fiável para o estudo dos estilos de socialização parental em

adolescentes portugueses (Nunes, Luís, Lemos, & Ochoa, 2015)..

Este estudo não tem a pretensão de abordar todos os instrumentos de forma exaustiva.

Uma robusta sistematização das especificidades dos diferentes métodos de avaliação dos

estilos educativos parentais pode ser encontrada em (Holden & Edwards, 1989).

Resumo do Capítulo

O objetivo principal deste capítulo foi definir e desenvolver a perspectiva teórica a

partir do qual são abordados os estilos educativos parentais no contexto da investigação. Na

primeira secção foi sinalizado que os pais são socialmente designados como os primeiros

responsáveis pela socialização dos seus filhos, na maior parte das sociedades. Na secção

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comportamento persistentes dos pais em face de diferentes formas de atuação dos filhos em

situações da vida quotidiana, diferenciando-o conceptualmente das práticas educativas

parentais. Em seguida, foram apresentadas as principais perspectivas teóricas dos estilos

educativos parentais: a abordagem dimensional e a abordagem tipológica, centrando especial

atenção na abordagem tipológica, perspectiva adotada na descrição e compreensão das

relações entre os estilos educativos parentais, o autoconceito e os valores dos filhos. A

utilização desta tipologia permitiu lidar com a multiplicidade de variáveis e tomar

conhecimento da forma complexa como se podem associar entre si. Descreveram-se, por

último, de forma sintética e integralmente, alguns instrumentos metodológicos a partir dos

quais diferentes teóricos avaliaram os estilos educativos parentais, dando ênfase à Escala de

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