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4 – Materiais e Métodos

5.2.4 Fator imediato de mortalidade

5.2.5.7 Avaliação dos resultados dos fatores causais

Quando avaliamos o conjunto das atividades econômicas, observamos que os fatores procedimento de trabalho inexistentes; falta planejamento de trabalho; tarefa mal concebida (código 14) foi um dos mais apontados pelos analistas como causa dos óbitos em todas as atividades econômicas. O fator modo operatório inadequado a segurança / perigoso (código 6) também foi comum às diversas atividades econômicas. No entanto, algumas características típicas de cada atividade foram refletidas nos fatores causais mais relatados, como no caso da indústria, por exemplo, com o fator problemas em máquinas/equipamentos (código 25) e na construção, com os problemas da tarefa relacionados ao trabalho em altura (código 9) sendo uma das principais causas dos óbitos.

No que se refere ao porte, observamos na agricultura algumas diferenças na incidência de causa dos acidentes nos fatores do ambiente (riscos elétricos nas MPEs e problemas relacionados a higiene nas grandes) e nos demais grupos de gerenciamento.

Já na indústria, no grupo das tarefas uma das diferenças das causas apontadas entre os portes foi o destaque para problemas relacionados a tarefas em máquinas/equipamentos (código 10) nas MPEs e falha na antecipação / detecção de risco / perigo (código 7) e trabalho em altura (código 9) nas médias e grandes indústrias. Nos fatores do ambiente os riscos elétricos (código 2) foram mais relatados nas MPEs enquanto que na média e grande empresas foram os problemas de espaço físico de trabalho (código 3).

Na construção civil observamos de maneira geral diferenças de causas de acidentes entre as MPEs e os outros portes, com destaque por exemplo apenas nas pequenas obras dos problemas com trabalho em altura (código 9, grupo das tarefas) e nos procedimentos de trabalho inexistentes; falta planejamento de trabalho; tarefa mal concebida (código 14, gerenciamento das atividades).

No comércio, problemas de tarefa relacionados às inadequações ergonômicas (código 11) foram apontados apenas nas MPEs, no entanto, não observamos muitas diferenças no padrão das causas pelos distintos portes de empresas.

Também no setor de serviços não foram registradas diferenças relevantes entre os tipos de causas apontadas e os portes.

A análise dos fatores causais dos acidentes investigados pelo MTE demonstrou a existência de um padrão observado em todas as atividades econômicas.

Os fatores da tarefa foram os mais selecionados, seguidos pelo demais grupos de fatores da organização e gerenciamento ou fatores da organização e gerenciamento das atividades / da produção. O quarto grupo mais relatado em todas as atividades foi o de fatores do ambiente.

O grupo de fatores da tarefa contempla diversas situações de trabalho em altura e de utilização de máquinas e equipamentos, que como observamos na análise dos fatores de mortalidade estiveram relacionados a grande número de óbitos.

Outro aspecto que pode ajudar a explicar o motivo da supremacia dos fatores da tarefa é sua relação direta com o que os trabalhadores estão fazendo, correspondendo a situação que mais se aproxima do instante de ocorrência do acidente, para uma boa parte dos casos. Utilizando o conceito de falhas ativas de REASON (2000), que podem assumir a forma de deslizes, lapsos, erros ou descumprimento de procedimentos cometidos pelos trabalhadores, fatores causais como improvisação e modo operatório inadequado a segurança podem estar relacionados a estes casos. Além dos fatores citados anteriormente, os três grupos causais mais utilizados pelos Auditores retratam questões relacionadas a atividade, seja no planejamento ou nas ações que a precedem ou na execução da atividade propriamente dita, como falta de análise de risco da tarefa, procedimento de trabalho inexistente; falta de planejamento de trabalho; tarefa mal concebida (grupo gerenciamento das atividades / produção), falha na antecipação / detecção do risco / perigo (grupo de fatores da tarefa) e tolerância ao descumprimento

das normas de segurança / risco assumido (demais grupos de fatores da organização e gerenciamento).

Desta forma, é razoável a utilização de muitos fatores da tarefa para descrever a causa dos acidentes, pois quase sempre quando este se materializou a vítima estava fazendo algo e esta execução da atividade despertará a atenção do analista, por estar muito próximo ao instante de ocorrência do evento.

No entanto, é importante a análise do acidente não se restringir a avaliação da tarefa, para não limitar as medidas de prevenção ou correção que deverão ser adotadas. Observamos um avanço nas análises realizadas pelos Auditores-Fiscais, já que foram relatadas grande número de causas relacionadas ao gerenciamento, presentes tanto no grupo gerenciamento das atividades / produção como nos demais grupos de fatores da organização e gerenciamento. Apesar de estarem inseridos nestes dois grupos algumas questões como falta de treinamento, por exemplo, não podemos deixar de observar que problemas relacionados ao gerenciamento da contratação de terceiros, ao gerenciamento de materiais, fatores relacionados ao projeto, questões envolvendo supervisão / coordenação e outras estão entre as mais apontadas pelos Auditores, demonstrando que as análises dos acidentes não limitaram-se a avaliar apenas a atividade que o trabalhador executava nos instantes que precederam o acidente.

Ainda nos grupos de gerenciamento, a escolha de causas como interferência na produtividade; questões de jornada, procedimento de trabalho inexistente e treinamento (ausência) podem indicar a tendência do AFT em verificar normas, leis, regulamentos. Dependendo do contexto que estes fatores são utilizados eles podem representar um alinhamento com a abordagem tradicional de segurança ou então podem refletir as condições precárias sob as quais os acidentados exerciam suas atividades.

A abordagem clássica enfatiza genericamente a idéia de que os trabalhadores precisam receber treinamentos em segurança do trabalho. No entanto, essa idéia não costuma se associar com diagnósticos sobre a formação desses trabalhadores ou outras formas de identificação de necessidades de qualificação. Objetivos, conteúdos, práticas pedagógicas são desconsideradas. Dificilmente a existência do treinamento

isoladamente seria capaz de evitar o acidente em questão. Outro exemplo seria o analista ao selecionar o fator causal procedimento de trabalho inexistente concluir que a causa do acidente foi a empresa não elaborar a instrução de segurança / ordem de serviço e que portanto as medidas de prevenção ficarão limitadas a elaboração da O.S. e a realização de treinamento aos funcionários. Nesta situação o investigador estaria adotando a abordagem tradicional, que compreende em descrever o procedimento de trabalho, treinar o trabalhador e garantir o cumprimento das normas. Se no entanto ao selecionar a mesma causa do acidente, ou seja, procedimento de trabalho inexistente, o analista conduzir sua investigação para demonstrar que as condições de trabalho eram tão ruins que sequer havia definição por parte da empresa de como o trabalhador deveria agir (do ponto de vista da segurança) e juntamente com este fator avaliar outras questões, como ausência de proteção de máquinas/ equipamentos, descumprimento de jornada, aspectos da organização do trabalho, gerenciamento da contratação de terceiros, etc., será possível concluir que a investigação não seguiu os parâmetros da abordagem clássica, que consiste em selecionar poucas causas, com ênfase nas ações dos trabalhadores implicando na adoção de medidas de correção de pouca eficácia.

Já o grupo de fatores do ambiente retrata questões ligadas a precariedade do trabalho, como problemas relativo ao espaço físico laboral, irregularidades nas instalações elétricas, problemas relacionados a higiene ocupacional (ruído, temperatura, ventilação) e outros.

O destaque ao registro de fatores deste grupo também foi observado em todas as atividades econômicas, sempre num patamar inferior ao dos grupos que abordam os fatores da tarefa e de gerenciamento.

Novamente utilizando os conceitos de erro ativo (falhas ativas cometidas pelos trabalhadores, com pequeno impacto na integridade do sistema) e condição latente (decisões gerenciais, de ordem administrativa, com grande influência nas condições de segurança dos sistemas), é possível observar que enquanto os fatores causais relacionados aos erros ativos ficam mais concentrados em grupos como o da tarefa, as condições latentes ficam dispersas em grupos como fatores do ambiente, demais grupos

de fatores da organização e gerenciamento, fatores do material e fatores de manutenção, dentre outros.

5.2.6 Tipologia de Monteau e concepções de causalidade adotadas nas análises