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3 – Revisão bibliográfica

3.1 Os desafios enfrentados pelas MPEs no contexto econômico atual

3.1.2 Mercado de Trabalho e as MPEs

Avaliando o mercado de trabalho brasileiro, KREIN (2003) analisa que na década de 90 foram editados diversos instrumentos legais, como Decretos, Leis, Portarias e Medidas Provisórias que facilitavam a flexibilização e maior precarização do mercado de trabalho, alterando as relações de trabalho “(...) nos quatro espaços de normatização vigentes no país; 1. na legislação; 2. nas sentenças normativas; 3. nas negociações coletivas; e 4. no poder discricionário das empresas em estabelecer de forma unilateral as relações de trabalho.” (KREIN, 2003, p. 281).

As empresas ampliaram a liberdade para empregar e demitir de acordo com as suas necessidades de produção e de redução de custos, utilizando meios como a terceirização, contratos atípicos de trabalho, tais como por prazo determinado,

temporário, tempo parcial e consultoria, além dos trabalhos ilegais e clandestinos, com a ausência do registro, trabalho de estrangeiros, em domicílio e outros.

É chamada a atenção também para a flexibilidade funcional, onde é ajustado o uso da força de trabalho para permitir uma maior flexibilidade interna aos estabelecimentos, alterando a forma e estruturação das funções dos trabalhadores, adotando a polivalência, por exemplo. A flexibilidade possui reflexos nas jornadas, permitindo sincronizar o nível de produção com a demanda de trabalho, através da utilização do banco de horas, liberação dos trabalhos aos domingos e feriados. Quanto à remuneração do trabalhador, é possível a flutuação do salário de acordo com o nível de atividade, normalmente com um valor baixo de salário fixo e parcela importante de remuneração variável em função do cumprimento de metas, além de instrumentos como a participação nos lucros ou resultados – PLR. A flexibilidade alcançou também a solução de conflitos, com a criação das Comissões de Conciliação Prévia, incentivando a mediação e arbitragem privada. O autor ressalta que apesar das iniciativas serem pontuais, elas indicam uma tendência de desregulamentação de direitos e de flexibilização das relações de trabalho no nosso País.

No que se refere às MPEs, o crescimento da importância destas empresas para as economias nacionais vêm ocorrendo em âmbito mundial. Muitas vezes as discussões envolvem a capacidade delas em criar postos de trabalho.

REINECKE (2002) avalia em trabalho realizado pela OIT que em vários países pertencentes a OECD, a proporção de pequenas empresas na empregabilidade total vem crescendo desde os anos 80, assim como em muitos países em desenvolvimento. É citado o exemplo da América Latina, onde as MPEs cresceram de uma participação de 48% para 51% no emprego total urbano em 1998.

No entanto, é ponderado que o crescimento do emprego em pequenas empresas não significa necessariamente sucesso na estratégia de desenvolvimento do País. Na média, trabalho em pequenas empresas são menos produtivos, menos remunerados, menos seguros e menos sindicalizados em comparação às grandes empresas. Por estas razões, muitos especialistas entendem que a ênfase do crescimento do emprego em pequenas empresas é mais uma ameaça que uma oportunidade. Alguns trabalhadores se empregam em pequenas empresas simplesmente porque eles não têm alternativa. Para estas pessoas esta é uma estratégia de sobrevivência adotada que não conta com as

proteções legais, até que melhores oportunidades apareçam, sendo mais um reflexo da crise econômica do que do sucesso. O autor lembra ainda que estas empresas podem ser muito importantes em “ajudar um grande número de pessoas pobres se tornarem um pouco menos pobres” mas geralmente não podem criar empregos de alta qualidade. (Mead/Liedholm, 1998: 70) citado por REINECKE, 2002, p. 9.

Para SANTOS (2006), a tendência de flexibilização dos mercados e das relações de trabalho aliadas a elevação das taxas de desemprego e pagamento de baixos salários têm tido um papel importante na viabilização da expansão do segmento dos pequenos negócios.

O autor avalia que vem ocorrendo a multiplicação de pequenas unidades de negócios que buscam vantagens competitivas baseadas na utilização de um padrão rebaixado da força de trabalho, ou seja, para viabilizar a sobrevivência do estabelecimento, reduzindo custos e oferecendo ao mercado produtos a preços competitivos são eliminados ou reduzidos todos os gastos direta ou indiretamente relacionados a força de trabalho.

O elevado desemprego, o enfraquecimento sindical e o menor poder de regulação das políticas públicas sobre o mercado e as relações de trabalho ampliaram as possibilidades de muitos pequenos negócios obterem vantagens competitivas no rebaixamento do custo da força de trabalho, apesar de não necessariamente esta estratégia garantir a existência das empresas. O autor chama a atenção para que se por um lado o excedente de força de trabalho, ou seja, muitos trabalhadores a procura de emprego pressiona a redução dos salários e os benefícios trabalhistas, por outro a existência de empresários dispostos (até por conta da necessidade ou falta de opção) a abrir pequenos negócios é muito grande, acarretando em grande concorrência entre as empresas e prejudicando as condições de rentabilidade e de sobrevivência dos estabelecimentos.

A redução do peso do emprego assalariado nas grandes empresas, como resultado do conjunto de profundas mudanças tecnológicas e organizacionais nas últimas décadas, além de contribuir para a elevação do desemprego, aumenta a importância do emprego assalariado nos pequenos negócios.

O autor pondera que não necessariamente o emprego criado nas MPEs vai ser de baixa qualidade, já que em algumas situações podem ocorrer, por exemplo, em

pequenos negócios que desenvolvem diversas atividades modernas e dinâmicas na indústria, mas na maior parte dos casos a geração de novos empregos está cada vez mais associada aos trabalhos criados pelas pequenas empresas mais intensivas na utilização da força de trabalho, e portanto com um processo produtivo menos eficiente e que geralmente é combinado com o padrão rebaixado de utilização da força de trabalho, ou seja, que percebe menores salários, menos benefícios de uma maneira geral sendo exercido em piores condições de trabalho, inclusive relacionados a segurança e saúde dos trabalhadores.

SANTOS (2006) conclui que a expansão do segmento de pequenos negócios não é resultado apenas das possibilidades criadas por inovações tecnológicas, pela desverticalização das cadeias produtivas ou por formas mais eficientes de articulações entre empresas/unidades de distintos tamanhos, sendo determinada por um enorme conjunto de atividades precárias desenvolvidas como estratégias de sobrevivência.

Portanto, o aumento das MPEs na geração de empregos deve ser visto como uma forte tendência à deterioração do conjunto das condições de trabalho, sendo necessário avaliar mais especificadamente as implicações para as condições de segurança e saúde no trabalho.