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Tipologia de Monteau e concepções de causalidade adotadas nas análises de acidentes

4 – Materiais e Métodos

5.2.6 Tipologia de Monteau e concepções de causalidade adotadas nas análises de acidentes

Nesta seção classificaremos os acidentes analisados pelo MTE segundo as fases de controle de risco das empresas definidos por MONTEAU (1992), ou seja, tipologia 1 correspondendo a empresas com maior incidência de acidentes, com situações potenciais geradoras muito frequentes no ambiente de trabalho, o que permite que as irregularidades sejam identificadas facilmente. O ambiente de trabalho é intolerante a mudanças, bastando uma pequena variação para a ocorrência do AT; tipologia 2, onde o sistema já suporta algumas variações ou mudanças, sendo necessário a conjugação de alguns fatores para gerar o AT; tipologia 3, que exige várias modificações na situação de trabalho para a materialização do acidente e normalmente costumam ocorrer em ramos produtivos complexos. É necessário haver um acúmulo de mudanças que isoladamente não representam perigo, mas que juntas desencadeiam o acidente.

Tabela 70 – Número de acidentes de trabalho analisados pelo MTE e percentuais cujas características correspondem a tipologia de Monteau. São Paulo, 2001 a 2006.

Ativ. Econômica

Tipologia Monteau

Porte

Micro/Pequena Média Grande

Agricultura N % N % N % 1 20 69 2 33 6 40 2 9 31 4 67 9 60 3 0 0 0 0 0 0 Total 29 100 6 100 15 100 Indústria 1 45 54 27 38 19 36 2 38 46 42 59 34 64 3 0 0 2 3 0 0 Total 83 100 71 100 53 100 Construção 1 84 83 18 58 4 44 2 17 17 13 42 5 56 3 0 0 0 0 0 0 Total 101 100 31 100 9 100 Comércio 1 33 80 4 57 2 67 2 8 20 3 43 1 33 3 0 0 0 0 0 0 Total 41 100 7 100 3 100 Serviços 1 28 72 11 79 29 91 2 11 28 3 21 3 9 3 0 0 0 0 0 0 Total 39 100 14 100 32 100

A tabela 70 demonstra que a frequência de acidentes analisados por AFT com as características da tipologia 1 de Monteau é superior nas micro e pequenas empresas em quase todos os setores estudados. Na agricultura, por exemplo, 20 acidentes (69%) correspondem a tipologia 1 de Monteau, contra 2 casos (33%) nas médias empresas e 6 acidentes (40%) nas grandes empresas. A maior diferenciação entre pequenos e grandes estabelecimentos foi observada na construção, com 83% dos acidentes ocorridos nas MPEs classificados na tipologia 1 contra apenas 44% das grandes obras classificadas na tipologia 1. O único setor que não apresentou esta tendência foi o de serviços, que

concentrou nos três portes a classificação na tipologia 1 de Monteau, com superioridade nas grandes empresas.

No caso das concepções, lembramos que foi utilizado como critério o número de fatores causais, ou seja, acidentes com até 4 fatores causais foram considerados como de análise clássica (poucas causas geradoras dos ATs) e acidentes com 5 ou mais causas foram considerados multicausal lista de causas ou multicausal interação de fatores (descrição de como os fatores contribuíram na geração do evento analisado).

Tabela 71 – Número de acidentes de trabalho analisados pelo MTE e percentuais classificados conforme concepção de análise utilizada. São Paulo, 2001 a 2006.

Atividade

Econômica Concepção AT

Porte

Micro/Pequena Média Grande Total

Agricultura N % N % N % N % Clássica 17 59 5 83 12 80 34 68 Lista Causas 9 31 1 17 1 7 11 22 Interação Fatores 3 10 0 0 2 13 5 10 Indústria Clássica 56 67 39 55 35 66 130 63 Lista Causas 22 27 26 37 13 25 61 29 Interação Fatores 5 6 6 8 5 9 16 8 Construção Clássica 53 52 20 65 5 56 78 55 Lista Causas 39 39 9 29 2 22 50 35 Interação Fatores 9 9 2 6 2 22 13 9 Comércio Clássica 32 78 6 86 2 67 40 78 Lista Causas 9 22 1 14 0 0 10 20 Interação Fatores 0 0 0 0 1 33 1 2 Serviços Clássica 21 54 11 79 27 84 59 69 Lista Causas 14 36 3 21 4 13 21 25 Interação Fatores 4 10 0 0 1 3 5 6 Total Clássica 179 61 81 63 81 72 341 64 Lista Causas 93 32 40 31 20 18 153 29 Interação Fatores 21 7 8 6 11 10 40 7

É possível observar na tabela 71 que ainda predomina a análise clássica, com a consideração de poucas causas na geração do acidente de trabalho. A maior proporção destas análises foi no comércio, com 78% dos acidentes investigados conforme a concepção clássica e a menor proporção foi na construção, com pouco mais da metade dos casos (55%) seguindo a concepção tradicional de análise.

Neste caso a consideração da atividade econômica é apenas uma referência, pois a concepção de análise adotada é determinada pelos conceitos do investigador, independente da natureza do setor econômico. No total de acidentes analisados, em 64% dos casos foi adotada a concepção clássica de análise. No entanto é necessário ressaltar

que ao inserir o acidente no SFIT, no campo “descrição sucinta” do AT o Auditor simplesmente relata de forma resumida os fatos ocorridos e não promove a análise do acidente propriamente dita, impossibilitando desta forma a identificação mais detalhada das concepções utilizadas, como a teoria do erro humano de Reason, acidente organizacional e outras abordagens, conforme proposto inicialmente neste estudo. Portanto, como ficou prejudicada a identificação da concepção utilizada foram definidas as três categorias de concepções apresentadas na tabela 71.

5.2.6.1 Considerações sobre os resultados (Tipologia de Monteau)

Ao utilizar a tipologia de Monteau para classificar as fases de controle de risco dos estabelecimentos onde ocorreram os acidentes aqui analisados, verificamos que os resultados são coerentes com nossas suspeitas iniciais, de que pequenas empresas tenderiam a condições mais precárias de trabalho, com grande parte das irregularidades representando descumprimento da legislação trabalhista de segurança e saúde, como falta de proteção de máquinas, problemas relacionados ao modo operatório e vários outros, características estas de tipologia 1 de Monteau. Nossas suspeitas eram que as dificuldades na gestão dos riscos em SST seriam maiores para as MPEs comparado às médias e grandes empresas. Os resultados apontam que dentre os acidentes analisados pelos Auditores-fiscais do MTE entre 2001 a 2006 no Estado de São Paulo existe uma proporção maior de casos de micro e pequenas empresas classificadas na tipologia 1 de Monteau, quando comparamos com as empresas de médio e grande porte, em quase todas as atividades econômicas por nós avaliadas.

Já no que se refere às concepções de análise de acidentes utilizadas pelos AFTs, a avaliação das informações mostrou que o conjunto de dados não era adequado para possibilitar uma classificação mais detalhada, conforme comentado anteriormente. A avaliação da concepção utilizada pelo investigador foi sustentada basicamente no quantitativo de fatores causais apontados, sendo que na maior parte dos óbitos (64%, tabela 71) foram utilizados menos de 5 fatores, o que é considerado uma análise pobre

de causas. O campo destinado a descrição do acidente no SFIT permite que o Auditor faça basicamente um relato resumido dos fatos ocorridos, não possibilitando acompanhar e avaliar a conduta utilizada na investigação, o conjunto de informações coletadas, a forma como estas informações foram interpretadas e utilizadas para definir as recomendações para prevenir futuros acidentes, fatores estes que seriam fundamentais para identificar a concepção de análise utilizada pelo AFT. Portanto, o sistema proporcionou que tivéssemos apenas uma idéia geral e aproximada da concepção utilizada pelo Auditor-fiscal na análise do AT.

6 – Discussão

6.1 Estimativa do universo de acidentes ocupacionais fatais no Estado de São