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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 A ORGANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL

5.3.3 Avaliação dos alunos com necessidades educacionais especiais

5.3.3.3 Avaliação pedagógica

A avaliação da aprendizagem para o público-alvo da educação especial foi fortemente pautada numa perspectiva de classificação e seletividade. Hoje a perspectiva que encontramos é de agregar também uma avaliação da aprendizagem deste aluno, que mais do que indicar a deficiência busca identificar as necessidades educacionais do mesmo e os caminhos necessários para que tenha sucesso em percursos escolares (VELTRONE, 2011, p. 67).

Para facilitar o agrupamento dos dados na categoria avaliação pedagógica, foram necessárias duas subcategorias, as quais são apresentadas a seguir.

5.3.3.3.1 Avaliação pedagógica nas salas de recursos multifuncionais

As avaliações pedagógicas que ocorrem dentro das SRMs são registradas na forma de relato, sendo descrito como está fluindo a aprendizagem do aluno, como uma forma de acompanhamento do desenvolvimento percebido no aluno. Essas avaliações ocorrem, também, no final do ano, para analisar a evolução do aluno no decorrer do ano letivo. Não existe uma forma única para fazer esse acompanhamento. Assim, algumas professoras fazem uso de portfólio, mas, independentemente da forma como é realizado, todas as professoras mantêm relatos a respeito da evolução dos alunos. Neste caso, o município poderia propor uma forma oficial de como devesse ocorrer as avaliações pedagógicas, uma sugestão, seria um roteiro com orientações acerca de quais itens não poderiam faltar no momento da avaliação.

Em relação à entrada do aluno na SRM, no que diz respeito à anamnese, as professoras especialistas informaram que fazem a sequência de perguntas ao responsável e, posteriormente, a avaliação individual com o aluno (ou vice versa). A partir de então, elabora-se um relatório contendo todas as informações referentes ao aluno. Em casos mais específicos, não é realizada avaliação direta com o aluno.

Em se tratando da avaliação individual, que o professor da SRM faz com os alunos encaminhados, as falas a seguir ilustram como essa é realizada:

[...] dependendo da criança, eu já vou no diálogo para ver se a criança tem diálogo, se ela consegue manter um diálogo, se ela tem um raciocínio lógico, a gente dentro desse diálogo... Eu procuro começar na realidade da própria criança, então, inventar ou fazer alguma coisa de acordo com a resposta da criança, eu vou colocando situações problemas e daí, eu vou criando (RENATA, p. 33).

Eu costumo usar jogos para avaliar... Dominó de adição, dominó de subtração, quebra- cabeça, jogo de encaixe, a gente tem uma maleta na escola com formas geométricas. Então, tem a balancinha, só para ver se eles dominam essa questão de noção de proporção, de quantidade, de reconhecimento de formas mesmo... Durante os jogos, eu procuro conversar com eles para ver se eles conseguem manter o diálogo coerente, se eles conseguem executar mais que uma tarefa ao mesmo tempo. Às vezes, vou fazer um ditado de palavras pergunto para criança se ela conhece o computador, se ela gosta, coloco ela num software no computador, depois dou um ditado de palavras no computador. Eu acho que é um meio de chamar mais atenção deles (ANGÉLICA, p. 33).

[...] tem também atividades com coordenação motora, que às vezes chegam crianças que tem um comprometimento maior, então, aí nós vamos adequando de acordo com a deficiência da criança, com o que ela apresenta (ROSANA, 34).

Foi possível perceber, com essas e outras falas, que não há uma forma única para a avaliação que ocorre dentro das SRMs. A partir dessa avaliação, elabora-se um relatório contendo todas as características do aluno possíveis de serem observadas. Esse relatório é encaminhado para a coordenação da escola, a qual, em casos que considerar necessário, acrescenta informações. Posteriormente, esse relatório é enviado para a coordenadoria de Educação Especial do município.

5.3.3.3.2 Avaliação pedagógica no ensino comum / retenção – aprovação

Uma das questões disparadoras do grupo focal foi referente ao rendimento acadêmico dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. O interesse da pesquisa está relacionado ao modo pelo qual o rendimento desses alunos é monitorado, no decorrer do ano, de modo a acompanhar a evolução do aprendizado.

Uma professora afirmou que todos os alunos matriculados possuíam portfólio para fazer o acompanhamento. Para tanto, são atribuídos conceitos referentes ao rendimento dos alunos, o que é explicado na fala da coordenadora Gisele: “3º e 5º anos têm conceitos trimestrais e no 1º, 2º e 4º conceito anual” (p. 31). Dessa forma, existem avaliações periódicas, como em todas as escolas, e, para os alunos com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, não é diferente.

A Resolução SME nº 009/09, a respeito da avaliação, dispõe que, em se tratando “dos alunos com necessidades educacionais especiais deverá ser contínua e cumulativa, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos” (RIO CLARO, 2009, p. 02).

As professoras relataram que as avaliações são voltadas para o aprendizado do aluno no decorrer do ano, e, caso o currículo tenha sido adaptado, a avaliação ocorre tomando como base esse currículo. Com isso, no final do ano, os alunos que obtiveram notas suficientes mudam de ano/série no próximo ano. Uma professora relatou que seus alunos serão promovidos naquele ano, enquanto Angélica nos diz: “Se eu for falar a verdade, eu vou reprovar todo mundo, a gente segura e, os com dificuldades, que não têm laudo, esses aí a gente não consegue segurar” (p. 31). Com isso, pode-se constatar que, caso os alunos precisem de notas suficientes para passar, possivelmente, os aspectos qualitativos não estão sendo considerados em relação aos quantitativos, como estabelece a Resolução SME nº 009/09.

A coordenadora de Educação Especial do município afirma que essa tem sido a dinâmica: para os alunos com laudo, é possível justificar a retenção, e é o que ocorre, se for o caso, mas aqueles que possuem dificuldades de aprendizagem podem ser beneficiados com uma progressão para a próxima série. A fala da professora Angélica ilustra tal fato:

Em acordo com a família, com os profissionais da saúde que atendem, então, se a gente acha que a criança tem que ficar, que ela vai ser beneficiada ficando mais um ano naquela série, geralmente fica. Essas crianças que não têm diagnóstico e que têm uma dificuldade, assim, gritante de aprendizagem, vão embora, até porque a gente não tem como reter aluno, a verdade é essa (ANGÉLICA, p. 31 – 32).

O art. 3º da Resolução SME nº 009/09 dispõe que:

[...] caberá aos Conselhos de Classe/Séries/Ano, ao final de cada ano letivo, aprovar relatório circunstanciado de avaliação, elaborado por professor especialista, contendo parecer conclusivo, acompanhado de relatório, periódico e contínuo, sobre a situação escolar dos alunos atendidos pela educação especial (RIO CLARO, 2009, p. 02). Em se tratando da documentação legal nacional, nada se encontrou no que diz respeito à aprovação ou retenção dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimentos e altas habilidades/superdotação. As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001), em referência às avaliações pedagógicas, dispõem que:

[...] a ênfase deverá recair no desenvolvimento e na aprendizagem do aluno, bem como na melhoria da instituição escolar, onde a avaliação é entendida como processo permanente de análise das variáveis que interferem no processo de ensino e aprendizagem, para identificar potencialidades e necessidades educacionais dos alunos e as condições da escola para responder a essas necessidades. Para sua realização, deverá ser formada, no âmbito da própria escola, uma equipe de avaliação que conte com a participação de todos os profissionais que acompanhem o aluno (BRASIL, 2001, p. 15).