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4 PERCURSOS METODOLÓGICOS

4.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA DA PESQUISA

Este trabalho parte de uma metodologia de investigação cuja base teórico-metodológica aponta possibilidades para “proporcionar condições para que os docentes reflitam sobre sua atividade e criem situações que propiciam o questionamento de aspectos da prática profissional que preocupam os professores” (IBIAPINA, 2008, p. 20). Dessa forma, esta pesquisa foi desenvolvida por meio de ações colaborativas, pautando seus fundamentos teórico-metodológicos na pesquisa colaborativa.

Pesquisa colaborativa na educação é uma “atividade de co-produção de saberes, de formação, reflexão e desenvolvimento profissional, realizada interativamente por pesquisadores e professores com o objetivo de transformar determinada realidade educativa” (IBIAPINA, 2008, p. 31). Fiorentini (2006, p. 132), ao abordar esse conceito, admite que o trabalho colaborativo requer o envolvimento de professores da escola e da universidade, devendo os projetos enfrentarem “o desafio de mudar as práticas escolares e de contribuir para o desenvolvimento de seus participantes”.

Nesse sentido, pesquisadores e docentes, quando em interação, podem construir teorias sobre suas práticas profissionais, negociando valores e crenças que embasem a compreensão da realidade vivida por eles e das escolhas feitas e, ainda, das interpretações dos envolvidos. É o cruzamento dessas compreensões que produz a prática colaborativa de pesquisa sustentada entre pesquisador e professores.

É nesse processo que se dá a colaboração, a qual é produzida a partir das interações

4 A pesquisadora optou por utilizar artigo feminino ao se reportar as participantes pelo fato de todas serem do referido sexo.

estabelecidas entre as habilidades de cada um dos participantes. De um lado, os professores, com seu potencial de análise das práticas pedagógicas e, de outro, o pesquisador, com sua capacidade de formador e organizador das etapas formais da pesquisa. Nessa perspectiva, os pares (professores e pesquisador) colaboram entre si na produção de saberes e no compartilhamento de estratégias que promovam o desenvolvimento profissional.

Essa metodologia de pesquisa considera o lado e o ponto de vista da academia e, também, o lado e o ponto de vista do professor. Assim sendo, pesquisar colaborativamente impõe a necessidade de envolvimento entre pesquisadores e professores em ideais comuns, cujo objetivo seja beneficiar a escola e o profissional docente. Além disso, é também uma forma de envolver professores da escola e da universidade em projetos que encarem o desafio de contribuir com mudanças das práticas escolares e, ainda, auxiliar para nas atividades para o desenvolvimento de seus participantes.

Em síntese, essa é uma prática alternativa de indagar a realidade educativa em que investigadores e educadores trabalham conjuntamente na implementação de mudanças e na análise de problemas, compartilhando a responsabilidade na tomada de decisões e na realização das tarefas de investigação (IBIAPINA, 2008, p. 23).

Ao considerar que a prática de ensinar é um fenômeno concreto, parte-se do pressuposto de que os conhecimentos são coproduzidos e que esse está inserido num contexto sociopolítico mais amplo. Assim, a pesquisa colaborativa deve “dar conta da realidade microssocial sem perder de vista o aspecto histórico e político do macro contexto social, possibilitando aos indivíduos compreender a ligação entre o que eles vivem e acreditam e o que lhes é dito ou imposto” (IBIAPINA, 2008, p. 26).

Acredita-se, então, que pesquisas constituídas em processos colaborativos auxiliam tanto na parte teórica quanto nas práticas emancipatórias ao fortalecer a prática docente. Certamente, pesquisas nessa perspectiva não são simples de serem realizadas se considerarmos que vivemos em uma sociedade contraditória e competitiva, porém, ao oferecer possibilidades para o desenvolvimento e o aprendizado da colaboração e da reflexão, as dificuldades são minimizadas.

Para realizar o processo reflexivo, é necessário um aprofundamento, tanto no conhecimento teórico como, também, no mundo da experiência. Dessa forma, pode-se desvendar a que interesses servem as ações sociais, além de revelar as práticas ideológicas produzidas por elas. A esse respeito, Ibiapina (2008) afirma que:

A reflexão oferece mais poderes para os professores (re)construírem o contexto social em que estão inseridos, proporcionando condições para que esses profissionais compreendam que, para mudar a teoria educacional, a política e a prática, é necessário mudar a própria forma de pensar, sentir e agir (IBIAPINA, 2008, p. 72).

Vieira (2008), em sua pesquisa de mestrado, corrobora esse pensamento ao afirmar que:

Cabe valorizar perspectivas de formação que promovam a preparação de professores críticos e reflexivos, que também assumam a responsabilidade de seu desenvolvimento profissional e que participem como protagonistas na implementação de políticas educativas capazes de garantir a qualidade do ensino ministrado nas escolas públicas de Ensino Fundamental (VIEIRA, 2008, p. 61).

Vale ressaltar que, ao falar de pesquisa colaborativa, como afirma Ibiapina (2008, p.31- 32), deve-se lembrar que “colaborar não significa que todos devam participar das mesmas tarefas e com a mesma intensidade, mas que, sobre a base de um projeto comum, cada partícipe preste sua contribuição específica, isto é, contribua para beneficiar esse projeto”. Dessa forma, a troca de funções acontece de acordo com as necessidades surgidas no decorrer da pesquisa.

Assim, neste estudo, os professores participantes não serão coparticipantes nas tarefas formais de pesquisa (delimitar e definir o objeto de pesquisa, apresentação e publicação dos resultados, dentre outras etapas), mas, sim, contribuirão com a realidade vivida na prática escolar, trazendo elementos fundamentais para o debate. O objetivo aqui, de se trabalhar colaborativamente, é oportunizar aos professores participarem como coprodutores da investigação.

O trabalho colaborativo de co-produção de conhecimentos no âmbito da pesquisa em educação e para a educação representa a possibilidades de compreensão da prática docente, elemento essencial para o processo de pesquisa, o que supõe que o pesquisador trabalhe nos dois campos, o da pesquisa e o da formação (...) a habilidade do pesquisador consiste em propor aos professores atividade reflexiva que permita, de um lado, satisfazer as necessidades de desenvolvimento profissional e, de outro lado, atender as necessidades de avanço do conhecimento no domínio da pesquisa no qual ele se inscreve (IBIAPINA, 2008, p. 32- 33).

Sobre a atuação dos copesquisadores nas etapas formais da pesquisa, Desgagné (1998) complementa:

O que a pesquisa colaborativa exige é a participação de co-construtores, ficando entendido que é a sua compreensão em contexto do fenômeno explorado (e investigado) que é essencial para o processo. Nisso está a verdadeira contribuição desejada das práticas no projeto colaborativo (DESGAGNÉ, 1998, p. 04).