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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 A ORGANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL

5.3.1.1 Escola-polo

Uma das alternativas concebidas pelo município, em decorrência da inclusão escolar, foi a criação de uma escola denominada como “escola-polo” para o atendimento de alunos com surdez. Até o momento, funcionam, em Rio Claro, duas escolas consideradas polos para fazer o atendimento em SRMs aos alunos surdos, sendo uma de Ensino Fundamental e outra de Educação Infantil. O município, ao receber matrícula de aluno surdo, o encaminha para a escola- polo referente à sua etapa de ensino. Os alunos matriculados na escola-polo de Educação Infantil, ao concluírem essa etapa de ensino, são transferidos para a escola-polo de Ensino Fundamental, sendo essas duas escolas geograficamente próximas.

Esses alunos são beneficiados pelo transporte escolar oferecido pelo município e chegam à escola por volta das 10h30m da manhã. Todos os alunos surdos ficam na SRMs até às 11h30m, almoçam e, em seguida, descansam, pois à tarde estão matriculados na sala regular dessas escolas. Essas escolas não são bilíngues, mas a intenção é caminhar para que isso se efetive.

Ao se referir à escola-polo de Ensino Fundamental, Gisele afirma:

A do Ensino Fundamental [...] tem uma professora bilíngue no ensino regular e uma de sala de recursos. Então, ela atende os próprios alunos no atendimento educacional na sala de recursos e a tarde ela é professora deles do ensino regular. É uma sala com número reduzido de alunos, 17 alunos, tem 4º e 5º anos. Deu certo dessas crianças estarem na idade próxima. E ela tem nove surdos e oito que são ouvintes, mas usuários de LIBRAS e um intérprete (RESE, Gisele, p.4-5).

A professora bilíngue citada por Gisele é efetiva, sendo a única profissional dessa área da surdez atuante no município. Ao se referir à Educação Infantil, Gisele completa:

[...] temos, na Educação Infantil, sete crianças surdas, porém, como as mães foram matriculando depois, elas têm uma diferença de idade. Então, elas são distribuídas em três turmas no mesmo período da tarde, mas em três turmas, e as professoras regulares das três são professoras que não são bilíngues, mas são usuárias de LIBRAS e se prontificaram a receber os alunos surdos (RESE, Gisele, p. 05).

Assim, devido à dificuldade de encontrar profissionais atuantes nessa área da surdez, há, nessas três turmas de Educação Infantil, um intérprete que fica circulando entre as salas. Ao consultar o Decreto nº 5.626/2005, encontra-se, no art. 22, que as instituições de ensino de educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva através da organização de escolas e classes de educação bilíngue na educação infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com professores bilíngues, abertas a alunos surdos e ouvintes. Dessa forma, pode-se constatar que em Rio Claro a legislação não está sendo cumprida, pois intérpretes atuam nas salas quando a legislação recomenda que, na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, estejam atuando professores bilíngues.

É importante que, nas escolas que se proponham a serem bilíngues, constem em seus documentos, como, por exemplo, no projeto político pedagógico, as adaptações curriculares, metodologia dos trabalhos desenvolvidos, planos de estudos das disciplinas, dentre outras características, para trabalhos com alunos surdos. O Decreto nº 5.626/2005 dispõe, também, em seu art. 22 - § 1o: “São denominadas escolas ou classes de educação bilíngüe aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo” (BRASIL, 2005, p. 07). Com a análise dos dados, não foi possível identificar se isso ocorre ou não em Rio Claro. Lacerda e Lodi (2009) defende que na implantação de uma educação bilíngue para surdos:

[...] estes sujeitos devam interagir com interlocutores usuários de língua de sinais o mais precocemente possível, identificada como uma língua passível de ser desenvolvida sem que sejam necessárias condições especiais de “aprendizagem” [...] tal proposta educacional defende, ainda, que seja ensinada ao surdo a língua da comunidade ouvinte na qual está inserido, oral e/ou escrita, tendo como base os conhecimentos adquiridos por meio da língua de sinais. Desta forma, tal projeto de escolarização pressupõe que os educadores tenham domínio das línguas envolvidas, a língua de sinais e a portuguesa, e do modo peculiar de funcionamento de cada uma delas em seus diferentes usos sociais, domínio fundamental para possibilitar o acesso dos surdos aos conhecimentos de mundo em ambas as línguas (LACERDA; LODI, 2009, p. 12).

O município ao propor a constituição de escolas bilíngües, precisa adequar sua documentação e compreender os princípios dessa educação. São necessárias orientações acerca

de como as escolas devem se preparar para trabalhar para que esse projeto se estabeleça, visto que o reconhecimento da língua e da cultura surda, preparo dos docentes e demais profissionais da escola, a presença de um surdo adulto para que possa servir como referencia identitária, contato com outros alunos surdos, adaptações curriculares e metodológicas são algumas características que devem ser levadas em consideração.

Nesse sentido, concorda-se com as participantes da pesquisa quando afirmaram que, apesar de o município ainda não estar preparado, tem avançado em relação aos anos anteriores, mesmo que esses avanços ainda não sejam o ideal, porém, destacam-se a preocupação e os esforços imbricados em garantir profissionais especializados, a exemplo dos intérpretes e da professora da SRM em formação. Para além, disso, a tentativa de alocar alunos surdos nas mesmas escolas e o “ganho” do transporte escola para os alunos surdos são “conquistas” assertivas visto que eles precisam ser acolhidos em ambientes bilíngües onde os alunos surdos tenham pares e educadores competentes em LIBRAS para se relacionarem com eles.

Além das escolas consideradas polos para surdos, o município tem a intenção de se efetivar uma SRMs voltada especificamente para atender alunos com deficiência visual. Para que essa intenção se efetive, uma professora já atuante em SRMs está se formando para fazer o atendimento. Por se tratar de uma ideia nova, a dificuldade encontrada para, de fato, se concretizar essa sala voltada para alunos com deficiência visual, é a falta de transporte para o deslocamento dos alunos, fazendo-se necessária a parceria com a secretaria de transportes.

Com a análise da legislação nacional e municipal, não foi possível encontrar, em termos legais, algo que oficializasse esse modelo de organização de escolas-polos. No município, não há registros oficiais que descrevam como essas escolas foram se constituindo, assim, este trabalho limitou-se às informações contidas na análise dos dados.

Dentro desse contexto, pelo menos na educação de surdos ou com deficiência auditiva e de alunos com deficiência visual, a tendência na organização de serviços tem sido a de criar salas de recursos e escolas voltadas para esse público, ou seja, que trabalhem na perspectiva de uma organização diferente para atender esses alunos.