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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 A ORGANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL

5.3.1.2 Organização do espaço-tempo do atendimento

Com o decorrer da pesquisa e com os relatos das participantes, pode-se perceber que, devido à complexidade da atual política de inclusão, foi necessário criar alternativas para acolher todo o alunado da Educação Especial. As professoras das SRMs, ao serem indagadas sobre os procedimentos realizados quando a escola recebia um aluno com alguma condição com a qual o professor não sentia segurança/domínio para lidar, mostraram encontrar dificuldades, como, por exemplo, a fala de uma das participantes: “A gente delega, a gente passa pra frente” (RAISSA, p. 04).

Fica nítida, nessa fala de Raissa, a dificuldade por parte dessas professoras especializadas em atuar com alunos com as mais diversas deficiências. Essa dificuldade é justificada se se considerar que o público-alvo do AEE são alunos com deficiência (física, intelectual, ou sensorial), com transtornos globais do desenvolvimento (autismo, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância – psicoses e transtornos invasivos) e alunos com altas habilidades/superdotação. Assim, uma alternativa criada pelo município para o caso de o professor não se sentir apto para trabalhar com determinado aluno é encaminhá-lo para outra SRM que tenha um profissional com mais segurança para atender determinada deficiência. Na perspectiva da coordenadora da Educação Especial do município, esse também é seu papel, de tentar alocar o aluno para alguma profissional que tenha mais condições de trabalhar com determinada deficiência de modo a potencializar o ensino para aquele determinado aluno.

No que diz respeito ao encaminhamento de alunos para o atendimento nas SRMs, quando uma criança com deficiência é matriculada em uma das escolas da rede, caso essa escola não possua SRM, a coordenadora da Educação Especial do município é quem faz a distribuição. Assim, o aluno é encaminhado para outra escola do município que possua SRM, de preferência, a mais próxima da residência do aluno.

Em se tratando da dinâmica com a qual os professores especialistas trabalham para organizar o atendimento, em relação ao número de alunos matriculados em cada SRMs e ao tipo de deficiência, constatou-se, nesta pesquisa, que algumas professoras preferem trabalhar em duplas ou grupos, o que parece ser uma alternativa com bons resultados, como aponta o relato de Rebeca:

Eu trabalho de uma forma diferente, eu gosto de trabalhar em grupos [...] no máximo 5 [...] existem aqueles alunos que eu preciso trabalhar individual com ele, [...] no máximo 2 [...] eu convido todos os meus alunos, então tem 15 pra ir num dia [...]. Sexta-feira passada teve um projeto nosso com o projeto do folclore, então a gente faz uma exposição na frente da classe, todos os alunos vêm, a gente põe um filme, come pipoca. E um dia teve um filme na minha sala, e o G., que está acostumado a ser individual, que é novo meu, surtou, simplesmente surtou, por quê? Porque não está acostumado. Ele precisa do atendimento individualizado e precisa do grupo também, a vida não é uma ilha (REBECA, p. 16).

Assim, o que se percebe, pelos relatos das participantes, é que a organização do espaço e tempo do AEE na SRMS é variável, tendo o professor autonomia para arranjá-los, o que está de acordo com a Resolução nº 04/09, que define serem essas atribuições do professor do AEE. As notas técnica nº 09/10 e nº 11/10, sobre esse assunto, complementam, também, como atribuições dos professores do AEE a organização do cronograma do atendimento e a carga horária, individual ou em pequenos grupos.

A coleção “A Educação Especial na perspectiva da inclusão escolar” também orienta quanto à organização do atendimento educacional especializado, destacando que:

Há alunos que freqüentarão o AEE mais vezes na semana e outros, menos. Não existe um roteiro, um guia, uma fórmula de atendimento previamente indicada e, assim sendo, cada aluno terá um tipo de recurso a ser utilizado, uma duração de atendimento, um plano de ação que garanta sua participação e aprendizagem nas atividades escolares. Na organização do AEE, é possível atender aos alunos em pequenos grupos, se suas necessidades forem comuns a todos. É possível, por exemplo, atender a um grupo de alunos com surdez para ensinar-lhes LIBRAS ou para o ensino da Língua Portuguesa escrita (ROPOLI et al., 2010, p. 22).

Ao serem indagadas sobre os trabalhos que são desenvolvidos nas SRMs e a função do AEE, as profissionais responderam que esses são complementares às atividades da sala de aula e não podem ser confundidos com reforço, pois as professoras estão ali para trabalhar outras habilidades que vão além do saber acadêmico. Para desenvolver essas atividades, as participantes afirmaram que têm acesso ao planejamento e fazem uso de jogos e de outros materiais existentes nas SRMs. Além disso, o tempo das professoras das SRMs destinado para ficar com os alunos é maior, considerando-se que, na maioria das vezes, o atendimento é individual ou em pequenos grupos, o que favorece o desenvolvimento de estudos de caso, ou seja, levantamento das necessidades de aprendizagem do aluno. Em alguns casos, quando necessário, as profissionais afirmam também que fazem adaptação de materiais.

O atendimento educacional especializado constitui parte diversificada do currículo dos alunos com necessidades educacionais especiais, organizado institucionalmente para apoiar, complementar e suplementar os serviços educacionais comuns. Dentre as atividades curriculares específicas desenvolvidas no atendimento educacional especializado em salas de recursos se destacam: o ensino da Libras, o sistema Braille e o Soroban, a comunicação alternativa, o enriquecimento curricular, dentre outros [...] Nesse sentido, o atendimento educacional especializado não pode ser confundido com atividades de mera repetição de conteúdos programáticos desenvolvidos na sala de aula, mas deve constituir um conjunto de procedimentos específicos mediadores do processo de apropriação e produção de conhecimentos (ALVES, et al., 2006, p. 15).

Acredita-se ser necessário ter cautela ao se fazer considerações acerca dos conteúdos que devem ser trabalhados nas SRMs. Ao afirmar que nessas salas os conteúdos não devem ser confundidos com reforço, não se pode confundir que assuntos trabalhados em sala de aula não devam ser, também, abordados nas SRMs.

As profissionais relataram, também, que a função do AEE é orientar a família, o professor, o monitor, a direção, encaminhar para outros serviços e/ou profissionais quando necessário, avaliar as crianças, oferecer estimulação precoce, estimulação sensorial, estimular a coordenação motora, fazer anamnese (ANEXO E) com a família, e, a partir daí, empreender esforços na busca de recursos, proporcionar a acessibilidade dentro do espaço físico da escola, fazer adequações nos planejamentos e nas atividades e, quando for o caso, entrar em contato com outras instituições do município para receber orientação. As profissionais narraram que o objetivo final é pensar no limite dos alunos e, então, partir para criar potencialidades/habilidades e, também, quando possível, conforme a especificidade de algumas deficiências, proporcionar o aprendizado da leitura e escrita para que o aluno possa se desenvolver normalmente na sala comum. Cabe aqui problematizar essa questão de se pensar no limite para então trabalhar com possíveis potencialidades/habilidades, talvez, devesse ser o contrário, onde o foco fosse a possibilidade para então ultrapassar o que existe de limite.

Por meio do relato das profissionais e da análise da legislação atual sobre o AEE, evidencia-se que as professoras envolvidas no estudo têm conhecimento sobre seu papel e atuação nas SRMs, ainda que o leque de obrigações seja extenso. Cabe enfatizar que foram diversos os relatos no que se refere à função e trabalhos desenvolvidos pelas profissionais atuantes nas SRMs. Assim, com o conjunto das falas dessas profissionais, chega-se aos dados apresentados anteriormente, o que não quer dizer que todas elas desenvolvam todas essas atividades e, também, que todas tenham noção de todas as funções que devam exercer.