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Avaliação, esta etapa cumpre o propósito de auxiliar a autonomia do aluno na leitura literária Os procedimentos avaliativos foram

No documento Ensino de literatura no ensino fundamental (páginas 123-128)

LITERÁRIO?

5.  Avaliação, esta etapa cumpre o propósito de auxiliar a autonomia do aluno na leitura literária Os procedimentos avaliativos foram

aclarados ao aluno para que pudesse perceber conscientemente que a avaliação da prática de leitura literária não intenciona verificar apenas se houve recepção de dados textuais (nome de personagens, autores, foco narrativo, enredo etc.) ou informações de natureza

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linguístico-formal. Acreditamos que a explicitação desse propósito seja capaz de promover um giro na concepção de avaliação instaurada, já por ele naturalizada por meio das práticas de análise de conteúdo, tão exploradas nas atividades de leitura e escrita que participaram na sala de aula.

Dessa maneira, verifica-se que o texto não pode ser visto como um recipiente fechado que abriga informações e deve ser violado pelo leitor para desentranhar informações explícitas, objetivas, com uso de instrumentos pré-formulados, como as fichas e perguntas dos cadernos analisados. Nessa perspectiva, o letramento literário não é promovido, pois a leitura evoca a decodificação das sentenças abrigadas no texto e centraliza o olhar num sentido único, assim, cabe ao aluno apenas materializar o efeito papagaio, repetidor, não havendo oferta de condições para avançar seu nível de letramento, consignar sua formulação no interdiscurso, historicizar seu dizer, posicionando-se como leitor autônomo.

Cabe assinalar também que é um peso para o aluno executar atividades de leitura que não tenham propósitos de aprendizagem bem delineados e objetivos avaliativos explícitos. Muitas vezes, ele questiona sobre o que ganhará (valor do ponto ou da nota) com o cumprimento da “tediosa” tarefa. Habituado a não refletir sobre a leitura realizada, para ele os objetivos do exercício de ler, independente do texto, sendo literário ou não, serão sempre os mesmos: colher conteúdos do texto e ser premiado com uma nota frutífera ou punido com um conceito infrutuoso, caso a colheita não tenha sido farta.

A fim de ver concretizado um trabalho de leitura que fosse venturoso para aluno, no sentido amplo, a avaliação pretendida nesta proposta, inscrita na concepção do letramento literário e na noção de discurso e efeito de sentido, colocou como núcleo do processo avaliativo os efeitos de sentidos produzidos pelo aluno durante todo o percurso das leituras realizadas. Para tanto, os critérios admitidos foram constituídos pelos pontos de apoio da sequência básica para a avalição da leitura literária ponderados por Cosson (2009): análises e questionamentos nos intervalos que acompanharam a leitura de cada texto (oral), discussão e correções da leitura (oral), registro das interpretações (escrito), foram discutidos com a comunidade leitora, a fim de verificar se as leituras realizadas aprofundaram o conhecimento do aluno em torno das obras e se houve um fortalecimento, individual e coletivo, no processo de letramento literário.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nutrimos o anseio de que as experiências vivenciadas com este estu- do promoveram no contexto investigados modos de ler, de manipular os instrumentos didáticos e de construir, a partir deles, sentidos para eles e para outras possibilidades de processos formativos do leitor favoráveis ao deslocamento do nível de letramento literário dos sujei- tos alunos. O processo de intervenção, mobilizado para a leitura, moti- vou a disposição desses sujeitos para a realização de uma leitura que superasse o ingênuo consumo do texto literário e sua utilização com fins de aplicação às atividades escolares que nutrem ideias que reme- tem sempre à noção de informação, como é praticada atualmente nas atividades de leitura literária orientadas pelos Cadernos investigados. De modo algum tivemos a pretensão de apontar uma solução para a problemática das práticas e ações na sala de aula em torno da leitura literária. Mas, por meio da investigação e da construção de outras práticas, experimentar um caminho alternativo que pudesse conduzir os alunos às trilhas do letramento literário, convocando-os a percorrerem a ordem do discurso, o curso dos sentidos em movimento, a realizarem leituras polissêmicas, por meio das quais é possível experimentar a potência estética do discurso literário. Este estudo, portanto, nota que a adequação da escolarização da literatura é importante e necessária para reconfigurar as práticas de leitura colocadas pela Secretaria da Educação para as escolas que administra. Enquanto isso não se concretiza, é preciso que os mediadores das práticas de leitura assumam a responsabilidade de conduzi-las, lançando um olhar crítico sobre as inconsistências teóricas e metodológicas observadas na atual proposta de ensino de leitura do texto literário da rede estadual paulista. Para concluir, enfatizamos que tais reflexões devem servir, sobretudo, para a convocação de providências de reavaliação e de melhoraria da proposta didática implementada nessa rede de escolas.

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