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No Brasil, já existem alguns estudos e aplicações de avaliações de prejuízos provocados por cheias (CANHOLI, 2005; NAGEM, 2008; SALGADO, 1995). Alguns desses estudos propõem valores médios a serem adotados para cada categoria de prejuízo e metodologias para o cálculo dos benefícios de medidas de controle de cheias, como será apresentado a seguir. Em geral, são adotadas as mesmas teorias europeias para o uso de prejuízos evitados como benefícios e a mesma divisão dos prejuízos em tangíveis ou intangíveis e diretos ou indiretos. O que varia, geralmente, são os itens considerados em cada avaliação, dependendo do uso preponderante do solo na região.

As principais fontes de dados econômicos no Brasil são o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Defesa Civil, o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), além de outras informações publicadas pelo Ministério das Cidades. Através desses dados é possível estimar as posses em risco em cada região e caracterizar economicamente e socialmente as bacias hidrográficas.

NAGEM (2008) propõe uma metodologia de análise de prejuízos provocados por cheias e de custos de controle. Essa metodologia considera dois cenários, um sem as intervenções e outro com as intervenções propostas. Através da análise desses cenários, é possível realizar o estudo de viabiliade do projeto e comparar várias alternativas de intervenções.

O cenário sem as intervenções de controle constitui o cenário de danos, de onde podem ser tiradas curvas de profundidade x prejuízo. Essas curvas são usadas para representar as perdas econômicas provocadas por um evento. O produto entre os custos provocados pela cheia e a probabilidade anual de ocorrência fornece o valor esperado anual.

O procedimento usado naquele trabalho é iniciado com o cálculo do cenário de danos para vários tempos de recorrência, que fornece os prejuízos ou custos por evento. É, então, elaborado um gráfico de prejuízos x probabilidade, de onde pode ser calculado o valor esperado anual. Na indisponibilidade de dados ou para simplificar o cálculo, NAGEM (2008) propõe o uso do valor esperado anual apenas para o tempo de recorrência de projeto.

De posse desse valor e dos custos de implantação e manutenção do projeto de controle de cheias, é possível fazer uma análise de viabilidade. Os custos do projeto devem ser inferiores aos benefícios proporcionados por ele, que são os prejuízos evitados. Esses valores podem ser calculados através de simulações dos cenários atual e futuro, que seriam sem e com as intervenções de projeto, respectivamente.

Como esses valores são distribuídos ao longo do tempo, eles precisam ser trazidos ao valor presente para serem comparados. Através dos métodos de matemática financeira, os valores podem ser analisados pelo valor presente líquido (VPL), pela taxa interna de retorno (TIR), pelo coeficiente benefício-custo e pelo payback ou tempo necessário para pagamento dos custos.

Dentre os principais custos a serem provocados por cheias, NAGEM (2008) propôs que fossem feitas quantificações para custos com doenças de veiculação hídrica, prejuízos a propriedades (tanto no conteúdo quanto na edificação), limpeza de residências,

um seria sentido a partir de um valor de lâmina de inundação e seria agravado para valores de alagamento maiores que esses limites iniciais. Os custos devem ser evitados ou reduzidos por medidas de controle. Essa redução seria contabilizada como benefício.

Os prejuízos aos transportes ocorreriam com qualquer acúmulo de água sobre a rua. A fórmula proposta para a quantificação dessa parcela é dividida em custos com combustíveis e custos com tempo perdido. Os prejuízos com combustíveis são calculados a partir da velocidade, do preço da gasolina, da extensão da via, do volume médio horário e do tempo de duração da inundação. Já os prejuízos devido ao tempo perdido são calculados a partir da renda média dos habitantes, dos encargos sociais, de um fator de uso alternativo do tempo, de um percentual de uso produtivo do tempo, do número de horas de trabalho por mês, do número de pessoas por veículo, do volume médio horário e do tempo de duração da inundação.

A partir de 0,15 m de lâmina d’água, começariam a ocorrer os prejuízos por doenças de veiculação hídrica. Ele é calculado em função da população atingida, da taxa de ocorrência de diarréia e do custo de tratamento dessa doença.

Os prejuízos aos veículos se iniciariam com inundações com lâminas a partir de 0,30 m. O seu cálculo é feito a partir da quantidade de veículos por domicílio, da quantidade de domicílios e do custo de danos de acordo com a altura de inundação.

A água só passaria a causar prejuízos a residências, nas edificações, nos conteúdos e na limpeza, com lâminas a partir de 0,50 m. O prejuízo à edificação seria calculado a partir do custo unitário básico de construção, da porcentagem da edificação danificada e da área inundada construída. Os prejuízos aos conteúdos seriam quantificados em função dos custos dos conteúdos de um imóvel padrão, da área do imóvel padrão, de um fator multiplicador arbitrado e da área inundada construída. Já o custo de limpeza das residências seria calculado a partir da renda mensal familiar, da quantidade de moradores por residência, dos encargos sociais, do número de horas de trabalho por mês, do tempo de limpeza e da área inundada construída.

Outra utilização possível para a avaliação econômica de projetos de drenagem é a escolha entre diversas alternativas de obras, incluindo aquelas convencionais ou não, de

reservação e de canalização. Dentre os custos relacionados aos projetos, podem ser destacados os de investimento, de operação, de manutenção e os riscos ou danos não evitados. Os custos podem ser diretos, relacionados às obras, ou indiretos, relacionados aos impactos provocados pelas obras no cotidiano da cidade. Os benefícios permaneceriam sendo os prejuízos evitados (CANHOLI, 2005).

Para o cálculo dos prejuízos provocados por cheias, CANHOLI (2005) propõe alguns valores, com base de janeiro de 2004, que podem ser utilizados apenas como estimativa, na ausência de dados mais precisos. Uma área industrial inundada, por exemplo, teria uma perda de cerca de R$ 200,00/m². Os escritórios estariam dispostos a pagar R$ 300,00/mês e os lojistas R$ 600,00/mês para se livrarem das inundações. Já os veículos particulares estariam sujeitos a prejuízos de R$ 1,00/km e os veículos comerciais a R$ 6,00/km, devido à redução da velocidade média provocada pela enchente e pelo engarrafamento. Em relação ao tempo perdido no engarrafamento, é estimada uma perda de R$ 10,00/h/passageiro para veículos particulares e de R$ 4,00/h/passageiro para veículos comerciais. As perdas de aluguéis de residências podem variar de R$ 50,00/mês a R$ 400,00/mês, dependendo do tipo de construção.

As avaliações econômicas de impactos de enchentes ainda são um tema em desenvolvimento no Brasil. Dentre os temas que ainda merecem ser estudados estão a separação dos prejuízos públicos dos privados e a valoração de prejuízos relativos de enchentes.

No que diz respeito aos prejuízos públicos, podem ser relacionadas as perdas de arrecadação de ICMS e a deteriorização da infraestrutura pública. Já os prejuízos para a indústria, o comércio, residências e pessoas podem ser diversos. Porém, eles podem ser substituídos por lucros de outros setores. Por exemplo, um montante de dinheiro que ia ser gasto por uma pessoa em uma televisão pode ser deslocado para a manutenção de um veículo inundado. Nesse caso, o lucro foi transferido de uma indústria para outra, sendo uma perda questionável. Por isso, os prejuízos de enchentes poderiam ser relacionados somente àqueles gastos que não geram lucro à ninguém e separados dos gastos públicos relacionados, que têm impacto sobre toda a população e sobre os recursos financeiros do governo.

Já os prejuízos relativos dizem respeito à relação entre a perda material e a renda ou capacidade de reposição do indivíduo impactado. Nesse caso, poderiam ser consideradas perdas somente aqueles itens danificados e que não serão repostos. No caso de famílias com alto poder aquisitivo, capazes de reporem suas perdas, novamente algumas lojas e setores estarão tendo lucros com esses gastos, não ocorrendo perda para eles. Já os itens ainda no período de garantia, perdidos nas enchentes, também seriam uma perda considerada para as lojas, pois elas seriam obrigadas a reporem a perda sem nenhum lucro adicional. No caso das famílias de baixo poder aquisitivo, as perdas por enchentes dificilmente são respostas, havendo prejuízos maiores para essas pessoas e para o comércio.