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A Tabela 6.1 mostra um resumo das técnicas de gerenciamento de riscos de cheias encontradas no mundo e apresentadas nos capítulos anteriores, indicando as que existem ou não em cada local.

Tabela 6.1: Resumo das técnicas de gerenciamento de riscos de cheias encontradas. Local

Avaliação / Medida

Europa EUA Brasil

Prejuízos econômicos Sim Sim Sim

Análise de riscos

(multi-critério) Sim Sim Sim

Evacuações e gerenciamento de

tráfego

Sim Sim Não

Sistemas de alerta Sim Sim Sim

Estratégias preventivas Sim Sim Não

Riscos para vidas Sim Sim Não

Participação da

população Sim Sim Não

Seguros Sim Sim Não

Controle integrado ao

planejamento urbano Sim Sim Sim

Existência de órgão de atendimento a

desastres

Sim Sim Sim

Mapeamento de áreas

críticas Sim Sim Sim

Métodos de caracterização de

cheias

Sim Sim Sim

Na Tabela 6.1, observa-se que o Brasil já possui estudos em avaliações de prejuízos econômicos de cheias e análises multi-critério de riscos, além de métodos de caracterização das cheias causadoras dessas consequências e do uso de medidas de

controle integradas à paisagem urbana. Essas ferramentas foram selecionadas para serem usadas na avaliação de cheias a ser proposta.

Conforme também pode ser visto na Tabela 6.1, não foram encontradas no Brasil medidas de controle direcionadas para evacuações, gerenciamento de tráfego e que contem com a participação da população. De um modo geral, no Brasil, a participação da população, dado o baixo nível de educação que o país ainda apresenta, é um fator complicador, sendo grande o despreparo. Esses itens foram, então, desprezados na análise a ser realizada e na metodologia a ser proposta. Outras medidas desconsideradas para a aplicação e formulação da metodologia proposta neste trabalho foram as estratégias preventivas ou de longo prazo, as formulações de cálculo de riscos e perdas de vidas e as contratações de seguros de cheias, pois foi considerado que esses itens precisam de maior desenvolvimento no Brasil.

No que diz respeito a sistemas de alerta, o Rio de Janeiro conta com o sistema Alerta-Rio, que aponta, principalmente, para riscos geológicos, embora também forneça indicativos de chuvas intensas. Porém, dadas as carências de procedimentos de evacuação, gerenciamento de tráfego e participação da população presumidas e descritas acima, não foi considerado que esses alertas proporcionam redução significativa de prejuízos e riscos. Em bacias urbanas, de um modo geral, mas em particular para as bacias do Rio de Janeiro, considerando a importância das chuvas convectivas e a rapidez com que estas se formam, bem como a rapidez das cheias geradas a partir delas, a antecedência requerida para um sistema de alerta efetivo ficaria, provavelmente, com sua eficiência comprometida.

Para simplificação da metodologia a ser proposta e para torná-la aplicável, as bacias hidrográficas tomadas como base de estudo restingir-se-ão às situadas em áreas urbanas dentro do município do Rio de Janeiro. No que diz respeito às características hidrológicas do município, as principais cheias ocorridas na região são oriundas de chuvas intensas, com alta lâmina e ocorrência repentina. Serão, então, estudadas medidas focadas na avaliação e mitigação de cheias urbanas e enchentes e suas consequências, considerando este contexto.

Para o estudo de caso deste trabalho foi escolhida a bacia hidrográfica do rio Joana, que apresenta as características gerais descritas acima e onde já existem estudos anteriores de inundações, prejuízos econômicos e riscos possíveis de serem integrados. Foi assumido que as avaliações realizadas nela são aplicáveis a outras bacias do município do Rio de Janeiro.

Conforme será caracterizado no capítulo seguinte, a bacia do rio Joana é ocupada por diversas atividades econômicas, diferentes classes sociais e usos do solo diversificados. Algumas características urbanísticas gerais do território onde se encontra a bacia são a falta de manutenção dos dispositivos de drenagem urbana, a falta de cobertura total do território por sistemas de esgotamento sanitário e a falta de critério na ocupação econômica.

Devido a esse grande número de atividades econômicas presentes nas bacias hidrográficas existentes no Rio de Janeiro, torna-se recomendável o estudo de perdas e prejuízos provocados por cheias. Além dos cálculos hidrológicos e hidráulicos, necessários para o dimensionamento das medidas de controle, esses estudos auxiliariam na escolha de obras a serem realizadas e de áreas a serem protegidas. Como cada atividade econômica apresenta um maior ou menor prejuízo por enchente (CANHOLI, 2005; NAGEM, 2008), as intervenções em áreas ocupadas por atividades que sofrem maiores perdas podem ser priorizadas. No estudo de viabilidade, os custos de implantação e manutenção das obras devem ser menores que os prejuízos evitados por elas, dados os critérios e parâmetros de perdas e os métodos de avaliação financeira e econômica de investimentos.

As avaliações de perdas econômicas e financeiras, no entanto, não são as únicas ferramentas que podem ser usadas para a escolha de obras e áreas a serem priorizadas. Existem diversos tipos de riscos, como os ambientais, para a saúde, para vidas, para a circulação em vias públicas, entre outros, que podem ser considerados (MEYER, 2007; ZONENSEIN, 2007). Algumas vezes, esses riscos não representam grandes perdas monetárias, mas são critérios qualitativos ou descritivos valorizados intrinsicamente pela comunidade. Por isso, as áreas onde esses riscos são elevados também podem ser priorizadas na etapa de tomada de decisão de investimentos.

Sendo assim, as próximas seções proporão a quantificação de cheias urbanas, prejuízos econômicos e riscos de cheias, a partir de formulações disponíveis para o Rio de Janeiro, como ferramentas para tomada de decisão. Como esses itens podem estar distribuídos de diferentes formas ao longo de uma área, será proposto o seu mapeamento para a melhor visualização dos pontos críticos. Esses mapas serão integrados em uma metodologia para seleção de medidas de controle, permitindo que os benefícios dessas medidas possam ser verificados em termos dessas variáveis e para cada trecho da bacia.