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No continente europeu, existem diversos tipos de sistemas de alerta preparados para a prevenção da população em caso de desastres. Existem, também, diversos estudos sobre a antecedência necessária do alerta para a preparação da população, sobre a cobertura necessária do serviço e sobre a redução de prejuízos econômicos e de perdas de vidas que pode ser proporcionada por esses sistemas. Alguns exemplos de sistemas de alerta serão listados nesta seção, segundo informações de PARKER (2008).

Em geral, as cheias são de difícil previsão. Elas podem ter diversas origens, podem provocar prejuízos em diversos setores, nem sempre são documentadas historicamente e podem ter formação rápida, com alta profundidade, velocidade e taxa de elevação. Os esforços para o desenvolvimento de sistemas de alerta, mesmo assim, é necessário devido ao aumento da população e à sua expansão em direção a áreas alagáveis, que fazem com que os prejuízos provocados por cheias aumentem anualmente e que a população tenha que se preparar para esses eventos com uma maior frequência. Essas áreas são, principalmente, planícies de inundação e zonas costeiras.

Outro problema existente nos sistemas de alerta europeus é a falta de comunicação com as regiões de jusante. Em alguns rios, existem equipamentos capazes de preverem ou detectarem a chegada de uma cheia fluvial. Porém, existe pouca preocupação com a passagem da informação e com a resposta ao evento, a jusante. Atualmente, alguns órgãos de diferentes países vêm se dedicando à melhoria dos sistemas de informação e de reposta a cheias detectadas, nas áreas econômicas, sociais, técnicas e institucionais. Na França, Inglaterra, República Tcheca e no País de Gales, já são disponibilizados mapas de cheias na internet e na Inglaterra estão instalados avançados radares de previsão meteorológica.

Os sistemas de alerta estão classificados como medidas não-estruturais de controle de cheias. Eles têm duas atribuições principais. A primeira é a habilidade de detectar locais de possível formação de cheias e prevê-las de modo preciso, confiável e em tempo de tomada de decisão. A segunda é a habilidade de traduzir a previsão do evento em alertas repassados àqueles que se encontram em risco, a tempo para que essas pessoas tomem medidas para reduzir os riscos para vidas e propriedades (PARKER, 2008).

Algumas medidas possíveis de serem tomadas, após a emissão do alerta, seriam a remoção da população e dos bens, o fechamento de comportas existentes e o levantamento de barreiras temporárias. Com isso, estaria sendo aumentada a segurança da população, reduzidos os números de lesões e vítimas e reduzidas as perdas econômicas e financeiras. Também estariam sendo reduzidos risco, exposição e vulnerabilidade a cheias, com as medidas adotadas após o alerta.

A implantação de sistemas de alerta de cheias têm alguns custos relacionados. Eles estão associados à implantação da tecnologia escolhida, à operação, à manutenção, à melhoria e à atualização do sistema. Esses custos devem ser considerados em análises de investimentos e o sistema deve ser capaz de gerar benefícios, representados por prejuízos evitados, que justifiquem a sua implantação.

3.5.1 - Caso 1: O Modelo Inglês de Prejuízos Evitados por Alertas

Na Inglaterra, o FHRC dispõe de um modelo, desenvolvido pelo próprio instituto, usado para a estimativa de prejuízos evitados por sistemas de alerta. No país, existem dados confiáveis e precisos sobre perdas provocadas por cheias, o que possibilitou o desenvolvimento de alguns modelos ao longo dos anos.

Uma das principais equações desenvolvidas, que agregou a experiência em prejuízos adquirida ao longo dos anos, está representada na Equação 3.2 (PARKER, 1991). Nela, FDA são os prejuízos evitados, PFA são os potenciais prejuízos evitados, R é a confiabilidade do alerta ou a porcentagem da população que é avisada a tempo, PRA é a porcentagem da população disponível para atender ao alerta, PHR é a porcentagem da população capaz de responder ao alerta e PHE é a porcentagem da população que

alerta dependem da quantidade de bens móveis ou removíveis, do alcance e da antecedência do alerta e das pessoas em condições físicas e psicológicas para responderem ao alerta.

FDA = PFA x R x PRA x PHR x PHE (3.2)

A Agência Ambiental inglesa fundamenta seus investimentos no Sistema Nacional de Alerta na fórmula do FHRC descrita. No entanto, ela realizou algumas adaptações, conforme pode ser visto na Equação 3.3 (EANFWC, 2003). Na equação adaptada, C é a cobertura do território da Inglaterra e do País de Gales que está equipada, AAD é o prejuízo médio anual, DR é o fator de redução de prejuízos, RA é a porcentagem das propriedades que recebeu o aviso, PR é a porcentagem da população capaz de entender e responder ao aviso e RE é a porcentagem das propriedades disposta a tomar medidas ou que respondeu ao aviso através de medidas efetivas.

FDA = (AAD x DR x C) x (R² x RA x PR x RE) (3.3)

Uma terceira e recente revisão da fórmula de 1991 pode ser vista na Equação 3.4 (PARKER, 2008). Nela, tentou-se corrigir algumas limitações da fórmula anterior, através do acréscimo de novos prejuízos e de uma melhor e atual estimativa desses prejuízos. Nessa fórmula, TPD são os prejuízos potenciais totais, PID é o prejuízo potencial do inventário, MID são os prejuízos móveis do inventário, RAS é a confiabilidade combinada à porcentagem da população disponível para responder ao aviso e PHE é a porcentagem da população que apresenta alguma resposta efetiva ao aviso. Existem outras variações para esse modelo, na União Européia (PARKER, 2008).

FDA = (TPD x PID x MID) x RAS x PHE (3.4)

A partir das variações do modelo do FHRC e com o objetivo de incorporar a ele novos conceitos, foi criado também o modelo de Resposta a Alertas de Cheias e de Caminhos de Benefícios (FWRBP). Os principais conceitos incorporados nesse modelo, que eram consideradas fraquezas dos anteriores, são a utilização das três formas possíveis de se responder a um alerta. Essas formas são a movimentação de posses, a resposta operacional e a implantação de medidas resilientes. A resposta operacional seria a

remoção de obstáculos, a dragagem de rios, o fechamento de comportas, entre outros. As medidas resilientes de controle seriam o levantamento de barreiras temporárias, o bombeamento da água, entre outros. Todas essas medidas são consideradas como fatores que levariam ao aumento da redução de prejuízos e que podem ser tomadas após a emissão do alerta.

O FWRBP aplicado ao Reino Unido identificou, dentre os tipos de resposta ao alerta, oito caminhos de benefícios que podem ser aproveitados para redução de perdas. Esses caminhos são a operacionalização da defesa de cheias, as opções baseadas nas comunidades, a manutenção do curso d’água, o salvamento, busca e resgate, a evacuação, a movimentação de conteúdos, as medidas contingentes de controle e o planejamento da continuidade dos negócios. No modelo, cada valor de prejuízo evitado é multiplicado pela porcentagem da população que não está protegida e depende do sistema de alerta e pela porcentagem da população que toma as medidas referentes a cada um dos caminhos. Cada parcela é, então, somada, sendo calculado o prejuízo total evitado pelo sistema.

Um fator importante na avaliação da utilidade e da eficiência de sistemas de alerta é a resposta da população ao aviso. Na Inglaterra, foram identificados alguns tipos de reação. Eles são não fazer nada, permanecer alerta, se preparar para agir, buscar mais informações, avisar a outras pessoas, buscar ajuda, bloquear a entrada da água, proteger os pertences, mover os veículos para locais seguros, proteger familiares e animais de estimação e evacuar a residência. A parcela de pessoas que toma cada uma dessas atitudes influencia nos resultados dos modelos apresentados.

3.5.2 - Caso 2: O Sistema de Alerta Francês

Na França, o principal objetivo dos sistemas de alerta é a proteção das atividades econômicas e sociais. Com isso, no país também existe grande interesse na modelagem dos efeitos redutores de sistemas de alerta em prejuízos de cheias.

Em 2003, o sistema de alerta francês foi reorganizado, principalmente devido às cheias ocorridas no rio Gard, em 2002, já mencionadas neste texto. Anteriormente, o Estado

condições de cumprirem suas obrigações sociais sem serem devidamente avisados da chegada do evento. Então, com a nova legislação, o Estado assumiu a responsabilidade estatutória por providenciar alertas de cheias.

Com essas mudanças, o sistema está, atualmente, organizado em 22 áreas específicas, chamadas SPCs (Serviços de Previsão de Cheias). Esse serviço providencia a telemetria e a previsão de alertas e as informações para o serviço central do Estado. O serviço central é o SCHAPI (Serviço Central de Hidrometeorologia e de Apoio à Previsão de Inundações), que tem a responsabilidade de coordenar previsões regionais, fazer mapas de riscos para traduzirem essas informações em alertas e disseminar essas informações para o público, via internet, prefeitos e autoridades, que têm responsabilidades sobre o aviso. Algumas formas de disseminação do aviso, quando recebidos pelas autoridades regionais, são rádio, sirenes, alto-falantes, porta-à-porta e pelos serviços locais. Os alertas podem ser feitos a partir de previsões meteorológicas ou do monitoramento do nível d’água dos rios.

Esse sistema cobre os rios principais e as regiões de maior risco, mas parte do território está fora dele. No entanto, esse trecho do país é caracterizado por cheias rápidas, de difícil previsão e alerta. Essas regiões apresentam riscos de cheias para vidas e propriedades, mas elas lidam localmente com o problema. Exemplos de cidades fora do esquema, mas que têm conhecimento e sistemas locais de alerta, são Montpellier e Marselha.

3.5.3 - Caso 3: Medidas Adotadas na República Tcheca

Na República Tcheca, o desenvolvimento do sistema de previsão e alerta de cheias foi uma das respostas de gerenciamento motivadas pelas cheias de 1997 e 2002. A partir delas, foram criados planos de proteção de cheias, que buscam identificar riscos potenciais através de mapas, estabelecer medidas e procedimentos para gerenciar esses riscos e identificar como reagir e responder aos eventos, incluindo a definição de responsabilidades.

No país, é comum o uso de medidas não-tradicionais de controle, nas regiões onde as medidas tradicionais são inviáveis. Essas medidas são geralmente, estruturas

desmontáveis, como barreiras, que necessitam de avisos e informações precisas para serem acionadas e operacionalizadas. Portanto, para justificar a expansão dessas medidas pelo país, seus benefícios precisam ser bem quantificados, para que sejam incluídos entre os prejuízos evitados com o sistema de alerta. Parte da infraestrutura do sistema é aproveitada dos dispositivos militares usados no período comunista do país, o que reduziu alguns custos.

Os principais órgãos responsáveis por avisos de cheias são o Instituto Hidrometeorológico Tcheco (CHMI) e os conselhos de bacias hidrográficas. O CHMI é responsável pela previsão e a disseminação de informações hidrológicas e meteorológicas. Já os conselhos são responsáveis pelo gerenciamento da água e pela manipulação de represas, que fazem uso dos avisos de cheias.

O sistema de alerta é integrado aos órgãos de gerenciamento e faz parte do Sistema Integrado de Serviços de Alerta (IWSS). As informações pluviais e fluviais são acumuladas, analisadas e repassadas por radares ou satélites. O sistema não cobre 100% do país, e sim os rios principais. Não é considerada viável a inclusão de rios menores, mesmo onde existem riscos para vidas e propriedades.