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A usabilidade tem garantido às bibliotecas universitárias desenvolverem e aprimorarem interfaces em consonância com a demanda informacional na web. Como o acesso a fontes de informação se tornou corriqueiro, essas instituições encontram-se conscientizadas da necessidade de reformulação constante de leiaute, conteúdo e navegação dos seus websites, fato comprovado pelas inúmeras experiências, relatos e estudos de caso que são encontradas na literatura sobre o tema.

A oferta de inúmeros conteúdos transformou o website da Roger Williams University num verdadeiro gigante, levando os desenvolvedores da instituição a desenvolver uma ordem hipertextual mais sólida para as suas páginas, que foram agrupadas em três classes: fontes de informação, serviços e pesquisa.

A iniciativa, apesar da intenção em simplificar o uso, tornou-se ineficaz, confundindo usuários que se perdiam entre o excesso dos menus pop-up que dificultavam o caminho até a informação desejada. “A interface falhou porque designers não conheciam o perfil dos usuários mais freqüentes” (MCMULLEN, 2001, p. 7).

Tomada pela frustração, a Diretoria da Biblioteca da Roger Williams University resolveu adotar a metodologia do design centrado no usuário para finalmente obter o resultado desejado. A principio, realizou-se uma pesquisa de satisfação com os estudantes da universidade, que além dos problemas já conhecidos, revelou a poluição visual das páginas e a inadequação da terminologia dos links. De posse destes resultados, bibliotecários utilizaram heurísticas para determinar o que era realmente essencial e concluíram que o acúmulo organizacional deveria ser reduzido. Lançado em 2001, o novo website da biblioteca provou que um dos maiores desafios das avaliações de usabilidade reside em compreender como usuários interpretam categorias de conteúdo.

A City University of New York (CUNY) é um complexo educacional composto de 150 mil estudantes e sua base de dados CUNY PLUS + utilizada para diversos fins acadêmicos. Com o intuito de melhorar a sua usabilidade, os pesquisadores Alexei Oulanov e Edmund F.Y. Pajarillo utilizaram o Software Usability Measurement Inventory (SUMI) para determinar o que deveria ser aprimorado.

Entre outras conclusões, o estudo verificou que a CUNY PLUS + é eficaz em relação à capacidade de aprendizado que propicia e as atualizações deveriam privilegiar o constante reexame do serviço de referencia virtual à luz dos valores da Ciência da Informação para alcançar o uso ponderado e racional das suas potencialidades. Os autores também verificaram que os resultados gerados pelo SUMI “parecem plausíveis para prover a pesquisadores, avaliadores, designers e gestores a usabilidade de sistemas em uso” (OULANOV & PAJARILLO, 2001, p. 90). Entretanto, ressaltaram que os dados obtidos com este método devem ser analisados tanto sob a ótica quantitativa quanto qualitativa.

Peng et al. (2003) utilizaram critérios heurísticos para comparar o portal e o OPAC da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura. Os autores descobriram que usuários preferem utilizar o portal pela possibilidade de acessar diversos serviços ininterruptamente, funcionalidade que OPACS não permitem. “O continuo sucesso e aceitação do portal reside na percepção e atitudes dos usuários acerca do sistema em sua habilidade de distribuir esses serviços através de uma interface dinâmica” (PENG et al., 2003, p. 55).

Brower (2004) avaliou as estruturas de navegação de 41 websites de bibliotecas universitárias americanas da área de Ciências da Saúde, de acordo com parâmetros definidos em uma lista de verificação, como: tecnologia, leiaute, links e métricas de navegação. Para aplicá-los, as páginas foram copiadas para um servidor local, através da ferramenta Teleport Proversion 2001, que conservou os formatos HTML e a linearidade dos objetos de interação.

Constatou-se que links para base de dados são comumente disponibilizados pelo nome ou ordem alfabética em detrimento do assunto, normas de utilização e mapas do site, mais freqüentemente encontrados no interior das páginas e alguns serviços ofertados isoladamente, levando a crer que pela interdisciplinariedade das Ciências Médicas, bibliotecários são levados a organizar a informação desta maneira (BROWER, 2004, p. 418). Como o estudo foi realizado originalmente em 2001, foi necessário rever alguns resultados para a sua publicação, em 2004. Neste momento, observou-se um aumento considerável no numero de links que os websites de bibliotecas disponibilizavam e o uso exacerbado de menus pop-up e imagens.

Entretanto, as recomendações elaboradas à época da pesquisa continuam válidas para garantir a usabilidade de websites de bibliotecas universitárias da área de saúde, haja vista os elementos navegacionais obrigatórios identificados pelo autor e a disposição de bases de dados bibliográficas por titulo, e-books, periódicos on-line entre outros.

A ausência de terminologias adequadas à área médica e as disposições confusas de elementos de interação levaram a comissão de reestruturação do website da Biblioteca de Ciências da Saúde e Serviços Sociais da Universidade de Maryland a desenvolver três protótipos, que foram avaliados por bibliotecários, estudantes e professores por meio de análise da tarefa e pesquisa de satisfação.

O protótipo escolhido revelou que menus de salto são adequados à organização dos links e os dados coletados identificaram que uma estrutura lógica de navegação só pode ser conseguida com o reconhecimento das necessidades do campus universitário, mesmo que “pesquisas de satisfação retornem baixas taxas de resposta dos participantes envolvidos” (FULLER & HINEGARDNER, 2001, p. 337).

Em suma, princípios de web design quando associados ao modelo mental dos usuários produzem melhorias efetivas em websites de bibliotecas universitárias.

A primeira biblioteca virtual da Universidade do Sul da Flórida foi concebida em meados de 1995, através da aplicação de critérios heurísticos nas 20 bases de dados disponibilizadas. À medida que crescia a oferta de fontes de informação, as interfaces passavam a apresentar dificuldades de navegação, que levaram a formação de um grupo de estudo para implementar um novo protótipo baseado no uso ponderado de recursos multimídia.

Como a avaliação limitou a construção de esquemas de navegação baseado em tecnologia java, o grupo trabalhou arduamente para apresentar um leiaute em consonância com as heurísticas estabelecidas. Após inúmeras reformulações, foi produzido um design testado por card sorting, análise de log e análise da tarefa (ALLEN, 2002).

As técnicas utilizadas, em especial o card sorting, possibilitaram gerar modificações no sistema e, embora a biblioteca virtual tenha recebido críticas positivas no seu lançamento, a usabilidade continuou a ser testada periodicamente como forma de garantir a qualidade dos serviços prestados.

Em recente número da OCLC Systems and Services, renomadas instituições norte- americanas publicaram suas experiências na reformulação dos seus websites, como a Biblioteca do Georgia Institute of Technology (KING & JANIK, 2005), a Biblioteca da University of Califórnia, Los Angeles (UCLA) (TURNBOW et al., 2005), a Biblioteca de Artes, Arquitetura e Engenharia da Universidade de Michigan (TOLLIVER et al., 2005), a Biblioteca da Carnegie Melon (GEORGE, 2005) e a Biblioteca da Universidade do extremo norte de Illinois (VANDECREEK, 2005).

Nesses estudos, verificou-se uma grande evolução da usabilidade em bibliotecas universitárias, pois se antes eram realizadas avaliações para apenas uma reformulação, as experiências demonstraram que existe consenso que à medida que são disponibilizados novos serviços e conteúdos, a sua usabilidade também deve ser testada.

Além disso, a relevância das bibliotecas universitárias nos Estados Unidos neste segmento reflete o interesse de designers e bibliotecários norte-americanos dessas bibliotecas em testarem e adaptarem métodos e técnicas de avaliação para alcançarem a satisfação da comunidade acadêmica, pois nenhuma modificação é realizada sem o devido reconhecimento das necessidades dos usuários.

Essa preocupação com os usuários pôde ser verificada na literatura brasileira nos trabalhos de Bohmerwahld (2005), que analisou o comportamento do usuário na busca da informação na Biblioteca Digital da PUC Minas, e em Kafure (2004), que estudou a usabilidade da imagem na recuperação da informação no catálogo público de acesso em linha em três bibliotecas universitárias. Essas duas iniciativas demonstram que a observação do usuário durante a análise da tarefa e o reconhecimento do seu modelo mental tem propiciado resultados satisfatórios, pois “quanto mais se observa o usuário, melhor será a capacidade de o profissional prever problemas de usabilidade e, conseqüentemente, desenvolver sistemas fáceis de serem usados” (BOHMERWAHLD, 2005, p.99).

Em contrapartida, também se encontram trabalhos de usabilidade na área de bibliotecas universitárias brasileiras que utilizam a análise de funções e heurísticas, como o estudo realizado por Prado et al. (2005), que apresentou um panorama dos websites das bibliotecas universitárias do estado de Santa Catarina. A diferença deste estudo para o de Kafure (2004) e Bohmerwahld (2005) está na ausência da participação dos usuários, ficando a cargo de especialistas verificar a eficácia das interfaces. Entretanto, mesmo sem a utilização de metodologias de design centrado no usuário, o trabalho referenciou a importância da usabilidade em todas as fases de planejamento de um website.

As pesquisas em relação à acessibilidade também se encontram em estágio avançado no Brasil, conforme demonstram os estudos de Mazonni et al (2001) e Pupo & Vicentini (2002). No entanto, os autores afirmam que as iniciativas neste sentido ainda são tímidas, haja vista o grande número de websites de bibliotecas universitárias brasileiras que são inacessíveis a pessoas com deficiência, não atendendo a recomendações internacionais elaboradas pelo W3C.

Outro ponto observado foi a presença de comissões de reestruturação na reformulação de websites, que possibilitam uma visão interdisciplinar do produto avaliado, já que são formadas por profissionais que atuam em diversas áreas de uma biblioteca. Constatou-se, no entanto, que nas experiências norte-americanas as comissões são permanentes, ao contrário das pesquisas brasileiras, que são iniciativas de estudantes de mestrado e doutorado, realizadas com o devido consentimento dos gestores das bibliotecas.

De um modo geral, pôde-se observar que a usabilidade é uma ferramenta administrativa que propicia bons resultados em curto espaço de tempo, devendo ser planejada para que as

metodologias e técnicas sejam aplicadas, de modo que os websites de bibliotecas universitárias possam alcançar bons resultados.