• Nenhum resultado encontrado

(B) Guião da entrevista à equipa técnica: Diretora da Instituição

No documento Dina Elisabete Brás Silva (páginas 69-73)

70

estudo ou a sala de estar. Neste processo, procurámos colocar os jovens à vontade, perguntando sempre qual o local em que preferiam que a conversa ocorresse, sendo que, no geral, optavam por locais em que não estavam outros jovens, onde pudesse haver maior privacidade.

Ainda que, de um modo geral, os jovens tenham respondido às questões que iam surgindo na conversa que com eles estabelecemos, não podemos deixar de salientar que certas temáticas, como as que se prendem com as causas da sua institucionalização, provocaram desconforto e até resistência na resposta. Sendo que o processo de entrevista constitui sempre uma relação social entre pelo menos duas pessoas com posições distintas e diferentes níveis de poder (entrevistador/entrevistado), revelou-se um enorme desafio a tentativa de implementação de uma “escuta ativa e metódica” (Bourdieu, 2007, p.695).

Após a agregação numa tabela da informação recolhida junto dos jovens, a diretora técnica analisou essas informações de modo a confirmar a sua veracidade. A conclusão a que se chegou foi a de que cerca de metade dos jovens acolhidos na instituição desconhece as verdadeiras causas da sua institucionalização, assim como desconhecem a profissão e as habilitações dos seus pais. Por outro lado, o facto de os jovens terem dado respostas que não correspondem à realidade poderá também ser uma forma de fantasiaram, de imaginarem uma vida totalmente diferente daquela que é a sua realidade. Desta forma, perante as respostas dos jovens a diretora técnica revelou ser necessário promover atividades no sentido dos mesmos construírem a sua autobiografia, isto é, promover ações no sentido dos mesmos procurarem saber mais sobre as suas raízes.

A aplicação dos instrumentos definidos para a pesquisa ocorreu como planeado. O relacionamento com os jovens foi o que demorou mais tempo a estabelecer, principalmente com os jovens do sexo masculino. As duas jovens do sexo feminino foram as que procuraram, mais rapidamente, estabelecer contacto com a investigadora, talvez devido à proximidade de idades, que as fez identificarem-se e procurar dialogar sobre assuntos femininos, pois são as únicas raparigas adolescentes presentes na casa de acolhimento. Com os profissionais, tanto a equipa técnica como a equipa educativa, o relacionamento estabeleceu-se de forma rápida. A equipa técnica revelou-se, desde o início, interessada no estudo apresentado e participou de forma ativa, pois os seus elementos consideraram que uma nova visão, de alguém externo à instituição, é uma mais-valia para analisar certos aspetos que a própria equipa desconhece. Por outro lado,

71

a equipa educativa demonstrou agrado quanto à presença de uma pessoa nova na instituição, pois consideraram ser mais uma pessoa com quem poderiam partilhar as suas dúvidas, as suas preocupações quanto aos jovens e até procurar apoio quanto à interpretação de determinadas situações (por exemplo, o facto de um jovem não desejar falar com os familiares suscitava alguma preocupação entre algumas auxiliares, sendo que estas muitas vezes procuravam saber qual o nosso ponto de vista).

Ao longo do trabalho realizado com os jovens do Lar Esperança surgiram algumas limitações que, nos primeiros momentos, dificultaram a nossa integração no quotidiano da instituição. Em primeiro lugar, destacamos o facto de os jovens estarem numa época de exames nacionais, necessitando, assim, de maior apoio no estudo e mais tempo para estudar, o que, por vezes, tornou mais difícil o contacto. Para podermos conversar com os jovens, aproveitámos os momentos livres, principalmente entre o jantar e o horário de estudo e após o período de estudo. A nossa presença, elemento estranho à instituição, dificultou os primeiros momentos de interação com os jovens. Recorremos a algumas estratégias para superar essas dificuldades, em especial, auxiliando-os, nos momentos de estudo, na realização das tarefas escolares. Uma outra limitação que surgiu logo no início foi o facto de os jovens estarem integrados em diferentes atividades (os treinos de futebol, que se realizam em alguns dos horários em que a observação se desenvolveu), o que, em algumas das observações, dificultou a perceção dos relacionamentos entre os jovens.

Com o passar do tempo, fomos construindo uma relação de amizade com os jovens, proporcionando, assim, um maior contacto com os mesmos e também uma perceção mais aprofundada da realidade vivenciada no Lar Esperança.

72

Capítulo 6. Casa de acolhimento Esperança: enquadramento e

caraterização

O Centro Social e Paroquial A localiza-se numa freguesia rural de um dos concelhos da costa sudoeste da ilha da Madeira. Em 2011, esta freguesia tinha pouco mais de 1000 habitantes, sendo a agricultura a atividade económica predominante.

A população da referida freguesia tem ao seu dispor um conjunto de serviços pertencentes à comunidade do concelho, nomeadamente, o Centro Social e Paroquial A, a Casa do Povo, o centro de saúde, escolas, câmara municipal, polícia e serviços de ação social (segurança social e instituições e associações de apoio aos carenciados).

O Centro Social e Paroquial A é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS). Foi criado por um grupo de paroquianos e o seu projeto tem vindo a ser concretizado após dez anos de muita luta e persistência. Foi a primeira instituição da Região Autónoma da Madeira a desenvolver uma experiência de Lar Intergeracional, que abriga idosos e crianças/jovens num mesmo espaço.

O Lar Intergeracional iniciou a sua atividade em 26 fevereiro de 2003, tendo capacidade máxima para acolher 35 idosos, em valência de lar de idosos, e 12 crianças/jovens em valência de lar de infância e juventude (desde outubro de 2015, legalmente denominado por casa de acolhimento), designado internamente por Lar Esperança. O número reduzido de crianças/jovens acolhidos nesta instituição permite uma intervenção mais individualizada, em que os profissionais podem dedicar mais tempo a cada criança/jovem, assim como abre a possibilidade para a construção de relacionamentos significativos. O Centro Social conta, também, com um Centro de Acolhimento Temporário, que iniciou a sua atividade em Outubro de 2008, tendo capacidade para acolher 6 bebés e 13 crianças em regime transitório.

A referida instituição tem por missão construir respostas sociais de forma sustentada e integrada, nas valências da infância, juventude e terceira idade, abertas à população de toda a Região. Procurando apoiar os mais desfavorecidos, o Centro Social e Paroquial A tem por “visão” a busca incessante de “fazer mais e melhor” em prol da dignidade humana, procurando respostas que promovam a qualidade de vida a todos os seus utentes e familiares. Os valores que regem a sua atividade culminam no desejo de oferecer uma vida melhor àqueles que a instituição apoia, sendo eles: compaixão; amor e amizade; solidariedade e espírito de serviço; respeito e abertura ao outro; honestidade

73

e rigor; profissionalismo, eficácia e eficiência; trabalho em equipa; sustentabilidade; responsabilidade social.

Quadro 3. Objetivos específicos do Lar Esperança

 Acolher crianças e jovens em perigo, desprovidas de um meio familiar saudável e

adequado;

 Proporcionar às crianças e jovens um ambiente familiar e acolhedor, propício ao seu

desenvolvimento sem ruturas, tendente a facilitar o seu futuro enquadramento social;

 Salvaguardar os direitos das crianças e jovens e garantir uma prestação de cuidados de

qualidade;

 Apoiar o estudo das situações sócio-familiares;

 Colaborar na definição do projeto de vida mais adequado às crianças e jovens,

nomeadamente, regresso à família de origem, adoção ou ingresso numa família de acolhimento;

 Implementar medidas e estratégias pedagógicas mais adequadas ao saudável

desenvolvimento físico, intelectual, emocional e relacional das crianças e jovens acolhidas nesta instituição;

 Fomentar, sempre que possível, a participação ativa das famílias no projeto de vida das

crianças ou jovens, desde que contribua para o bem-estar e equilíbrio biopsicossocial. Fonte: Website do Lar Esperança, acedido em maio de 2015.

De entre os objetivos definidos, constatamos que a instituição pretende, por um lado, promover um ambiente familiar às crianças e jovens que acolhe, através do desenvolvimento de estratégias para a definição do projeto de vida, sempre que possível com a participação ativa das famílias. Por outro lado, pretende garantir as condições necessárias e indispensáveis ao desenvolvimento integral das crianças/jovens da instituição.

6.1. Espaços institucionais

No que respeita aos espaços, a instituição dispõe de áreas destinadas às rotinas diárias e de áreas destinadas ao lazer. No exterior, existem jardins e espaços amplos onde as crianças/jovens podem passear e realizar atividades ao ar livre.

O Lar Esperança, sobre o qual recai o estudo, apresenta-se decorado com muita cor, de modo a dar vida aos dias na instituição. Cremos que o uso de cores diversas visa, igualmente, contrariar o cinzento de algumas vidas. Os quartos são mesmo designados por cores (azul, amarelo, violeta, laranja, vermelho, verde). A instituição funciona todo o ano, incluindo sábados, domingos e feriados, em regime de permanência.

A área residencial é constituída por 6 quartos duplos25 para crianças/jovens, que

dispõem de duas camas individuais, secretária partilhada, roupeiro e duas mesas-de-

No documento Dina Elisabete Brás Silva (páginas 69-73)