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Casa de acolhimento Esperança: uma ponte para o futuro?

No documento Dina Elisabete Brás Silva (páginas 62-66)

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Capítulo 5. Apresentação e justificação da estratégica metodológica

Tal como já referimos na introdução, propusemo-nos a realizar um estudo de caso numa casa de acolhimento onde estavam acolhidos, no momento da investigação, oito adolescentes. Neste capítulo, procuramos apresentar a metodologia seguida, dando ênfase às técnicas de recolha de informação, sua aplicação, principais obstáculos e estratégias de superação dos mesmos.

5.1. Nota prévia

Importa primeiramente esclarecer que, aquando da escolha do tema e da realização do estudo, a lei denominava a medida de promoção e de proteção das crianças/jovens como “Acolhimento em instituição”, sendo esta legalmente designada por “Lar de Infância e Juventude”.

Com efeito, a Lei n.º 147/99, de 1 de setembro, foi objeto de alterações pela Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro. Essas alterações entraram em vigor em 1 de outubro de 2015, tendo-se verificado algumas modificações, quer a nível de regime, quer a nível de nomenclaturas. Neste último caso, a medida atrás referida passou a designar-se “Acolhimento residencial” e os Lares de Infância e Juventude passaram a denominar-se “Casas de acolhimento”. Assim, ao longo do texto adotou-se a designação de Lar Esperança ou Casa de Acolhimento Esperança para identificar a instituição analisada.

Acresce que são utilizados nomes fictícios para a instituição, assim como para os jovens participantes e os elementos da equipa técnica e educativa.

5.2. O estudo de caso

Para a análise da problemática do risco e do perigo e de como a institucionalização pode, ou não, contornar estes problemas, realizamos um estudo de caso numa casa de acolhimento, instituição que apresentaremos de forma mais detalhada no capítulo seguinte, seguindo o modelo hipotético dedutivo.

O estudo de caso apresenta-se como uma estratégia metodológica que pode ser aplicada tanto a indivíduos, como a grupos, comunidades, organizações, entre outros, e que visa uma análise profunda e intensiva, permitindo uma compreensão ampla da realidade em estudo (Greenwood, 1965).

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O estudo de caso permite a recolha de um amplo leque de informações, uma vez que o investigador poderá reorientar o seu estudo da forma que se revelar mais pertinente. Este tipo de investigação possibilita, ainda, a análise de aspetos sociais, psicológicos e culturais da realidade que o investigador analisa; a análise do passado auxilia na compreensão da realidade presente. (Greenwood, 1965)

A flexibilidade que caracteriza o estudo de caso é revelada pelas variadas formas de investigação e de recolha dos dados: na investigação a um indivíduo, o investigador poderá recorrer a técnicas como a autobiografia ou biografia; numa comunidade, a observação participante é uma boa estratégia para vivenciar a vida das pessoas tal como é sentida por estas; no caso de indivíduos acolhidos numa instituição, a técnica mais indicada seria a observação controlada pelo investigador. (Greenwood, 1965)

A utilização do estudo de caso, nesta situação particular da investigação acerca da eliminação do risco e do perigo nas instituições de acolhimento, permitiu compreender a realidade como uma totalidade, isto é, como se estruturam as relações existentes no contexto da institucionalização, nomeadamente os comportamentos das crianças/jovens, as relações estabelecidas com os profissionais, assim como detetar a existência de possíveis figuras de vinculação. De acordo com Greenwood, o estudo de caso pressupõe a “(…) compreensão global do fenómeno, tal como se manifesta no caso.” (1965, p. 334), daí a sua pertinência para a presente investigação.

Compreender os fatores que contribuem para a eliminação ou diminuição do risco e do perigo nas crianças/jovens, implica uma interpretação total da situação, admitindo que se trata de um assunto de caráter unitário. O estudo realizado não tem por objetivo generalizar os resultados para outras instituições de acolhimento de crianças e jovens, mas sim utilizar os resultados da investigação para efetuar possíveis sugestões de melhoria no funcionamento da instituição, para identificar boas práticas de intervenção e até mesmo promover investigações semelhantes em outras instituições.

5.3. Principais instrumentos de recolha de dados: observação participante e entrevista

Assumindo a pesquisa um caráter essencialmente qualitativo, os dados obtidos foram sobretudo dessa mesma natureza, uma vez que permitem aceder aos comportamentos naturais, podendo captar a vida social tal e qual como é vivenciada pelos indivíduos (Schutt, 2001). É uma forma de investigação que permite refletir sobre os significados que os participantes conferem aos diferentes acontecimentos que

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ocorrem ao longo das suas vidas (idem), daí a importância da utilização de técnicas de recolha que privilegiam a informação qualitativa na presente investigação, fundamental para compreender os comportamentos das crianças e jovens e também dos profissionais que lá trabalham, assim como os modos de funcionamento da instituição na sua essência.

A metodologia qualitativa contempla três técnicas em particular, sendo elas a observação participante, a entrevista intensiva e o focus group (Schutt, 2001),das quais foram utilizadas, para a recolha dos dados, a observação participante e a entrevista intensiva com base num guião semiestruturado.

A observação participante é essencial para o estudo de processos sociais, no sentido de observar como estes se processam naturalmente, de modo a identificar “who, what, when, where, why and how of activities in setting.” (Schutt, 2001, p. 272), ou seja, quem, o quê, quando, onde, porquê e como. O investigador deverá adotar uma atitude de participação ativa no quotidiano dos participantes, assim como uma relação amigável com os mesmos (Schutt, 2001).

De acordo com Flick (2005), a observação participante centra-se, essencialmente, nas interações entre os participantes, nas situações quotidianas que ocorrem e no entendimento da natureza humana, sendo esta uma técnica que prevê a permanência prolongada do investigador no contexto que pretende estudar. O recurso a notas de campo é fundamental no contexto da observação participante, pois garantem o registo dos aspetos observados relevantes para a investigação (Flick, 2005).

Apesar de ser uma estratégia privilegiada para estudar as interações e a realidade tal e qual como ocorre, a observação participante possui algumas limitações: estabelecer as situações concretas em que o problema que se pretende investigar é percetível; aceder ao contexto que o investigador pretende observar, visto que, por vezes, é necessário recorrer a intermediários para que o investigador consiga entrar no mundo que pretende estudar. Existem certos fenómenos que não são possíveis observar (como por exemplo, processos biográficos), sendo que na observação participante as ações são os aspetos mais observáveis pelo investigador. (Flick, 2005)

Na presente investigação, foi necessário proceder a negociações para ter acesso a uma organização que acolhe crianças/jovens retirados do contexto familiar. O objetivo era a integração na instituição na qualidade de voluntária, para observar as rotinas diárias das crianças/jovens, os relacionamentos entre as crianças/jovens e entre estas e os profissionais da instituição. É durante o dia-a-dia das crianças/jovens e dos

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profissionais que o investigador consegue detetar as vivências e os comportamentos genuínos, no sentido de compreender se, de facto, a instituição toma medidas no sentido da eliminação do risco e do perigo ou se, por outro lado, perpetua essas situações.

No quadro da observação participante levada a cabo, recorremos a uma grelha de observação semiestruturada20, onde foram contemplados os indicadores indispensáveis

para a análise da realidade institucional. Esta grelha orientou, igualmente, a elaboração das notas de campo (Schutt, 2001), nas quais procurámos dar conta de todos os elementos observados durante a permanência na instituição. A utilização do diário de campo revelou-se crucial para o registo das informações recolhidas durante a presença no campo em análise, pois são tantas as informações, que o facto de não registá-las contribuiria, certamente, para a perda de elementos importantes.

No que se refere à entrevista, a entrevista em profundidade caracteriza-se pelo elevado rigor e consistência. Isto é, esta técnica de recolha de dados pressupõe que o investigador desenvolva um plano de fundo abrangente, que contemple atitudes e ações do entrevistado, na sua genuinidade (Schutt, 2001). Este tipo de entrevista apresenta uma duração superior às entrevistas padronizadas, podendo ser realizada em diferentes sessões. A entrevista supõe uma preparação prévia dos assuntos a abordar, sendo que o investigador poderá alterar a ordem dos temas de acordo com o modo como a entrevista se vai desenvolvendo. O respeito e a confidencialidade para com o entrevistado são aspetos que o investigador não deverá esquecer. O espaço em que a entrevista se realiza deverá ser apropriado, ou seja, não deverá ser um espaço em que o entrevistado se sinta pressionado e pouco à vontade para responder às questões. As pausas são indispensáveis para que o entrevistado possa refletir e organizar o seu pensamento. (Schutt, 2001)

As entrevistas realizadas aos profissionais pertencentes à equipa técnica (diretora técnica, assistente social, educadora social, psicóloga, animador sociocultural) e à equipa educativa (funcionárias que estão presentes no quotidiano das crianças/jovens) tinham como objetivo captar a perceção destes profissionais no que diz respeito às situações em que as crianças/jovens se encontram. Os assuntos definidos para este diálogo encontram-se ligados ao conceito de risco e perigo, às dificuldades enfrentadas perante a entrada das crianças na instituição, formas de agir, interpretação dos comportamentos das crianças e jovens.

No documento Dina Elisabete Brás Silva (páginas 62-66)