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Utilização da internet de forma segura

No documento Dina Elisabete Brás Silva (páginas 118-122)

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Durante a noite, os telemóveis ficam na sala de visitas e de manhã são devolvidos aos jovens.

No quotidiano da instituição é visível, também, a norma de informar as titas/tito das horas a que preveem chegar a casa. Os jovens informam a/o funcionária/o presente se vão chegar mais cedo porque não vão ter uma aula, ou se vão chegar mais tarde porque vão participar numa atividade extracurricular. Esta informação é registada na agenda do Lar Esperança, a fim de todos os profissionais a ela terem acesso. Esta agenda serve para registar informações alusivas a atividades em que os jovens possam participar, horários de consultas, entre outros aspetos que forem relevantes, para que toda a equipa que lida diretamente com os jovens tenha conhecimento.

Em alguns diálogos estabelecidos com os jovens, pudemos verificar que estes discordam e têm dificuldade em aceitar algumas regras e rotinas estabelecidas:

Resposta de Rafael quando questionado sobre as atividades que a instituição não proporciona mas que o jovem gostaria que realizassem:

Rafael: “Gostava que mudassem as regras, deixam andar à volta do lar mas não

deixam ir até ao parque…”

(Excerto da nota de campo de 18/05/2014)

As normas alusivas às saídas, utilização do telemóvel e realização de algumas tarefas domésticas, são as que mais geram contestação e resistência por parte dos jovens, pois, em muitos casos, no seu meio natural de vida não existiam regras.

O respeito pelos seus direitos e deveres, mas também pelos direitos e deveres dos outros é uma outra questão que se encontra associada à aprendizagem de regras: até que ponto é que os jovens se respeitam uns aos outros no domínio dos direitos e deveres? Verificámos que, em algumas situações, os jovens apelavam ao respeito pelos seus direitos, esquecendo-se, porém, que também tinham deveres e que deviam respeitar, igualmente, os direitos dos outros jovens. As situações mais reveladoras do que se acaba de referir prendem-se com a utilização do computador e com a limpeza e arrumação da copa (uma pequena cozinha utilizada pelos jovens para cozinharem as suas refeições), pois todos querem utilizar o computador e os que utilizam a copa, muitas vezes, esquecem-se de a deixar limpa e arrumada.

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Leonor: “Rafael tens a copa para limpar… já sabes que quando cozinham, antes do

estudo, devem limpar e arrumar a copa… os outros fazem assim porque é que não cumpres com os teus deveres?”

Rafael: “Eu sei muito bem o que tenho para fazer… não é preciso a senhora dizer…

já mete nojo…”

Leonor:“Então, que falta de respeito é essa?”

(Excerto da nota de campo de 21/05/2015)

Através do diálogo apresentado, constatámos que os profissionais procuram alertar os jovens para os seus direitos e deveres, de modo a que todos aprendam o valor do respeito. No entanto, os momentos de observação permitiram notar que, de um modo geral, os jovens manifestam respeito pelos direitos e deveres uns dos outros, pois todos ambicionam ser respeitados. Na utilização do computador, por exemplo, notamos uma certa evolução no comportamento dos jovens: nos momentos finais do trabalho de campo, verificamos que os jovens respeitavam os seus tempos de utilização do computador, sem gerar discussões entre eles. Um outro direito que constatamos ser respeitado foi o direito à privacidade: os jovens não devem entrar nos quartos dos colegas sem a autorização dos mesmos, sendo que os funcionários os alertam para essa norma:

Leonor: “O que é que estás a fazer nesse quarto Rafael? Já sabes que não podem

entrar nos quartos que não são os vossos… Pediste autorização ao colega?”

Rafael: “Não.”

Leonor: “Então não podes entrar… se fosse ao contrário não ias gostar e ficavas chateado… Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti!

(Excerto da nota de campo de 15/06/2015)

Por outro lado, procuramos compreender qual o envolvimento dos jovens nas tomadas de decisão, nomeadamente no que concerne à definição das normas no Lar Esperança. A este propósito, referiu a diretora técnica que “Está programado um encontro de reflexão intitulado de “Aperta Laços”, preferencialmente quinzenal, com a psicóloga e a técnica gestora, com o objetivo de criar um espaço de debate entre os jovens e a equipa técnica. Para falar de medos, planear o futuro, criar alternativas e identificar

sentimentos conflituosos, onde existe a possibilidade de ajustar as normas.” (Diretora Técnica,

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ativamente na definição das normas, mas a instituição procura criar espaços de discussão e de reflexão conjunta.

Sendo provenientes, na sua maioria, de meios familiares onde as regras e as rotinas não estavam estabelecidas, os jovens apresentam uma certa dificuldade em aceitar e cumprir um conjunto de normas bem estabelecidas. Os momentos que se seguiam após terem passado os fins de semana ou as férias em casa eram bem reveladores da dificuldade de (re)aceitação das regras estabelecidas, já que o tempo passado com a família não se organizava nessa base. Em alguns diálogos estabelecidos com algumas funcionárias, compreendemos a sua visão sobre a intervenção realizada na instituição:

Rita: “Os jovens vêm de famílias disfuncionais em que as regras não existem, e os jovens chegam aqui muito revoltados… não aceitam que existem regras a cumprir. Muitas vezes, o trabalho que é feito na instituição, durante a semana, em alguns casos não produz efeitos positivos, pois quando os jovens vão a casa voltam para as vivências desregradas, e quando voltam para um ambiente em que há regras a

cumprir é difícil voltar a aceitá-las… acabam por contactar sempre com condições

adversas.”

(Excerto da nota de campo de 06/05/2015)

De um modo geral, as mudanças que seja necessário introduzir no quotidiano dos jovens é bem aceite, com exceção para a introdução de novas regras que se relacionem com tarefas domésticas, com o uso do telemóvel, com as saídas e com horários de estudo. Um exemplo de uma alteração no quotidiano dos jovens que foi recebida com maior resistência foi a organização das férias de verão:

Inês: “Não percebo porque é que nós é que temos de fazer se sempre foi a Dra. a organizar tudo!”

(Excerto da nota de campo de 11/06/2015)

No geral, os jovens adaptam-se bem às mudanças, principalmente quando surge a entrada de novos elementos para o Lar Esperança, que pudemos observar aquando da transferência do irmão do Rafael para o Lar: “A passagem do CAT para o LIJ, os jovens encaram como natural. Já são crescidos e passam por uma nova etapa. No LIJ sentem

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mais responsabilidade e têm um acompanhamento mais personalizado e também beneficiam, pelo facto de não terem de partilhar a atenção dos adultos com os bebés.”

(Diretora Técnica, trabalha na instituição há 12 anos, licenciatura).

Podemos, assim, afirmar que a instituição procura garantir a existência de rotinas e de normas que as regulam, de modo a criar condições de crescimento o mais próximas possíveis das que existiriam num contexto familiar propiciador do desenvolvimento integral, da promoção da independência e da autonomia. E justamente porque a fase de socialização no contexto familiar nem sempre foi marcada pelo estabelecimento claro dos limites, os jovens revelam alguma dificuldade em aceitar as regras e as rotinas pelas quais se rege a vida na instituição.

Como já foi abordado anteriormente, é essencial que na instituição sejam estabelecidas ligações afetivas entre os jovens e os profissionais, e que estes últimos se tornem figuras de referência, capazes de oferecer afeto e estabilidade emocional. A vinculação é o meio através do qual, desde o nascimento, a criança sente proteção e segurança, sendo por isso essencial que estes jovens, cujos percursos de vida revelam justamente a ausência de afeto, de carinho, de proteção, experienciem estas ligações no contexto de acolhimento. O afeto é, assim, fundamental para que as regras vão sendo interiorizadas e para que os jovens compreendam que o seu cumprimento lhes garante a segurança e o conforto.

7.3.3. A “Casa dos Valores”

O Lar Esperança procura incutir nas crianças e jovens que acolhe valores essenciais, tais como responsabilidade, respeito, honestidade, solidariedade, iniciativa48.

Num placar, encontram-se afixadas informações alusivas aos valores que os jovens devem seguir 49, nomeadamente o significado de cada valor e quais as situações em que

poderão demonstrar que interiorizaram cada um dos valores. Na entrada do Lar Esperança, também existem algumas palavras afixadas50, como “por favor”,

“obrigada”, “um sorriso”, “bom dia”, “com licença”, com o intuito de relembrar os jovens que devem ser educados para com as outras pessoas e para que estes interiorizem essas mesmas condutas.

No documento Dina Elisabete Brás Silva (páginas 118-122)