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CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.4 A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE GESTÃO,

1.4.2 Bacia hidrográfica como um Sistema

Segundo Coelho (2009), o conceito de sistema foi introduzido na literatura soviética por Sotchava na década de 1960, tendo a preocupação de estabelecer uma tipologia aplicável aos fenômenos geográficos (geossistêmicos) e enfocando aspectos integrados dos elementos naturais numa entidade espacial.

A bacia hidrográfica como um sistema é formada pelas inter-relações de vários subsistemas existentes em seu meio. Coexistem os subsistemas social, econômico, demográfico e o biofísico. Deste modo, a bacia hidrográfica pode ser definida como um espaço caracterizado por um sistema de águas que fluem para um mesmo rio, lago, ou mar, cujas modificações são devidas à ação dos subsistemas sociais e econômicos, que a afetam positivamente ou negativamente. A intensidade das inter- relações irá definir o nível de complexidade e o grau de sobreposição dos subsistemas entre si, e ainda determinar o nível de interdependência dos subsistemas ou o grau de conflito dos diferentes interesses concorrentes no sistema (SOUZA & FERNANDES, 2000).

Para estes autores, os subsistemas mais importantes que existem dentro de uma bacia hidrográfica são:

 Subsistema Social: compreende o nível educacional, a organização da comunidade, a estratificação social, as tecnologias tradicionais de uso da terra e

nível de atividades, a infraestrutura de serviços da comunidade e o meio político- administrativo;

 Subsistema Econômico: é formado pelos sistemas de uso da terra, pelo tamanho da propriedade, consumo, número de construções, custo de insumos, retorno econômico dos sistemas de produções. Neste sistema, determina-se como funciona uma bacia, os aspectos da produção atual e as possibilidades futuras;

 Subsistema Biofísico: as suas informações são coletadas por meio de fotografias aéreas e imagens de satélite e complementadas com informações de estudos recentes da bacia em questão por meio do Sistema de Informação Geográfica. As principais informações obtidas referem-se à atmosfera, ao clima, ao solo, à hidrologia vegetação e à fauna. Nota-se que é um subsistema alterado principalmente pela ação do homem, podendo-se citar o corte raso da vegetação natural, o estabelecimento inadequado de cultivos, a aplicação de agrotóxicos no solo, as mudanças inadequadas de uso da terra para construção, dentre outros.

 Subsistema Demográfico: compreende a estrutura populacional, como o tamanho, a densidade, a distribuição e a ocupação da população e suas

dinâmicas. Tais informações são verificadas pelo censo populacional e pesquisas diversas.

É importante ressaltar que os principais componentes de uma bacia hidrográfica – solo, água, vegetação e fauna – coexistem em permanente dinâmica e interação, dando respostas às interferências naturais, como a erosão e a modelagem da paisagem, e aquelas de natureza humana, como o uso e ocupação da paisagem, afetando o ecossistema como um todo. Neste sistema, os recursos hídricos são os indicadores dos efeitos do desequilíbrio das interações dos subsistemas. Por este motivo, as bacias e microbacias hidrográficas consolidam-se cada vez mais como compartimentos geográficos coerentes para o planejamento ambiental integrado do uso e da ocupação dos espaços rurais e urbanos, tendo em vista o desenvolvimento sustentável, compatibilizando-se atividades econômicas com qualidade ambiental (SOUZA & FERNANDES, 2000).

A intervenção humana no sistema bacia hidrográfica realizada dentro do ambiente urbano é responsável por importantes alterações no ciclo hidrológico na área, onde

destaca-se a impermeabilização do terreno por meio das edificações, e da pavimentação das vias de circulação (BOTELHO & SILVA, 2004).

No momento em que é impedida de infiltrar-se no solo, a água da chuva escoa sobre a superfície pavimentada, seguindo diretamente para os canais fluviais, alimentando-os rapidamente e, dependendo da intensidade e duração das chuvas, pode ocasionar enchentes de grandes proporções.

A água quando se infiltra ou é interceptada pela cobertura vegetal leva um tempo maior para atingir os cursos d’água, diminuindo os riscos de enchente. Por outro lado, a água que escoa sobre superfícies pavimentadas possui maior velocidade, enchendo os cursos d’água com maior rapidez, e aumentando o potencial erosivo (BOTELHO & SILVA, 2004).

Um problema causado pelo escoamento superficial sem cobertura no solo é o surgimento de voçorocas, popularmente conhecidas como “crateras”, que podem destruir casas e ruas. Sem a cobertura vegetal, os fluxos d’água podem desencadear um processo de erosão superficial e ainda subsuperficial, provocando movimentos de massa (BOTELHO & SILVA, 2004).

No ambiente urbano é comum a ausência de vegetação às margens dos rios, como as matas ciliares e os mangues, já que a prática de retificar e canalizar os rios é muito comum. Isto pode ocasionar o depósito de sedimentos trazidos pelas chuvas, gerando assoreamento, aumentando, assim, o risco de enchentes.

A canalização e retificação dos rios urbanos constituem intervenções antrópicas que afetam muito o sistema hidrológico. Essas obras têm como objetivo:

[...] aumentar a velocidade e a vazão dos rios, a fim de promover o escoamento rápido do grande volume de água que atinge os canais fluviais e possibilitar a ocupação de suas margens. A primeira meta, no entanto, muitas vezes fica comprometida pela retirada da vegetação marginal, pelo assoreamento do leito e, principalmente, pela ocupação das áreas de retenção natural das águas, como as planícies de inundação. Tais áreas deveriam ser sempre destinadas a preservação ou conservação, com presença de cobertura vegetal, possibilitando a infiltração e/ou permanência da água. Não fosse a intensa ocupação antrópica dessas feições geomorfológicas, as enchentes não teriam caráter tão desastroso (BOTELHO & SILVA, 2004, p. 175 e 176).

Estes autores acrescentam ainda que, os próprios sistemas de drenagem urbana, criados para conduzir as águas pluviais para que se pudesse evitar danos ao ambiente e a sociedade, como a erosão, o assoreamento e as enchentes, na maioria das vezes, têm-se mostrado ineficientes para atender as demandas atuais, já que a falta de investimentos em serviços de melhoria e ampliação da rede, ou ainda pelo direcionamento inadequado das águas, agravam ainda mais seus efeitos.