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CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.2 O PLANEJAMENTO AMBIENTAL

1.2.1 Planejamento: um resgate histórico

A organização do espaço sempre foi preocupação para grupos de pessoas que vivem coletivamente sob normas comuns. Esta disposição espacial, baseada em formas de planejamento, existe desde a Antiguidade, sendo representada pelas aldeias de pesca ou agricultura. Sua ordenação territorial levava em consideração aspectos ambientais, como topografia e microclima. Exemplos tradicionais de planejamento originam-se das aldeias da Mesopotâmia, cerca de 4.000 a.C., onde os planejadores preocupavam-se com a organização das cidades, atendendo às necessidades da estética e do conforto.

A perspectiva do planejamento voltada para a cidade, considerando Aristóteles, o grande teórico da cidade, perdura da Grécia antiga à época da Revolução Industrial, formulando uma base teórica sobre construções de núcleos populacionais. Na Europa, no final do século XIX, havia pouca preocupação com a construção das cidades, aliada à conservação da natureza (FRANCO, 2004).

Ressalta-se ainda que, entre 1810 e 1840, diversos estudos ligados a ecologia induziram a reorientação da relação homem e meio, como a teoria da evolução de Darwin, o conceito de ecossistema de Tansley. Segundo Santos (2004), o movimento romântico e a Escola Francesa muito contribuíram com propostas de planejamento de recursos hídricos e saneamento, enfatizando a relação entre disponibilidade de água e preservação de mananciais. Neste contexto, as cidades japonesas demonstravam maior preocupação com a natureza e os elementos construídos.

No final do século XIX, foram trabalhados vários tipos de planejamento setorial nas cidades, cuja discussão centrava-se nos terrenos urbanos e as funções de uma cidade. Porém, maior desenvolvimento teórico foi dado aos planejamentos da área econômica e de recursos hídricos (PETAK, 1980).

Na década de 1930, a experiência resultante sobre o planejamento das águas doces desenvolveu métodos associados a avaliações de custo-benefício, objetivando a tomada de decisão em relação às questões de demanda ou uso múltiplos da água. Estas avaliações tinham como referência a qualidade e a quantidade de água disponível como recurso natural. Foi neste período, entre as décadas de 1930 e

1940, que cresceu a antiga ideia de planejamento baseado em bacias hidrográficas, porém, restringindo-se muito aos recursos hídricos (SANTOS, 2004).

Após a Segunda Guerra, na Europa e nos EUA, a sociedade estava baseada no modelo econômico de consumo e de desenvolvimento, desta forma, evoluíram os planejamentos de base econômica, sobretudo nos anos de 1950 e 1960, pois eram vistos como uma forma de alcançar mais rapidamente o crescimento econômico. Na década de 1950, surgiu um tipo de planejamento um pouco diferente nos EUA, tendo como principal preocupação a necessidade de se avaliar os impactos ambientais resultantes de grandes obras estatais. Em grande parte desses empreendimentos, as perdas ambientais não eram computadas, predominando a análise de custo/benefício. “A questão ambiental era vista como um segmento a parte, ligada a sistematização do conhecimento da natureza e a política do protecionismo” (SANTOS 2004, p. 17).

No Congresso Americano, debateu-se durante quase vinte anos, a necessidade de se exigir estudos de impacto ambiental, tendo ganhado também alcance em outros países. O debate estendeu-se também em Universidades americanas e canadenses à fim de tornar estes estudos uma exigência legal (SÁNCHES, 2008).

No final da década de 1960, os conceitos de desenvolvimento foram revistos. Os padrões de alto consumo geravam consequências graves como poluição, desigualdade social e insatisfação da sociedade. A ideia de não haver um modelo único de desenvolvimento da sociedade ganha destaque, sendo melhor aquele em que a própria sociedade decidir segundo suas necessidades. A partir disso, surgem modelos alternativos de desenvolvimento, considerando benefícios desvinculados dos aspectos puramente econômicos, como qualidade de vida e educação, pois o desenvolvimento estritamente econômico gera poluição e degradação ao meio ambiente (FRANCO, 2001).

Planejamentos mais abrangentes, preocupados com avaliação de impactos ambientais são cada vez mais exigidos. Qualidade de vida não era mais vista como sinônimo de desenvolvimento e crescimento econômico. Em países

subdesenvolvidos, a correlação entre crescimento econômico e bem-estar social não havia ocorrido de fato.

As preocupações do homem moderno com o meio ambiente, integrando questões sociais, políticas, ecológicas e econômicas com o uso racional dos recursos naturais, ocorreram em 1968 com o Clube de Roma. Foi uma reunião de diversos países e áreas de conhecimento (biologia, economia, sociologia, política) para discutir o uso dos recursos naturais e o futuro da humanidade. O relatório final questionou o então desenvolvimento econômico, pressionando os governos mundiais acerca das questões ambientais (FRANCO, 2001).

O Clube de Roma foi precursor do NEPA (National Environmental Policy Act), uma legislação que exigia considerações ambientais no planejamento e nas decisões de projetos de grande escala (SANTOS, 2004). Após o NEPA, diversas legislações ambientais seguiram-se em diversos países.

Os primeiros estudos de avaliação de impacto eram refletidos em sistemas de planejamento de cunho ambiental. Os métodos consistiam num somatório de custo/benefício, técnicas de questionamento e métodos baseados em listagens, que foram desenvolvidos entre as décadas de 1930 e 1970. Ao final de 1970, o planejamento de recursos hídricos dos anos de 1930 foi retomado (SÁNCHES, 2008).

No início dos anos de 1980, a conservação e a preservação dos recursos naturais passaram a ter uma função muito importante quando se discute a qualidade de vida da população. Nesta época, os conceitos sobre planejamento, muito influenciados pelos estudos de impacto ambiental, sofreram uma reformulação, contemplando a questão ambiental (SANTOS, 2004).

Nessa época passaram a ser elaborados os planejamentos regionais integrados, abordando elementos do meio natural e antrópico, analisados de forma interativa. Independentes dos objetivos ou do local planejado, essa estratégia passava a exigir uma espacialização de um conjunto amplo de dados que deviam ser comparados e analisados de forma holística. Para se obter como produtos planejamentos de caráter ambiental, os planejadores resgataram as experiências obtidas em recursos

hídricos, dos estudos de impacto ambiental e de avaliações de paisagens, fortalecendo estruturas que estavam esquecidas, mas que passaram fortalecer o conhecimento holístico (FRANCO, 2001).

Havia esforços para incluir conceitos ecológicos, econômicos e políticos em planejamentos de caráter regional e urbano, mas eles tendiam a ser unicamente acadêmicos ou estudos de caso não aplicados. Nessa década, o ambiente e o desenvolvimento já não podiam ser apresentados isoladamente. Desta forma, o planejamento adjetivado ambiental era visto como um caminho para um desenvolvimento social, cultural-ambiental e tecnológico adequados, era apresentado muitas vezes, como um instrumento que protegia a natureza e melhorava a qualidade de vida das comunidades (SANTOS 2004, p. 18).

Entre os anos de 1950 e 1990, a questão ambiental era tratada como propostas de gerenciamento de recursos naturais, tendo como preocupação o controle ambiental. Não havia ainda um direcionamento para mudança de postura diante da utilização dos recursos naturais.