• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.3 RECURSOS HÍDRICOS

1.3.3 Saneamento ambiental no Brasil

O crescimento da urbanização gerou grandes demandas sobre o sistema de saneamento brasileiro durante, principalmente, a década de 1960, fazendo com que o governo militar ampliasse a cobertura dos serviços de saneamento. Com esta finalidade, no ano de 1964 foi criado o Banco Nacional de Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro de Saneamento (SFS), que funcionava dentro do BNH. Sua função era centralizar recursos e coordenar ações no setor de saneamento, já que a maioria dos serviços era de âmbito municipal.

Em 1971 foi criado o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), tendo como principal fonte de recursos o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Outras fontes eram provenientes do BNH, de empréstimos internos e externos. A partir deste momento, os municípios foram incentivados a concederem os serviços de saneamento para companhias estaduais, já que estas eram as únicas a terem acesso aos empréstimos do PLANASA. As companhias estaduais de saneamento

eram promotoras e executoras do PLANASA, planejando os investimentos da esfera estadual a partir da concessão recebida dos municípios (TUROLLA, 2002).

A construção e ampliação dos sistemas de saneamento foram os investimentos predominantes do PLANASA, ficando os aspectos operacionais em segundo plano, já que estes não eram financiados pelo BHN. Isto favoreceu a degradação do sistema de saneamento para os anos posteriores.

Na década de 1980, devido às dificuldades da economia brasileira, que esgotou as fontes de financiamento, e provocou aumento da inflação, as companhias de saneamento estaduais encontravam-se financeiramente desestabilizadas. Para Turolla (2002), as principais causas da crise financeira das empresas de saneamento foram a política tarifária inapropriada, a expansão dos serviços às periferias urbanas e pequenas localidades que não permitiam o retorno adequado dos investimentos por meio de tarifas, e as consequências negativas do Plano Cruzado.

O PLANASA era baseado na centralização em nível estadual e na gestão pública, sendo eficaz na realização da ampliação da cobertura dos serviços durante a década de 1970. Diante das dificuldades apresentadas, este plano foi extinto em 1986 juntamente com o BNH. O SFS passou a ser gerido pela Caixa Econômica Federal (CEF).

Após estes acontecimentos, as ações do governo passaram a ser pontuais, não conseguindo a universalização dos serviços de saneamento. Com isto, passou-se a incentivar a participação da iniciativa privada e novamente, a participação dos municípios para a realização dos serviços (TUROLLA, 2002).

A participação do setor privado na área de infraestrutura inicia-se a partir da década de 1990, mediante o Programa Nacional de Desestatização (PND), que forneceu as bases legais para as concessões de serviços públicos em geral, inclusive o de saneamento (TUROLLA, 2002).

As tentativas de regulação do setor de saneamento, bem como as discussões que objetivaram instituir um marco regulatório para o setor de saneamento, tiveram sucesso recentemente com a aprovação da Lei nº 11.445/2007, que estabelece as

diretrizes nacionais para o saneamento básico no Brasil. Alguns aspectos de destaque para a discussão desta lei são, segundo Goulart & Carreiro (2008):

 Titularidade: aspecto que não foi incluído no texto da lei por ter sido considerado um tema tratado pela Constituição Federal de 1988, que diz que cabe aos municípios organizar e prestar os serviços públicos de interesse local;

 Serviços: o saneamento básico inclui serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais;

 Flexibilidade de planejamento dos serviços: o planejamento setorial é uma atividade flexível no momento de realização do planejamento, podendo ser feito por segmento (água e esgoto, resíduos sólidos e drenagem), localmente e regionalmente. Segundo Goulart & Carreiro (2008):

A bacia hidrográfica é um território importante a ser considerado no planejamento ao se tratar de serviços de água e esgoto, pois insere análise das variáveis de demanda e disponibilidade de água e a capacidade de depuração dos corpos de água (p. 23).

 Regulação dos serviços: considerado o tema central da lei, a regulação passa pela existência de uma agência reguladora, que possui autonomia financeira e de decisão. Seu objetivo é acompanhar a evolução dos serviços de acordo com parâmetros anteriormente definidos, visando a garantia de melhoria dos serviços e dos direitos da população atendida.

Atualmente, a grande maioria das prestadoras de serviços de saneamento básico no Brasil é pública, existindo poucas empresas privadas atuando no setor. Os serviços de saneamento são prestados por uma gama de arranjos institucionais, podendo ser municipais, estaduais e privados, mediante secretarias, departamentos da administração pública, autarquias, empresa pública ou privada e organização social. O setor de saneamento básico tem como órgão responsável a Secretaria de Saneamento Ambiental, que se encontra vinculada ao Ministério das Cidades (MCidades), sendo o gestor da aplicação dos recursos do FGTS para o saneamento. A CEF é o órgão que desempenha as funções de agente operador e financeiro dos recursos. O Ministério da Saúde, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente,

como a secretaria de Recursos Hídricos, o Ministério da Integração Nacional, dentre outros, são órgãos do governo que possuem atribuições ligadas ao setor de saneamento (TUROLLA, 2002).

O saneamento básico encontra-se muito relacionado ao tema urbanização, processo que ocorreu aceleradamente na RMGV, pois se trata da construção de cidades sadias para atender com qualidade de vida toda sua população. O crescimento populacional ocorrido na RMGV foi desordenado, sem planejamento, deixando de favorecer o bem-estar do cidadão.

Na medida em que este crescimento desenvolvia-se, surgiam preocupações com o uso cada vez mais intenso dos recursos naturais, principalmente a água, e o agravamento das desigualdades sociais. Conciliar crescimento populacional com qualidade ambiental era uma meta a ser conquistada pela RMGV. A construção deste princípio foi fundamentada nos ideais de desenvolvimento sustentável, implicando na universalização dos serviços de saneamento ambiental na RMGV, como um item básico de uma cidade com qualidade para todos.

O município de Vitória, por exemplo, apresenta altos índices de densidade demográfica. Segundo o IBGE (2010), seus 297.489 habitantes estão distribuídos em um espaço de 93 quilômetros quadrados, o que resulta numa densidade de 3.198 habitantes por quilômetro quadrado. O município congrega 20% da população metropolitana existente na RMGV. Esta Região, por sua vez, concentra cerca de 50% da população total do Estado do Espírito Santo em apenas 5% de sua extensão territorial (IBGE, 2010).

Por definição, o saneamento ambiental compreende o conjunto de ações, obras e serviços considerados prioritários em programas de saúde pública. Abrange desde o sistema de abastecimento de água, o cuidado com a destinação de resíduos e o esgotamento sanitário, as melhorias sanitárias domiciliares, até obras de drenagem urbana, controle de vetores, roedores e focos de doenças transmissíveis. Inclui também a preocupação com a melhoria das condições de habitação e educação sanitária e ambiental.

Para que todos estes serviços supracitados possam ser executados com eficiência, e devido a alta concentração de população nos municípios da RMGV a demanda por serviços de infraestrutura, principalmente o saneamento ambiental é muito grande, sendo que suas soluções estão para além do âmbito municipal, exigindo para seu enfrentamento a participação de todos os municípios que a compõem, principalmente na tomada de medidas de gestão no contexto dos serviços de saneamento ambiental.