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Para entender a formação da Ilhinha, é de extrema importância compreender a formação de bairros adjacentes como a Ponta D’Areia (visto anteriormente) e São Francisco, sobre o qual se discorre agora:

--Data de Origem: 1615. --Formação: Bairro planejado.

--Localização do bairro: O bairro fica entre o Rio Anil, a Lagoa da Jansen e o bairro do Renascença, como se pode verificar na Figura 53.

Figura 53 - Localização do Bairro do São Francisco e adjacências

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

III.2.1 História e evolução urbana

Consta que a construção da Fortaleza de São Francisco, em 1° de novembro de 1615, se deu no governo do capitão português Alexandre de Moura, responsável pela expulsão das tropas francesas deste território, nesse mesmo ano.

Marques (1970) afirma que o referido capitão mandou construir na Ponta de São Francisco um forte de pau-a-pique, e que, no dia seguinte à construção, as tropas invasoras, chefiadas pelo general La Ravardière, se renderam, assinando, assim, um termo de entrega. Ressalta, ainda o

historiador, que é provável que a fortaleza, a partir desse momento, tenha sido construída aos poucos, ao longo de anos, e que no seu início a chamaram de “Forte do Sardinha”, nome do regente ou diretor responsável pelas obras da guarnição.

Encontraram-se notícias da Fortaleza de São Francisco posteriormente, em 1716, quando o Governador e Capitão-Geral da Província, Cristóvão da Costa Freire, designou uma comissão para avaliar a situação desse posto de segurança. A comissão constatou que a referida fortaleza estava em situação precária em virtude das grandes correntezas que banhavam a localidade, e que a solução era “só fazendo-se de novo e de cantaria vinda do reino e que fosse tirando da dita fortaleza todas as armas e munições para se não perderem” (MARQUES, 1970, p. 281).

Depois do parecer do Conselho Ultramarino, o Rei de Portugal Dom João V autoriza a construção de uma fortaleza na Ponta de São Francisco. Em 28 de agosto de 1720, a primeira pedra da construção foi lançada (CURVELO-MATOS, 2014).

Segundo Meireles (1980) e Marques (1970), o Forte de São Francisco, feito para auxiliar na defesa da Capitania, foi reformado no governo de Joaquim de Melo e Póvoas. Em 15 de abril de 1762, o referido governador encaminha ofício ao Marquês de Pombal, informando a precária situação da fortaleza, além do fato de que esta deveria ser reparada, caso contrário, não serviria mais à função de guardar a cidade. Posteriormente, aparecem notícias dessa edificação em 21 de março de 1797, quando o governador é informado de que a fortaleza estava desarmada e não tinha mais nenhuma função.

Padroeiro da paz, São Francisco acabou escolhido como santo protetor da comunidade de pescadores, que deu origem ao Bairro de São Francisco. A comunidade já existia antes da construção da Ponte José Sarney, na década de 60, e era ocupado por pescadores, pequenos comerciantes e lavradores, que viviam em condições relativamente simples. Não havia água encanada, energia elétrica e esgoto (BARROS, 2001). No ano de 1971 foi criada a paróquia de São Francisco de Assis. Desde então, são realizadas, anualmente, homenagens ao santo (CURVELO- MATOS, 2014).

Antes da construção da ponte, havia um fluxo de canoas transportando pessoas e mercadorias. Os moradores chamavam a esse percurso de “travessias”, como ilustra na Figura 54.

Figura 54 - Travessias antes das pontes

Fonte: Revista Manchete (1977, p. 229).

As travessias representavam o acesso dessa população a uma série de produtos. Elas eram a ligação com o moderno, sendo este presente somente do outro lado da ilha. Os comerciantes eram os principais responsáveis pela manutenção de um intercâmbio com outras áreas da cidade. Eles compravam produtos que eram levados ao porto da Praia Grande em carroças, para serem embarcados e transportados para o outro lado. Algumas mercadorias, como materiais de construção, eram difíceis de serem transportadas, por isso boa parte das casas eram feitas de taipa (BARROS, 2001).

Como não havia hospitais e farmácias, quando alguém adoecia todos cooperavam para facilitar o transporte do doente. Não existiam escolas na área. As crianças que estudavam tinham que atravessar de canoa para São Luís. Muitas vezes só retornavam tarde da noite. Além dessas necessidades, havia os prazeres clandestinos que vinham da cidade, como algumas prostitutas que atravessavam a barco e animavam as poucas casas noturnas do bairro (BARROS, 2001).

A Ponte de São Francisco foi inaugurada em 1969 pelo então Governador José Sarney, para melhorar a expansão da cidade, como já foi dito anteriormente. Abaixo, na Figura 55, segue uma foto da ponte no ano de 1970.

Figura 55 - Ponte Governador José Sarney em 1970

Fonte: Pereira e Alcântara Jr. (2017, não paginado).

Com a construção da ponte, os moradores que ocupavam o núcleo central do bairro foram indenizados pelo Estado para deixarem a área. No lugar das suas casas foi construída a Avenida Marechal Castelo Branco e, em pouco tempo, o Bairro de São Francisco foi ocupado por residências de classe média e prédios comerciais (BARROS, 2001).

Como visto anteriormente, na década de 1970, o aterramento para a ligação dos bairros São Francisco e Ponta D’Areia destruiu o igarapé da Jansen, facilitando, dessa forma, o acesso às praias. Deste aterramento, formou-se a Lagoa da Jansen que, em 2001, recebeu obras de infraestrutura para o lazer e turismo, o que agregou valor a um dos bairros adjacentes: o Bairro Renascença II, caracterizado pelo adensamento de prédios verticais residenciais e comerciais. Na Figura 56 ilustra-se a real situação da verticalização do Renascença II.

Figura 56 - Vista Panorâmica da verticalização do Renascença II

Na área da Lagoa da Jansen, as modificações da paisagem são marcadas por fortes discrepâncias sociais, iniciadas com a ocupação desordenada das áreas de mangues da “Ilhinha”, continuadas com a construção da Avenida Maestro João Nunes, dos conjuntos residenciais Renascença I e II e Ponta do Farol. A construção desses conjuntos e de estruturas urbanas complementares adjacentes, como shoppings e empreendimentos comerciais, motivou a especulação imobiliária voltada às classes mais abastadas da sociedade, que se sobrepõem às classes menos favorecidas, que habitam os pequenos casebres. Abaixo, na Figura 57, há uma vista já de contrastes na década de 1990.

Figura 57 - Foto aérea da Lagoa da Jansen e arredores (Península e Ilhinha) em 1990

III.3 O BAIRRO DA ILHINHA