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III.3 O BAIRRO DA ILHINHA

III.3.3 Pontos positivos e negativos da Ilhinha

Em relação aos pontos positivos do Bairro da Ilhinha, destaca-se sua localização privilegiada, ao se comparar com as outras áreas de interesse social que estão situadas na periferia da cidade. O Bairro da Ilhinha fica próximo ao Centro Histórico de São Luís, bem como do litoral e de um dos mais importantes pontos noturnos de diversão e esporte da cidade, a Lagoa da Jansen, na qual se encontram bares, restaurantes, áreas poliesportivas, e pista de corrida e caminhada.

Apesar de se tratar de uma área de ocupação não planejada, ocupada irregularmente, e, teoricamente pré-conceituada como perigosa, a Ilhinha possui, em suas ruas, uma riqueza enorme em relação à sociabilidade entre os moradores.

Ressalta-se a falta de qualidade de vida na área, uma vez que há carência de alguns equipamentos e espaços públicos significantes para a comunidade, por exemplo, uma biblioteca, uma praça.

Por outro lado, a aparência do local não se configura como das melhores, tendo em vista que se trata de um local sujo, sombrio e perigoso. Observa-se moradias em estado precário de conservação, como também espaços localizados na avenida servindo de lixão, os quais poderiam ser reabilitados para abrigarem várias atividades, inclusive a de lazer. Além dessa situação, constatou-se a falta de estacionamentos, pois não existem condições para tal ao longo da avenida, o que prejudica o acesso de visitantes, bem como a grande fragilidade e falta de preparo das vias transitórias e equipamentos urbanos, o que resulta num sério problema de acessibilidade na comunidade.

III.3.4 Dados socioeconômicos

A realidade socioeconômica da Ilhinha está demonstrada no Quadro 3 que se apresenta a seguir. Os dados contidos reportam-se ao ano de 2010.

Quadro 3 - Dados socioeconômicos da Ilhinha

ÁREA DO BAIRRO EM M² ILHINHA 518.617,30 m²

DOMICÍLIOS

Domicílios particulares permanentes Pessoas residentes nestes imóveis

1.856 6.901

ABASTECIMENTO DE ÁGUA/OUTRAS FORMAS (domicílios particulares permanentes)

Rede Geral Poço ou Nascente Outra Forma

1.830 (98,60%) 13 (0,70%) 13 (0,70%)

DOMICÍLIOS COM ESGOTAMENTO SANITÁRIO – OUTROS DESTINOS (dom. particulares permanentes)

Rede Geral Fossa

Séptica Fossa Rudimentar Vala Rio, Lago, Mar

Outro Escoadouro 1.541 (83,02%) 44 (2,37%) 85 (4,57%) 25 (1,35%) 92 (4,96%) 15 (0,81%)

TOTAL 1.856 (lembrando que 2,92% dos domicílios não possuíam banheiro

ou sanitário) RENDA

A maioria responsável por domicílios recebe mais de ½ até 1 salário mínimo 45,73% dos responsáveis por domicílios recebem entre ½ até 1 salário mínimo

NÍVEL DE ESCOLARIDADE

91,67 % da população residente é alfabetizada FAIXA ETÁRIA

Predominante: Adulta de 30 a 59 anos Crianças e adolescentes: 31,46% Os jovens de 18 a 29 anos representam 28,69% Fonte: Adaptado de IBGE (2010, não paginado).

Os dados mostram que o Bairro da Ilhinha possuía, em 2010, um total de 1.856 domicílios particulares permanentes em uma área de 518.617,20 m². Um total de 6.901 pessoas residia nesses imóveis. Havia abastecimento de água tratada em 1.830 domicílios (98,60%), 13 deles (0,70%) usavam poço ou nascente e 13 (0,70%) utilizavam outra forma.

Dentre os domicílios particulares permanentes, 1.541 deles (83,02%) tinham acesso à rede geral de esgoto. Um percentual de 16,97% dos domicílios não possuía instalação sanitária, dos quais 44 (2,37%) deles usavam fossa séptica, 85 (4,57%) fossa rudimentar, 25 (1,35%) usavam vala, 92 (4,96%) utilizavam rio, lago ou mar, e 15 (0,81%) outro tipo de escoadouro. Não havia banheiro em 54 (2,92%) domicílios. O lixo era coletado em 1.030 dos domicílios (55,49%), os demais davam outros destinos ao lixo (queimado, terreno baldio, rio, lago, mar).

A maioria dos habitantes recebia até um salário mínimo. Essa condição denota a falta de infraestrutura nas casas, muitas delas não possuem revestimento algum, os espaços são mínimos, sem higiene e alojam de 4 a 6 pessoas.

Na análise da presente realidade, encontrou-se uma característica muito interessante: o fato de serem moradores do sexo feminino os responsáveis pela maioria dos domicílios permanentes. Isso mostra a relevância do papel das mulheres na atualidade, haja vista sua presença cada vez maior no mercado de trabalho.

A faixa etária predominante da área analisada é de 30 a 59 anos, que corresponde a 35,52%. As crianças e adolescentes representam a segunda parcela, com 31,46%. Os jovens de 18 a 29 anos correspondem a 28,69%. Os idosos contam com apenas 4,33% da população existente. Nota-se que a relação entre adultos, jovens, crianças e adolescentes é muito aproximada.

De acordo com o perfil socioeconômico da comunidade traçado pela AMI, sua população é formada por pessoas que vivem, na sua maioria, do trabalho informal ou autônomo, trabalhando como pedreiros, domésticas, diaristas, lavadores de carro ou dedicando-se ao comércio informal.

III.3.5 Uso do Solo

No que se refere ao uso do solo, a área em questão é quase toda residencial, havendo alguns pontos de comércio, como minimercados ou mercearias. Chama a atenção na área, a grande faixa territorial ao longo da Avenida Ferreira Goulart, com uma presença significativa de terrenos vazios, abandonados, desocupados e sem uso. Quanto aos equipamentos, estão presentes: duas Igrejas, uma católica e outra evangélica, considerados dois locais de grande atração para a comunidade; duas escolas públicas, uma primária (até ao primeiro ciclo) e a outra secundária (segundo e terceiro ciclos); uma creche, que se encontra degradada, além de não suprir a demanda local de crianças; e uma Associação Comunitária, que funciona praticamente como uma creche infantil, na qual existe um campo de futebol para atividades desportivas.

Figura 61 - Mapa do uso e ocupação do solo na Ilhinha

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

As áreas verdes encontram-se divididas em duas categorias: expectantes, que são espaços vazios à espera de uma futura função; e os abandonados, que foram espaços recreativos, porém, foram se degradando ao longo dos anos, pela falta de manutenção, encontrando-se, nos dias atuais, abandonados.

Em seu próprio histórico de ocupação, a Ilhinha concretizou um irreparável dano ambiental, aterrando e construindo sobre manguezais, consolidando o terreno com areia e entulho. Processo este que ocorreu até a década de 90 do século passado.

Após a construção da Avenida Litorânea, a criação do Residencial Ana Jansen também foi motivo de polêmica, pois avançou mais sobre áreas de manguezais, aterrando uma área onde a natureza não é renovável.

Atualmente, o Residencial Ana Jansen serve como escudo e máscara para as novas ocupações em palafitas que, continuamente, em ritmo acelerado, atravessam o mangue, e estão cada vez mais próximas de sua área contígua: a Península. Elas degradam ainda mais esta frágil área da cidade que, de acordo com o Plano Diretor de São Luís (2006), é classificada como área de Proteção Ambiental, portanto, não edificante.

Abaixo, na Figura 62, tem-se a localização do Residencial no contexto do bairro e suas adjacências.

Figura 62 - Localização do Res. Ana Jansen e adjacências

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Outro fator, que é de grande relevância para o entendimento da gravidade da degradação e descaso público ambiental na Ilhinha, é a insalubridade do espaço urbano, ocasionada pela falta de escoamento de águas pluviais, causando alagamentos em inúmeras ruas da comunidade durante o período das chuvas. Concomitantemente ao escoamento precário das águas das chuvas, aos restos de comida, aos dejetos de animais e de pessoas, e à falta de uma coleta eficiente de lixo, ainda se observa uma grande falha na estrutura viária, a qual deveria permitir acesso às áreas mais interiores da comunidade, amenizando os danos causados ao meio ambiente e também à saúde. Abaixo, na Figura 63, apresenta-se uma real situação da área.

Figura 63 - Ruelas internas e sem saída

Analisando os estudos realizados na área da comunidade, contatou-se, primeiramente, o problema fundiário, na qual todos os “lotes” foram definidos por meio de ocupação espontânea, que hoje já são consolidados. Em sua maioria, a área possui terrenos que variam de 10 a 20 m de profundidade por 4 a 5 m de frente (testada), pois a ocupação se deu gradativa e informalmente (LONGUI, 2007).

Esse fato ocasionou certa formalidade espacial no tamanho dos lotes ocupados pelas novas famílias. Atualmente, os terrenos maiores já foram divididos e vendidos, ou ocupados novamente de forma irregular. Isso vem gerando o surgimento de becos e pequenas vilas entre os quarteirões que não possuem afastamentos e são delimitados pelos próprios moradores, sem nenhuma regularização legal, perpetuando, assim, um ambiente urbano desconfigurado e desqualificado, dificultando acessos aos serviços públicos básicos.

Abaixo, na Figura 64, segue uma distribuição do gabarito da Ilhinha.

Figura 64 - Mapa de Gabarito das edificações na Ilhinha

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Atualmente, as casas já são de alvenaria, muitas com gabaritos de dois pavimentos. A sua ocupação cresce em favor da geminação das casas, tanto vertical como horizontalmente. Esta densificação urbana já delimita e consolida a área, que devido a uma falta de planejamento dos lotes e casas, encostados uns aos outros, aumentam a densidade populacional sem haver a

estrutura urbana necessária para acompanhar o crescimento. Como forma de renda alternativa, muitas habitações estão agora tendo função de quitinete20, devido à ótima localização espacial na cidade e ao baixo custo no aluguel.

III.3.6 Hierarquia viária e transporte

Ao analisar a malha viária presente na zona, verifica-se que a mesma apresenta apenas dois níveis de rede: uma principal, que é representada pela Avenida Ferreira Goulart; e outra secundária, composta pelas demais ruas locais. Quanto a estas, é possível verificar que há diversas dimensões, em alguns casos sendo bem estreitas (parte Sul), e em outros muito largas (parte Norte). Outros aspectos notáveis incluem a presença de ruas sem saída e a malha irregular dos quarteirões, que não seguem nenhuma norma, demonstrando a falta de planejamento em muitos locais na zona. Algumas ruas apresentam sua faixa de rolamento de apenas 3 m, impossibilitando o trânsito de ônibus, caminhões de lixo e outros veículos de grande porte.

Figura 65 - Mapa de Hierarquia Viária na Ilhinha

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

20

Modificação de palavra inglesa Kitchenette que significa pequena cozinha. É um apartamento de pequenas proporções, formado geralmente por apenas três cômodos: uma sala-quarto, uma cozinha-área de serviço e um banheiro. Normalmente, as pessoas que escolhem morar em uma quitinete levam em conta seu baixo preço e o pouco tempo que ficam na casa, além do pouco trabalho com sua limpeza doméstica.

Presenciam-se ruas e becos construídos sem um planejamento adequado. Não houve um projeto viário no qual o cruzamento de vias gerasse boa fluidez no trânsito. A circulação de pedestres ficou prejudicada, pois não ocorreu o afastamento adequado das calçadas, nem malhas de ciclovias no seu entorno. Esses fatores contribuem para o aparecimento de pontos de tráfico de drogas e assaltos, pois estas áreas, nas quais o acesso é dificultado por algum obstáculo, seja ele natural ou erroneamente construído, facilitam a disseminação de pontos perigosos. Na figura 65 apresentamos o mapa de hierarquia viária na Ilhinha.

O acesso aos ônibus, que em sua maioria transitam pela Avenida Castelo Branco, fica a mais de 800 m de algumas casas da Ilhinha. Já pela Avenida Litorânea, transita a linha de ônibus “Ponta D’Areia”, mas esta demora cerca de 20 minutos entre as passagens pela Ilhinha. Com esse longo tempo de uma “viagem” para a outra, acumulam-se pessoas na parada de ônibus. A mobilidade urbana para os habitantes da Ilhinha se torna prejudicada. Abaixo, na Figura 66, tem- se um mapa com a abrangência das paradas de ônibus na Ilhinha.

Figura 66 - Mapa de Transporte na Ilhinha

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Nota-se, também, a inexistência de certos mobiliários urbanos, indispensáveis para a limpeza pública, expondo a população a doenças causadas pela insalubridade, destacando-se a

falta de paradas de ônibus cobertas, causando um desconforto para os passageiros que se submetem ao sol escaldante ou às chuvas tropicais no inverno.