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5. SEMINÁRIO EPISCOPAL DE SÃO PAULO COMO ESTRATÉGIA

5.3 O bairro Luz

O terreno para a construção do Seminário entre a Luz e o Bom Retiro foi arrematado ainda quando dom Antônio estava no Rio de Janeiro para assumir o episcopado.

“Já no primeiro ano de sua ativa administração episcopal, ele comprava por oito contos de reis um vasto e bem situado terreno, anexo a chácara de sua residência, que ele tinha adquirido por arrematação judicial no valor de doze contos e cinqüenta mil reis, quando ainda se achava no Rio de Janeiro para sua sagração episcopal. Era a esse prédio, que ele já fazia referência, quando em sua primeira pastoral prometia legar todo bem de raiz que possuía. Adquirido com esmolas dos fiéis um vasto terreno para a edificação do Seminário, dom Antônio deu as precisas providências para o começo das obras.”36

Clóvis de Athayde Jorge fornece outras informações sobre o terreno onde se construiu a instituição educativa. Ele afirma que:

“Por cessão voluntária, o Recolhimento da Luz contribuiria com a parte do terreno necessário; a outra, resultou da aquisição da antiga chácara pertencente ao dr. Miguel Carlos Aires de Carvalho que fora representante do Conselho Ultramarino (...) era a da bica da Miguel Carlos, nomeado antigo proprietário da chácara vizinha que veio a ser adquirida pelo bispo dom Antônio Joaquim de Melo para em seus terrenos fundar o Seminário Episcopal.”37

Isto indica a hipótese de que o patrimônio inicial do Seminário contou com a participação da Corte, envolvendo os grupos que configuravam a estrutura de poder dominante.38 A construção do Seminário no bairro da Luz é aqui considerada um ponto

contadoria provincial...” (UM reclamo a S. Ex. O correio paulistano, São Paulo, ano 1, n. 04, p. 2, sexta-feira, 30 junho de 1854.). Estes jornais elucidam quanto às posturas que se formavam em torno da presença dos clérigos junto ao desenvolvimento da cidade, assim como quanto às tensões ideológicas do momento.

36 POLIANTÉIA comemorativa do 1º. Quinquagenário da Fundação do Seminário Episcopal de S. Paulo.

(1856-1906), p. 128.

37 JORGE, Clóvis de Athayde. Luz: notícias e reflexões. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico,

1988. p. 76.

38 Na pesquisa realizada no Arquivo Municipal de São Paulo, não foi identificado nenhum documento

específico sobre o Seminário, tampouco sobre a sua construção. No local, as construções arquitetônicas do bairro da Luz estão divididas por pastas. A única pasta localizada que remete ao Seminário é a que reúne documentos sobre a Igreja de São Cristóvão, antiga capela do Seminário, única área preservada da construção arquitetônica original. No Arquivo do Estado de São Paulo, também não foi localizada nenhuma indicação sobre o que tange à construção do recinto.

estratégico da Corte Imperial, que fazia da localidade uma representação do poder monárquico instituído. Na discussão proporcionada por Clóvis de Athayde Jorge, fica implícita a idéia de que o bairro se desenvolveu como um ponto de exercício do poder lusitano, desde o início do povoamento da Capitania de São Vicente. A construção da Capela da Luz teria sido o primeiro indício de que a cultura lusitana permeava a religiosidade. Para o autor, o processo de colonização lusitana teria se iniciado em 1580 e cessado em 1870, quando todo o terreno municipal havia sido ocupado por particulares. Localizada entre as margens do rio Tamanduateí, entre o Anhangabaú e o Tietê, a região possuía excelentes pastagens, garantindo o desenvolvimento do rebanho de vacas e outros animais de montaria, e que se tornou o primeiro comércio da localidade. Posteriormente, a região passou a desenvolver também plantações de subsistência.

Para Laís de Barros Guimarães,39 o povoado paulistano que se formou em torno do Colégio de São Paulo, em 1554, se expandiu em direção à confluência dos rios Anhagabaú e Tamanduateí, em princípio conhecida apenas como o caminho do Guaré ou Guarepe – que em língua tupi significava coisa que foi e já não é mais –, caminho este que indicava as ocupações dos índios de língua tupi. De acordo com a pesquisa feita por Laís Guimarães, a Capela da Luz teria sido construída pelos franciscanos que chegaram em São Vicente em 1583, e que julgaram o local como dotado de uma natureza de santos encantos. Com isto, o local foi aos poucos sendo conhecido também como uma área de retiro dos religiosos, que residiam solitariamente como ermitões, a exemplo de Manuel de Atouguia e Antônio João.40 A capela teria sido deixada ao abandono durante o século XVII, sendo recuperada

39 GUIMARÃES, Laís de Barros Monteiro. Luz: história dos bairros de São Paulo. São Paulo: Prefeitura

Municipal de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura, Departamento do Patrimônio Histórico, Divisão do Arquivo Histórico, [1929?].

com os cuidados do primeiro Recolhimento para Mulheres, construído na cidade de São Paulo, conforme os anseios da irmã Helena, e inspirado na observância de Nossa Senhora do Carmo e Divina Providência. Era no Recolhimento da Luz que se organizava a festa de Nossa Senhora dos Prazeres, que se tornou grande tradição no local, e que fazia parte dos cultos da Irmandade da Nobreza.

Para Percival Tirapelli, o Morgado de Mateus foi o restaurador do catolicismo na Província de São Paulo, usando como orago Nossa Senhora dos Prazeres.41 O convento funcionou sob concessão do capitão-general Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, e também conforme a permissão do cônego e governador do bispado Antônio de Toledo Lara. O Recolhimento fora inaugurado em fevereiro de 1774, e fechado seis meses depois, para ser reinaugurado em 1798. Foi o franciscano frei Antônio de Santana Galvão o responsável pela reabertura do estabelecimento, e a Câmara Municpal que garantiu a concessão para que o convento continuasse funcionando. Em 1802, terminou a reforma da igreja.

Uma vez construído o convento, as deliberações do reino para a expansão e organização da Vila, e o desenvolvimento do povoado acabou se efetivando em torno do terreno que o delimitava; com isto, os avanços do povoado daquela localidade fizeram do Recolhimento alvo de constantes discussões na Câmara. A lei dos cemitérios, instaurada na Província pela primeira vez em 1828, proibiu a presença dos cemitérios nos recintos das igrejas, e desencadeou a lei de 1836, que determinou que o terreno mais apropriado para a construção do cemitério era o terreno do Recolhimento. O cemitério que existia nas dependências do convento acabou sendo dividido em duas alas: uma reservada aos

41 TIRAPELLI, Percival (Org.). Arte Sacra Colonial: Barroco memória viva. São Paulo: Editora UNESP;

católicos, outra aos estrangeiros não católicos. O local acabou sendo conhecido como cemitério dos protestantes, o que indica que o bairro era habitado também por protestantes, mais um fator que enfatizava a necessidade de outros estabelecimentos que fortalecessem o culto católico naquela localidade.

No âmbito econômico, no final do século XVIII, próximo ao Convento da Luz era realizada a “Feira de Pilatos”, que proporcionava a circulação de mercadorias que vinham do Rio de Janeiro para outras localidades da Província de São Paulo, assim como garantia a saída das mercadorias que eram produzidas no interior. A feira se realizava uma vez por ano, na semana de Corpus Christi, fundindo comércio e religiosidade popular, o que incomodava as autoridades eclesiásticas que mantinham o culto oficial do catolicismo conforme definido pela Corte desde a época Colonial. O acontecimento era uma grande festa, que atraía pelos alaridos e pelas músicas que esvaziavam as igrejas; como se tratava de uma feira popular, que não passava pelo controle das autoridades competentes, acabou sendo dissipada pela implantação das milícias no local. A instalação do Quartel do Corpo de Artilharia dos Voluntários Reais no bairro ocorreu em 183142, posteriormente transformado no Quartel da Força Pública e no Hospital Militar.43 A instalação do quartel

42 Cf: ANDRADE, Euclides. A força pública de São Paulo: esboço histórico (1831-1931). São Paulo:

Sociedade Impressora Paulista, 1931.; Cf: TOBIAS, José Antônio. História da educação brasileira. São Paulo: Ibrasa, 1986. p. 122-123. De acordo com o autor, os recintos militares no Brasil, desde o período joanino e durante todo o império, se configuravam como escola superior. Cf: MORAES, Waldir Rodrigues.

Milícia Paulista – História da Polícia Militar Paulista. São Paulo, 2003. Monografia, Academia Militar de São Paulo.

43 De acordo com documento encontrado no Museu da Polícia Militar do Estado de São Paulo: “Mediante a

abdicação do dom Pedro I foi decretado lei que autorizava o governo a criar, na capital e nas Províncias, um corpo de ‘Guardas Municipais’, voluntários a pé e a cavalo incumbido de manter a tranqüilidade pública e auxiliar a justiça. Ato promulgado em 10 de outubro de 1831, em 22 de outubro, o governo do Estado de São Paulo, Rafael Tobias de Aguiar, decreta a criação do regimento (...) A mobilidade própria da arma [cavalaria] é o policiamento dos lugares afastados da capital, dado a mobilidade própria da arma.” (ZANATTA, Ennio.

Histórico do Regimento da Polícia de Montaria “9 de julho”. São Paulo, Abril de 1980. Cap. PM oficial de Relações Públicas do Regimento da Polícia Militar, p. 2.).

teve dentre o propósito de conter a economia ilícita que não atendia ao interesse da corte.44

Na década de 1850, a Cadeia Pública foi construída ao lado do Recolhimento.45 O bairro da Luz contou também com o primeiro jardim público da cidade de São Paulo, voltado para o lazer era sinônimo do avanço material e social da localidade. Os elementos arquitetônicos foram aos poucos representando o poder socioeconômico ligado ao comércio.

Desta forma, a Luz deve ser entendida como um centro do desenvolvimento econômico e social da cidade, onde a Corte representou a sua força monárquica. No bairro, os principais símbolos da monarquia foram literalmente dispostos lado a lado, formando um complexo arquitetônico que reunia os estabelecimentos dos clérigos e dos militares, e que compunham os grupos que defendiam a moral e a ordem instituída politicamente. Todas estas construções se formaram em torno do Recolhimento das Irmãs.46

A construção do Seminário no bairro da Luz devia colaborar para a prática do catolicismo motivado pela Corte, um catolicismo que trabalhasse em prol dos interesses políticos instituídos. Além de significar um elemento de moralização, a instalação do Seminário naquela localidade também seria estratégica para o seu desenvolvimento, considerando as relações de comércio da Luz que atraíam fazendeiros das diferentes localidades da Província e até de outras províncias. A presença da instituição educativa no

44 Cf: JORGE, Clóvis de Athayde. Luz: notícias e reflexões. São Paulo: Departamento do Patrimônio

Histórico, 1988. p. 82. Ao que consta, também fazia parte do comércio da localidade a venda de armas e munições. A instalação das forças públicas seria uma forma de garantir o controle também desta atividade comercial, até mesmo beneficiando os militares.

45 De acordo com o artigo localizado no periódico O Correio Paulistano, publicado em 1854, houve

controvérsias entre a população civil quanto à instalação de uma cadeia na cidade. O artigo coloca a imprensa ao lado da administração pública: “A autoridade que faz timbre em promover a boa administração pública; em todos os seus ramos, não pode recusar o reclamo da imprensa, que de contato com o povo conhece suas necessidades e as faz sentir.” O artigo discute o local reservado para instalação da cadeia pública, que retiraria a dignidade do cidadão preso (UM reclamo a S. Ex. O Correio Paulistano. São Paulo, ano 1, n. 04, p. 2, sexta-feira, 30 jun. 1854.

46 É importante salientar que estas construções arquitetônicas dos militares e dos clérigos estavam formatadas

ao modelo das instituições totais. Tratavam-se de construções que mantinham aspectos fortificados, que separavam o grupo interno da população externa por altas paredes, de forma a envolver os internos em suas atividades. Cada grupo interno, entretanto, permanecia com uma disciplina específica à sua finalidade.

trajeto comercial dos fazendeiros e comerciantes poderia atraí-los no que tange à educação dos seus filhos, considerando-se que a educação apresentava-se cada vez mais eficaz às garantias de atuação política, simbolizando para os pais a posição privilegiada do filho na sociedade em expansão.47

A instalação da Estação Ferroviária no bairro prova que o local continuou sendo um ponto de extrema relevância comercial. As primeiras cogitações para estabelecer o transporte ferroviário na Província vieram do padre Diogo Feijó, quando na categoria de príncipe regente. Contudo, o projeto foi inviabilizado pelos custos necessários.

“Frutificara, porém, a idéia e, em 1855, o governo imperial concederia ao marquês de Monte Alegre, José da Costa Carvalho; ao marquês de São Vicente, José Antônio Pimenta Bueno, e ao Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, o privilégio para a construção e exploração da estrada de Santos a São João do Rio Claro. Somente na gestão do presidente provincial Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos, o decreto n. 1759, de 26 de abril de 1856, autorizaria a incorporação da Companhia, com a cessão dos direitos a São Paulo Railway, construída em Londres para a ligação Santos a Jundiaí.”48

O alvará para a construção da estação ferroviária foi concedido no mesmo ano em que o Seminário fora inaugurado, em 1856. O Seminário estava localizado em frente à área onde fora construída a Estação da Luz, comprovando mais uma vez o desenvolvimento do bairro em torno da intensificação das práticas econômicas e a progressiva necessidade de

47 Cf: TIRAPELLI, Percival (Org.). Arte Sacra Colonial. São Paulo: Editora UNESP; Imprensa Oficial, 2001.

p. 14. De acordo com o autor, “... as ordens religiosas em geral foram proibidas de se instalarem em Minas Gerais e ao longo dos seus caminhos, como os do Vale do Paraíba, evitando que tomassem posse das minas de ouro. Assim os carmelitas fundaram seu convento em Mogi das Cruzes, já na boca do Vale. A única exceção foram os franciscanos, os quais, após intensas solicitações da população local ao rei, fizeram raízes em Taubaté, fundando o convento de Santa Clara. Os povoados do Vale do Paraíba não tiveram função de evangelização, mas sim de posse e demarcação de terras, pousos e passagens, ligando os pequenos arraiais as pequenas fazendas. Deste modo os donatários daquelas sesmarias puderam fazer doações de glebas de terras para fundarem depois os vilarejos que, depois, se tornariam patrimônios religiosos ou laicos...”. Com isto, a construção do Seminário em local visível e a mobilização das paróquias dos vilarejos e das vilas pelo bispo teriam despertado o interesse dos fazendeiros e comerciantes que até então não dispunham muito na Província da presença de ordens religiosas que se dedicassem à educação.

48 JORGE, Clóvis de Athayde. Luz: notícias e reflexões. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico,

aplicação de controles públicos quanto às práticas que denotavam o desenvolvimento social e material.49

Usando as palavras de Laís Guimarães:

“A região entrou em surto de desenvolvimento na medida em que o Jardim ganhou significação social e a partir da projeção comercial da mesma. A partir da ferrovia “São Paulo Railway”, a transformação da Capela da Luz em templo de recolhimento para Senhoras e a instalação do Seminário constituíram motivações de progresso.”50

Ainda no final do século XIX, o bairro se destacaria como um grande centro com função cultural, que acompanhava igualmente seu desenvolvimento econômico:

“Sob este aspecto destacam-se os seguintes centros: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Instituto de Pesquisa Tecnológicas, Faculdades de Farmácia e de Odontologia da Universidade de São Paulo, Destacaríamos ainda o prédio que permaneceu ao Liceu de Artes e Ofícios, onde hoje está instalada a Pinacoteca do Estado de São Paulo e a Faculdade de Belas Artes (...) O museu de Arte Sacra de São Paulo, de destaque internacional.”51

Durante o século XIX, a Luz teria sido considerada o coração da cidade de São Paulo, o que justifica o envolvimento das instâncias políticas monárquicas na construção do Seminário e em sua posterior manutenção, como consta, por exemplo, nos anais da Assembléia Legislativa Provincial. Augustin Wernet constatou que em 1851, já antes da entrada solene de dom Antônio na capital, a Assembléia Legislativa Provincial concedeu a quantia de 4:000$000 por ano para auxiliar na construção do Seminário.52 Em princípio, o

49Cf: Idem, p. 86-87. Inaugurada em 1865, a estação ferroviária registrou um desastre causado pelo

desligamento dos trilhos no dia de sua inauguração. O acidente, considerado falha técnica do engenheiro responsável, provocou a mobilização dos capuchinhos do Seminário para o socorro das vítimas no local. Os trabalhos de construção da ferrovia prosseguiram e, em 1867, a linha Santos-Jundiaí contava com uma extensão de 139 quilômetros. Em 1881, a Companhia Paulista, ao estender seus trilhos para as regiões cafeeiras da Província, atingiria a cidade de Descalvado, com um percurso de 280 quilômetros.

50 GUIMARÃES, Laís de Barros Monteiro. Luz: história dos bairros de São Paulo. São Paulo: Prefeitura

Municipal de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura, Departamento do Patrimônio Histórico, Divisão do Arquivo Histórico. [1929?]. p. 39.

51 Idem, p. 44.

52 WERNET, Augustin. A Igreja Paulista no século XIX: a reforma de D. Antônio Joaquim de Melo (1851-

auxílio fora concedido com a condição da inspeção do mesmo por parte do Governo Provincial. O bispo aceitou a contribuição, mas negou o direito à inspeção, gerando controvérsias entre as esferas de poder. Por fim, foi garantida a isenção da fiscalização do Governo Imperial, como quisera o bispo, o que demonstra mais uma vez que a Corte brasileira confiava na educação que estava sendo proposta pelos capuchinhos franceses junto ao bispo paulista. A concessão de auxílio imperial para o desenvolvimento do recinto se manteve até a morte de dom Antônio, em 1861.53

De acordo com a Poliantéia,54 o bispo contratou em Itu um empreiteiro de taipas, pois ainda não havia em São Paulo o uso de tijolos senão para ladrilhos. De Piracicaba, dom Antônio mandou trazer o renomado mestre de carpintaria Benedito Morato; e comprou uma fazenda na Serra da Cantareira, entregue ao seu amigo e discípulo Antônio Teixeira de Barros, que para lá se mudou com sua família. A fazenda que possuía muitos recursos naturais, como mata e água de superior qualidade, seria a responsável pela oferta de matéria-prima para a construção do estabelecimento como, por exemplo, a madeira. A criação do gado e outros animais de corte serviria para sustentar os internos, professores e funcionários. Posteriormente, a fazenda também foi utilizada como local de retiro de férias dos alunos,55 com isto, os internos não teriam contato com o mundo externo nem mesmo durante as férias. O objetivo era reduzir o tempo de permanência dos alunos junto aos familiares, que se apresentavam como um universo oposto àquele que estava sendo vivenciado: o Seminário como representação do sagrado e o mundo externo, onde se encontrava a família, como a representação do profano. Assim, os reitores diminuíam as

53 Anais da Assembléia Legislativa Provincial (9ª. Legislatura, 1852-1853) p. 709ss: lei n. 14, de 19-7-1852.

(11ª. Legislatura, 1856-1858), p. 239ss. Discurso do vice-presidente da província Dr. Antônio Roberto de Almeida, do dia 15 de fevereiro de 1856.

54 POLIANTÉIA comemorativa do 1º. Quinquagenário da Fundação do Seminário Episcopal de S. Paulo.

(1856-1906), p. 126-138.

possíveis tensões ou crises que o aluno viesse desenvolver, transitando entre os dois “mundos”.