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Em pesquisa de campo (2008), foi possível observar que a região da Praia Brava possui uma boa infra-estrutura voltada ao turismo, podendo ser encontrados alguns hotéis com características de pequeno porte e administração familiar, pousadas e motéis. Ressalta-se que os visitantes podem hospedar-se em Balneário Camboriú, que possui a maior rede hoteleira do Sul do país (BLEHM, 2002 apud SANTOS JUNIOR, 2006).

Também foi possível verificar a existência de estabelecimentos comerciais (bares, restaurantes, floricultura, mercados, lojas, farmácias, sorveterias, material de construção, revenda de automóveis, panificadoras, etc.), sendo as casas de festas “Warung”, “Kiwi Bar” e “Santidade” atualmente os principais atrativos entre o público jovem. Além disso, sedes recreativas, haras, postos de combustível, indústria, entre outros.

FIGURA 14 - Rodovia Osvaldo Reis Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Além dos elementos voltados ao turismo, outros aspectos de infra-estrutura são necessários ao desenvolvimento da localidade, e correspondem às redes de transporte, sistema viário, redes de energia elétrica, saneamento básico (fornecimento de água, coleta de lixo e esgoto), segurança e saúde. Nesse aspecto, verifica-se a persistência de alguns impactos ambientais mencionados anteriormente.

O principal acesso á Praia Brava é feito pela Rodovia Osvaldo Reis e para se chegar à orla os principais caminhos continuam sendo a Av. Luci Canziani e A. Carlos Drumonnd de Andrade. Além desses, existem os acessos secundários, a partir de Balneário Camboriú, como é o caso da Estrada da Rainha através da qual se alcança o loteamento Praia dos Amores (acesso Sul) e a partir de cabeçudas (Itajaí), pela Rua José Menescau do Monte, que dá acesso à porção norte, conhecido como Canto do Morcego.

O transporte urbano é realizado pela empresa de transporte coletivo Itajaí e pela Expressul, empresa de transporte coletivo de Balneário Camboriú; além da disponibilidade de serviço de taxi.

Quanto à segurança é realizada pelos policiais do Primeiro Batalhão da Polícia Militar, pelo Corpo de Bombeiros, e por policiais das delegacias de Polícia Civil, localizadas no centro da cidade de Itajaí. Ressalta-se que na localidade existe uma delegacia especializada em investigações criminais que atende os municípios da micro-região da ANFRI. Postos salva-vidas distribuídos ao longo da orla marítima fazem a segurança dos banhistas durante os meses do verão, sendo desativados nos demais meses do ano.

Em termos de saúde pública, o bairro possui postos municipais, sendo que um deles funciona como uma policlínica básica. Além disso, a localidade possui um hospital maternidade particular, localizado na Rua Suécia, numa área contígua ao bairro Praia Brava, e também um hospital especializado em problemas renais.

No que diz respeito ao saneamento básico, os serviços de abastecimento de água potável na praia são efetuados pelo Serviço Municipal de Água e Saneamento Básico e Infra-Estrutura - Itajaí (SEMASA), que atende a maior parte da localidade, e pela Empresa Municipal de Água e Saneamento - Balneário Camboriú (EMASA), responsável pelo abastecimento de água na porção sul - loteamento Praia dos Amores. Quanto ao tratamento de esgotos, ainda hoje a comunidade não possui esse

tipo de serviço instalado, sendo que o tratamento é realizado de forma tradicional através de sistema fossa-filtro. Diante da ausência de rede de esgoto, a disposição clandestina de esgoto “in natura” nos ribeirões existentes no bairro continua sendo uma realidade, poluindo-os e direcionando estes efluentes para a Lagoa do Cassino e para o Mar. Os relatórios de balneabilidade indicam esta problemática. Estão divulgados 48 boletins realizados durante o ano de 2007, onde foram padronizados dois pontos de coleta na praia Brava, um à direita do posto salva-vidas e outro em frente à saída da Lagoa do Cassino, sendo que este último foi considerado impróprio para banho em 17 dos 48 boletins (FATMA, 2007).

FIGURA 15 - Despejo e efluentes domésticos no Ribeirão Ariribá Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

O gerenciamento de resíduos sólidos (lixo) do bairro Praia Brava é um serviço terceirizado pela Prefeitura Municipal de Itajaí, efetuado pela empresa Engepasa Ambiental Ltda. O serviço prestado consiste no recolhimento e transporte dos resíduos sólidos urbanos produzidos em residências, condomínios, instituições públicas, estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços. Após a coleta, todo o montante é encaminhado para o Aterro Sanitário de Itajaí, situado na Estrada Geral

da Canhanduba, a 3 km da Rodovia Federal BR-101, inaugurado no ano de 2006, conforme notícia abaixo, divulgada pela Prefeitura.

“Itajaí implanta um local adequado para o recebimento e a disposição final dos resíduos sólidos domésticos, construído de acordo com as melhores técnicas de engenharia sanitária e ambiental.

Antes da década de 90, o local no bairro Canhanduba era usado apenas como lixão. Em 1991 foram feitas melhorias, serviços de terraplanagem, drenagem do lixo e foi espalhada uma camada de argila na área utilizada. Em seguida foi iniciada a operação do aterro controlado, usado atualmente, onde não é utilizado impermeabilização de base, alta tecnologia e tratamento de líquidos. O atual aterro será encerrado com uma cobertura final com camada de solo mais espessa e serão instaladas calhas de drenagem pluvial para serem drenadas junto com o chorume produzido pelo novo aterro, que fica localizado ao lado do aterro em uso. O chorume é o líquido proveniente da decomposição da matéria orgânica presente na massa de resíduos sólidos, sob a ação da água que se precipitam sobre a mesma.

O bairro Canhanduba foi escolhido após a elaboração do Eia-Rima (Estudo de impacto Ambiental e Relatório de impacto ambiental) que identificou o local como o mais apropriado, devido a fatores como o tipo de utilização do solo prevista no zoneamento municipal para a região e critérios técnicos de engenharia.” (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAJAÍ, 2006).

Segundo Santos Junior (2006), embora possuindo licenças ambientais previstas em lei, ainda assim, ocorrem problemas de poluição em alguns pontos de captação de água para abastecimento da população do município de Itajaí.

FIGURA 16 - Instalações do Aterro Sanitário da Canhanduda em Itajaí Fonte: Prefeitura Municipal de Itajaí, 2006.

O fornecimento de energia elétrica é realizado pela Celesc Distribuição S.A., através de uma subestação de energia localizada no próprio bairro Praia Brava, que atende as necessidades da população através de redes de alta e baixa tensão. Ressalta-se que a porção norte da orla da Praia Brava não possui nenhum destes serviços de infra-estrutura instalados.

De acordo com Santos Junior (2006), o bairro Praia Brava registrou em 2004 um crescimento populacional de 8,73% dentro de um período de quatro anos, sendo superior ao do próprio município, que obteve um aumento de 2,39%. Segundo o autor, 32% destes novos moradores são oriundos de Itajaí, 25% de Balneário Camboriú, 20% são de outros Estados, 14% de cidades da região, e 9% são de outras cidades de Santa Catarina. Este aumento populacional pode ser explicado em parte pela duplicação da Rodovia Osvaldo Reis e a reurbanização da Estrada da Rainha, principais vias de ligação entre Itajaí e Balneário Camboriú.

Cabe ressaltar ainda que o aumento neste contingente de pessoas que chegam à Praia Brava deve-se, principalmente à implantação de novos eixos viários e à instalação de residências e estabelecimentos comerciais que apesar de gerar um incremento econômica na localidade, é uma ameaça à preservação da natureza e agravo os problemas antes existentes, sendo que grande parte deles estão sendo amenizados pelas ações integrantes do Plano de Restauração Ambiental e Ordenamento da Orla da Praia Brava.

A pesquisa de campo permitiu-nos observar os resultados já alcançados pelo Plano, sendo que ocorreram mudanças significativas ao longo da orla marítima. No momento, está prevista a construção de uma praça pública contendo equipamentos de lazer para o desenvolvimento de atividades esportivas e infantis, conforme notícia divulgada pela Prefeitura. Serão iniciadas também as obras de pavimentação e drenagem da Av. José Medeiros Vieira (beira-mar).

“(...) A Prefeitura de Itajaí promove o lazer através da construção de praças na cidade. Nesta segunda-feira, 28, o Prefeito Volnei José Morastoni e o secretário de Obras e Serviços Municipais, engº Jean Pierre Lana, assinam a Ordem de Serviço para a Construção de Praça na Rua Bráulio Werner, no bairro Praia Brava. “Esses espaços públicos são construídos para garantir um local seguro e atrativo para o entretenimento da população do bairro”, destaca o prefeito.

(...) A execução compreende a construção de uma mini-cancha de bocha; instalação de um novo sistema de drenagem; bancos em concreto,

de ginásticas. Também será colocado um parque infantil e um brinquedo gira-gira com oito lugares”, completa o secretário, Jean Lana.

A praça contará, ainda, com piso podotátil, tipo guia e alerta, para deficientes visuais e rampas de acesso. No total serão investidos R$ 200 mil para a execução do espaço público. “A construção e revitalização de praças e áreas de lazer em Itajaí, visando proporcionar mais qualidade de vida aos moradores, é uma das principais metas da administração municipal”, afirma...” (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAJAÍ, 2008). QUADRO 10 - Situação atual da orla da Praia Brava

Apesar destas significativas melhorias proporcionadas por estas obras na orla da Paia Brava, resolvendo um dos problemas mais graves de ocupação irregular de áreas de APP (vegetação fixadora de dunas), verifica-se também a existência de outros problemas de mesmo tipo constantes no Código Florestal - Lei Federal nº 4.771/1965, não menos importantes, porém com maior dificuldade de solução. Trata- se das ocupações de margens de cursos d’água e de áreas de marinha.

Seguindo a determinação constante no parágrafo 1º da Instrução Normativa nº 02/2001 da SPU, o critério a ser utilizado para determinação da linha de preamar na localidade da Praia Brava foi encaminhado pela SPU à Prefeitura de Itajaí através de documento encaminhado no ano de 1993 (Anexo XX), ficando estabelecido como critério o início da vegetação existente, como sendo o início da faixa de marinha.

Com isso, as residências já construídas nos lotes de frente ao mar não foram entendidas como irregulares devido o início da restinga estar a mais de 33 m por causa da degradação ora provocada pelos fatores citados anteriormente, entre eles, o aterro da avenida sobre esta vegetação.

Outro fator que acabou contribuindo para a permissividade destas construções foi o conflito de competências entre os entes federativos, além do controle por parte da Prefeitura, que deve verificar se a ocupação e o uso estão de acordo com o Plano Diretor de Itajaí.

“Ao contrário do que foi publicado em matéria na imprensa local, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) não é o responsável pelo licenciamento da área da Marinha na Praia Brava. De acordo com o gerente administrativo da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Itajaí, (Famai), Luiz Fernando Inácio, o gerente executivo do Ibama em Santa Catarina, Luiz Ernesto Trein, e o vice-presidente, Luiz Fernando Merico, esclareceram que o Instituto não licencia a área da Marinha. O caráter normativo, determinado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, delega o licenciamento para órgãos estaduais. Em Santa Catarina, a responsável seria a Fundação do Meio Ambiente (Fatma).” (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAJAÍ, 2004)

Através de visita em campo, podemos observar que a restauração da vegetação fixadora de dunas diminuiu a largura da Av. José Medeiros Vieira (beira- mar), fazendo com que grande parte das construções existentes nos lotes de frente esteja agora a menos de 33 m do início dessa restinga, ou seja, em áreas de marinha (Anexo XX). Ressalta-se que são estabelecimentos e residências hoje consolidadas, de grandes proprietários e moradores mais antigos, onde se torna difícil a simples

continuam sendo construídos. Residências a menos de 30 m das margens dos ribeirões também fazem parte da problemática atual das ocupações irregulares.

QUADRO 11 - Ocupações de margens e Terrenos de Marinha

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

A crescente urbanização verificada nas últimas décadas na localidade da Praia Brava deu lugar à especulação imobiliária, provocando segregações espaciais e transformações econômico-sociais e ambientais.

Santos (1994, p. 96 apud Santos Junior) frisa que a especulação imobiliária:

“...deriva, em última análise, da conjugação entre dois movimentos convergentes: a superposição de um sítio social ao sítio natural, e a disputa entre atividades e pessoas por dada localização. (...) Criam-se sítios sociais, uma vez que o funcionamento da sociedade urbana transforma seletivamente os lugares, afeiçoando-se às suas exigências fundamentais. É assim que certos pontos se tornam mais acessíveis, certas artérias mais atrativas e, também uns e outros, mais valorizados. Por isso são atividades mais dinâmicas que se instalam nessas áreas, principalmente quanto aos lugares de residência, a lógica é a mesma com as pessoas de cânones de cada época, o que também inclui a moda. É desse modo que as diversas parcelas da cidade ganham ou perdem valor ao longo do tempo (...)”.

Neste sentido, muitas áreas vêm sendo alvo de empreendedores para implantação de condomínios de luxo. Mesmo o Canto do Morcego que, como visto anteriormente, trata-se da parte mais preservada da Praia Brava, já foi gravemente ameaçado de receber grandes empreendimentos imobiliários, mesmo sem ter a mínima condição de infra-estrutura.

“O canto do Morcego está ameaçado de se transformar num complexo turístico/habitacional denominado Canto da Brava. No local, empreendedores querem erguer um condomínio com prédios de até oito andares. O pedido de licença ambiental foi protocolado no mês de maio.” (PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SANTA CATARINA, 2005).

Não apenas ao longo da orla, a ocupação de novas áreas, como na porção oeste, ao longo da Rodovia Osvaldo Reis, vem provocando impactos ambientais que podem comprometer os atributos turísticos locais, degradando progressivamente a qualidade de vida de moradores e visitantes, a exemplo do desmatamento de encostas e aterros para implantação de condomínios e outras finalidades. Contribuindo neste aspecto, também está a abertura de novos sistemas viários, como a Estrada da Rainha, representados pelo corte da vegetação de Mata Atlântica em áreas de preservação e conseqüente descaracterização do aspecto naturas das encostas.

Além disso, os desmatamentos ocorridos na Praia Brava têm sido motivo de preocupação no que diz respeito aos chamados corredores ecológicos. Segundo o SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - Lei Federal nº 9.985/2001, corredores ecológicos são definidos como “porções de ecossistemas naturais ou semi-naturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais”.

A manutenção de corredores ecológicos é hoje uma das principais bandeiras de luta dos movimentos ambientalistas de Itajaí. Esta máxima está inserida no “Manifesto Ambientalista”, trabalho áudio-visual da ASPI - Associação de Surf Praias de Itajaí, elaborado no ano de 2007 com a colaboração de importantes atores sociais, inclusive profissionais da área ambiental da UNIVALI.

QUADRO 12 - Desmatamentos ao longo das principais vias de acesso

Fonte: Pesquisa de campo, 2008 e Santos, 2007.

Os problemas causados pela falta de gestão e o conseqüente crescimento desordenado na Praia Brava vão além dos aspectos ambientais. Ressalta-se neste caso impacto visual gerado pelo contraste entre os padrões de moradia estabelecidos nas localidades próximas ao mar e em localidades mais afastadas. Isto pode ser verificado pela pequena favelização que já se inicia às margens da na Av. Luci Canziani, um dos principais acessos à Praia Brava.

FIGURA 17 - Favelização na Avenida Luci Canziani Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

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