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Caracterização dos impactos causados pela ocupação de áreas costeiras: a Praia Brava como estudo de caso - Itajaí/SC

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Universidade Federal de Santa Catarina

Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental

CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

CAUSADOS PELA OCUPAÇÃO DE REGIÕES COSTEIRAS: A

PRAIA BRAVA COMO ESTUDO DE CASO - ITAJAÍ/SC

Israel Mendes

FLORIANÓPOLIS, (SC)

JULHO/2008

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Universidade Federal de Santa Catarina

Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental

CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

CAUSADOS PELA OCUPAÇÃO DE REGIÕES COSTEIRAS: A

PRAIA BRAVA COMO ESTUDO DE CASO - ITAJAÍ/SC

Israel Mendes

Trabalho apresentado à Universidade Federal de Santa Catarina para Conclusão do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental

Orientador

Prof.ª Dr.ª Cátia Regina Silva de Carvalho

FLORIANÓPOLIS, (SC) JULHO/2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA OCUPAÇÃO DE REGIÕES COSTEIRAS: A PRAIA BRAVA COMO

ESTUDO DE CASO - ITAJAÍ/SC

ISRAEL MENDES

Trabalho submetido à Banca Examinadora como parte dos requisitos

para Conclusão do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e

Ambiental-TCC II

BANCA EXAMINADORA :

FLORIANÓPOLIS, (SC)

JULHO/2008

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as pessoas que lutam pela sustentabilidade do desenvolvimento em prol da conservação dos recursos naturais.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter-me dado forças para não desistir e por acalentar-me nos momentos de solidão e angústia;

Aos meus pais, Sr. Orlando e Sr.

ª

Maura, bem como minha namorada Talita, que sempre estiveram torcendo por mim;

E a todas as pessoas que contribuíram de uma forma ou de outra, com dados e informações para o desenvolvimento desse trabalho:

Colegas da Celesc: Sra. Nara, que me incentivou na abordagem do tema, e os Srs. Ribas, Jameci e Maurílio, que contribuíram no contato com pessoas de setores públicos do nosso interesse;

Caio (V-Ambiental); Davi, Márcia e Tuto (SPDU); Sr. Nelson (Câmara de Vereadores de Itajaí); e Conrado (FAMAI).

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RESUMO

A Praia Brava, localizada no município de Itajaí, é um retrato do aumento populacional ocorrido no litoral de Santa Catarina. Seus atributos naturais, a qualidade de vida, e sua localização entre dois municípios urbanizados são fatores que contribuíram para o seu crescimento populacional nas últimas décadas, sendo entendida como um campo fértil para a especulação imobiliária. Mesmo contendo uma variedade de ambientes considerados de preservação permanente, grande parte do território foi definido como zona residencial. Neste contexto, o presente trabalho abordou as políticas públicas de gestão territorial, ressaltando a Lei de Zoneamento e o Plano Diretor; com o objetivo de realizar um diagnóstico dos conflitos ocorridos, em especial de uso e ocupação do solo, com base na legislação pertinente, bem com um prognóstico sobre os conflitos da política de verticalização adotada atualmente. Os resultados apontaram que a desvalorização do local em um primeiro momento, o descaso da administração municipal e a conseqüente falta de fiscalização, conferiram ao local um quadro de degradação e conflitos ambientais, principalmente ao longo da orla. Apesar da realização de obras de melhoria, verificou-se ainda nos dias atuais a permanência de alguns conflitos de ocupação e o surgimento de outros não menos importantes a serem tratados com a mesma responsabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Políticas Públicas. Zoneamento. Conflitos Ambientais. Uso e Ocupação do Solo. Áreas de Preservação Permanente.

ABSTRACT

Brava Beach, located in Itajaí, is a portrayal of the population growth on the coast of Santa Catarina. Its natural characteristics, the quality of life and its location between two built-up municipalities are factors that contributed to its population growth in the last years, being understood like a fertile field to the real estate business. Even having a variety of environments considered as permanent preservation, a large part of the territory was designated as a residential zone. In this context, the present work approached the public politics of territorial management, emphasizing the Zoning Law and Director Plan, with the intent to realize a diagnostic of past disputes, especially the occupational use of land, based on relative laws, as well as a prognostic about the disputes of high built politics adopted recently. The results show that the devaluation of the place in the first moments, the carelessness of municipal administration and the consequent lack of examination causing a decayed situation and environmental disputes, mainly along the oceanfront. Despite the achievement of improvements, it’s still been verified today the existence of some occupational disputes and the appearance of others not less important which must be discussed with the same responsibility.

KEY WORDS: Public Politics. Zoning. Environmental Disputes. The Occupational Use of Land. Permanent Preservation Area.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Fases de desenvolvimento de um balneário ... 18

FIGURA 2 - Localização da área de estudo ... 33

FIGURA 3 - Vista aérea da Praia Brava em 1979 ... 35

FIGURA 4 - Zoneamento da Praia Brava Lei nº 2.543/1989 ... 41

FIGURA 5 - Processo de construção do Plano Diretor ... 46

FIGURA 6 - Processo de formulação da Leitura da Cidade... 47

FIGURA 7 - Canais participativos ... 49

FIGURA 8 - Percentual das demandas da Praia Brava ... 50

FIGURA 9 - Análise do setor praiano pelo Núcleo Gestor ... 57

FIGURA 10 - Proposta de macrozoneamento para a Praia Brava ... 61

FIGURA 11 - Parâmetros de uso e ocupação Lei nº 126/2007 ... 64

FIGURA 12 - Limites da área de abrangência da verticalização ... 65

FIGURA 13 - Supressão da restinga ao longo da orla da Praia Brava ... 68

FIGURA 14 - Rodovia Osvaldo Reis ... 78

FIGURA 15 - Despejo e efluentes domésticos no Ribeirão Ariribá ... 80

FIGURA 16 - Instalações do Aterro Sanitário da Canhanduda em Itajaí ... 81

FIGURA 17 - Favelização na Avenida Luci Canziani ... 88

FIGURA 18 - Vista da parte norte da praia de Balneário Camboriú ... 94

FIGURA 19 - Imóvel prejudicado pela falta de radiação solar em Itapema ... 95

FIGURA 20 - Inexistência de passeio devido ao avanço de edifício em Itapema ... 95

QUADRO 1 - Estágios de desenvolvimento e tipologia das praias ... 17

QUADRO 2 - Crescimento da urbanização na Praia Brava ... 38

QUADRO 3 - Reuniões do Núcleo Técnico e Núcleo Gestor ... 60

QUADRO 4 - Erosão devido à destruição da vegetação fixadora de dunas ... 68

QUADRO 5 - Estaqueamentos realizados no ano 1999 e 2000 ... 70

QUADRO 6 - Conflitos de uso e ocupação do solo ... 72

QUADRO 7 - Ações de recuperação e ordenamento da orla da Praia Brava ... 73

QUADRO 8 - Conflitos por falta de infra-estrutura ... 75

QUADRO 9 - Conflitos gerados pela realização de grandes eventos noturnos ... 77

QUADRO 10 - Situação atual da orla da Praia Brava ... 83

QUADRO 11 - Ocupações de margens e Terrenos de Marinha ... 85

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LISTA DE SIGLAS

APP - Área de Preservação Permanente

CASAN - Companhia Catarinense de Águas e Saneamento CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente

EIA - Estudo de Impacto Ambiental EIV - Estudo de Impacto de Vizinhança ETA - Estação de Tratamento de Água FATMA - Fundação do Meio Ambiente

FAMAI - Fundação do Meio Ambiente de Itajaí FURB - Universidade Regional de Blumenau

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

LPM - Linha de Preamar Médio

ONU - Organização das Nações Unidas

PNGC - Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro RIMA - Relatório de Impacto Ambiental

SPDU - Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano SPU - Secretaria do Patrimônio da União

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

WECD - World Comission on Environment and Development ZA - Zona Administrativa

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SUMÁRIO RESUMO ... 5 ABSTRACT ... 5 1 INTRODUÇÃO ... 8 1.1HIPÓTESE ... 10 1.2PERGUNTASDAPESQUISA ... 10 1.3OBJETIVOS ... 11 1.3.1 Objetivo Geral ... 11 1.3.2 Objetivos Específicos ... 11 1.4JUSTIFICATIVADOTEMA ... 12 2 PROCEDIMENTOS DO MÉTODO ... 13 3 REFERENCIAL TEÓRICO ... 14

3.1O DESENVOLVIMENTO URBANO E SUA SUSTENTABILIDADE ... 14

3.2AZONACOSTEIRAEOPOTENCIALTURÍSTICO ... 16

3.3OSAGENTESDOESPAÇOURBANO ... 19

3.4PLANOSDIRETORESURBANOS ... 20

3.7POLÍTICASPÚBLICASAMBIENTAISEOPROCESSODEGESTÃO ... 25

4 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ... 27

5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ... 32

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 39

6.1.AEVOLUÇÃODOZONEAMENTO ... 39

6.2OPLANODIRETORMUNICIPAL... 44

6.3OPERAÇÕESCONSORCIADASEALEIDEVERTICALIZAÇÃO ... 62

6.4CONFLITOSEPROBLEMASAMBIENTAIS ... 66

6.4.1 Ocupação e uso irregular do solo ... 67

6.4.2 Infra-estrutura básica e turística ... 74

6.4.3 Eventos noturnos ... 76

6.5OBAIRROPRAIABRAVANAATUALIDADE ... 78

6.6PROGNÓSTICODOSIMPACTOSDAVERTICALIZAÇÃO ... 89

REFERÊNCIAS ... 101

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1 INTRODUÇÃO

Durante os últimos anos, instituições ambientais, científicas e políticas têm se concentrado na conservação dos ecossistemas, na busca do desenvolvimento sustentável para garantir a manutenção e a evolução da biodiversidade. Um dos focos importantes para a preservação mundial são as áreas litorâneas.

As chamadas praias têm sofrido muito com o crescimento urbano desordenado aliado ao mau planejamento das cidades costeiras e balneárias. Segundo a UNESCO, a previsão é que para o ano de 2010 cerca de 70 a 80% da população mundial venha a residir próximo do mar.

Considerando os aspectos socioeconômicos, as praias são importantes áreas recreacionais, geralmente bastante povoadas (HOEFEL, 1998 apud GUERREIRO, 2003). Este fato pode levar a existência de conflitos de uso dos recursos existentes, sobretudo do uso e ocupação do solo.

Tendo em vista a grande diversidade de ecossistemas existentes nas praias, o uso e ocupação do solo são fatores que devem ser tratados de forma planejada para evitar a incompatibilidade entre o total da população e o nível de infra-estrutura capaz de suportá-lo.

Esse planejamento é citado já na Constituição Federal de 1988 (art. 182 e 183), onde a expansão urbana está prevista através de uma política. Para isso foi estabelecido o Estatuto das Cidades, dando competências aos municípios e criando o Plano Diretor.

Atualmente, o Plano Diretor é considerado uma ferramenta de gestão territorial recente, obrigatória apenas a partir do ano de 2001. Todavia, somente no ano de 2005, é que o município de Itajaí iniciou a revisão de suas propostas. Com as constantes modificações na Lei de Zoneamento do território itajaiense e o descaso com a fiscalização e aplicação das leis, essa ferramenta se fez um dos principais instrumentos que viabiliza a implantação de estratégias de ocupação do solo.

Contudo, mesmo com a existência de políticas públicas de gestão territorial, algumas cidades e praias estão sofrendo com o aumento da população sem um

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planejamento adequado, implicando no surgimento de conflitos sócio-ambientais ao longo dos anos.

Não bastasse o descaso pela implantação de um adequado planejamento, o poder público tem adotado ainda algumas medidas que acabam gerando novos conflitos, tais como a política de verticalização, podendo ser citada como exemplo a Praia Brava em Itajaí/SC.

A Praia Brava manteve-se praticamente inabitada até o final da década de 80, sendo considerado um local isolado e hostil em relação ao centro urbano. Por este motivo manteve preservado grande parte de seus recursos naturais, como uma variedade de ecossistemas. Devido à inversão de valores ocorrida na sociedade, a Praia Brava passou a ser um local supervalorizado, ocorrendo um crescimento repentino e acelerado em poucos anos, potencial à ocorrência de impactos ambientais, tais como a ocupação de áreas de preservação permanente e a contaminação dos recursos hídricos.

Vemos neste cenário uma oportunidade de desenvolver um estudo da dinâmica de desenvolvimento do território e suas implicações ao meio ambiente, através do conhecimento das Políticas Públicas Ambientais e de Zoneamento, sobretudo do Plano Diretor municipal. E também de discorrer a respeito da verticalização, fato que vem ocorrendo em algumas das principais cidades brasileiras, a exemplo do bairro Itacorubi em Florianópolis e a orla de Salvador na Bahia.

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1.1 HIPÓTESE

O crescimento acelerado da Praia Brava nas últimas décadas, sem a existência de um planejamento adequado, causou diferentes impactos ambientais.

Além disso, a verticalização das propriedades na localidade Praia Brava não é adequada diante da falta de infra-estrutura básica existente, tais como tratamento de esgotos, pavimentação e drenagem; podendo agravar a degradação dos recursos ambientais e causar impactos no meio social.

1.2 PERGUNTAS DA PESQUISA

1. Qual o contexto da Praia Brava que desencadeou diferentes conflitos e problemas sócio-ambientais?

2. Como se deu o cumprimento das leis ambientais frente o desenvolvimento urbanístico da Praia Brava?

3. A revisão do Plano Diretor será suficiente para solucionar os conflitos e problemas caracterizados?

4. Qual a avaliação do desempenho da administração municipal ao longo do crescimento local?

5. Quais as conseqüências da implementação da lei de verticalização para a Praia Brava?

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1.3 OBJETIVOS

A seguir apresentamos os objetivos geral e específicos que, de uma forma geral, foram traçados de acordo com o desejo e previsão das possibilidades de abordar o tema.

1.3.1 Objetivo Geral

O objetivo principal deste estudo é realizar a caracterização dos impactos ambientais causados pela ocupação das zonas costeiras, neste caso, o bairro Praia Brava no município de Itajaí/SC.

1.3.2 Objetivos Específicos

Para atender o objetivo maior da pesquisa, traçamos os seguintes objetivos específicos:

• Levantamento da legislação aplicável;

• Observação da evolução das políticas de ocupação territorial; • Apreciação do histórico do desenvolvimento;

• Caracterização de irregularidades na ocupação; • Levantamento dos impactos ocorridos;

• Verificação da atuação dos órgãos ambientais fiscalizadores; • Caracterização das condições de infra-estrutura;

• Observação do processo de revisão do Plano Diretor;

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1.4 JUSTIFICATIVA DO TEMA

A Praia Brava, localizada no município de Itajaí/SC constitui-se num local típico de Zona Costeira. Zonas costeiras são áreas que abrigam grande quantidade e diversidade de ecossistemas, que são de extrema importância para a manutenção do equilíbrio ecológico. Por isso demandam de um cuidado maior no seu desenvolvimento e urbanização, a fim de equilibrar o uso destes recursos naturais, tendo em vista que previsões demográficas mostram tendências de um aumento preocupante da densidade populacional em áreas próximas ao mar.

Devido à qualidade de vida proporcionada pelo nível de preservação dos recursos naturais e conseqüente beleza cênica, mantendo características agrestes em meio ao fenômeno da conurbação entre as cidades de Itajaí e Balneário Camboriú, a Praia Brava foi amplamente valorizada ao longo as últimas décadas, aumentando rapidamente a taxa de crescimento populacional.

Sendo assim, percebe-se neste contexto uma boa oportunidade de aprofundarmos o conhecimento a respeito deste tema tão importante do ponto de vista ambiental.

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2 PROCEDIMENTOS DO MÉTODO

Segundo Silva (2004), atualmente, o estudo de caso é adotado na investigação de fenômenos das mais diversas áreas do conhecimento. Este método pode ser visto como técnica psicoterápica, como método didático ou de pesquisa. Neste último sentido pode ser definido como “...um conjunto de dados que descrevem uma fase ou uma totalidade do processo social de uma unidade, em suas várias relações internas e nas fixações culturais, quer seja essa unidade uma pessoa, uma família, um profissional, uma instituição social, uma comunidade ou uma nação” (GIL, 1991 apud SILVA, 2004 p. 23).

A maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas exploratórias. Por sua flexibilidade, é recomendável nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, para a construção de hipóteses ou reformulação do problema. Desta forma, observa-se a adequação da técnica do “estudo de caso” para a realização da dissertação proposta.

O estudo de caso em questão é uma pesquisa exploratória qualitativa. Foi elaborada uma base conceitual, com dados retirados da bibliografia disponível, assim como de dados primários obtidos junto a órgãos públicos que subsidiaram em grande parte a realização dos levantamentos ora apresentados; os quais foram complementados pela parte prática da pesquisa através de levantamentos realizados em campo.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo procuramos apresentar alguns conceitos e discussões a respeito das questões estudas ao longo da presente pesquisa.

3.1 O DESENVOLVIMENTO URBANO E SUA SUSTENTABILIDADE

Segundo Andrade (1995, apud Queiroz, 2003), a ocupação do território brasileiro iniciou no século XVI, como objeto de reserva para exploração, caso os produtos da África e do Oriente começassem a escassear. Mais tarde, a divisão do território em capitanias hereditárias estimulou o início do povoamento, caracterizando-se pela ocupação de pontos esparsos no litoral, eixos fluviais e nos caminhos da exploração. Com isso, os portugueses obtiveram o controle do imenso território em que se transformaria o Brasil, sem dispor de grandes recursos.

A partir de 1800, o lote que era concedido a quem quisesse explorar ou ajudar a manter a Igreja, fazendo parte da estruturação das cidades. Em 1850, com a chamada Lei de Terras, a apropriação passa a ser pela compra e venda, dando uma forma mais regular e geometrizada às cidades. Com o fim do século XIX, aparecem os loteamentos destinados a expansão urbana, a imposição de Códigos de Posturas, e a demarcação de lotes. O Primeiro Código Civil Brasileiro surge no ano de 1917, o qual visava cidades com nova classe de moradores aspirando uma vida urbana (QUEIROZ, 2003).

Um dos instrumentos para ordenar a cidade na época era o zoneamento funcional, onde cada uso deveria estar circunscrito a um espaço pré-definido. O urbanismo funcionalista buscava dividir a cidade em zonas que corresponderiam a funções específicas de uso do solo, procurando maximizar as economias de escala principalmente de infra-estrutura. Essas zonas seriam conectadas por uma rede de transporte, que buscava a eficiência da cidade (SILVA, 2004).

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Nas últimas décadas vemos despontar os chamados condomínios horizontais e os condomínios verticais, que mais recentemente aparecem com o intuito de inverter o modelo de aglomerado urbano estabelecido ao longo da história.

Neste contexto, para aumentar os territórios utilizáveis, empreendedores modificam as paisagens naturais, criando um ambiente construído por ruas pavimentadas, residências, fábricas, edifícios comerciais, etc. Nisso, o ecossistema é alterado, eliminando-se espécies nativas ou introduzindo espécies estranhas da fauna e flora, além de modificar gradientes de temperatura e padrões de chuvas e de ventos diferentes da zona rural vizinha (TARR, 1997 apud REGO NETO, 2003).

Com isso, o conceito de desenvolvimento sustentável passou a ser objeto de estudos por organizações multilaterais, entidades ambientalistas e universidades. A definição mais aceita - “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações atenderem às suas necessidades” - foi cunhada pela WCED, em 1978, tendo recebido aceitação internacional após a Eco-92 no Brasil (IPUF, 2004 apud SILVA, 2004).

A subjetividade desta definição gerou algumas vertentes interpretativas. Alguns consideraram como sustentável o desenvolvimento com ênfase na conservação dos recursos naturais e na proteção da biodiversidade; e outros, o que contemplasse simultaneamente a sustentabilidade ecológica, econômica, social e cultural. Depois, outros resolveram dar ênfase à política, pregando uma sustentabilidade de processos democráticos e participativos. Por fim, a Organização das Nações Unidas - ONU acrescentou uma nova dimensão ao conceito, chamada de desenvolvimento humano, a qual coloca o ser humano como a razão e o foco dos processos de desenvolvimento sustentável (SILVA, 2004).

No caso das cidades turísticas, em que o turismo é o principal componente da base econômica, a sustentabilidade dessa atividade relaciona-se com o gerenciamento dos atributos turísticos, do fluxo turístico e da infra-estrutura que lhe dá apoio, como forma de evitar a autofagia do turismo não planejado (SILVA, 2004). O ambiente natural praiano, como a Praia Brava, constitui um grandioso capital turístico, ameaçado pela urbanização que o próprio turismo gera para atender o fluxo crescente de visitantes e migrantes atraídos pela qualidade de vida aparente.

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De acordo com Girardi (2003), além dos assentamentos estabelecidos em condições precárias a nível social e ambiental, percebe-se também uma parcela da população que, mesmo tendo poder de escolha, ocupam e transformam áreas em morros e terrenos de marinha, aterram ou provocam assoreamento em mangues, rios e mares, destroem áreas de preservação para promover assentamentos ou outras formas de ocupação do solo para satisfazer seus interesses.

Neste caso, a legislação determina a possibilidade (ou não) de ocupação. Se permitida, a lei irá determinar as condições, onde alternativas técnicas nem sempre são argumentos para possibilitar a ocupação. Assim, o direito das propriedades é o centro do problema do desenvolvimento sustentável, o qual requer restrições no uso da propriedade privada, no desenvolvimento urbano e no acesso a recursos ambientais.

A respeito das ações promovidas sobre o ambiente natural, Rego Neto (2003 p. 40) dá importante contribuição, ao estimar que “os problemas de riscos ambientais e incertezas acerca de tempo e espaço somente podem ser administrados e alcançados pelas instituições políticas, algumas transcendendo fronteiras nacionais, e outras revigorando a participação e a responsabilidade”.

3.2 A ZONA COSTEIRA E O POTENCIAL TURÍSTICO

Segundo a Lei Federal nº 7.661/1988, a Zona Costeira é o espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos ambientais, abrangendo duas faixas: Marítima, que se estende mar afora distando 12 milhas marítimas das Linhas de Base estabelecidas de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar; e Terrestre, que sofrem influência direta dos fenômenos ocorridos na Zona Costeira.

As zonas costeiras requerem atenção especial, tanto no planejamento do território quanto na utilização dos recursos naturais disponíveis e na gestão e no desenvolvimento dos centros urbanos, tendo em vista previsões demográficas, onde

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em 2025, 75% da população mundial viverá a menos de 60 km do mar Segundo a (UNESCO, 1977 apud Silva, 2004).

Para Rees (1999 apud Rego Neto, 2003), a sociedade precisa conhecer o valor dos recursos costeiros e decidir o que necessita ser protegido, assegurando o uso ou exploração destes de forma sustentável, pelo desenvolvimento de política, legislação e educação apropriadas, baseadas em sólidos princípios científicos.

Neste sentido, o gerenciamento costeiro se refere a qualquer programa governamental com o propósito de utilizar ou conservar um recurso costeiro, ou um ambiente específico ali localizado. É o termo utilizado de uma forma mais ampla, e é entendido de forma a incluir todos os tipos de instituições governamentais, bem como a sociedade (SORENSEN, 1990 apud SILVA, 2004).

O turismo é uma das maiores atividades sócio-econômicas e um dos maiores setores da economia mundial, sendo grande gerador de emprego. No Brasil e em Santa Catarina se observa elevada importância deste setor como fonte de renda para os municípios da Zona Costeira (SOUZA JR e POLETTE, 1998 apud SILVA, 2004). O turismo necessita de uma infra-estrutura que atenda à demanda turística. O desenvolvimento dos balneários é encorajado pelos governos, visando à geração de emprego e renda. Todavia, sem planejamento específico, o aumento do turismo causa maior utilização e degradação dos recursos naturais, que se intensificam com o crescimento do balneário devido à falta de regulamentações proteção dos recursos naturais, sendo o incremento econômico o foco principal do turismo (Silva, 2004).

Polette (2000 apud Silva, 2004) sugere a importância em se entender os modelos de evolução turística de Butler (1980) e Smith (1991) para entendermos o desenvolvimento da orla e suas relações com a retro planície.

QUADRO 1 - Estágios de desenvolvimento e tipologia das praias

ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO (BUTLER, 1980) ESTÁGIOS DOS DESENVOLVIMENTOS BALNEÁRIOS SMITH (1981)

TIPOS DOS ESPAÇOS PRAIAIS MORAES (2000)

Exploração Pré-turismo Tipos 11 e 12 Envolvimento Segundas residências e primeiro hotel Tipos 10 Desenvolvimento Balneário estabelecido / Área comercial

estabelecida Tipos 9, 8, 7, 6 e 5 Consolidação Hotéis interiores Tipos 3 e 4 Estagnação e Declínio Cidade balneário Tipos 1 e 2 Rejuvenescimento

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O ciclo de Butler inicia com a exploração marcada pela presença de um pequeno número de turistas, quase sempre restrita pela dificuldade de acesso e conhecimento local, aumentando com o passar do tempo (Figura 1).

A segunda fase é caracterizada por uma rápida taxa de crescimento do turismo e atividades afins, com o incremento de propagandas e disseminação de informações, ocorrendo rápido crescimento e entrando na fase de Consolidação.

Durante o processo, observam-se ocupações desordenadas ou inadequadas, contribuindo para o declínio do balneário. A incapacidade de suporte é verificada por fatores ambientais (falta de água e de espaço ou diminuição da qualidade do ar e da água), fatores ligados à urbanização (transporte inadequado, acomodação e outros ligados à infra-estrutura), ou fatores sociais (excesso de população nas praias, ressentimentos da população residente).

O uso intensivo da área diminui seu atrativo em relação às outras devido aos impactos causados sobre o local (ex: lixo, esgotos, barulho, etc.), diminuindo o número de visitantes. Neste ponto a área estará experimentando a fase de declínio.

O declínio ocorre por muitos fatores, dentre eles o desaparecimento de áreas naturais. Superada esta fase, o autor admite ainda uma fase de rejuvenescimento, pela substituição da população freqüentadora e dos meios de atração.

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A análise do desenvolvimento passa a ser fundamental, pois torna possível entender as relações existentes ao longo da orla, onde diferentes atores sociais estarão ligados a cada um destes estágios de desenvolvimento.

3.3 OS AGENTES DO ESPAÇO URBANO

A formação da cidade é um processo dinâmico decorrente de vários fatores. Seus componentes são: edificações, ruas, veículos e pessoas. Assim, para qualquer atuação no ambiente urbano, deve-se considerar seus aspectos físicos, seu contexto social, cultural, econômico e político. (IPUCC, 1996 apud QUEIROZ, 2003).

Os espaços não são apenas urbanos, distinguem-se entre si pelas atividades que exercem, sejam elas industriais, administrativas, comerciais ou de serviços, e pela sua influência na região circunvizinha. Os diferentes usos do solo definem áreas como o centro da cidade, áreas industriais, áreas residenciais, de lazer e aquelas usadas para futura expansão. A este conjunto de usos do solo, denominamos de organização espacial da cidade (CORRÊA, 1989 apud QUEIROZ, 2003).

Nos últimos anos, a valorização dos ambientes naturais, aliada à oferta de terras desocupadas e a fuga das metrópoles industrializadas, tem aumentado a ocupação litorânea. Ocorre então um deslocamento de pessoas para as cidades médias e pequenas, fixando residências com moldes diferenciados dos nativos, tendo como uma das características a busca de harmonia com o ambiente físico e cultural.

“A casa do novo morador também revela relações diferentes com a paisagem. Se para os moradores nativos, a paisagem era de uso secundário, para estes ela passa a ser extremamente valorizada, casas com aspectos formais e funcionais diferentes dos de tradição luso-açoriana, e mesmo que o uso de materiais busque uma maior interação com a natureza, a aparência e volumetria se destacam das antigas” Bica et. al. In ENEPEA, (2001 p.122 apud QUEIROZ, 2003 p.23).

Constantemente, a cidade é modelada e remodelada por ações desempenhadas pelos agentes do espaço urbano, constituídos por proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, o Estado, os grupos sociais excluídos, e os promotores imobiliários. Estes últimos realizam operações de incorporação,

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financiamento, estudo técnico da obra, construção do imóvel e comercialização. (QUEIROZ, 2003).

Os grandes proprietários industriais e empresas comerciais necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam suas atividades. Ao contrário, aos proprietários de terras interessa a conversão da terra rural em terra urbana, ou seja, a extensão do espaço da cidade, pois a terra urbana é mais valorizada. Mesmo em periferias sem atrativos, existe a estratégia do loteamento como meio de extrair alguma renda, normalmente sem infra-estrutura e ilegais frente à legislação, mas que legalizam-se por pressão popular e conseguem serviços de infra-estrutura básicos por conta do Estado, gerando nova valorização fundiária (QUEIROZ, 2003).

É comum também a ocorrência de ocupações ilegais frente à legislação ambiental que, não por pressão popular, mas muitas vezes por manobras políticas e o fornecimento infra-estrutura básica por parte do Estado acabam sendo legalizadas.

Isto ocorre com grupos sociais excluídos, aos quais restam os cortiços densamente ocupados, as casas produzidas pelo sistema de autoconstrução em loteamentos periféricos, os conjuntos habitacionais e a favela. É na produção da favela que estes grupos tornam-se agentes modeladores, produzindo seu próprio espaço, sem interferências diretas de loteadores e/ou Governo (QUEIROZ, 2003).

Como forma de controle, o Estado dispõe de um conjunto de instrumentos de regulação do espaço urbano como: regulamentação do uso do solo (através do Plano Diretor); controle e limitação do preço da terra; impostos que variam segundo a dimensão do imóvel, uso da terra e localização; taxação de terrenos livres; investimento público na produção do espaço, através de obras de drenagem, desmontes, aterros e implantação de infra-estrutura; organização de mecanismos de crédito à habitação (QUEIROZ, 2003).

3.4 PLANOS DIRETORES URBANOS

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seguidas pela administração pública, visando o desenvolvimento integrado e sustentável de toda a comunidade. Constitui-se basicamente das leis do Zoneamento e do Uso e Ocupação do Solo.

O Plano Diretor deve contemplar a vertente ambiental em diferentes escalas de abordagem, que variam desde o nível macro, espelhado nas diretrizes para o desenvolvimento urbano e para a definição da política de maio ambiente, até o nível pontual, que se reflete nos parâmetros para o uso e a ocupação do solo estabelecidos pela legislação urbanística, bem como na fixação de parâmetros para o controle ambiental, através de leis específicas (REGO NETO, 2003).

Souza (2002 apud Silva, 2004) aponta que no Brasil a Lei Orgânica dos municípios, posta em vigor pelos Estados no início da década de 1970, determinou como obrigatório para os municípios com mais de 20 mil habitantes, a elaboração de Planos Diretores e sua revisão no mínimo a cada dez anos; a partir de então os Planos Diretores Municipais proliferaram em todo o país.

Com o surgimento do Estatuto das Cidades, o Plano Diretor tornou-se obrigatório também os municípios situados em regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas, em áreas de interesse turístico; ou em áreas sob influência de empreendimentos que causem qualquer tipo de impacto ambiental.

Como se trata de um documento que orienta as ações do Executivo Municipal, Zimmermann (1993 apud Queiroz, 2003) coloca que a elaboração do Plano Diretor é de responsabilidade da Prefeitura, com a ressalva de que a participação popular, através é de extrema importância tanto no planejamento quanto na preparação e implantação do Plano Diretor.

Para Bueno (2003 apud Silva, 2004), se por um lado o Plano Diretor define as políticas públicas urbanas de transporte, zoneamento, provisões de habitações de interesse social etc., por outro, como um instrumento de política pública, assume inúmeras feições, onde se destaca que os planos vêm sendo usados como instrumento da burguesia nas grandes cidades, apoiando-se num estado estruturado para ratificar a hegemonia das classes dominantes.

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3.5 ZONEAMENTO

Segundo Vigier (2000 apud Silva, 2004), o zoneamento é a separação de usos considerados incompatíveis, que divide a cidade em distritos onde somente estruturas para usos específicos como, por exemplo, casas unifamiliares, apartamentos, comércio ou indústria, podem ser construídos. Também costuma fazer parte do zoneamento o tamanho mínimo dos lotes, a altura máxima e o recuo dos prédios. Pelo fato de afetar o custo da terra e, portanto, da habitação, o zoneamento tende a resultar em uma estratificação sócio-econômica da cidade.

Incorporando as diretrizes federais, o Zoneamento Ambiental Municipal propõe o conhecimento do meio ambiente local, com ênfase na sensibilidade de seus elementos (ar, água, solo, flora) à apropriação humana. Em outras palavras, a ocupação dos espaços municipais, por vezes, acontece de forma inadequada, causando conseqüências diretas ao meio ambiente local, como a ocupação inadequada em áreas de mananciais e desmatamentos, e indiretamente ao próprio poder municipal, responsável imediato pela administração do seu território. Assim, o zoneamento ambiental procura definir, na escala municipal, as restrições e/ou adequações de uso do solo para uma atuação mais conseqüente, fundamentando o poder local no estabelecimento de legislações específicas (CARVALHO, 2000).

O zoneamento funciona também como um sistema de classificação e de significados. Ao se atribuir significados e valores ao espaço urbano, induz-se a determinadas tendências de ocupação do solo.

Todavia, Ortolano (1984 apud Rego Neto, 2003) defende que, embora o zoneamento possa restringir os tipos de projetos permissíveis, ele não é um bom mecanismo para controle de rápida ocupação. As leis de Zoneamento são flexíveis e facilmente modificáveis, e grandes empreendedores muitas vezes conseguem garantir exceções ou modificar o zoneamento, prejudicando a qualidade ambiental.

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3.6 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

O uso do solo, de um modo geral, refere-se ao cumprimento das funções de habitar, produzir, circular e recrear. No caso específico do solo urbano, se destina ao uso residencial, ao uso comercial, de serviços, institucional, viário, entre outros. Já a ocupação do solo, se refere ao modo de povoamento do território. Diz respeito à relação entre a área do lote e à quantidade de edificação que se coloca dentro dele.

O controle destes aspectos visa garantir à cidade uma distribuição eqüitativa e funcional de densidade, tanto das edificações quanto das populações, compatível com a infra-estrutura de cada área considerada (QUEIROZ, 2003).

O limite ao uso da propriedade é estabelecido por coeficientes que definem o tipo de atividade a ser exercida e o quanto o solo pode ser utilizado, sendo o ponto de equilíbrio entre a densidade populacional e a qualidade de vida para a população.

Para Sorre & Megale (1998 apud Queiroz, 2003), se o lote faz parte da estrutura física da cidade, e esta abriga uma sociedade, é lícito disciplinar o uso do solo para os interesses coletivos, concentrados no bem comum. O autor cita como exemplo, que os antigos códigos de edificações limitavam a altura dos edifícios conforme a largura das ruas, tendo em vista assegurar a estas um determinado grau de luminosidade.

Mota (1981 apud Queiroz, 2003) considera que a ocupação do solo urbano integrado ao ambiente natural é a maneira indicada tanto para a preservação da paisagem quanto para o controle da poluição visual resultante da desconfiguração do meio urbano. Áreas de valor paisagístico devem ser ocupadas de forma planejada, fazendo-se valer de suas características naturais. Na falta de planejamento, a preservação destas áreas pode ser conseguida através do controle de sua ocupação.

Para conseguir este planejamento, com as rápidas mudanças no sistema social e da paisagem, Noble (1996 apud Rego Neto, 2003) sugere alguns recursos: 1) Informação atualizada sobre o uso do solo; 2) Informação sobre quais as prioridades dos indivíduos e da sociedade; 3) Habilidade de prever as conseqüências do uso proposto; e 4) Metodologia para implementar o uso escolhido através do sistema administrativo.

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Caubet & Frank (1993 apud Silva, 2004) referem-se à obtenção de informação no sentido de se obter um diagnóstico, indispensável antes da implementação de ações de melhoria e infra-estrutura do município. Só de posse deste, a Prefeitura poderá definir as áreas e ações prioritárias, estabelecendo em seguida o planejamento e a contratação de projetos.

O uso e ocupação do solo que resultam em problemas ambientais estão associados à concentração populacional e à omissão do poder público em exercer seu papel regulador e fiscalizador. Um bom processo de planejamento contribui para orientar o desenvolvimento e estimular as formas mais desejáveis de crescimento, de acordo com o julgamento da comunidade e com as condições ambientais. É obrigação dos poderes públicos e, em particular, do poder municipal perseguir as melhores e mais racionais formas de uso do solo, fazendo com que a propriedade cumpra sua função social, como manda a Constituição Federal de 1988 (REGO NETO, 2003).

Esta responsabilidade municipal é colocada também por Carvalho (2000). Segundo o autor, o planejamento municipal pode ser associado ao planejamento local, por tratar da organização de planos de ação com vistas ao bem-estar coletivo da menor comunidade, instituída com poderes político-administrativos e autonomia financeira atribuída por lei federal. Deste modo, cabe ao município planejar seu próprio desenvolvimento.

Deve-se distinguir plano de planejamento. O plano é apenas um documento legal onde constam os objetivos, as estratégias e normas de iniciativa durante o processo de planejamento. Este, por sua vez, segue uma série de teorias urbanísticas, sociais, administrativas e ambientais.

Quanto à temporalidade, Rego Neto (2003) considera que horizontes políticos tendem a ser de curto prazo, aproximadamente cinco anos, e são intimamente ligados a aspectos eleitorais ou econômicos. O médio prazo cobre o período de cerca de vinte anos, que é a perspectiva de futuro para a maioria das pessoas. Por fim, o longo prazo depende das decisões tomadas agora. Uma mudança radical nas políticas atuais deve estar relacionada e, se possível, precedida por uma mudança de valores.

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Fica, portanto, subentendido que todo planejamento pressupõe uma pesquisa, uma análise e conseqüentemente uma síntese. Noções estas que devem estar contidas no conceito amplo de planejamento. A informação é fundamento básico da decisão de resolver os problemas sob planejamento (FERRARI, 1977 apud SILVA 2004).

Neste sentido, importante ressaltar que a informação deve ser coletada no seu sentido mais amplo, abordando os mais diferentes aspectos, procurando obter uma visão holística do processo e antecipar os possíveis impactos da combinação das variáveis.

3.7 POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS E O PROCESSO DE GESTÃO

Nos últimos vinte anos as políticas públicas no Brasil apresentaram avanços na questão ambiental em níveis global e local, que podem ser estudados no caso das transformações que a pressão demográfica impõe às cidades (SOUZA, 2002 apud SILVA, 2004). Neste sentido, de acordo com Rosa (2003, p. 5),

“...foi apenas a partir da Constituição Federal de 1988, indutora de um movimento mais consistente de descentralização das políticas públicas e fortalecimento da autonomia local, que os municípios passaram a atuar mais incisivamente na questão ambiental, defendendo seu patrimônio (natural e cultural) e o bem-estar de seus cidadãos. Para tanto, precisaram capacitar-se, enfrentando os conflitos gerados nas tomadas de posições em relação à questão sócio-ambiental - um tema abrangente e ainda pouco conhecido da população”.

De acordo com Rego Neto (2003), as políticas ambientais devem ser baseadas na compreensão das causas da degradação ambiental, nos impactos ambientais e no custo efetivo das soluções, bem como nas incertezas associadas a estes; e também devem contribuir para o entendimento dos assuntos ambientais por parte do grande público, através do acesso aberto à informação e processos de decisão.

Rosa (2003) destaca a importância dos atores envolvidos no eco-desenvolvimento urbano, pois exige um conhecimento concreto e minucioso tanto das necessidades sociais como dos recursos da cidade. A identificação e a

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combinação desses recursos e dessas necessidades requerem participação efetiva e constante das organizações populares e dos movimentos comunitários, dado o seu envolvimento diário com a especificidade territorial de cada bairro. Num modelo participativo, a participação deve ser compreendida como um “valor em si”.

Conhecer as relações do sistema complexo que é a cidade se faz necessário para que um planejamento urbano seja estruturado com eficiência. Mais do que da necessidade de órgãos públicos envolvidos neste planejamento, o envolvimento comunitário também é essencial, pois é este envolvimento que apontará os problemas e prováveis soluções para estes. Também é ela - a população - que promoverá a continuidade e fiscalização do plano de ação (BUENO, 2003).

A política urbana deve empenhar-se para a ordenação de um espaço equilibrado e saudável, coordenando todas as transformações do ambiente construído, visando o bem estar dos municípios e a promoção do pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade (ARRUDA et al., 2002 apud SILVA, 2004).

Desta forma, os governos, com o apoio das organizações nacionais e internacionais, devem promover um desenvolvimento mais aprofundado e uma aplicação ampla de instrumentos de gerenciamento e planejamento que facilitem uma abordagem integrada e sustentável da terra e dos recursos (BUENO, 2003).

Para Godard (2000 apud Silva, 2004), a gestão de problemas sócio-ambientais urbanos, baseada no enfoque de eco-desenvolvimento, pressupõe que o ambiente seja considerado como patrimônio natural e cultural. Neste caso, a gestão caracteriza-se como o cerne, onde se reencontram objetivos associados ao desenvolvimento e ao ordenamento, e aqueles voltados para a conservação de recursos “comuns” e a preservação da qualidade do hábitat.

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4 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

Para melhor compreensão das questões relativas à regulamentação do uso e ocupação do solo, faz-se necessária a observância das distintas competências existentes no ordenamento jurídico brasileiro, no que tange os diferentes entes políticos contidos na federação.

A partir da Constituição Federal de 1988, o meio ambiento passou a ser considerado como “patrimônio público a ser assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo”. Foi a primeira vez que a Assembléia Constituinte trouxe um artigo específico para a questão ambiental, graças a já existente Lei Federal nº 6.938/1981 - a primeira grande lei ambiental.

Além disso, a Constituição Federal de 1988 prevê a competência administrativa comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em proteger o meio ambiente e combater todas as formas de poluição, bem como preservar as florestas, a fauna e a flora. Para isso, propõe uma política de desenvolvimento urbano sustentável, cabendo ao Poder Público municipal garantir o bem estar da população e o cumprimento das funções sociais da propriedade e da própria cidade.

No que se refere à competência para legislar, segundo a Constituição Federal de 1988, cabe à União legislar e atuar em face de questões de interesse nacional, editando normas gerais, que não podem ser contraditadas pelas normas estaduais ou municipais, enquanto os Estados tratam de interesses regionais e os Municípios, daqueles estritamente locais.

Cabe ressaltar, ainda, que a Constituição Federal de 1988 tornou os Municípios entes autônomos da Federação. Zimmermann (1993 apud Queiroz, 2003) lembra que essa autonomia municipal criou novas obrigações, incluindo-se aí a de promover um adequado ordenamento territorial, mediante o planejamento e controle do uso do solo, do parcelamento e da ocupação do solo.

Para regulamentar a política de desenvolvimento sustentável prevista na Constituição Federal de 1988, foi promulgada a Lei Federal nº 10.257/2001, sendo chamada de Estatuto das Cidades, e que estabelece as diretrizes gerais e regulamenta

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a aplicação dos instrumentos que possibilitam sua implantação e sanções para os casos de descumprimento, sendo o Plano Diretor seu instrumento mais importante. Assim, compete ao Município regular o uso e a ocupação do solo em seu território, através do Plano Diretor, em conformidade com as leis federais e estaduais pertinentes.

A análise do Estatuto das Cidades permite algumas constatações de interesse no presente estudo. O art. 1º demonstra a preocupação acerca do processo administrativo, ao estabelecer normas de ordem pública de interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar social dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. Os incisos I a IV do art. 2º apontam essas preocupações ao mencionar a garantia do direito a cidades sustentáveis para as presentes e futuras gerações; a gestão democrática do espaço urbano; e planejamento, de forma a corrigir os efeitos negativos do crescimento urbano ao meio ambiente.

Durante a urbanização podem ocorrer conflitos entre usos e ocupações incompatíveis com a cidade, distorções entre a capacidade de suporte e a real utilização de cada parcela da cidade. Por isso faz-se necessário a existência de leis de uso e ocupação do solo. Neste sentido, dentre as diretrizes do Estatuto das Cidades temos: a ordenação e controle do uso do solo de forma a evitar a deterioração das áreas urbanizadas e degradação ambiental, instalação de empreendimentos sem previsão de infra-estrutura, etc.; e também a adoção de padrões de produção e consumo de forma sustentável.

Além do Plano Diretor, são previstos também outros importantes instrumentos da política urbana de forma a obter-se o planejamento municipal, dentre os quais ressalta-se o zoneamento ambiental, o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e orçamento anual, gestão orçamentária participativa, e o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e de Impacto de Vizinhança (EIV), sendo para este último necessário a definição, em lei, dos empreendimentos e atividades que o necessitam.

A aplicação destes importantes instrumentos previstos no Estatuto das Cidades, em concordância com suas diretrizes e das leis ambientais, constituem um grande passo na busca de uma cidade com melhor qualidade de vida.

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Em se tratando de leis ambientais, iniciamos destacando o Código Florestal Brasileiro - Lei Federal nº 4.771/1965, de grande importância devido às restrições de ocupação e uso do solo, com o objetivo de proteger e preservar os recursos naturais, especialmente florestas e águas, definindo para isto as formas de vegetação consideradas de preservação permanente, onde é interessante destacar as seguintes áreas: 1) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima é de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura, e de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura; 2) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais; 3) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues.

Considera-se ainda como Área de Preservação Permanente - APP, aquelas assim declaradas por ato do Poder Público, principalmente florestas e demais formas de vegetação, que visem preservar as condições naturais de determinado ambiente, nichos ecológicos, áreas de rara beleza, qualidade de vida, áreas de interesse militar, margens de rodovias, etc.

A supressão dessas áreas fica condicionada somente em caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente caracterizada e motivada em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica ou locacional ao empreendimento proposto.

A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA nº 369/2006 define os casos de utilidade pública e interesse social, como por exemplo, obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos, e o combate e controle do fogo e da erosão. Além disso, essa resolução permite a intervenção para a regularização fundiária sustentável de área urbana, autorizada pelo órgão ambiental competente, destacando-se os casos de ocupações em Zona Especial de Interesse Social - ZEIS declarada no Plano Diretor; ocupação inserida em área urbana que possua no mínimo três dos seguintes itens de infra-estrutura urbana implantada: malha viária, captação de águas pluviais, esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos, rede de abastecimento de água, rede de distribuição de energia; e localização exclusiva em faixas de APP.

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Ainda a respeito de áreas de preservação, a Lei Federal nº 6.766/1979, que estabelece as diretrizes para o parcelamento do solo urbano, proíbe o parcelamento em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até a sua correção. Para as permissões, os usos permitidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do solo serão definidos pela legislação municipal.

Devido sua importância ecológica, a Zona Costeira foi definida pela Constituição Federal de 1988 como patrimônio nacional, sendo por isso detectada necessidade de ações específicas do poder público para conservá-la, ordenando sua ocupação. Então foi instituído o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) - Lei Federal nº 7.661/1988, “um instrumento de atividades e procedimentos”, que por meio de “instrumentos específicos” permite a gestão dos recursos naturais da Zona Costeira de forma participativa, objetivando a qualidade de vida das populações locais, a preservação dos habitats específicos indispensáveis à conservação da fauna e flora, e adequando as atividades humanas à capacidade de suporte dos ecossistemas (BRASIL, 1998).

A lei materializa a preocupação com o intenso processo de ocupação existente na Zona Costeira, ao incluir algumas determinações relativas ao processo em questão. O texto do art. 6º demonstra a relevância do licenciamento ambiental, bem como a responsabilidade dos órgãos públicos e fiscalização. Além disso, destaca-se novamente, a exemplo daquilo que vinha sendo incluído no arcabouço jurídico brasileiro desde o início da década de 1980, a importância do Estudo de Impacto Ambiental / Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) como instrumento para o diagnóstico das complexas interações entre novos empreendimentos e o meio ambiente.

Faz-se importante ainda, na avaliação da lei do PNGC, o estabelecimento da obrigatoriedade em manter-se o livre acesso de todos à praia. Para isto, não permite a urbanização ou qualquer forma de utilização do solo na Zona Costeira que impeça ou dificulte o acesso, sendo apresentadas as definições para efeitos legais do termo.

Ainda dentro da Zona Costeira, a Instrução Normativa nº 02/2001 da Secretaria do Patrimônio da União - SPU define áreas específicas, onde destacamos

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de Itajaí limitar-se com o mar. O art. 2º define que os terrenos de marinha são identificados a partir da Linha de Preamar Médio - LMP de 1831, determinada pela SPU a partir de plantas e documentos de autenticidade irrecusável.

Na impossibilidade de determinar a LPM, fica estabelecido pelo Decreto-Lei nº 2.490/1940 como terrenos de marinha a distância de 33 metros para a parte da terra, medidos no ponto a que chegava o preamar médio em 1831.

Em nível Estadual, a Lei nº 5.793/1980 destaca-se pela anterioridade em relação à Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938/1981), principal instrumento de ordenamento sobre a questão. Dispõe sobre a proteção e melhoria da qualidade ambiental no Estado de Santa Catarina, onde ressaltamos, dentre as suas diretrizes, a compatibilidade do desenvolvimento econômico-social com a proteção, preservação e melhoria da qualidade ambiental; e o estabelecimento de critério e padrões da qualidade ambiental, de normas relativas aos recursos naturais e ao uso e ocupação do solo.

Conforme o art. 6º, visando à preservação, o poder público pode criar áreas de proteção especial e zonas de reserva ambiental, partindo, por exemplo, de áreas de formações vegetais defensivas à erosão de encostas e de ambientes de grande circulação biológica; e sítios de interesse recreativo, cultural e científico. Por suas características próprias, poderia ter sido utilizado para determinar limitações à ocupação de certas áreas na Praia Brava que, por seu apelo cênico e ambiental, devessem ser preservadas.

Seguindo as diretrizes da Lei Federal nº 6.766/1979, a Lei Estadual nº 6.06/1982 sobre o Parcelamento do Solo Urbano em caráter regional, estabelecendo importante condicionante à ocupação de áreas que, como a Praia Brava, estão localizadas nos domínios da orla. Pelo art.4º, em áreas litorâneas, numa faixa de 2.000 m (dois mil metros) a partir das Terras de Marinha, o parcelamento do solo depende de análise prévia da Fundação do Meio Ambiente - FATMA.

Alei define ainda responsabilidade ao governo estadual sobre a anuência de projetos de parcelamento definindo, dentre as áreas de interesse social, aquelas necessárias à preservação do meio ambiente; e as que dizem respeito à proteção aos mananciais ou ao patrimônio cultural, artístico, histórico, paisagístico e científico.

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5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

De colonização açoriana, o município de Itajaí foi fundado em 15 de junho de 1860. É uma ótima cidade para se morar e tem um povo muito acolhedor e hospitaleiro Os Itajaienses são conhecidos como os Peixeiros (apelido obtido pela rivalidade com a cidade de Blumenau, os boca mole).

Itajaí está localizada no litoral de Santa Catarina, na região do Baixo Vale do Itajaí, mais precisamente na foz do Rio Itajaí-Açu, sendo banhada pelo Oceano Atlântico, possibilitando a existência do porto, apesar dos perigos de cheias e ressacas.

A cidade possui o principal porto de Santa Catarina e o maior exportador de frios do Brasil e que, juntamente com o comércio, a prestação de serviços, o turismo e as indústrias fazem com que Itajaí se destaque como uma das cidades com maior variadade de fontes de renda. Grande empresas multinacionais e brasileiras se instalam, como Petrobrás, FORD, Perdigão, Sadia, Brasfrigo, Braskarne, Seara, TECONVI, Fischer, Assolan, Bunge, Sundown, Votoran, Gomes da Costa, MultiLog S.A, Weg, Cargill, Klabin, Sideraço.

Um dos grandes atrativos da cidade de Itajaí é a ocorrência da Marejada, uma das mais populares festas de outubro em Santa Catarina. Porém, além da ampla área rural e belas paisagens naturais, com uma rica herança cultural de imigrantes portugueses e alemães, a principal atração da região deve-se ao fato de ser uma cidade de belas praias, entre elas: Molhes, Atalaia, Geremias, Cabeçudas, Solidão, Morcego, e Praia Brava, esta, área de estudo da presente pesquisa.

A Praia Brava, além da orla marítima, constitui-se atualmente numa Zona Administrativa- ZA do município de Itajaí, limitada ao norte com a ZA dos bairros Fazenda e Cabeçudas, ao sul com o município de Balneário Camboriú, ao oeste com a ZA do bairro Canhanduba (rodovia Osvaldo Reis) e ao leste com o Oceano Atlântico.

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FIGURA 2 - Localização da área de estudo Fonte: Adaptado de Google Earth, 2008.

Segundo Horn Filho et al. (1995 apud Santos Junior, 2006), a Praia Brava é formada por terrenos cristalinos correspondentes as terras de maior altitude, formada por xistos, filitos, gnaisses e quartzitos, todas integrantes do complexo Brusque. Sua linha de praia (rumo N-S) apresenta extensão de 2.980 m, sendo interrompida ao norte pela desembocadura do ribeirão Cassino da Lagoa, localizada na área central da orla, sendo um divisor natural entre as porções norte e sul; e ao sul pelo ribeirão Ariribá, divisor natural dos municípios de Itajaí e Balneário Camboriú.

A classificação climática para a região de Itajaí, segundo Köppen, é do tipo mesotérmico com chuvas bem distribuídas, estações bem definidas e verão quente (Cfa). A Praia Brava tem o oceano como regulador da temperatura, que raramente ultrapassa mínimas de 10 ºC e máximas de 37ºC, com uma média de 21 ºC. Os índices pluviométricos apresentam-se maiores no verão, com uma media anual entre 1400 e 2000 mm (EIA/RIMA, 2005 apud SANTOS JUNIOR, 2006).

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A vegetação da Praia Brava constitui-se por vários tipos de formações vegetais. Os morros são cobertos pela floresta ombrófila densa (ou floresta atlântica). Na planície litorânea a vegetação pode ser dividida em manguezal (nos solos pantanosos e salinos) e restinga (nos solos arenosos) onde estão presentes as formas arbustivas e herbáceas. Esta vegetação possui elevada importância para o funcionamento do complexo de ecossistemas ali presentes e também devido ao seu caráter singular dentro da Microbacia do ribeirão Ariribá, caracterizando-se como um dos últimos remanescentes dentro do município de Itajaí (PROJETO ORLA, 2004).

É um local que possui grande diversidade de sistemas costeiros, o que a torna de grande relevância ecológica. Suas belezas paisagísticas naturais e estado de preservação tornam em um ótimo lugar para recreação e lazer (SILVA et al., 1996 apud GUERREIRO, 2003).

Possui uma retração da linha de costa bastante acentuada na porção sul (praia dos amores), que é bastante agravado pela presença de um pequeno cordão de dunas (UNIVALI, 2005 apud SANTOS, 2007). As dunas cumprem um papel importante nos ambientes costeiros. Além de abrigar espécies características de flora e fauna, contribuem na manutenção da linha da costa durante eventos conhecidos como “ressaca”.

Esses atributos naturais e outras características atrativas proporcionam um padrão de qualidade de vida de bom a alto (GUEDES & ARAÚJO, 2004), o que contribui para o surgimento de interesses como em edificações residenciais e estruturas de recreação e lazer noturnos, fomentando a especulação imobiliária.

Ao que se sabe o nome Praia Brava surgiu desde que o local era apenas uma colônia de pescadores. Durante a realização desta pesquisa, não foram encontrados registros legais dessa nomeação.

Igualmente, não há na literatura existente, ou ao menos não nos foi possível encontrar, registros da formação dos primeiros loteamentos e ruas da localidade Praia Brava. Devido às dificuldades nessa parte da pesquisa, o que conseguimos são relatos de um dos mais antigos funcionários da prefeitura municipal de Itajaí, técnico em agrimensura que, morador de Itajaí desde a década de 70, nos relatou alguns acontecimentos importantes. Segundo ele, antes da criação dos primeiros

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Canziani, primeira rua criada até então e única que dava acesso à localidade naquela época, a partir da Avenida Osvaldo Reis. A Figura 3 mostra que os primeiros sinais de parcelamento surgem já bem definidos na área central, atualmente chamado de loteamento Cassino da Lagoa; e ao sul já se percebe a formação de algumas ruas que posteriormente viriam a se tornar também loteamentos.

FIGURA 3 - Vista aérea da Praia Brava em 1979

Fonte: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Itajaí, 2008.

Na seqüência, no sentido norte-sul, os loteamentos posteriormente criados foram: Jardim Central, Jardim Copacabana, Vila Íris, Ariribá e Sociedade Camboriú

Balneário Camboriú Cabeçudas Ribeirão Cassino da Lagoa Ribeirão Ariribá Rodovia Osvaldo Reis

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de Hotéis, este criado a partir da retificação do curso do ribeirão Ariribá, atualmente chamado de loteamento Praia dos Amores.

A imagem datada de 1979 nos permite concluir que, se não a grande maioria, alguns dos loteamentos foram criados após a Lei Ordinária nº 1.787/1980, que regulamenta a criação dos loteamentos. Mas apesar dessa lei estabelecer obrigatoriedade aos loteadores do fornecimento de infra-estrutura, exceto os loteamentos Ariribá e Praia dos Amores, os demais loteamentos não receberam a infra-estrutura devida ao longo dos anos, como pavimentação, redes de esgoto e drenagem. A explicação para que isso ocorresse pode estar no fato de que a lei dá essa responsabilidade aos loteadores apenas nas regiões indicadas pelo Plano Diretor, lei de Zoneamento ou lei especifica, sendo que a lei de zoneamento do município foi estabelecida apenas no ano de 1989.

Com a criação dos demais loteamentos surgiram as duas principais vias: Avenida José Medeiros Vieira, que liga os loteamentos costeando toda a praia entre os ribeirões Cassino da Lagoa e Ariribá; e a Avenida Carlos Drumond de Andrade, que dá acesso à localidade através do loteamento Praia dos Amores; a partir da Av. Osvaldo Reis. E também, com a ligação feita entre o loteamento Jardim Copacabana com o Cassino da Lagoa e posteriormente com a Vila Íris, cria-se em 1989 a Rua Delfin Mário Pádua Peixoto, para fazer uma ligação mais interna entre os loteamentos, melhorando o acesso dos moradores.

Quanto ao abastecimento de água, se tem conhecimento da ausência desse recurso na localidade. A rede de abastecimento sempre existiu, sendo alimentada por algum dos reservatórios de água da cidade existente próximo. Provavelmente um dos reservatórios que continham água proveniente do rio Canhanduba, primeiro ponto de captação existente no município, o qual fora desativado devido ao aumento da concentração de agrotóxicos advindos da agricultura da região, passando posteriormente para o rio Itajaí Mirim, em 1978, com a criação da Estação de Tratamento de Água - ETA da localidade do São Roque pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento - CASAN.

Os moradores mais antigos chegaram à Praia Brava na década de 70, sendo que a prática de desportos, banhos de sol e mar, lazer e trabalho chegaram ao final

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desejo de se instalar próximo ao mar, motivando a elaboração de vários projetos imobiliários residenciais ou comerciais contestados por ambientalistas que procuravam na legislação brasileira o amparo necessário para preservar aquilo que consideravam ter enorme importância ambiental (LUNA, 2001 apud SILVA, J., 2004).

Até o início da década de 90 a Praia Brava permaneceu praticamente sem urbanização. Morar naquele local significava estar afastado do núcleo urbano de Itajaí, ausente de alguns “confortos” da vida moderna. Era um local de difícil acesso, de marginalidade, prostituição e “hostil” à vida urbana (LUNA, 2001 apud SILVA, J., 2004).

A ocupação da costa ocorreu com ou sem resistência em Cabeçudas e Balneário Camboriú, tendo este mesmo desejo passado a ocorrer na Praia Brava e com ele os projetos de “modernidade” (transformação do seu estado “natural”), tendo sido entendidos como um processo promotor de desenvolvimento mas depois passaram a ser contestados e combatidos. Isto levou ao surgimento de movimentos ambientalistas “pró-preservação”, que passaram a ver neste local um “símbolo de ecologia” que ganhou força à medida que a especulação imobiliária e o uso da praia para fins comerciais aumentaram (LUNA, 2001 apud SILVA, J., 2004).

Com a criação da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI na década de 90 a Praia Brava, de certa forma, passou a representar um “laboratório a céu aberto”, levando aquela área a ser vista como um local que pode ser ordenado de modo diferente, ou seja, que se desvie dos erros cometidos em cidades vizinhas como Balneário Camboriú, Piçarras, Barra Velha e até na própria cidade de Itajaí no caso de Cabeçudas (SILVA, J., 2004).

O Canto do Morcego manteve-se quase intacto até poucos anos (o acesso ao local era dificultado pela lagoa e pelos morros). Após a construção da estrada de acesso pelos morros de Cabeçudas, passou a sofrer maior pressão humana, permitindo o acesso de carros. Mesmo assim, este local é, ainda hoje, o mais preservado da Praia Brava (SILVA, J., 2004).

A transformação da Praia Brava num dos locais urbanos mais valorizados de Itajaí a partir da década de 90 está relacionada com o processo de transformação das regiões balneárias do litoral brasileiro na busca de uma chamada infra-estrutura

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turística. Atualmente é um local que gera polêmica entre empreendedores, ambientalistas, poder público e moradores, em relação à preservação e urbanização (SILVA, J. 2004).

QUADRO 2 - Crescimento da urbanização na Praia Brava

Praia Brava durante o início da década de 80, começando a urbanização. Pode-se perceber a Av. José Medeiros Vieira (Beira mar), que ia da lagoa até aproximadamente a Rua Conselheiro Julio Kuhn, sendo interrompida e voltando na Av. Carlos Drummond de Andrade. Praia Brava durante o início da década de 90, já se percebe um crescente na urbanização, principalmente na parte da praia dos Amores, pode-se perceber a Av. José Medeiros Vieira (Beira mar), que ia da lagoa até aproximadamente a Rua Conselheiro Julio Kuhn, sendo interrompida e voltando na Av. Carlo Drummond de Andrade.

Praia Brava em 2003, Av. José Medeiros interligada, percebe-se ainda um crescente muito grande na urbanização, com grande valorização imobiliária do local devido a especulação.

Fonte: Santos, 2007.

As figuras mostram que a Praia Brava cresceu com características de um bairro residencial, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -

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