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Na área do antigo barracão ainda permaneceram três famílias A família Guimarães Ferreira, proprietária de um sítio do Barracão migrou

para a cidade de Muaná na década de 1960, no entanto manteve roça no

lugar até a década de 70, quando a mulher e os filhos migraram para Belém

para que estes pudessem estudar. O marido continuou na cidade de Muaná

trabalhando como promotor ad hoc (promotor leigo) da comarca de

Muaná.

A família Batista migrou para a cidade de Muaná na década de 1970. Após alguns anos, uma das filhas que trabalhava com uma pessoa de fora do Município de Muaná foi transferida para Macapá no Amapá, para onde foram também a irmã Rosa e mais dois irmãos. Hoje, um dos filhos da família Batista, o Manoel Batista, está trabalhado no projeto da Associação dos Miniprodutores Rurais de Muaná – AGROMA na estrada Pedro Ferreira.

Somente a família Pinheiro permaneceu no lugar. Os filhos Basílio e Roque migraram com as famílias para a cidade na década de 1980, sendo que Basílio passou a trabalhar como açougueiro no mercado municipal e Roque com barcos de transporte de produtos do Atuá. Ambos casaram lá no Atuá. O terceiro filho, Benedito (o Bena), de Carlos Pinheiro, casou com uma mulher da cidade que havia ido para alto Atuá trabalhar como professora primaria. Quando a prefeita Hortênsia assumiu a prefeitura, o casal migrou para a cidade de Muaná, sua esposa é filha do primo da prefeita. As duas filhas da família Pinheiro permaneceram até hoje morando na área. São elas Maria esposa do Sebastião e Benedita casada com Laudimar. Os descendentes de portugueses que lá ficaram foram se casando com descendentes de nordestinos. Foi desta forma que se constituiu o coletivo que hoje constitui o grupo familiar do Recreio.

Observa-se que o grupo familiar forneceu três prefeitos ao Município de Muaná, havendo nesse mesmo coletivo, um pequeno subgrupo que faz parte das oligarquias que governam o Município, enquanto que os outros são apenas lavradores. Atualmente há facções no interior deste grupo: uma se organiza em torno dos poderosos da família, enquanto que outros se filiam às organizações da igreja. Os primeiros, quando no Recreio, também se identificam como comunitários, e preservam os laços de solidariedade com todos os demais moradores, mas ao mesmo tempo, eles se mantêm fiéis ao grupo político de sua família. Assim, os primeiros, se mudam para a cidade e ocupam cargos na administração municipal, ou formam associações sob a influência da prefeitura, enquanto que os segundos se organizam

em torno da Igreja, em pastorais, ou em torno de entidades associativas sob a influência destas, como o Sindicato de trabalhadores rurais e a APROAGRO, da qual tratarei no capítulo 4.

Merece atenção o fato de eu haver podido reconstituir a genealogia com precisão, a partir da memória dos membros do grupo familiar. Isso, entre outros eventos relatados nessa dissertação, como, por exemplo, a forma como fui recebida no Recreio, mostram que as referências dos parentes são fundamentais no sentido de emprestarem significados a todos os aspectos da vida. Comerford (2003) faz uma análise fina daquilo que denomina “território de parentesco” e mostra como as categorias família, parentes, parentesco, família, gente, raça e troncos estão associados, no caso por ele estudado, tanto a relações entre pessoas quanto a um território. O mesmo ocorre no caso do Recreio, em que a família, ou mais freqüentemente a comunidade, expressa uma superposição entre parentesco e território. No caso, tanto a família quanto o território podem exceder os limites do Recreio, estendendo-se por todo o Atuá, Muaná e até mesmo Belém, território sobre o qual o grupo familiar mantém formas de controle de graus distintos. Tanto as CEBs, quanto a APROAGRO mantêm uma relação com os significados de família, e os papéis que desempenham são a elas referidos. Por outro lado, comunidade e comunitários tem o papel de agregar, de fazer pertencer à família aqueles que não pertencem e de manter o equilíbrio no interior do grupo nos momentos de grandes deslocamentos (migrações e imigrações).

Diagrama de parentesco da comunidade Recreio68

1ª Geração de descendentes de portugueses

R Reis A.Mendes Sofia

C.P B M. G. R.F S.N. L. R

68 Do diagrama constam somente: 1) o casal chefe da família; 2) quem mora sozinho; 3) parentes dos moradores que tiveram significado para formação do “território de

Explicação do diagrama ou = morador (a) contar como família.

ou = pessoas nascidas no Recreio.

ou = pessoas que imigraram da comunidade do alto rio Atuá.

Morador vindo de outra área, que não o Atuá.

ou = pessoas que imigraram de outro lugar; morador e casado com alguém do Recreio

= Sexo masculino

= Sexo feminino.

ou = pessoas que nasceram no Recreio e emigraram

= Prefeita do município de Muaná nas gestões 1997/ 2000 e 2001/2004

= Prefeito do município de Muaná. Um deles foi marido da ex-prefeita e governou o município na década de 1970. O outro foi prefeito na década de 1960, e criou o povoado do Mocajatuba.

As formas de produção subgrupo familiar que permanece no Recreio passa por transformações econômicas sucessivas a partir do fim da exploração da seringa no regime de Barracão. Parte destas já foi indicada, como a formação de povoamentos agrícolas. Mas, desde o final dos anos sessenta, as explorações da madeira e, depois em 1970, do palmito passam a ser feitas de forma intensiva, inclusive com a entrada periódica de trabalhadores de fora. Esses eventos, que atingem todo o Rio Atuá, provocam transformações na organização da produção e nas relações familiares no interior de grupo doméstico. A seguir, procurarei mostrar como se deram esse processo e analisar como as famílias do Recreio procuraram encontrar formas de se adaptarem àquilo que aparecia como novidade.