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Culturas/meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Abacaxi Plantio e colheita (01 ano entre uma atividade e outra)

Abóbora plantio colheita

Banana Plantio e colheita (01 ano entre uma atividade e outra) Mandioca Derruba e roçagem plantio Derruba e roçagem Derruba e roçagem plantio Plantio

Maxixe plantio colheita

Melância Colheita plantio Plantio

Milho Colheita Derruba

e roçagem

plantio Plantio

De acordo com os dados levantados existem dois períodos de ciclo agrícola um começa com a derruba, roçagem e queima no mês de junho ou julho e o outro começa a derruba, roçagem e queima em setembro ou outubro, quanto ao plantio, depende muito do começo da chuva. Se o plantio for em novembro a primeira limpeza ocorre em janeiro, mas se o plantio for em dezembro a primeira limpeza é feita em fevereiro. O ciclo sempre se dá desta maneira:

1) derruba, roçagem e queima; 2) plantio;

3) dois meses depois do plantio a primeira limpeza;

4) a colheita depende da cultura – milho e melancia 3 meses depois, - banana 8 meses depois, - mandioca de 8 a 9 meses91.

Outras atividades novas são: a venda de açaí beneficiado no período de safra, quando há muitos “marreteiros” na região comprando e vendendo na região;

Quadro nº 05 Atividades agrícolas do Atuá em 2005 CALENDARIO DAS ATIVADES AGRICOLAS

PREPARO DA TERRA CULTIVOS PRINCIPAIS CULTIVOS SECUNDÁRIOS MESES

ROÇAGEM DERRUBA QUEIMA COIVARA PLANTIO COLHEITA PLANTIO COLHEITA

JANEIRO Abacaxi Maxixe Jerimum Melancia Abacaxi MARÇO Maxixe ABRIL Jerimum Milho JULHO X Melancia AGOSTO X X SETEMBRO X X Mandioca

OUTUBRO Banana Banana

DEZEMBRO Milho

Mandioca Milho Mandioca

Na associação, todos têm os mesmos deveres e direitos, estabelecidos contratualmente, o que significa uma importante mudança em relação ao passado. No entanto, verificamos que de alguma forma não é apenas o contrato que regula as relações. Conforme foi mostrado no capítulo 2, Benedita e o marido trabalham com seus filhos, mantendo a coesão através do trabalho coletivo. Embora os filhos não sejam sócios, a organização do trabalho familiar continua sendo mantida como antigamente e toda a família se beneficia dos projetos implantados e para eles contribui. Observa-se que a maioria dos sócios pertence à geração

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As informações foram colhidas em dezembro de 2005, na cidade de Muaná, junto ao senhor João Reis, pai da Leila, esposa do Zé Luis. Ambos foram entrevistados no Recreio em outubro de 2004. É também pai da Laudimar, marido da Benedita (Bena). Era antigo morador do Bom Jardim depois vendeu a terra que havia recebido de herança de seus pais e foi morar lá para o alto rio Atuá.

mais antiga, e que a participação das mulheres na sociedade é pouco inferior à dos homens. Podemos constatar que ao lado de suas formas tradicionais de trabalhar, os trabalhadores adaptam formas conhecidas às formas contratuais e individualistas próprias dos projetos. Resultando daí uma forma híbrida que contém elementos interiorizados da agricultura tradicional que se mesclam às formas propostas pelos projetos, embora estes, a princípio, sejam construídos de forma participativa. No entanto, o planejamento, conforme entendido por lideranças devidamente treinadas, contrapõe-se por vezes às práticas interiorizadas do grupo, podendo gerar descontentamentos e conflitos, que são, todavia, amenizados em virtude da coesão interna do grupo.

Na APROAGRO, de acordo com as informações levantadas, observamos que a maior parte das atividades produtivas (fabricação de farinha, plantio de açaí, criação de peixe, criação de porcos e outras) é desenvolvida tanto por homens, quanto por mulheres, o que assinala uma diferença relevante com as formas tradicionais de produção, onde a divisão das tarefas por sexo era mais claramente estabelecida. No entanto, as atividades domésticas e de criação dos filhos continuam exclusivamente a cargo das mulheres (educação dos filhos, limpeza da casa, lavagem da roupa, preparo dos alimentos e outras).

Alguns dos sócios, especialmente os mais velhos, resistem a algumas práticas ensinadas pelos técnicos, como a criação de porcos em cativeiro, que exige que estes sejam alimentados com ração em horários pré-estabelecidos. Então, esse novo planejamento de atividades, que envolve a utilização de espaços finitos e que exige que as tarefas sejam realizadas em horários pré-definidos, implicando a necessidade de construir uma nova noção de tempo, são, freqüentemente, objeto de reclamação por parte de alguns sócios. Na realidade, o que se verifica, observando as atividades acima descritas, é um processo de intensificação do trabalho, seja pela combinação de atividades agrícolas, extrativistas e de criação, em que o tempo é minuciosamente organizado, sem deixar períodos ociosos, seja pela inclusão de novas atividades, como alimentar animais e limpar chiqueiros. Isso está sendo resolvido internamente pelo grupo adaptando antigas formas conhecidas às exigências do novo planejamento. Deste modo, não é obrigatoriamente o sócio nominal quem dá um dia de trabalho para a associação. O dia pode ser pago com o trabalho de um filho. Por outro lado, mantém-se a circulação de alguns gêneros entre famílias que estão desprovidas, de forma que todos possam alimentar-se, o que significa que esses trabalhadores atribuem ao lado dos significados aprendidos dos técnicos, um sentido próprio e coletivo para a sustentabiliade, que implica o uso das novas técnicas como forma de fortalecer a coesão interna do grupo de parentes, em contraposição a outro grupo de parentes. Apesar desta cisão, localmente, todos

pertencem à comunidade do Recreio, onde se inserem todos os clãs, e onde todos têm obrigações uns em relação aos outros.