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2.2 COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

2.2.4 Barreiras e facilitadores

O compartilhamento do conhecimento é um processo complexo, valorizado e induzido a um equilíbrio do poder dentro das organizações. Davenport e Hall (2002) destacam que alguns indivíduos sentem prazer em relatar os resultados alcançados por determinados atos,

sendo este comportamento considerado altruístico e prosaico. Em outras palavras, o compartilhamento da informação, neste caso, pode ser motivado pela satisfação pessoal de divulgar suas próprias ideias e conhecimentos.

Ponjuán Dante (2004) ressalta que o compartilhamento de conhecimentos organizacionais é o processo mais importante relacionado ao conhecimento. Porém, tal como outros autores, ela afirma que o compartilhamento é o processo que enfrenta as maiores barreiras nos planos cognitivo, afetivo e organizacional. É difícil partilhar conhecimentos relacionados a pontos de vistas e conceitos ao responder a perguntas e demonstrar técnicas. Com relação ao plano organizacional, os membros de uma organização não são recompensados por ajudar os colegas na resolução de problemas. Além disso, a autora destaca como obstáculos ao compartilhamento: falta de confiança, diferenças nos marcos e referências, falta de tempo e de oportunidades, recompensas pouco significativas para os que possuem conhecimento, falta de capacidade dos receptores para absorver novos conhecimentos, entre outros.

Enfim, são diversos os fatores que podem dificultar ou motivar o compartilhamento da informação e do conhecimento. Dessa forma, as organizações, além de promoverem a cultura do compartilhamento, devem identificar os aspectos que representam barreiras para troca de informações, bem como fomentar ações impulsionadoras dos fatores que influenciam positivamente as atitudes e os comportamentos voltados para o compartilhamento.

A literatura revista oferece um elenco de várias condições ou aspectos que podem influenciar - favorável ou desfavoravelmente - o compartilhamento de conhecimento na organização. Esses aspectos podem advir de crenças e valores pessoais ou ser percebidos como valores pregados pela equipe onde este indivíduo atua ou mesmo pela organização como um todo e formam as variáveis a serem estudadas neste trabalho. Essas condições estão operacionalmente definidas nos Quadro 2 e Quadro 3.

Aspectos

facilitadores Definições operacionais Autores Reconhecimento Percepção do indivíduo que o

compartilhamento de conhecimento é devidamente reconhecido ou recompensado pela equipe ou organização

Davenport, 1998

Von Krogh; Ichijo; Nonaka, 2001

Robbins, 2002

Desejo de

colaborar

Disposição solícita de compartilhar seus conhecimentos com outros

Von Krogh; Ichijo; Nonaka, 2001 Eagly e Chaiken, 1998 Tonet, 2006 Robbins, 2002 Consciência da utilidade do conhecimento

Consciência de que o conhecimento pode ter utilidade para outras pessoas na organização

Von Krogh; Ichijo; Nonaka, 2001

Tonet, 2006 Reciprocidade Percepção de que ao compartilhar um

recurso, a outra parte estará disposta a retribuir com um conhecimento de mesmo valor

Nonaka e Takeuchi, 1995 Eagly e Chaiken, 1998 Tonet, 2006

Confiança Certeza de que o compartilhamento de conhecimento não trará danos a si mesmo, certeza quanto ao uso a ser feito do conhecimento compartilhado

Von Krogh; Ichijo; Nonaka, 2001 Eagly e Chaiken, 1998 Tonet, 2006 Robbins, 2002 Consciência da aprendizagem

Percepção de que há aprendizagem pessoal ao compartilhar conhecimentos

Von Krogh; Ichijo; Nonaka, 2001

Angeloni, Dazzi, 2004 Tonet, 2006

Relevância Percepção de que há ganhos pessoais relevantes ao se compartilhar conhecimento

Von Krogh; Ichijo; Nonaka, 2001

Angeloni, Dazzi, 2004 Ponjuan, 2004

Quadro 2 - Aspectos facilitadores ao compartilhamento do conhecimento

Barreiras Definições operacionais Autores Individualismo Relutância de indivíduos que

investiram recursos na construção de uma competência específica em compartilhar este conhecimento com outros

Gammelgaard, Husted e Michailova, 2002

Davenport, 1998

Medo de se expor Percepção de que o

compartilhamento de

conhecimento pode expor fracassos que tragam danos à carreira ou reputação do indivíduo

Von Krogh; Ichijo; Nonaka, 2001

Confidencialidade Percepção de que o conhecimento é algo sigiloso e que não deve ser compartilhado

Robbins, 2002

Competição interna Percepção de que o

compartilhamento de

conhecimento pode diminuir vantagens competitivas individuais

Davenport, 1998

Von Krogh; Ichijo; Nonaka,

2001

Robbins, 2002 Seletividade Percepção de que apenas parte

do conhecimento deve ser compartilhada

Davenport, 1998

Falta de tempo Percepção de que não há tempo suficiente para compartilhar conhecimento

Von Krogh; Ichijo; Nonaka,

2001;

Angeloni; Dazzi, 2004 Perda de poder Percepção de que compartilhar

conhecimento equivale a perder poder e influência na organização

Davenport, 1998

Nonaka & Takeuchi, 1995

Von Krogh; Ichijo; Nonaka,

2001

Quadro 3 - Barreiras ao compartilhamento do conhecimento

Fonte: Autora

As variáveis definidas foram testadas empiricamente, nos três níveis que formam o comportamento organizacional: indivíduo, grupo e estrutura organizacional, conforme descrito a seguir, no capítulo 3 – Metodologia de Pesquisa.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Este capítulo tem por objetivo apresentar o processo metodológico adotado que conduziu o desenvolvimento deste estudo considerando o problema de pesquisa proposto. Cada investigação, diz Koche (1997), deve focar conforme as características do problema investigado. Segundo Gil (1999) os métodos científicos compreendem um “conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos” para que os objetivos da investigação científica sejam atingidos.

A escolha da metodologia está relacionada com o problema estudado, em função da natureza do fenômeno, objetivo da pesquisa e de outras envolvidas na investigação, de acordo com Marconi e Lakatos (2001).

A metodologia pode ser considerada o modo de conduzir a pesquisa, ou seja, são os princípios e os procedimentos os quais são abordados os problemas a fim de encontrar as respostas procuradas (BOGDAN; TAYLOR, 1976)

Os tópicos a seguir apresentarão os procedimentos e critérios metodológicos da pesquisa proporcionando a compreensão de como a realidade foi estudada.

3.1 NATUREZA DA PESQUISA

Silva e Menezes (2000) definem quatro formas de classificar uma pesquisa: quanto à natureza, quanto à forma de abordagem, quanto aos objetivos e quanto aos procedimentos adotados pelo pesquisador.

Quanto à natureza, a pesquisa pode ser classificada como pesquisa básica ou pesquisa aplicada. Segundo os autores, a pesquisa básica objetiva gerar conhecimentos úteis para o avanço da ciência, mas sem uma aplicação prática prevista. A pesquisa aplicada objetiva gerar conhecimentos para uma aplicação prática, dirigidas às soluções de problemas específicos.

Em relação aos fins, esta pesquisa é do tipo exploratória-descritiva. A pesquisa exploratória tem por finalidade fornecer um maior conhecimento sobre os temas e problemas de pesquisa em análise, proporcionando maior aprofundamento e esclarecimento sobre o assunto (COOPER; SCHINDLER, 2004).

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Este estudo analisou um caso específico caracterizando esta pesquisa como sendo do tipo estudo de caso que se constitui em uma das formas de estudar um problema adotando o enfoque qualitativo.

Segundo Yin (2005), a estratégia de pesquisa através de estudo de caso, engloba vários métodos que, tratados dentro de uma lógica, com base em um planejamento estruturado e com técnicas de coletas de dados, provem o entendimento dos fenômenos empíricos, levando o pesquisador a contribuir com o conhecimento. Os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos conterrâneos inseridos em algum contexto da vida real.

O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado, tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos de delineamentos considerados (GIL, 1999).

Fleury (2004) relata que a maioria das pesquisas realizadas sobre cultura organizacional é baseada em estudo de caso, com o foco para uma organização.

Para desenvolver o estudo de caso foi adotado um enfoque descritivo porque pretende apresentar de forma mais ou menos detalhada a realidade investigada. Conforme Vergara (1995), a pesquisa descritiva visa a abordar características de determinado fenômeno ou população, estabelecendo correlações entre variáveis e definindo a sua natureza. De maneira similar, Babbie (1998) diz que um estudo com enfoque descritivo visa a detalhar situações e eventos em estudo.

Desta forma, o presente estudo de caso contribui para entender de forma mais ampla e aprofundada os processos relacionados ao compartilhamento do conhecimento na empresa pesquisada.

3.3 MÉTODO DA PESQUISA

A abordagem escolhida para esta pesquisa foi quantitativa e, predominantemente, qualitativa. Conforme Richardson et al (1999), a escolha de uma abordagem, a forma como se pretende analisar um problema, é que define a abordagem a ser utilizada a depender da natureza do problema de pesquisa ou do seu grau de aprofundamento.

De acordo com Neves (1996), a pesquisa quantitativa tem sido largamente presente na pesquisa social para explicar e descrever os fenômenos. Este método trata as estatísticas mediante as hipóteses estabelecidas. Porém, hoje está cada vez mais promissora a pesquisa qualitativa. Os estudos qualitativos podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e viabilizar um maior aprofundamento nas relativas ao comportamento individual.

Segundo Lüdke e André (1986), o estudo qualitativo é o que se desenvolve num ambiente natural tendo como fonte direta os dados. Os dados descritivos são mais ricos e flexíveis e apontam a realidade com sua complexidade e também contextualizada. Entretanto, Minayo et al (2000) reforçam que a pesquisa qualitativa trabalha com uma gama de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que está relacionado ao aprofundamento das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser limitados à operacionalização de variáveis.

Existem algumas situações que implicam no método qualitativo e que necessitam substituir os dados estatísticos por dados qualitativos, como por exemplo, os estudos que se referem aos fatos do passado, os que dizem respeito aos aspectos culturais, as investigações sobre grupos que necessitam de mais informações tais como: estudos com ênfase nos aspectos psicológicos como atitudes, motivações, valores, expectativas e nas situações em que as

observações são usadas para o funcionamento de estruturas sociais (RICHARDSON et al, 1999).

O tema desta pesquisa se refere aos aspectos complexos, que dão ênfase aos conteúdos individuais relacionados com temas subjetivos dentro do comportamento organizacional, que aprofundam interpessoais ao explorar o compartilhamento do conhecimento, estando dessa forma mais adequada a utilização das situações descritas.

Nesse caso, dada a natureza do problema e diante dos objetivos apresentados, acredita- se que um estudo qualitativo possibilite um maior aprofundamento da realidade da empresa escolhida.

3.4 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

O universo da pesquisa é formado por colaboradores de uma empresa de consultoria de Informática que desenvolve projetos de Business Intelligence (BI) no Brasil. De acordo com Richardson et al. (1999), população ou universo é o conjunto completo de elementos que possuem determinadas características sobre as quais desejamos fazer algumas inferências e, segundo Vergara (1995), corresponde ao conjunto de elementos, como por exemplo, empresas, pessoas, que possuem características que serão objeto do estudo.

Situada em SP, a empresa “X” tem um quadro de colaboradores composto por profissionais nas áreas de Produção (Fábrica de softwares e Projetos), Serviços, Comercial e Administrativo.

A amostra desta pesquisa conta com toda a população de colaboradores da Empresa “X” apresentada no Quadro 4 abaixo.

Quadro 4 - Quantidade de colaboradores da empresa “X”

Fonte: Autora

A empresa “X” é composta de um conselho diretor com quatro participantes, sendo três deles atuantes na empresa à frente das 3 principais áreas, a saber: Produção (projetos e fábrica), Comercial e Administrativa. Sua força total de trabalho é constituída por 182 (cento e oitenta e dois) colaboradores permanentes, distribuídos por nível de escolaridade e área conforme Quadro 5 e Quadro 6, respectivamente.

Escolaridade Escolaridade Escolaridade

Escolaridade %%%% QuantidadeQuantidadeQuantidadeQuantidade

2o grau complete 8% 14 3o grau complete 58% 105 Especialização 31% 56 Mestrado 4% 6 Doutorado 0% 0 Total Total Total Total 182182182182

Quadro 5 - Perfil de escolaridade dos colaboradores da empresa “X”

Fonte: Autora

Área de atuação Área de atuação Área de atuação

Área de atuação %%%% QuantidadeQuantidadeQuantidadeQuantidade

Administrativo 4,2% 7

Comercial 5,1% 9

Produção – Fábrica 15,3% 28

Produção – Projetos 54,2% 99

SM 10,2% 19

RH, PMO, Treinamento, Suporte a produção 11,0% 20

Total Total Total

Total 182182182182

Quadro 6 - Quantidade de colaboradores por área de atuação da empresa “X”

Fonte: Autora

Definiram-se os seguintes critérios para escolha da amostra (LAKATOS; MARCONI, 1991):

 Representatividade: decidiu-se pela distribuição dos questionários para todos os colaboradores da empresa “X”.

 Disponibilidade: decidiu-se enviar o questionário para todos os colaboradores que estivessem ativos na empresa, ou seja, exercendo as suas atividades, desconsiderando àqueles que estivessem afastados oficialmente por motivo de férias ou licença médica.

 Acessibilidade: decidiu-se pela utilização do site Survey Monkey (http://pt.surveymonkey.net/MySurveys.aspx) para que todos os profissionais elegíveis pudessem ter a liberdade de responder remotamente, considerando uma das características da empresa objeto deste estudo de caso, que é a de atender os seus clientes utilizando o ambiente deste.

Vários são os fatores para se manter o anonimato num estudo de caso, dentre estes, os mais comuns, passam por casos com tópicos polêmicos e situações onde o caso possa interferir nas ações das pessoas envolvidas no estudo (YIN, 2005).

3.5 INSTRUMENTO DA PESQUISA.

Esta seção é composta de duas etapas: a descrição do instrumento que foi construído para a coleta de dados e, na sequência, o processo de coleta de dados utilizado neste trabalho.

A entrevista é uma das mais importantes fontes de informação para o estudo de caso (YIN, 2005). O questionário é o instrumento utilizado neste trabalho para que se possa obter o conhecimento das pessoas entrevistadas.

De acordo com Richardson (1999), as entrevistas podem ser classificadas conforme os tipos de perguntas: questionários de perguntas abertas, fechadas ou combinação delas.

• Perguntas abertas com atribuição de ordem de preferência ou de importância de diversos fatores.

• Perguntas do tipo alternativas fechadas (exemplo: sim/não) ou estratificadas (ex; 0- 10%; 10%,-20%).

A técnica exploratória na qual este trabalho se fundamenta é a técnica do questionário, utilizando-se escalas do tipo Likert, variando entre concordo totalmente e discordo totalmente.

Escalas são séries de itens com conteúdo homogêneo que, juntos, formam uma medida composta para representar um conceito (HAIR et al., 1995) ou constructo (TROCHIM, 2004).

O método Likert baseia-se na suposição de que o score que resulta das respostas aos itens que refletem aparentemente a variável estudada, é capaz de fornecer uma medida razoavelmente boa desta variável (BABBIE, 1999).

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