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Neste estudo desenvolveu-se uma análise epistemológica sobre o tema avaliação de desempenho organizacional. Foram descritas as principais correntes de pensamento que se constituíram na formação da ciência: empirismo, racionalismo, utilitarismo, funcionalismo, sistemismo, dialética e complexidade. O entendimento sobre avaliação de desempenho organizacional foi direcionado para Tableau de Board; Método de Martindell; Administração por Objetivos; Método de avaliação de desempenho global; Balanced Scorecard; Skandia Navigator; e Modelo NIEPC. Foram utilizados estes modelos de avaliação de desempenho no estudo por existirem artigos ou teses com aplicações em unidades organizacionais e assim ser possível uma análise detalhada do modelo.

Na sequência apresentam-se as principais correntes de pensamento científico as quais influenciaram os diversos campos científicos. Inicia-se com o empirismo, racionalismo, segue-se com o utilitarismo, após se apresenta o funcionalismo e o sistemismo. Estas correntes congregam-se no paradigma vigente. Finaliza-se com a corrente dialética a qual representa uma oposição ao paradigma vigente e a teoria da complexidade, que procura unir os contraditórios.

O empirismo tem como seu principal pensador Francis Bacon. Bacon (1979) em Novum Organum procura estabelecer uma forma para estudar a natureza de forma empírica. Inicialmente o autor critica os resultados da ciência de sua época, critica também o uso da lógica e do silogismo. Preocupa-se em propor meios para auxiliar a mente a organizar a investigação. Desta forma, acaba propondo a busca por experimentos que iluminem as causas, para, a partir delas, se chegar aos resultados práticos, dentro de uma linha ou processo contínuo de evolução do conhecimento.

Na obra de Descartes (1979) encontra-se o racionalismo para a investigação das verdades. O autor declara que seu desígnio fora reformar seu próprio pensamento, por acreditar assim, melhor conduzir sua vida na busca de fundamentos que lhe fossem racionalmente verdadeiros. Assim, pressupôs que as coisas eram duvidosas até que fossem encontradas evidências que as tornassem verdadeiras. Este é o primeiro preceito do modelo. O segundo consiste em dividir o problema em partes, tantas quantas forem necessárias para sua solução. O terceiro, analisar cada elemento, começando pelos mais simples até o conhecimento mais composto. O quarto, realizar enumerações e revisões criteriosas visando nada omitir. Assim, Descartes acredita encontrar a verdade única e total das coisas.

Decorrente do racionalismo e do empirismo a discussão no campo das ciências avança para o utilitarismo. Seus expoentes são Comte, Spencer, Mill e Bentham. A proposição de Comte despreza a filosofia e ignora a teologia, reduz o conhecimento à ideia linear de progresso, como

um processo evolutivo. Bentham (1979) tem como objetivo explícito criar uma ciência exata da moral. Para o autor, um comportamento é bom se promove a felicidade. A máxima felicidade possível para o maior número possível de pessoas é o guia da ação legítima.

As interconexões de ideias em torno do utilitarismo conduziram a inserção do paradigma funcionalista, em especial na antropologia e na sociologia. Malinowski (1970, p.137) sugere que o funcionalismo “ocupa- se da compreensão clara da natureza dos fenômenos culturais”. Esta corrente de pensamento influenciou, conforme Chanlat e Séguin (1987) a concepção de organização. Evidentemente, o utilitarismo e o funcionalismo, não só foram formas de perceber a organização como também perpassam todo o ambiente organizacional.

Para Demo (1985) a teoria sistêmica decorre do funcionalismo, do estruturalismo e com influências da cibernética e da teoria da informação. No funcionalismo apoiou-se nas ideias de função e objetivos que interessam à sociedade. No estruturalismo, apoiou-se na ideia do conjunto de partes estruturais que combinadas formam um todo organizacional. Segundo Bertalanffy, considerado o fundador da teoria sistêmica, esta teoria pode propor uma nova concepção de mundo, o “mundo como organização”, ou seja, acredita-se que tudo poderia ser explicado através do enfoque sistêmico.

Conforme Lefebvre (1983) a lógica dialética constitui uma oposição à lógica formal positiva. A lógica dialética procura compreender a realidade total de maneira dinâmica e não estática. O autor faz a distinção entre a lógica formal e a lógica dialética. A lógica formal visa à forma, pois é abstrata, a lógica dialética visa o conteúdo, pois este é dialético (sujeito- objeto). A história da lógica formal vem do pensamento grego, que era estático e contemplativo, distante da realidade. A lógica dialética supera a formal, pois considera o fenômeno no conjunto de suas relações.

Entende-se que o paradigma da complexidade emerge como uma abordagem integradora para explicar o real, ou ainda, para perceber este de uma maneira mais próxima. Morin (1982) amplia a ideia de ordem sugerindo sua complexificação, alegando que existem diversas ordens em diferentes formas de ordem. Além do determinismo, inclui na noção de ordem a ideia de coacção. Também aponta para a questão das singularidades das espécies vivas e argumenta que a ordem esta ligada à ideia de interações. Incluindo a noção de estrutura, a ordem pode ser vista como organização. “A organização constitui um conjunto não redutível às partes, porque dispõe de qualidades emergentes e de coacções próprias” (MORIN, 1982, p. 73).

Método Autor Data País

Franceses

Método de Martindell J. Martindell 1950 Estados Unidos Administração por

Objetivos

P. Drucker 1954 Estados Unidos Método de avaliação de

desempenho global H. Corrêa 1986 Brasil

Balanced Scorecard R. Kaplan e D.

Norton 1990 Estados Unidos

Skandia Navigator L. Edvinsson 1997 Suécia

Método NIEPC Silveira 2010 Brasil

Quadro 1: Origem dos métodos de avaliação de desempenho. Fonte: Elaborado pelo autor.

As principais correntes de pensamento científico as quais influenciaram os diversos campos científicos têm seu início com o empirismo e o racionalismo, segue-se com o positivismo e utilitarismo, após se origina o funcionalismo e o sistemismo. Estas correntes congregam- se no paradigma vigente. Estas correntes de pensamentos são antagônicas com o pensamento da racionalidade substantiva de Alberto Guerreiro Ramos, isto porque a racionalidade substantiva apresenta um conteúdo que valoriza o ser humano, sua dimensão individual e coletiva, preservando-lhe a dignidade fundamentada na sua expressão ética.

Pode-se traçar uma linha comparativa entre o funcionalismo, humanismo radical e interpretativismo no tocante à construção teórica. No funcionalismo constroem-se teorias por meio dos resultados. Assim, procura-se mostrar como a teoria é confirmada ou refutada, por meio do significado para os teóricos e para os profissionais. No humanismo radical a construção teórica ocorre pela análise dialética, mostrando como os níveis de consciência podem mudar. Já no interpretativismo, a construção teórica ocorre pela teoria substantiva, isto porque os interpretacionistas vêem as organizações como processos que se oriunda das ações intencionais do ser humano, individualmente ou em harmonia com outras intenções.

O funcionalismo foi o que mais exerceu influência na ciência da administração, inclusive na avaliação de desempenho organizacional, alvo deste estudo. Este paradigma dominante aliado à ausência de uma abordagem mais crítica gerou limitações e controvérsias neste campo. Atualmente, parecem existir duas linhas bem definidas no que se refere ao modelo de fazer ciência em administração: o paradigma funcionalista dominante e o paradigma crítico emergente. No que tange a racionalidade, diz-se que no primeiro modelo há predominância da racionalidade instrumental, enquanto no segundo destaca-se a racionalidade substantiva.

O quadro a seguir apresenta as correntes de pensamento que influenciaram os modelos de avaliação de desempenho apresentados.

Método Corrente de pensamento Influências - Tableau de Board; - Método de Martindell; - Administração por Objetivos; - Método de avaliação de desempenho global; - Balanced Scorecard; - Skandia Navigator; - Método NIEPC Empirismo/Racionalismo (Bacon, Descartes, Kant)

Administração Científica; Racionalidade Instrumental; Dividir para Compreender; Quantificação. Positivismo/Utilitarismo

(Comte, Popper, Schlick, Benthan)

Tudo pode ser explicado; Materialismo Utilitário; Otimização; Ordem e Progresso; Empirismo. Funcionalismo (Durkhein,

Malinowski e Selznick) Organização Formal; Ligação entre funções e necessidades; Sociedade Funcional; Divisão do Trabalho; Objetivos e Metas. Sistemismo (Parsons,

Bertalanffy) Organizações sistemas sociais; são Equilíbrio do sistema, Organização auto- sustentada; Estruturalismo; Troca de comunicação; Mecanismos de controle.

Quadro 2: Influência das correntes de pensamento nos métodos de avaliação de desempenho.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A avaliação de desempenho organizacional parte da premissa de uma razão instrumental, pois as metodologias apresentadas neste estudo procuram medir os resultados organizacionais e promover o aumento da lucratividade, e por consequência o acúmulo de bens e riquezas.

Pode-se constatar que o paradigma funcionalista foi o que mais exerceu influência na ciência da administração. Atualmente, contudo, parece haver duas linhas bem definidas no que se refere ao modelo de fazer ciência em administração: o paradigma funcionalista dominante e o paradigma crítico emergente. Nos estudos de avaliação de desempenho organizacional existe uma prevalência de estudos oriundos do paradigma dominante, com um forte viés utilitarista e sistêmico, pois apresentam uma lógica formal, racional e utilitária. Evidências de um paradigma crítico com utilização da racionalidade substantiva não foram encontradas.

Assim, as metodologias de avaliação de desempenho estão fortemente enraizadas no pensamento funcionalista. Há conformidade com as ideias iniciais que marcam o positivismo e o funcionalismo. Segue-se a ideia de que tudo é passível de uma explicação e com a aplicação de técnicas e conhecimentos pode-se alcançar a otimização. É fundamental um conjunto de regras e procedimentos que visem manter, aprimorar e sustentar uma organização produtiva. A organização, neste contexto, é vista como um sistema passível de ser “trabalhado”, ou seja, existe a possibilidade de influenciar, ou mesmo controlar, as ligações estabelecidas ente as partes, tornando o todo mais eficiente.