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Baure, Saraveka e a cadeia dialetal mojo

Capítulo 2 – As populações Arawak e Arawá

2.2 A situação lingüística a distribuição geográfica

2.2.9 Baure, Saraveka e a cadeia dialetal mojo

Na Bolívia, além das línguas anteriormente citadas, cujos falantes se encontram predominantemente em outros paises, temos os dialetos do mojo, o baure – apenas alguns poucos falantes do idioma –, o saraveka, já extinta, mas ainda com uma pequena população de descendentes e, já sem falantes ou descendentes, a apolista. Ramirez (2006) se refere ao idioma paunaka, que ainda seria usada por 4 pessoas, mas não possuímos outras informações sobre ela.

Baptista & Wallin (1967) localizam os Baure nos rios Blanco, Negro e San Martín, no Departamento de Beni, na província de Itenez, fornecendo o total de 5000 falantes. Essa cifra elevada não encontra apoio em outras fontes. AF localiza os Baure no Departamento de Beni, na província de Itenez, na área ao noroeste do povoado de Magdanela; em algumas vilas da província, como Huacaraje, Trobi, San Ignacio, Baures, Campo Santo, La Cruz etc. e; alguns poucos na região dos rios Itenez e Colorado, na zona limítrofe com o Departamento de Santa Cruza. A população Baure total seria de 474 pessoas, mas apenas uns poucos falariam o idioma. O Ethnologue (2005) fornece o total de 631 indivíduos, mas apenas 13 conheceriam o idioma. Os

Baure representam, assim como os Tariana, um caso de abandono da língua, que foi substituída pelo espanhol.

Os Saraveka, segundo AF, estavam localizados no Departamento de Santa Cruz, no nordeste da província de Velascos, entre Huanchaca e Las Pitas, Murillo e Magabalito, Sierra Ricardo Franco. Esse autor informa que não existem mais falantes do idioma, os descendentes, que evitariam o contato com os bolivianos, teriam adotado o chiquitano. O Ethnologue (2005) afirma que o saraveka está extinto, não sendo informado, contudo, se existem enquanto grupo étnico.

Sobre a cadeia dialetal mojo, temos informações a respeito do ignaciano, do joaquiniano e do trinitario. Para AF os falantes do ignaciano se localizam no Departamento del Beni, na província Moxos, num raio de 75 km ao redor de San Ignacio. A região de difusão da língua é limitada ao norte pelo rio Apere, pelas localidades de San Mateo e Mercedes del Apere, ao sul por San Lorenzo de Moxos, Santiago, San Ignacito, Florida, ao oeste por Carmen de Cavito e ao leste por Trinidad, San Pedro, Fátima, Argentina. Lehm (1991 apud Fabre 2005) assim delimita o território ignaciano: Bosque de Chimanes, desde San Ignacio, ao norte, rio Apere e seus afluentes, rios Aparecito, Chinsi e Cavitu, até suas cabeceiras em San Salvador, povoados de Santa Rosa, Pueblo Nuevo, San José, Monte Grande, Carmen del Aparecito, San Salvador, etc.. Segundo o Ethnologue (2005) são aproximadamente 4500 pessoas, muitas das quais falantes do idioma.

O joaquiniano, em processo de extinção, tem seus falantes e descendentes localizados no Departamento del Beno, província do Mamoré, na zona de San Joaquin, na parte centro-norte do departamento, a uns 200 km ao norte da cidade de Trinidad. O Censo Rural Indígena de Tierras Bajas fornece o total de 1913 Joaquiniano, dos quais 98% são monolíngües em castelhano e 1,9% bilíngües em joaquiano-castelhano. AF afirma que existe a possibilidade de se tratar de uma língua diferente e não de um dialeto mojo.

Trinitario é um termo usado por alguns autores para considerar a totalidade dos Mojo. O Ethnologue (2005) separa o idioma ignaciano do trinitario e afirma existirem 5500 falantes deste último, enquanto que a “ethnic population” é de 20805 pessoas, numero que inclui os Ignaciano. Essa fonte divide o trinitariano nos dialetos loretano e javierano, porém não fornece informações diferenciadas para cada um deles. O Censo Rural Indígena de Tierras Bajas de 1995 fornece o total de 12.521 pessoas, das quais 65,3% eram monolíngües em castelhano.

As informações sobre a localização dos Trinitario devem-se a AF. No Departamento del Beni eles se encontram na cidade de Trinidad, na província de Cercado, com aproximadamente 800 famílias segundo o Censo Indígena; na província dos Moxos, no Territorio Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure73 (TIPNIS), ao sul- sudeste de San Ignacio de Moxos, nas comunidades de Puerto San Lorenzo etc., onde todos, incluso as crianças, são monolíngües no idioma; em San Francisco de Mojos, ao nordeste de San Francisco e sul-sudeste de San Ignacio de Moxos, em comunidades como Monte Cristo etc.; em San Lorenzo de Mojos74, ao sul-sudoeste de San Ignacio, entre este e o rio Secure e; nas ribeiras do rio Mamoré, onde a comunidade de Rosario é a mais importante. Na estrada de Santa Cruz de la Sierra, existe a comunidade de Puente San Pablo.

Eles também são encontrados na região sul das províncias de Yacuma e Ballivián, no Territorio Indígena Multiétnico75, ao oeste, noroeste e sudoeste de San Ignacio de Moxos. Nesse território encontram-se também os Ignaciano, Chimane, Movima (isolada) e Yuracare (isolada). Essa zona está localizada ao noroeste do TIPNI, ao sudeste de San Ignacio, entre o rio Apere ao leste e o rio Maniqui ao oeste. A serrania de El Pilón, que separa a bacia do rio Maniqui e a do Alto Beni, constitui o limite sul da distribuição, os Trinitario dessa região estão concentrados principalmente na parte ocidental baixa do TIPNI, sobretudo entre San Ignacio de Moxos ao norte, o rio Aparecito ao oeste e o Apere ao leste.

O mapa abaixo (Mapa de Bolívia) apresenta a localização das línguas ainda faladas na Bolívia. As populações descendentes de ex-falantes não estão nele representadas.

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O TIPNIS tem como limite sul a serrania de Mosetenes, limítrofes com o departamento de Cochabamba, e o rio Nutusama, um dos formadores do Secure, entre a serrania Eva Eva, ao nordeste, e a cordilheira de Mosetenes, ao sul. Para o oeste, o limite segue o rio Isiboro e para o leste, o rio Secure. Estes dois rios se unem mais ao norte, na zona de Limoquije e deságuam no rio Mamoré, na altura de Loreto.

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Nesse povoado as crianças são monolíngües em castelhano.

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Este território compreende uma grande região da zona que se chamava até recentemente de "Bosque de los Chimanes", no qual estavam localizados 4800 Trinitario segundo o censo de 1992.