• Nenhum resultado encontrado

Preparação, intervenção e follow up

3. rEVISÃo dE LItErAturA

3.5 Bem-estar (BES, BEP, BET)

(Kahneman, Diener and Schwarz, 1999). O bem-estar é visto quer como um propósito ou objetivo subjetivo na vida dos indivíduos, quer como uma necessidade social e cultural (Tay and Diener, 2011; Diener et al., 2010; Waterman, 2007; Ryan and Deci, 2001) (Figura 3).

Figura 3 - Conceptualização do Bem-Estar

Adaptado de Ryan and Deci, 2001; Kahneman, Diener and Schwarz, 1999; Diener, 1984 (citado em Messias, F.B., 2014: 91)

A dimensão positiva do bem-estar surge na investigação associada à saúde e à qualidade de vida focada ao nível da Psicologia da Saúde. Para Jesus (2006) “o bem-estar revela-se um conceito-chave em Psicologia da Saúde e relaciona- se com a qualidade de vida” (Jesus, 2006: 128) (Quadro 1).

Quadro 1 - Diferenças entre Psicologia Clínica e Psicologia da Saúde

PSICOLOGIA CLINICA PSICOLOGIA DA SAÚDE

Intervenção em situações de doenças Visa o sujeito

Remediação

Resolução de situação de mal-estar

Intervenções para promoção da saúde Pode visar grupos ou comunidades

Prevenção

Desenvolvimento de situações de bem-estar Adaptado de Jesus, 2006:128 (citado em Messias, F.B., 2014: 93)

Esta nova dinâmica no estudo do bem-estar é estudada na Psicologia Positiva iniciada por Martin Seligman (Seligman and Csiksentmihalyi, 2000). O objetivo é o aperfeiçoamento da compreensão científica acerca da experiência humana (Seligman, Steen, Park and Peterson, 2005) centrando a atenção da investigação na saúde, nos contextos e nas características positivas individuais (Dewe and Cooper, 2012; Galinha, 2008).

O quadro 3 apresenta os principais pilares da Psicologia Positiva.

Quadro 2 - O Movimento Científico da Psicologia Positiva

Três Temáticas Uma ciência da experiencia positiva, diferenças individuais positivas e instituições positivas – todas elas encaram uma psicologia do funcionamento positivo humano (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000: 5)

O Objetivo Refocar e explorar os aspetos positivos da experiência individual (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000)

Um catalisador Um mecanismo para a mudança – reunir o campo de análise salientando o papel do positivo (Csikszentmihalyi, 2003)

Será nova? Constrói sobre o conhecimento adquirido, capturando e focando-se nas qualidades positivas dos indivíduos (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000)

Será uma moda? Não se trata de uma solução, nem uma ideologia – a sua importância reside na forma como motiva a investigação para as experiências positivas (Seligman et al., 2005; Seligman et al., 2002)

De onde veio? Proveio da constatação de que a Psicologia durante muito tempo falhou em capturar a riqueza da experiência humana, centrando-se apenas na doença (Seligman et al., 2005)

Será uma abordagem

discreta?

E um movimento de inclusão que deve captar a riqueza da experiência humana (Bacon, 2005)

Apresenta rigor

científico? O rigor científico é o centro de toda a investigação em Psicologia, pelo que igualmente está no centro da Psicologia Positiva (Seligman & Csikszentmihalyi, 2001) Adaptado de Dewe and Cooper, 2012: 22 (citado em Messias, F.B., 2014: 94)

O bem-estar objetivo afere-se tendo em conta um conjunto de indicadores socioeconómicos que possibilitam diferenciar os indivíduos entre si antes de qualquer outra medição subjetiva ao nível da saúde, da qualidade de vida ou da felicidade. o bem-estar subjetivo (BES) centra-se ao nível do indivíduo, nas suas disfunções físicas e psicológicas visando estudar os fatores associados ao funcionamento positivo dos indivíduos em função da sua autoavaliação. Constitui um campo de estudo recente dentro da Psicologia Positiva (Schaufeli and Bakker, 2004; Ryan and Deci, 2001; Seligman and Csiksentmihalyi, 2000; Ryff and Singer, 1998; Diener, 1984) e inclui a dimensão cognitiva e a afetiva (Lyubomirsky et al., 2005; Simões et al., 2000; Danna and Griffin,1999; Diener, 1984). Centra-se nos fatores e nos processos que respeitam à variabilidade da felicidade (Tay and Diener, 2011; Diener et al., 2010; Diener and Biswas-Diener, 2009; Biswas-Diener and Dean, 2007; Diener et al., 2003; Diener, 2000) e aos fatores e processos facilitadores da satisfação geral com a vida (Danna and Griffin, 1999) ou em domínios mais específicos sujeito à autoavaliação dos indivíduos (Schaufeli and Bakker, 2004).

Diener and Lucas (2000) perspetivam o bem-estar como um sentimento subjetivo, segundo critérios padronizados pelo próprio indivíduo e somente avaliado por este (Diener and Lucas, 2000). Para uns relaciona-se com o desempenho profissional (Schaufeli and Bakker, 2004), para outros identifica-se com a relação com a família e amigos (Ryan and Deci, 2001; Diener, 1984) para outros refere-se à riqueza, prestígio e poder pessoal (Lyubomirsky et al., 2005), para outros, ainda é somente ter saúde, ter o suficiente para satisfazer as necessidades do quotidiano ou ter as condições para atingir a realização pessoal (Ryan and Deci, 2001; Simões et al., 2000; Danna and Griffin, 1999; Ryff and Singer, 1998).

Para Ryff and Keyes (1995) e Ryff (1989), os teóricos do BEP adotam a visão de felicidade e de bem-estar, centrada na experiência pessoal do indivíduo e da autorrealização, concebendo o BEP, tanto teórica quanto operacionalmente, como um conceito multidimensional estruturado assente em seis elementos: autonomia, autoaceitação, crescimento pessoal, propósito de vida, relacionamento positivo e domínio da envolvente (Ryff and Keyes, 1995) (Figura 4).

Figura 4 - Modelo de Bem-Estar Psicológico de Carol Ryff

Adaptado de Ryff, 1989; Ryff and Keyes, 1995 (citado em Messias, F.B., 2014: 111)

Esta perspetiva adota uma visão eudaimónica da felicidade, que se refere não só à felicidade hedónica, mas também à realização do potencial pessoal, das metas fundamentais de vida, descrevendo o funcionamento positivo global do indivíduo. (Tay and Diener, 2011; Diener et al., 2010) – se por um lado, o BES está associado a avaliações da satisfação

com a vida e a afetos positivos e negativos que revelam ou não a felicidade (Eid and Larsen, 2008), por outro, o BEP está estruturado por formulações psicológicas sobre o desenvolvimento humano e as suas capacidades para enfrentar os desafios da vida (Cohen, 2000; Ryff and Keyes, 1995; Ryff, 1989).

Já o conceito de bem-estar no trabalho (BET) abre uma nova perspetiva de investigação apoiada na Psicologia Positiva, tendo como centro os aspetos positivos dos indivíduos e das organizações (Mark, Andrew and Sharon, 2007; Grzywacz and Marks, 2000; Warr, 1999; Harter, Schmidt and Keyes, 2003). O BET é apresentado na literatura como um constructo multidimensional (Warr, 2003, 2007), perspetivado ainda face à dicotomia de doente e de não doente para o trabalho (Danna and Griffin, 1999; Dublin and Champoux, 1977) e ainda perspetivado somente em termos afetivos (Warr, 1999).