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Preparação, intervenção e follow up

6. dIScuSSÃo E concLuSÕES

Apesar de não se ter concluído o ciclo determinado pela intervenção, ficou claro que o modo de desenvolvimento da sessão foi eficaz na criação de projetos de inovação organizacional na Empresa. Com efeito e apesar de conter ainda vários pormenores a alterar, a intervenção constituiu uma etapa marcante no trabalho que os autores têm vindo a desenvolver e, mais importante que isso, permitiu o desenho de intervenções posteriores mais eficazes e próximas da estabilidade metodológica. Quanto às medidas obtidas verificou-se o mesmo, isto é, as relativas às redes sociais, que não puderam ter uma segunda aplicação, coincidente com o final dos projetos e que permitiria verificar a evolução da organização informal existente, foram suficientemente explícitas para entender o modo como a organização informal se encontrava estabelecida. Com efeito, esta primeira análise constituiu uma boa radiografia da Empresa e permitiu a identificação dos brokers na comunicação, facilitando a compreensão da forma como a aprendizagem organizacional pode ser melhorada e, tal como referem Mascia, Magnusson e Björk (2015), assim como a inovação. Relativamente às histórias de sucesso, a sua análise permitiu confirmar a orientação futura desejável e coincidente com as intenções da gestão. Finalmente e apesar dos projetos não terem sido ainda concluídos, muitos aspetos se alteraram na Empresa, decorrentes, quer do diagnóstico executado, quer, principalmente, dos projetos que tiveram origem na sessão.

Se fosse possível repetir todo o processo levado a cabo na Empresa, faríamos o diagnóstico exatamente da mesma forma, quer quanto à seleção dos entrevistados, quer quanto à orientação da entrevista em sintonia com as preocupações manifestadas pela gestão. Esta conduta (ligação permanente com a gestão) foi, aliás, o aspeto mais saliente de todo o processo, como recomendam vários autores (Howard e Associates, 2009; Beer e Walton, 2009). Esta forma de realização do diagnóstico, em que se vão obtendo visões variadas e contrastantes, sobre os objetivos definidos pela gestão, complementadas com visões externas à empresa, constitui uma síntese de informação importante para a gestão

e para a preparação e seguimento da intervenção. Quanto às medidas relativas às redes sociais e recolha de histórias de sucesso, somos de parecer que os instrumentos, formas de execução e tipo de análises foram os adequados. Com efeito, qualquer desenvolvimento que esteja para além do que pode ser percebido pela gestão e pelos colaboradores, não possui utilidade para o tipo de trabalho que pretendemos, uma vez que o princípio de base dos autores é o de realizar os desenvolvimentos estritamente necessários para satisfazer os interesses da Empresa e tornar a intervenção mais eficaz.

No entanto existem aspetos que interessa modificar, nomeadamente alguns relacionados com a sessão propriamente dita e com a preparação anterior, a saber:

• O funcionamento da comissão organizadora não foi totalmente testado, uma vez que, tendo participado a totalidade da Empresa, não foi necessário fazer uma seleção prévia dos participantes, tendo o trabalho organizativo sido feito diretamente pela gestão, que também designou a equipa responsável pela logística. • A duração da sessão, se bem que com as etapas relativas à redução do tempo devidamente explicada em artigos

anteriores (Sousa et. al., 2012; 2014; 2015), foi demasiado curta, obrigando a reuniões complementares para definir os planos de ação dos projetos. Neste caso, a reunião física, posterior, das equipas não era muito difícil de conseguir, devido à localização e tipo de atividade da Empresa mas, noutros casos, tal seria mais difícil. Assim e para efetivos iguais ou superiores, a duração deverá ser acrescentada para seis horas, por forma a permitir a construção completa dos planos de ação.

• Pesados todos os prós e os contras, somos de opinião que os facilitadores devem ser pré-nomeados e treinados para a função, obrigando a pequenas alterações na articulação da sessão. O ganho maior, pensamos nós, consiste na exequibilidade dos projetos que, desta vez, constituiu uma questão melindrosa e difícil de negociar com os grupos.

• O trabalho de seleção dos projetos não deve ficar a cargo da gestão, apenas, mas sim de uma pequena comissão designada pela gestão. Com efeito, a gestão deve decidir nos aspetos fundamentais, mas também se deve afastar o suficiente da definição dos projetos para deixar liberdade de decisão aos grupos. Por outro lado, pedir à gestão que selecione apenas um problema, da lista fornecida pelos grupos, é manifestamente insuficiente, devendo a escolha ser alargada para os problemas por ela considerados importantes e exequíveis.

Dado que os autores tiveram já a oportunidade de por em prática as alterações sugeridas, com sucesso evidente, mesmo perante efetivos próximos do máximo (150) considerado por Burke (2011), em termos do estabelecimento de redes sociais eficazes, pensa-se que a investigação futura deverá orientar-se para a melhoria da eficácia no treino dos facilitadores, bem como na capacidade de construir uma grande história da organização, com base em entrevistas de maior profundidade.

rEFErÊncIAS

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cuLturA dIGItAL, IntELIGÊncIA coLEctIVA E

IntErdIScIPLInArIdAdE

António Covas Universidade do Algarve

Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações (CIEO) (acovas@ualg.pt)

Maria das Mercês Covas Universidade do Algarve

Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações (CIEO) (mcovas@ualg.pt)

rESuMo

Numa mutação onde as plataformas tecnológicas desempenham o papel principal, estamos a assistir à transição paradigmática da sociedade dos objectos e das mercadorias para a sociedade dos ícones, dos signos, sinais e símbolos. Uma das imagens de marca desta longa transição paradigmática é aquilo que aqui designamos como a “economia das aplicações (apps)” num universo digital marcado pela “internet das coisas”, a miniaturização tecnológica, as redes colaborativas e a emergência de novas formas de inteligência colectiva.

O princípio geral da “economia das apps” é simples de enunciar: na sociedade da informação e do conhecimento, a internet, as plataformas tecnológicas e as redes sociais colaborativas criam as condições favoráveis à formação de comunidades online de utilizadores e fornecedores de bens e serviços. Estas comunidades virtuais online comunicam entre si por meio da internet móvel e interagem através de programas ou aplicações informáticas (apps) com mais ou menos funcionalidades e interactividade. No final, porém, o que fica por saber é se estas comunidades virtuais têm tradução concreta, prática e efectiva em comunidades reais e se, para tanto, causam uma turbulência inusitada e entram em rota de colisão com os interesses económicos já instalados.

Interacção e regulação, reputação e risco, redes sociais e inteligência colectiva. Esta é a matéria-prima do futuro, o lugar central de uma nova interdisciplinaridade e de uma nova epistemologia das ciências sociais e humanas. Falta ainda estruturar o pensamento complexo que acautele e saiba lidar com estas novas formas de inteligência colectiva.

Palavras-chave: Cultura Digital, Inteligência Colectiva, Comunidades On-Line, Interdisciplinaridade.

Classificação JEL: O33

ABStrAct

In the information and knowledge society the technological platforms play a central role. One of the main icons of this society is the “apps economy”, the main instrument of the the new collaborative network society. These new online communities develop a kind of collective intelligence and the big question behind them is to know how they impact on real communities, in particular, the competition on the economics interests already in place. The new terms of this network society are, interaction and regulation, reputation and risk, social networks and collective intelligence. They are the new raw material for the future of the social and human sciences and for that reason we have to rethink the old concept of interdisciplinarity.

JEL Classification: O33

1. IntroduÇÃo: cuLturA dIGItAL, IntELIGÊncIA coLEctIVA E

IntErdIScIPLInArIdAdE

A sociedade global e cosmopolita em que vivemos sofreu alterações profundas nas últimas décadas do século XX que deixam prenunciar mudanças societais e civilizacionais de grande alcance durante o século XXI. Falamos dos

problemas específicos das sociedades seniores no mundo ocidental, dos efeitos perversos das alterações climáticas na gestão dos recursos naturais, do desemprego estrutural de dois dígitos nas faixas etárias mais jovem e mais velha e da desconstrução do mercado laboral tal como o conhecemos na segunda metade do século XX, dos riscos globais próprios de um mundo multipolar e da mitigação do risco moral que eles provocam. Falamos, finalmente, da emergência do “4º sector” e da recomposição de uma “economia do quaternário”, por enquanto difuso e labiríntico, associado ao universo das tecnologias da informação e comunicação e às redes sociais e, cada vez mais, no interface entre a economia pública convencional, a economia social e solidária e a economia dos bens comuns colaborativos que, à sua conta, se anuncia cada vez mais prometedora. Uma parte importante da economia da inovação e da inteligência colectiva passará por aqui: pela emergência da cultura e da sociedade colaborativa (Sociedade Co), pelo advento da (i) conomia e pela composição de uma economia do quaternário e, finalmente, na confluência destes vectores, por uma epistemologia das ciências sociais e humanas mais transdisciplinar e criativa. No texto que se segue damos o nosso contributo para uma reflexão sobre estes novos desafios.

2. A SocIEdAdE PÓS-InduStrIAL: oS SInAIS QuE SE AnuncIAM

A sociedade capitalista do mundo ocidental vive mais uma das suas metamorfoses, mais uma das suas sete vidas. Desta vez, mais transnacional, mais informacional, mais desmaterializada, mais anónima e mais insidiosa. Estamos numa fase que já não é a sociedade capitalista industrial mas que ainda não é a sociedade pós-capitalista da era colaborativa (Rifkin, 2014a e 2014b). Ao mesmo tempo, estamos numa fase de transição em que parece que trocámos a ordem habitual dos factores: os fins pelos meios, o bem comum pelos interesses particulares, a confiança pela suspeição, o espaço pelo tempo. Na tabela seguinte procuramos elencar os sinais que se anunciam nesta sociedade em transição.

Tabela Nº 1 - A Sociedade em Transição: Os sinais que se anunciam

A sociedade industrial A sociedade pós-industrial e informacional 1. Propriedade e posse

2. Economia de mercado 3. Bens materiais e comodities 4. Vendedores e compradores 5. Cidadãos anónimos 6. Economia de recursos 7. Ciclos longos de produção 8. Rotinas do trabalhador produtivo 9. O princípio da produtividade 10. O princípio da competição 11. O marketing dos objectos 12. Os “prosumidores” 13. Egoísmo e narcisismo 14. Ambientes físicos e presenciais 15. Raízes, identidades e territórios

1. Acesso e serviço 2. Economia das redes

3. Serviços intangíveis e imateriais 4. Servidores e Utilizadores 5. Cidadãos conectados 6. Economia desmaterializada 7. Ciclos de vida curtos

8. Rotinas das máquinas inteligentes 9. O princípio da criatividade 10. O princípio da colaboração 11. O marketing dos clientes 12. A fidelidade e a customização 13. Partilha e cooperação

14. Ambientes simulados e virtuais 15. Relacionamentos e representações O capitalismo da era industrial O capitalismo da era colaborativa

Fonte: Covas, A. e Covas, M. Mercês (2016), Textos de trabalho não publicados.

Nas palavras de Jeremy Rifkin (2014), estamos em transição para a sociedade pós-capitalista da era colaborativa. Eis alguns dos sinais que se anunciam: o acesso e o uso em vez da propriedade e da posse, a economia das redes e das aplicações (apps) e os serviços imateriais, servidores e utilizadores para lá de vendedores e compradores, a desmaterialização da economia, as rotinas e as máquinas inteligentes, a customização dos clientes pelo seu valor ao longo da vida (life time value), os ambientes de trabalho acolhedores e criativos, a colaboração, a partilha e a produção social pelos pares, o acesso livre e o financiamento participativo pelas redes, enfim, os relacionamentos e as representações no grande palco da vida são mais gratificantes do que as raízes e as identidades territorialistas.

Estes sinais anunciam-nos um capitalismo “pretensamente” mais cultural, criativo e recreativo onde os cidadãos adquirem simultaneamente uma pluralidade de condições como utilizadores, clientes, colaboradores e criativos.

Estes sinais que anunciam a era da democracia participativa e colaborativa abrem-nos o caminho para novas formas de inteligência colectiva e mais “poder lateral” e, portanto, para uma outra policontextualização das ciências sociais e humanas. Desta nova epistemologia cognitiva fazem parte a sociedade colaborativa, o advento da (i) conomia, a emergência do 4º sector e muitas outras incursões culturais e criativas entre as quais se conta a transição da interdisciplinaridade para a transdisciplinaridade.

Figura Nº 1 – Inteligência Coletiva e Desenvolvimento Territorial

Fonte: Covas, A. e Covas, M. Mercês (2016), Textos de trabalho não publicados.

Ao longo da comunicação abordaremos mais extensivamente o alcance e a complexidade desta temática.

3. cuLturA dIGItAL E IntELIGÊncIA coLEctIVA: VEM AÍ A SocIEdAdE

coLABorAtIVA

É no interior deste complexo enquadramento global e tecnológico que se anunciam e emergem novas correntes de pensamento e geografias económicas mais inteligentes e imateriais associadas à tecnologia das redes e às plataformas digitais.

3.1. A cultura digital tornou possíveis migrações muito diversas para o ciberespaço

São movimentos muito recentes, quase sempre liderados pela geração Y, os nativos digitais que se movem à vontade no ecossistema tecnológico próprio dos sistemas interactivos de comunicação web 2.0 e web 3.0.

Em primeiro lugar, o movimento Share ligado ao consumo colaborativo e à economia da partilha (sharing economy) (Boltsman e Rogers, 2010) e (Gansky, 2012).

Muito próximo deste, o movimento «Acesso Livre» (Open Source) suporte da economia open source (Lessig, 1999, 2003, 2004) e da produção social entre pares, designado de peer to peer ou P2P (Vkostakis e Bauwens, 2014), e o movimento Maker (Anderson, 2012) mentor da nova revolução industrial.

Em terceiro lugar, as diversas versões da economia do ambiente e recursos naturais, como a economia positiva

(Rouer e Gouyon, 2007), a economia circular, a economia da funcionalidade, a economia simbiótica de Isabelle

Delannoy (2015).

Em quarto lugar, uma corrente mais radical ligada à economia dos recursos naturais, denominada de economia do decrescimento, de Serge Latouche (2011) até Tim Jackson (2009), autor do relatório “Prosperidade sem crescimento”. Em quinto lugar, o renascimento e a renovação do movimento cooperativo, mutualista, social, solidário e voluntário traduzido em múltiplos empreendimentos e formatos organizacionais, por exemplo, em economias e sistemas de trocas locais e respectivas moedas sociais, solidárias e complementares.

Finalmente, e a culminar esta pluralidade de correntes do pensamento em redor de uma economia das redes e dos recursos imateriais, temos a revolução silenciosa da economia dos bens comuns colaborativos, isto é, o advento da sociedade “Co”. Se quisermos, em sentido amplo, o advento de uma economia do quaternário, não apenas no sentido

restrito que lhe dá Michele Debonneuil (2007) de “um serviço novo com um produto dentro”, mas, mais importante, de uma nova economia colaborativa em que “a tragédia dos comuns”, de má memória, dá lugar à esperança e ao “optimismo dos comuns”, uma espécie de quarto sector pós-capitalista que cresce e alastra na zona de interface entre três subsistemas: a economia pública das infra-estruturas e dos bens e serviços públicos mais convencionais, a economia social e solidária das instituições particulares de assistência social e a novel economia dos bens comuns colaborativos.

É justamente na confluência destes três subsistemas em recomposição que podemos estar no limiar de um ecossistema colaborativo socialmente muito inovador, fortemente apoiado nas TIC (Tecnologias da Informação e da Comunicação), nas redes sociais e no “poder lateral” do espírito colaborativo e cooperativo.

Nesta linha de argumentação, a sociedade “Co” é a sociedade do conhecimento, colaboração, comunicação, comunidade, comunhão, isto é, a sociedade dos comuns mas, também, da cooperação, confiança, contribuição, convivialidade e congratulação. O universo “Co” contempla uma gama muito variada de bens e serviços comuns:

• Os consumos colaborativos de recursos ociosos (sharing idle resources); • A produção social pelos pares (peer to peer production);

• Os serviços partilhados pelas comunidades de utilizadores (sharing economy); • O financiamento participativo (crowdfunding);

• Os espaços comuns de criação criativa (coworking e makerspaces); • A aprendizagem e a formação colaborativas (opensourcing);

• As moedas locais, criativas e complementares (local currencies e creative monney), entre outros empreendimentos da chamada economia colaborativa e contributiva (sharing ou collaborative ou contributive economy).

Aqui chegados, o crescimento exponencial da economia colaborativa na última década e sobretudo após a grande crise de 2008 é um sinal evidente de que a emergência da sociedade “Co” é “um facto social total” da maior relevância societal e civilizacional que vale a pena seguir de perto e estudar com a máxima prioridade.

3.2 Cultura digital e inteligência colectiva: vem aí a (i)conomia

Que terão em comum autores tão diversos como Manuel Castells (1999) (a era da informação, a sociedade em rede e o poder da identidade, 1999), Yochai Benkler (2006) (a riqueza das redes ou como a produção social transforma os mercados e a liberdade, 2006), Lawrence Lessig (2004) (a cultura livre e o código versão 2.0), Vasilis Kostakis e Michel Bauwens (Kostakis e Bauwens, 2014) (a economia política da produção social pelos pares), Pierre LEVY (a inteligência colectiva e a cibercultura), Rachel Boltsman e Roo Rogers (Boltsman e Rogers, 2010), (a economia partilhada e o consumo colaborativo), Lisa Ganski (2012) (a economia mesh, ou seja, a economia de rede ou partilhada), Bernard Steigler (2010) (a economia contributiva), André Gorz (2003) (o trabalho imaterial), Howard Rheingold (1993, 2003) (comunidade virtual e os smart mobs, ou seja, os telemóveis inteligentes), Clay Shirky (2010, 2009) (o excedente cognitivo ou a criatividade e a generosidade numa era conectada), Don Tapscott e Anthony Williams (Tapscott e Williams 2008), (a wikinomics ou como a colaboração em massa muda tudo), Chris Anderson (2008) (a cauda longa, os makers e a nova revolução industrial) e Jeremy Rifkin (2014a, 2014b) (a 3ª revolução industrial e a sociedade do custo marginal zero), entre outros autores.

Qual é a substância ou estrutura comum a este movimento polissémico mas convergente? Infra-estruturas de banda larga ou auto-estradas da informação, cultura digital disseminada, startups (empresas tecnológicas) e plataformas tecnológicas, redes sociais e sistemas de comunicação interactivos, programação e software opensource (tecnologia de acesso livre) e modelos de negócio abertos.

Ao contrário das “grandes transições civilizacionais” anteriores, da oralidade para a escrita e da escrita para a imprensa, feitas sempre no universo dos átomos e moléculas, a transição da imprensa para a computação e as redes, para o mundo dos screenagers (geração digital), é feita dos átomos para os bits, dito de outro modo, estamos a desmaterializar a próxima grande mutação civilizacional e a eliminar em boa medida as referências espacio-temporais anteriores. É assim que os novos modelos de negócio da era e da cultura digitais exprimem cada vez mais esta mutação fundamental. Numa mutação onde as plataformas tecnológicas desempenham o papel principal pois são a placa giratória de todos os interesses em presença, estamos a assistir à transição paradigmática da sociedade dos objectos e das mercadorias para a sociedade dos ícones, dos signos, sinais e símbolos, isto é, a uma transição para a (i)conomia. Na nova sociedade da informação, da inteligência, da internet, da imaginação, da inovação, dos bens intangíveis e imateriais, assistiremos a um trade off (troca) permanente entre a “velha economia dos produtos industriais e materiais” e a “nova iconomia dos serviços imateriais”, numa “troca constante entre produto e serviço” e entre “propriedade e acesso” e na qual a iconomia acrescentará cada mais valor à economia convencional que se reduzirá do mesmo passo.