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2. VEGETAÇÃO EM AMBIENTES URBANOS

2.2. Benefícios (ou funções) da vegetação em ambientes urbanos

Pode-se dizer que a cobertura vegetal em ambiente urbano tem funções, tais como a amenização do clima, o controle da umidade, o conforto térmico, o sombreamento, a retenção de gases poluentes e de partículas sólidas em suspensão e a melhoria da qualidade do ar, a redução de ruídos, a permeabilidade do solo, a manutenção da biodiversidade, o controle de processos erosivos no solo e a contenção de encostas, além de efeitos paisagísticos e estéticos. Além disso, podem estar associadas, também, a espaços livres de uso público que permitem acesso da população a áreas de lazer, de práticas de esporte, de entretenimento, socialização, etc. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 1992; MONTEIRO, 1994; AHERN, 1995; FONSECA, 1997; GUZZO, 1999; MACEDO, 1999; LOBODA; ANGELIS, 2005; FALCÓN, 2007; SIRKS, 2008; ASSIS, 2010; OLIVEIRA, 2010; SIMÃO, 2012).

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As contribuições ecológicas que as vegetações proporcionam ao meio urbano ocorrem no sentido da amenização dos impactos decorrentes da concentração de poluentes atmosféricos, de efluentes líquidos, de exposição do solo, da manutenção da biodiversidade florística e da promoção de refúgios para a fauna. A função social está diretamente relacionada à oferta de espaços para o lazer, para prática de esportes, para o entretenimento e, de um modo geral, para uso da população (LOBODA; ANGELIS, 2005).

Para Sirks (2008) as áreas verdes urbanas devem abrigar equipamentos para favorecer o uso da população, sendo de fato benéficas à trama urbana quando ligadas a espaços de lazer e de socialização. Simão (2012) reforça esse argumento ao trabalhar com a ideia de que a disponibilidade de área verde de um município está relacionada com a quantidade de espaços livres de uso público, e que isso se reflete na qualidade de vida de sua população.

Já Guimarães (2010) afirma que muitos dos benefícios associados ao verde urbano não precisam necessariamente estar atrelados a algum uso pela população. O simples fato da existência de uma área verde protegida na cidade já traz benefícios para o clima, para a qualidade do ar, controle de ruído, proteção da fauna, dentre outros. Nessa mesma linha, Oliveira (2010) destaca que a preservação de áreas verdes em ambiente urbano é importante para a conservação da biodiversidade florística remanescente, e possibilita a existência de habitats e fontes de alimentação para a fauna da região. Além disso, áreas verdes proporcionam a permeabilidade dos solos, sendo de extrema importância para a recarga dos lençóis freáticos e a proteção dos mananciais.

Assis (2010) mostra que a vegetação tende a estabilizar os efeitos do clima sobre seus arredores imediatos, minimizando condições de extremos térmicos. De acordo com o autor:

Em geral, a vegetação absorve uma maior quantidade de radiação solar e irradia uma quantidade menor de calor do que qualquer superfície construída. A energia absorvida pelas folhas é utilizada em processos metabólicos, enquanto que para outros materiais, especialmente os utilizados nas edificações, toda energia absorvida é transformada em calor sensível (ASSIS, 2010, p. 25, grifo do autor).

Para Monteiro (1994) está comprovado que a geometria complexa das cidades, as propriedades térmicas dos materiais utilizados nas edificações, a

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impermeabilização do solo e a energia liberada em forma de calor pelas atividades antrópicas contribuem para a alteração do microclima das cidades. Para a autora:

A definição da localização dos espaços verdes é um óptimo (sic) exemplo de como, sem descurar a sua importante função lúdica como espaços de recreio e lazer, quando correctamente planeados (sic), podem também contribuir para diminuir o ruído e filtrar alguns poluentes ou ainda incrementar a ventilação e modificar os sistemas de circulação na cidade, reduzindo, portanto, as temperaturas extremas (MONTEIRO, 1994, p. 22).

Loboda e Angelis (2005) consideram que as áreas verdes desempenham um papel importante no mosaico urbano por constituírem pequenos remanescentes com condições ecológicas mais próximas das condições encontradas em áreas preservadas. Mas destacam que sua importância para a qualidade de vida urbana vai além dos benefícios ao meio ambiente, pois geram benefícios, também, para as condições físicas e psicológicas ao homem. Elas atenuam o sentimento de opressão em relação às grandes edificações e contribuem para a formação e o aprimoramento do senso estético.

Dentre as mais variadas formas e com as mais variadas funções em que se encontram na mancha urbana, a vegetação pode ser considerada, de um modo geral, como atenuante da manifestação das ações antrópicas sobre o território, seja para compor a paisagem das áreas edificadas, seja para amenizar os impactos ambientais. Dessa maneira, acredita-se que o planejamento de espaços vegetados na malha urbana deve ser realizado com o objetivo de se promover algum benefício para o meio, seja ele estético, ambiental ou social. É possível projetar espaços com as mais diversas finalidades, uma vez que o conhecimento das características das espécies vegetais permite que sejam utilizadas como uma opção para o planejamento dos espaços construídos.

A análise dos fragmentos de vegetação, realizada por métricas de paisagem, constitui numa avaliação morfológica e estrutural da paisagem, ou seja, nos permite interpretar (dentro do universo analisado) diversas condições associadas à vegetação, como, por exemplo, grau de fragmentação ou estágio de conservação. Isso, pois o uso predominante dado nas manchas de vegetação pode traduzir a forma como os mesmos se manifestam espacialmente. Ou seja, espera-se que, também, em ambiente urbano que as “funções” dadas aos fragmentos de vegetação remanescente tenham relação com a forma do mesmo. Assim será possível prever usos preponderantes para os fragmentos de vegetação ainda “não utilizados”,

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indicando se há relevância para conservação ou uso público, por exemplo. Grandes áreas vegetadas, por exemplo, podem ser vistas como áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade. Já os elementos lineares, com formas mais alongadas e complexas, podem abrigar outras funções também relevantes para o ambiente urbano, mesmo não sendo prioritárias para conservação da biodiversidade, como corredores verdes. Pequenas áreas podem estar associadas a praças, quintais ou pequenos parques. Como se percebe, há uma evidente relação entre forma e uso que será detalhada no Capítulo 5 deste trabalho, que trata dos resultados das análises.

Estudos como este reforçam a importância de se considerar o planejamento dos espaços verdes no escopo do planejamento urbano, pois podem contribuir significativamente para melhoria do ambiente urbano e, consequentemente, com a melhoria da qualidade de vida da população.

A inserção das áreas verdes e dos espaços verdes no planejamento das cidades já é tema de discussões há mais de um século. Entretanto, os conceitos ecológicos para o planejamento da paisagem, difundidos pela EP, começaram a ser incorporados no planejamento urbano apenas em meados da década de 1990. A presenta-se, assim, uma breve revisão histórica sobre esses aspectos.