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2. VEGETAÇÃO EM AMBIENTES URBANOS

2.6. Sistemas de Espaços Verdes: Alternativas Possíveis

Conforme mencionado, sistemas de espaços verdes e áreas verdes devem ser compostos por peças de tamanhos e usos diferenciados e com funções complementares e inter-relacionadas. Nesse sentido, devem ser direcionados os usos destinados a cada localidade para que possa ser computada a área disponível em cada tipologia. Falcón (2007) destaca que arborização viária, jardins particulares e parques urbanos, por exemplo, devem ser tratados de maneiras distintas, pois cumprem funções distintas na cidade.

Dentre as possibilidades para ampliação dos espaços verdes em áreas de adensamento populacional e de edificações, destaca-se o uso da arborização viária para criação de corredores verdes. Os corredores verdes são elementos lineares dispersos sobre um terreno, desenhados e manejados para múltiplas finalidades, incluindo ecológicas, recreativas, culturais, estéticas e podem ser pensados como alternativas para a mobilidade urbana, através do favorecimento da circulação de pedestres e ciclistas por meio de faixas preferenciais (AHERN, 1995; FALCÓN, 2007).

Segundo Falcón (2007) uma das peças principais para uma cidade ambientalmente sustentável são os parques lineares, que consistem em uma faixa contínua vegetada que une os principais fragmentos de vegetação da cidade, como um conjunto de parques urbanos. Além disso, é interessante que esse sistema se conecte com a massa vegetal periurbana, permitindo que haja uma percolação da mesma com o tecido urbano e que multiplique os benefícios da rede verde já existente (JIM; CHEN, 2003).

Um bom exemplo de corredores verdes é o projeto Madrid Río que promoveu a cobertura da rodovia M-30 na cidade de Madri (Espanha) e resultou em uma das maiores operações de reequilíbrio ecológico na história da cidade (Figura 10). Esse local onde circulam milhares de carros diariamente se tornou em um grande parque linear, um corredor verde, que se estende da região sul à região oeste da cidade,

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ligando bosques, espaços verdes, jardins históricos e parques urbanos que estavam dispersos e sem conexão entre eles, dotando a cidade de uma infraestrutura ambiental ímpar em relação às grandes metrópoles (MADRID, 2011).

Figura 10: Corredor Verde – Madrid Río

Disponível em:

http://www.madrid.es/UnidadesDescentralizadas/ProyectosSingularesUrbanismo/MadridR%C3%ADo/ J_Multimedia/Fotos/IMG_0307.JPG. Acesso em 27 dez. 2012.

Além dos corredores verdes, vale citar que em cidades europeias tem sido crescente a utilização de vegetação em muros e cobertura de edifícios, conhecidos como “jardins verticais” e “telhados verdes”, ou mesmo “jardins de bolso” (Pocket Garden) (FALCÓN, 2007). Esses elementos contribuem não apenas para o embelezamento, mas, também, para amenização dos gradientes térmicos e melhoria da qualidade do ar, como também para a integração comunitária e suas manutenções (Figuras 11 e 12).

O telhado verde se caracteriza por ser um jardim de substrato raso nas coberturas das construções e pode promover benefícios, como: conforto térmico dos ambientes internos, redução da temperatura local em centros urbanos, aumento do conteúdo de oxigênio e umidade do ar, diminuição da poluição sonora, absorção de poluentes e poeiras, filtragem natural da água da chuva, melhoramento estético, dentre outros.

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Figura 11: Telhado Verde

Disponível em http://weshareideas.com.br/teto-verde/. Acesso em 05 jan. 2013

Figura 12: Jardim Vertical – Museu do Quai Branly, em Paris.

Disponível em http://vejasp.abril.com.br/blogs/morar-em-sp/2012/12/a-moda-dos-jardins-verticais/. Acesso em 05 jan. 2013

Como mencionado no item anterior, outra opção viável é o incentivo à preservação da vegetação nos quintais e jardins particulares, onde podem ser utilizadas plantas medicinais, comestíveis, frutíferas, ornamentais, dentre outras.

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Essas contribuem para manutenção da biodiversidade florística e faunística e para melhorias do ambiente, de um modo geral.

Como se percebe, as alternativas podem ser pensadas separadamente, em escalas locais, mas o ideal é que estejam contempladas em um sistema regional integrado, pois a estruturação em rede possibilita “a agregação de valores de cada uma das partes, potencializando os benefícios ambientais e paisagísticos do conjunto” (OLIVEIRA, 2010, p. 76).

Vale destacar que um “sistema” não é aqui entendido apenas como um conjunto. De acordo com Hijioka et. al. (2007, p. 121) “ele se define a partir do momento em que os elementos desse conjunto interagem, ou seja, quando eles estabelecem relações”. Conforme esses autores, ele pode ser totalmente projetado, parcialmente projetado ou decorrente da somatória de intervenções locais, ou seja, a criação de um sistema de espaços verdes não necessita necessariamente de um planejamento prévio. Mas sim da identificação das áreas, da definição do potencial de uso, da identificação das carências e, com isso, da proposição do aproveitamento adequado dessas áreas para composição de um sistema em macro escala.

A análise dos elementos que compõem a paisagem urbana sob a ótica ecológica, que considera um sistema interligado, permite a noção de que a alteração das estruturas ou da função de cada elemento irá afetar o conjunto, ou seja, terá repercussão sobre a matriz. Forman e Godron (1986) apontam que há um consenso entre ecologistas e planejadores de paisagem no que diz respeito à redução dos efeitos de fragmentação da paisagem. Para isso, a estrutura da paisagem deve ser pensada como uma estrutura composta por "fragmentos e corredores”, um conceito espacial que inclui corredores e trampolins para conectar fragmentos isolados.

Por fim, destaca-se que para a efetivação de um sistema integrado de espaços verdes e de áreas verdes são necessárias medidas legais para proteção dessas áreas protegidas, de modo a assegurar a existência das mesmas futuramente. Assim, seria possível incorporar à cidade as áreas verdes como parte do seu próprio tecido e não como um bem que se deve buscar fora dele (SALVADOR PALOMO, 2003).

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