• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 O marketing nas bibliotecas de Ensino Superior Português

2.17. Bibliotecas académicas e responsabilidade social

A Universidade é entendida como o principal veículo de transmissão do saber e do conhecimento e, nesse sentido, desempenha um papel fulcral no acesso e na disponibilização de diferentes fontes de informação, sejam elas de teor científico, cultural ou outro. Neste âmbito, a biblioteca académica tem como missão uma participação ativa na promoção de um conjunto de atividades de caráter cultural que contribuem igualmente para a produção de informação e conhecimento, tendo assim subjacente à sua missão uma responsabilidade social na formação de alunos, utilizadores-cidadãos críticos. A verdade é que a responsabiliade social das organizações corresponde à integração voluntária de práticas e objetivos que contemplem as dimensões sociais e ambientais na visão estratégica da organização, tendo em consideração os interesses das partes interessadas (sejam elas os colaboradores, os acionistas, a comunidade envolvente ou outros) (Moura, 2005; Rego, Moreira e Sarrico, 2003, Comissão Europeia, 2001.) Tal implica que para além dos objetivos económico-financeiros e das suas responsabilidades legais, as organizações passem a ter de ir mais além e a incluir, também, obrigações de carácter ético, social e ambiental, se desejarem serem vistas como socialmente responsáveis.

É neste âmbito que Amante e Segurado (2012) concebem as bibliotecas académicas com a capacidade de agregar no mesmo espaço físico informação, conhecimento, lazer e cultura. Sendo que cultura pode ser definida conforme Declarações da Unesco sobre o tema, realizadas no México (1982) e em Paris (2001): “the set of distinctive spiritual, material, intellectual and emotional features of society or a social group, and that it encompasses, in addition to art and literature, lifestyle, ways of living together, value systems, traditions, and belief.”

O atual conceito de biblioteca académica tal como é definido por Orera Orera (2007), biblioteca híbrida, deve-se a mudanças de ordem social (sociedade da informação e do conhecimento e globalização) e académica (Espaço Europeu de Ensino Superior), tendo que estar alinhada com exigências variadas: evolução tecnológica; um novo modelo de aprendizagem; compromisso em termos de qualidade de serviços oferecidos e que poderá ser enriquecido com a integração de práticas de mediação cultural. O documento European Curriculum Reflections on Library and Information Science Education (2005, pp. 195-196) no âmbito da discussão sobre diversidade cultural e mediação de cultura na Sociedade da Informação apresenta a seguinte conclusão: …mediation of culture is a very vital part of the libraries’ tasks, especially those of the public libraries, and we suggest the following definition of the term: Mediation of culture might be understood as the main task of the library as a cultural centre in the local community as well as an activity pertaining to specific types of material in the library. It relates to different rationales of cultural policy, cultural theory, considerations on cultural and artistic quality, but also to technical measures and pedagogical instruments. The contextualisation relating to the needs and conditions of different groups of users is a main aspect of this work. This is valid both in relation to the library as a physical room and as a virtual room”.

Na verdade, ainda que a mediação cultural seja uma prática comum nas bibliotecas públicas, ao contrário das bibliotecas académicas, estudos apontam para essa necessidade. Assim, um estudo conduzido nos Estados Unidos da América pela OECD (Williams, 2008, p. 1), que apresentava como objetivo a descoberta de um ambiente de aprendizagem no ensino superior, que sustentasse a formação e encorajasse os alunos a colaborarem no processo de aprendizagem, acabou por delinear um modelo de aprendizagem que passa pelo seguinte pressuposto: “librarians and their partners must first engage in planning initiatives that can help them conceptualise new environments and define an underlying rationale for the facilities. Identifying and working with partners early in the planning process helps to move away from a library-centric approach and think more holistically about the spaces and the services that support the university’s mission and vision. To be both far-reaching and transformative, the learning commons must be strategically aligned with the university’s core values and learning-centred goals. A clearly articulated vision, a philosophy of service, and a charter plan that incorporates cross-campus constituencies and puts student learning at its focus are essential to the success of the learning commons model.”

Este modelo assenta na oferta de um conjunto de componentes que apresentam como denominador comum “the characteristics of a generation of students who crave social, technologically infused spaces that are flexible and comfortable enough to accomplish a variety of learning-centred tasks” (p. 2) no qual se prevê espaços para encontros, seminários, receções, programas e eventos culturais: “Offering spaces that create a sense of community and exchange of ideas should not be overlooked when designing the learning commons. These spaces reinforce the identity of the student as an integral part of the scholarly community and provide new ways for students, faculty and community members to interact. Not only do these spaces enhance student learning outcomes outside of the classroom, but they put the library at the heart of intellectual and cultural life for the campus community and beyond” (Williams, 2008, p. 6).

A ACRL (2007) no documento Standards for faculty status for college and university librarians sintetiza os papéis do bibliotecário nas instituições de ensino superior, afirmando as suas contribuições únicas para a comunidade académica “contribute to the sum of Knowledge through their research into the information process and other areas of study. Services improvements and other advances in the field result from their participation in library and other scholarly organizations”. É neste âmbito que Amante e Segurado (2012) integram e evidenciam a importância de dinamização de atividades culturais, com o objetivo de atrair membros da comunidade académica à biblioteca e para conseguir a sua projeção dentro e fora da instituição, envolvendo alunos, docentes e tutela. As autoras apresentam assim, como exemplo, as seguintes iniciativas culturais, como práticas regulares na biblioteca na qual é responsável.: Exposições bibliográficas temáticas, Livro do mês, Colóquios da biblioteca e Arte na biblioteca.

A realização de atividades de índole cultural nas bibliotecas, é importante porque pressupõe troca de valores relacionados com o objeto cultural (Palermo, 2013), fomenta e envolve a atividade da biblioteca com a comunidade académica e os benefícios que poderá agregar para todos as partes (biblioteca, utilizadores e tutela). Não só a comunicação é mais próxima com o público-alvo como o valor social da biblioteca ganha uma maior visibilidade interna e externa. As atividades de dinamização cultural apresentam-se assim como parte integrante do atual processo de aprendizagem, recriando um ambiente favorável à formação dos alunos.

Com as atividades de índole cultural, espera-se que a biblioteca, com a sua oferta diferenciada, “biblioteca-cidadã”, atraia mais público e envolva a comunidade

académica, através de investimentos em projetos voltados para o bem-estar humano e social, em prol da cidadania (Errera, Souza & Souza, 2009).